sábado, 27 de agosto de 2011

Desespero e Esperança




Em silêncio... O olhar perdido no vazio, essa mulher carrega nos braços seu bebê esquelético ao hospital Banadir de Mogadiscio, na Somália. Esse hospital concentra numerosas mulheres e seus filhos, que fogem dos campos atingidos pela seca e a fome. Elas chegam na maioria das vezes quase sem forças, após muitos dias ou semanas de caminhada. E o que mais acontece é que os órgãos de ajuda são insuficientes para salvá-las, especialmente porque suas bases estão repletas de pacientes. (Ismail Taxta/REUTERS)



Desafio. "Tornar possível o impossível", este é o desafio de Freddy Nock. Fiel a ele, o suiço conseguiu, na última segunda-feira, percorrer, sem segurança, uma boa parte dos 2.917 metros do cabo teleférico de  Feuergokele, em Ebensee, Áustria, e assim realizar o mais longo trajeto sobre cabo. O artista de 46 anos, que estreou seu desafio na Alemanha, deve tentar mais cinco outros recordes, com o objetivo de angariar 70.000 francos suiços para ajudar as crianças pobres de Bangladesh. (Kerstin Joensson/AP/SIPA)

Obs.: Fotos e textos extraídos do Le Figaro de hoje.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Para Luciana, com amor


Nem sempre estivemos de acordo, nossos gostos muitas vezes conflitaram, nossos maneira de pensar algumas vezes nos levou a grandes discussões, chegando a desentendimentos e brigas. Ufa, como é difícil lidar com um ser tão querido e tão diferente de nós!

Lu surgiu na minha vida por acaso. Não era esperada, mas foi muito bem-vinda. E eu me lembro de como era dengosa, voluntariosa: "Também quero um consultório de mãozinha!!!"  Consultório de quê? Que lingua está falando essa menina?

Lu nunca pedia - exigia. Enquanto a irmã era sempre diplomática, ela seguia a outra direção. Sempre foi explosiva, temperamental. Um vulcão em erupção, quando as coisas não saíam exatamente do jeito que queria. E esse vulcão ainda está ativo. Lu parece mantê-lo assim.

Mas por trás de tanta explosão, há um coração muito generoso, uma amiga sincera e um ser humano íntegro.
Lu é sensível, delicada e muito querida. Eu tenho muito orgulho dela, de suas conquistas, de seus planos para o futuro, do seu espírito de luta.

Para você, Lu, neste grande dia, Feliz Aniversário!!!!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Minimamente Feliz


Uma querida e muito inteligente amiga me mandou esta mensagem, que reproduzo abaixo, porque reflete meu pensamento sobre a felicidade.

Minimamente Feliz


A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida. 
Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.

Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.

'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.
Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular: 'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.

Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'. 
Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'.
Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?

Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.
Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.
Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.

Leila Ferreira, jornalista 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Para Patricia, com amor

Não, não vou falar do tempo, porque para mim você continua a mesma menina linda que tantas alegrias me deu nesta vida.

Vou falar então da sua personalidade forte, do seu caráter firme e da sua grande capacidade de fazer amigos, de amar o próximo e ser sempre amistosa. Falo da sua grande capacidade de amar.
Você é uma pessoa privilegiada e eu me orgulho muito de ter ajudado a construir um ser tão íntegro.

Feliz aniversário, querida filha!!!!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Para Daniel, com amor

Dizem que a distância afasta as pessoas. Longe dos olhos, longe do coração, diz o ditado. Estou aqui para desmentir isso. Quanto mais longe de mim, meu querido netinho, mas sinto sua presença no meu coração.

Há dois anos não vejo você e a saudade é imensa. Como gostaria de estar ao seu lado neste dia para dar-lhe um abraço carinhoso, uma beijoca, ouvir sua risada, sua voz e conversar com você. Nem tudo nos é permitido, porém.

Quero que saiba que eu te amo e que rezo a Deus pelo seu bem-estar e felicidade.

Feliz aniversário, Daniel!






quarta-feira, 25 de maio de 2011

A língua falada e a língua escrita

Abaixo, o debate de ontem na TV Brasil, liderado por Alberto Dines. Assista mais um episódios da polêmica que incendiou o país.




domingo, 22 de maio de 2011

Hoje é dia de Santa Rita de Cássia

Minha homenagem a Santa Rita em seu dia e também a querida Nossa Senhora de Fátima.



Cientistas dizem que a busca pela "partícula divina" está perto do fim


Vocês sabiam que um grande experimento que será realizado até o final de 2012 provocará uma revolução na física? Os cientistas tentarão provar por que a matéria tem massa e a existência da gravidade - a chamada busca pela "partícula divina". Depois desse grande evento, o mundo não será mais o mesmo. Leiam a reportagem do The Independent.

Busca pela 'partícula divina' está perto do fim

Por Steve Connor, editor de Ciência
Quarta-feira, 18 de maio de 2011
A busca da chamada "partícula divina" que explicaria por que a matéria tem massa e há gravidade no Universo, pode terminar no final do próximo ano, é o que prevê um proeminente cientista envolvido no projeto.

Rolf-Dieter Heuer, diretor-geral da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), perto de Genebra, disse que se a partícula subatômica conhecida como bóson de Higgs existe, como prevê a teoria, então o experimento Grande Colisor de Hádrons (LHC) vai detectá-la até o final de 2012.

No entanto, se o experimento LHC não encontrar a evidência de Higgs, isso significará que algo ainda mais misterioso deve explicar massa e gravidade. Tal hipótese levaria, inevitavelmente, ao abandono das regras de ouro da física, conhecidas como o "modelo padrão", que foram estabelecidas há décadas, revelou o Dr. Heuer.

"Estou bastante confiante de que, no final de 2012, teremos com o bóson de Higgs uma resposta para a pergunta de Shakespeare: Ser ou não ser? Mas não encontrar o Higgs não significa um fracasso, ao contrário. Se ele não existir, e por isso não o encontrarmos, então temos de descobrir outra coisa que ocupa a função de Higgs, ou seja, desistir da massa para partículas elementares."

O LHC foi construído num subsolo de 100m em um túnel circular de 27 km de comprimento, para proteger os equipamentos sensíveis do ambiente externo, que poderiam ser afetados em consequência do bombardeio de dois feixes de prótons viajando em direções opostas a 99,999999 por cento da velocidade da luz. Ao ampliar o poder dos feixes de prótons, os cientistas esperam criar colisões altamente energéticas que provarão a existência do bóson de Higgs, se ele existir.

Guido Tonelli, que trabalha em um dos conjuntos de detectores ligados ao LHC, disse a física estava entrando em um "momento mágico", que poderia mudar a nossa forma de ver e compreender o mundo e o universo mais amplo. "A física não será a mesma depois de 2012. Isso provavelmente mudará a nossa visão do mundo. Haverá um impacto sobre o futuro, dependendo do que descobrimos."

sábado, 21 de maio de 2011

O mistério da Ilha de Páscoa foi finalmente solucionado?

Os moais, as gigantescas estátuas de pedra que se alinham no litoral da ilha de Páscoa

Gosto de livros, de mistério e adoro a Ilha de Páscoa. Sonho em conhecê-la desde que li o livro "A Expedição Kon-Tiki", de Thor Heyerdahl. A reportagem abaixo foi publicada no The Independent e resolvi traduzi-la.

O mistério da Ilha de Páscoa foi finalmente solucionado?

Um novo livro desafia o conhecimento atual sobre o fim da civilização nativa

Por Paul Rodgers
Domingo, 24 de abril de 201
Uma batalha científica sobre o destino dos nativos da Ilha de Páscoa está pronta a eclodir neste verão com a publicação de um livro que desafia o conceito de que essa sociedade neolítica cometeu um suicídio ecológico.

O debate tem uma moderna dimensão política. Está em jogo o exemplo central, citado por Jared Diamond em seu livro de 2005 “Colapso: Como as sociedades decidem sucumbir ou sobreviver”, sobre as terríveis consequências que ameaçam os seres humanos se não cuidarmos do planeta.

O argumento arqueológico gira em torno dos moais - centenas de estátuas de pedra alinhadas no litoral da agora desarborizada ilha do Pacífico Sul, conhecida por seus habitantes como Rapa Nui.

Os nativos seminus descobertos por uma expedição holandesa no domingo de Páscoa de 1722 foram considerados demasiadamente empobrecidos para terem esculpido e transportado eles mesmos as estátuas.
A teoria admitida é que uma civilização mais avançada, de cerca de 15.000 pessoas, deve ter erguido as estátuas, com centenas de homens carregando-as para o litoral e grupos de pessoas dedicando-se à fabricação de cordas, roldanas e trenós, enquanto o restante se empenhava em alimentar os trabalhadores.

Depois que a última das palmeiras gigantes da ilha foi derrubada,  sugere a teoria que o sistema ecológico entrou em colapso, houve quebra na produção de alimentos e seguiu-se uma guerra civil, degerando em canibalismo, com a população remanescente lutando para sobreviver até a chegada dos holandeses.  
Mas os revisionistas, liderados pelos arqueólogos Carl Lipo da Universidade Estadual da Califórnia e Terry Hunt, da Universidade do Havaí, argumentam que essa sociedade superior jamais existiu. A civilização de Rapa Nui, diz o Dr. Lipo, foi exterminada com a chegada dos europeus, que trouxeram pragas de doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose, diarréia e hanseníase. Doença, escravidão e roubo de terras reduziram uma população estimada de 3.000 a apenas 111 sobreviventes, em 1877.

Em seu novo livro, “As estátuas que andavam -                     -Esclarecendo o mistério da Ilha de Páscoa”, que será publicado em junho, o dr. Lipo e o professor Hunt apresentam evidências de que colonizadores polinésios chegaram à ilha em 1200, 800 anos depois do que afirma a teoria convencional, e imediatamente modificaram o ambiente, empregando o sistema agricultural de derrubadas e queimadas.

O efeito desse sistema sobre a floresta de palmeiras gigantes foi multiplicado com os ratos que chegaram com esses agricultores. A população de roedores, que se alimentavam fartamente das sementes das palmeiras, explodiu.

O Dr Lipo revela que não foi o desmatamento que tornou as coisas muito piores para os humanos. Rapa Nui não era nenhum paraíso tropical, mas uma antiga ilha vulcânica e muitos dos nutrientes do seu solo já haviam se esgotado. A queimada das palmeiras gigantes contribuiu realmente para o agravamento, mas os colonos logo passaram a usar uma técnica chamada resíduos orgânicos de pedra, na qual rochas vulcânicas recém-quebradas eram enterradas no solo desgastado para nutri-lo e reduzir a erosão.

As mesmas pessoas que usaram os resíduos orgânicos de pedra e saudaram os holandeses poderiam ter transportado os moais de Rano Raraku - a pedreira onde as estátuas eram esculpidas - para o litoral. As estátuas parecem ter sido criadas para permitir que pequenos grupos de homens as transportassem, balançando-as, como se costuma fazer com uma geladeira.

Sugestões semelhantes foram feitas no passado, mas há provas indicando que os moais teriam se esgotado até chegarem ao litoral. O Dr Lipo, auxiliado pelo antropólogo Sergio Rapu, primeiro governador nativo da ilha sob o domínio chileno, acredita ter encontrado uma maneira de contornar essa questão, com mais balanço e menos confusão.

Defensores da velha teoria não aceitam esta nova. O arqueólogo britânico Paul Bahn e seu co-autor John Flenley estão lançando a terceira edição de “The Enigmas of Easter Island” “Os enigmas da Ilha de Páscoa” em resposta às novas teorias. "Eles estão ignorando a tradição oral e selecionam apenas os dados de que gostam", declarou no fim de semana, acrescentando que não tem dúvida de que os habitantes da ilha sofreram um colapso pré-histórico. "Eles sabem que estão errados, mas não dão o braço a torcer", disse.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

A nova cartilha do MEC - continuando

O texto abaixo dá continuidade ao que falamos no post anterior. Como tradutora, este assunto é de suma importância, mas meu foco tem sido o último item do texto. Nossos estudiosos não conseguem acompanhar o ritmo acelerado da língua, especialmente no tocante aos seus neologismos e polissemias.

PCN+ (BRASIL, 2002, pag. 80 – 82)

A RESPEITO DA COMPETÊNCIA GRAMATICAL

O ensino de gramática não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas como um mecanismo para a mobilização de recursos úteis à implementação de outras competências, como a interativa e a textual.

Vale aqui retomar a abordagem gramatical adotada neste documento. Ainda que se reconheça como legítima a conceituação da gramática como um conjunto de regras a partir das quais uma língua se corporifica, parece conveniente lembrar que há pelo menos três visões para esse conjunto de regras:

• aquelas que são seguidas;
• aquelas que podem ser seguidas;
• aquelas que devem ser seguidas.

Quando se observa que o falante natural de uma língua obedece minimamente às convenções estabelecidas pelo grupo social de usuários, respeitando os acordos praticados no nível morfológico, sintático e semântico, temos um quadro de gramática internalizada.

Quando se observa que esse mesmo falante pode ou não seguir determinadas convenções lingüísticas sem que, com sua atitude e com as variações adotadas, seja mais ou menos reconhecido como um legítimo usuário dessa língua, temos um quadro de gramática descritiva.

Quando se observa que esse falante sofre discriminação por não seguir as convenções lingüísticas adotadas, que estabelecem na medida do possível o que seria certo ou errado no que diz respeito ao emprego das regras, percebe-se que está sendo julgado segundo um ponto de vista gramatical normativo ou prescritivo.

Tradicionalmente, a escola brasileira vem adotando essa última perspectiva no ensino de Língua Portuguesa, sem se preocupar necessariamente em articular as prescrições típicas dessa abordagem gramatical com as práticas de leitura e produção de textos orais e escritos. O resultado dessa postura é que a maioria dos alunos não entende o porquê de se apresentarem tantas regras sem que haja uma aplicação prática delas na linguagem que usualmente utiliza.

Alternativamente, do ponto de vista da abordagem gramatical descritiva, pode-se considerar que em nosso país convive uma enorme variedade lingüística, determinada por regiões, idades, lugares sociais, entre outros.

Assim, as noções de certo ou errado, tão típicas da abordagem normativa ou prescritiva, cederiam espaço para as noções de adequação ou inadequação em virtude das situações comunicativas de que o falante participa. É papel da escola lidar de forma produtiva com a variedade lingüística de sua clientela, sem perder de vista a valorização da variante lingüística que cada aluno traz consigo para a escola e a importância de se oferecer a esse aluno o acesso à norma padrão – aquela que é prestigiada quando se testam suas habilidades para ingressar no mundo do trabalho, por exemplo.

Entre os procedimentos relativos ao desenvolvimento da competência gramatical, convém ressaltar aqueles que dizem respeito à variação lingüística, profundamente relacionados também à competência interativa:

• avaliar a adequação ou inadequação de determinados registros em diferentes situações de uso da língua (modalidades oral e escrita, níveis de registro, dialetos);
• a partir da observação da variação lingüística, compreender os valores sociais nela implicados e, conseqüentemente, o preconceito contra os falares populares em oposição às formas dos grupos socialmente favorecidos;
• aplicar os conhecimentos relativos à variação lingüística e às diferenças entre oralidade e escrita na produção de textos;
• avaliar as diferenças de sentido e de valor em função da presença ou ausência de marcas típicas do processo de mudança histórica da língua num texto dado (arcaísmo, neologismo, polissemia, empréstimo).

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A nova cartilha do MEC

A nova cartilha do MEC tem provocado muita polêmica, especialmente entre os que condenam o que eles chamam de o uso "errado" da linguagem, como o professor Sérgio Nogueira, em depoimento ao Bom Dia Brasil desta semana.


Embora não conheça a fundo a nova cartilha, simpatizei com ela de cara, por duas razões. A primeira  é que sempre achei a língua chamada "culta" desagregadora e preconceituosa, porque impõe uma gramática normativa, sem levar em conta as diferenças regionais e sociais. A segunda razão é que sempre achei os linguistas muito acovardados e lentos diante de fatos linguisticos novos. Por ser um instrumento dinâmico e em constante mutação, concordo que fica difícil analisar todas as variantes linguísticas, mas quem escreve se surpreende e fica em dúvida sobre como se expressar. Não é todo país que tem a brilhante ideia de lançar o Urban Dictionary, que vive atualizando a linguagem.O texto abaixo não é meu, mas reflete meu ponto de vista. Do autor, sei apenas que se chama Robson Luis e é professor e tradutor.

A quem não pertence à área, deve, de fato, parecer uma impropriedade institucionalizar o ensino do erro – e aí já começa o equívoco. Toda essa discussão é pautada no território da Sociolinguística, disciplina que estuda a língua a partir de suas diversas variáveis (estrato social, lugar geográfico, poder econômico etc.). Para a Sociolinguística, portanto, não há certo ou errado, há apropriado e inapropriado.

De acordo com vários teóricos que eu não vou citar para não alongar a resposta, nossas ações sociais são possíveis apenas com e na língua. É a língua que possibilita nossa vivência em sociedade. Assim, compreende-se que a escola tem um papel fundamental: habilitar o estudante a utilizar a língua em diferentes contextos a fim de empoderá-lo (aqui, uso o conceito de empoderamento como um "fazer com") para a ação social.

Cabe aqui lembrar que a língua é um fator político de estruturação (isso sempre me faz lembrar de um versinho de Pessoa em que ele declara haver três línguas imperiais - o português, o inglês e o francês). A língua garante, até certo ponto, a unidade. As fronteiras não são apenas demográficas, são também linguísticas.

O ensino gramatical durante todo o período escolar é sofrível. E aqui me sinto à vontade para falar de ambos os pontos de vista – enquanto aluno e professor. Sempre tive uma enorme dificuldade para compreender porque eu aprendia uma série de regras que, na minha realidade, não se aplicavam. Meus alunos também – e não acredito que eu ou qualquer pessoa possa culpá-los. Eu chego na budega/vendinha/mercadinho (escolha a opção utilizada em sua região – olha só um caso de variação linguística!) do seu Zé para comprar um lápis e digo: "Seu Zé, me dê um lápis, por favor." Como, ó céus, se todos estudamos à exaustão que não se deve começar frases com pronomes oblíquos? Por que sabemos que, no Brasil, falamos assim (em Inglês também, recomendo a leitura de "O jeito que a gente diz", de Stella Tagnin, em que ela discute vários conceitos e as expressões de convencionalidade, por exemplo.). Aí o aluno fica confuso, porque ele aprende algo na escola que, em casa, com amigos, na vida `real', ele não utiliza e, sabiamente, ignora.

Este é o problema: o aluno perde a noção de que a língua varia e passa a utilizar a mesma variante (a não-padrão) em todas as situações. É importante desfazer outro equívoco, quando falamos de instrução gramatical, falamos da Norma Padrão, a variante linguística que me garante a compreensão entre os falantes letrados em Língua Portuguesa, do Oiapoque ao Chuí. A Norma Culta é o uso que os falantes "cultos" (seja lá o que isso signifique) fazem da língua. Como a classe social dominante, política e economicamente, essa variante é a que possui maior prestígio social, sendo, por vezes, confundida com a Norma Padrão. Às muitas outras normas existentes, chamamos Não-Padrão em oposição direta àquela convencionalizada e instituída como oficial.

Diferentes ações sociais requerem diferentes registros, que requerem diferentes usos da linguagem. Mais um exemplo: Não é comum, por ocasião de um velório, alguém parabenizar a viúva. Na ação social "velório", portanto, a língua não seleciona "Meus parabéns!" e sim, "Meus pêsames/sentimentos". Se alguém, no entanto, não tiver recebido esta instrução, será alvo de preconceito, o Preconceito Linguístico (quem desejar compreender melhor, Marcos Bagno, o autor deste conceito, tem um livrinho muito esclarecedor, com o mesmo nome, publicado pela Editora Loyola). O fato de o preconceito ser gerado a partir da língua não quer dizer, de modo algum, que ele seja menos nocivo ou ferino. Pelo contrário, Rajagopalan (2010) diz que nossos preconceitos mais enraizados manifestam-se justamente através da língua.

A Gramática Normativa, Tradicional, e, portanto, Prescritiva, não prevê este tipo de ensino. Lembro que havia uma pergunta logo no início deste tópico a respeito de onde iriamos para o Brasil e a Educação. Bem, eu, sinceramente, não sei e não posso falar das demais ciências, mas, no tocante ao ensino de língua, do jeito que está não dá para ficar.

Para os mais inflamados, tudo isso aí em cima, já foi institucionalizado nos PCNs, de 1998 e de 2002. É fruto de anos de pesquisas muito sérias e compromissadas com a qualidade do ensino e pensadas para melhorar a vida dos nossos alunos e cidadãos. Infelizmente, como quase tudo neste país, as leis não são cumpridas. E, na qualidade de professor, encontro resistência a essa abordagem entre os próprios professores, pois é mais cômodo continuar ensinando pelo modelo conhecido (quantos de vocês ainda lembram as conjugações de "amar", "vender" e "partir", em todos os tempos e modos verbais? Mas a finada Tia Rosinha lhe fazia arguições e, ai de você, se não soubesse, não passava de ano!).

Não compreendo o Pasquale, pois, em uma palestra há não muito tempo, ele mesmo disse que "a língua é como um guarda-roupa, você escolhe diferentes roupas para diferentes ocasiões". Bom, o texto que segue é um extrato do PCN+, a respeito da competência gramatical, para comprovar que tudo o que foi dito está em documentos oficiais há muito tempo.

Esta foi uma tentativa rasteira de desmistificar alguns conceitos relacionados a essa polêmica. A Sociolinguística é uma ciência estabelecida, séria e compromissada. O acima exposto é fruto de pesquisas e mais pesquisas subsidiadas por uma única realidade: formamos alunos incompetentes não apenas para produzir ou compreender textos, formamos cidadãos incompetentes. Não sei se a Educação é capaz, sozinha, de salvar o Mundo, mas, sem ela, ninguém se salva.

"Eu sou eu e minha circunstância, se não salvo a ela, não salvo a mim." (ORTEGA Y GASSET)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cinema

Fazia um bom tempo que eu não ia ao cinema ou via algum filme em DVD. Enfim, fui ao video clube e peguei 6 filmes, mas fiquei muito decepcionada com as produções recentes e muito assustada com o corpo dos atores. Estão todos magérrimos, com aparência de fome e todos sem nenhuma expressão facial. É a nova estética famélica e aniquiladora da qual eu vinha falando em posts anteriores (O Corpo como Metáfora) e que tomou conta de Hollywood. Mulheres lindas como Marilyn Monroe, Jane Mansfield, Ava Gardner seriam taxadas de gordas hoje em dia. Mas eu quero mesmo é falar de cinema.

ATIVIDADE PARANORMAL (PARANORMAL ACTIVITY) - Uma bobagem. Pra quem já passou por sustos maiores, o filme chega a ser risível.

BAARÌA - Esperava muito desse filme do Giuseppe Tornatore, porque estou lendo um livro que se passa exatamente no período pós-Segunda Guerra, quando os Aliados entram em Nápoles e se deparam com uma população faminta e miserável. Mas o filme, que conta uma história de amor e a saga de uma família desde 1930, é chato e arrastado. Que pena, Tornatore! Errou na mão. ZZZZZ

A FITA BRANCA (DAS WEISSE BAND) - Uma reporter disse ao diretor do filme, Michael Haneke, que ficara intrigada... Ele a interrompeu e disse que era esse mesmo o efeito que pretendia com a obra. Todo filmado em preto e branco, com uma fotografia deslumbrante, a obra de Haneke aborda os conflitos das crianças e suas famílias em uma aldeia alemã no início do século XX. Todas as crianças foram recrutadas na região. Adorei. Pra mim, filme bom é aquele que a gente não se cansa de pensar nele.

REDE SOCIAL (SOCIAL NETWORK) - Outra grande bobagem e uma enorme chatice. Todo mundo sabe que dinheiro destrói tudo e que em toda transação rola sacanagem. Mas o que me impressionou muito mesmo foi a magreza do Jesse Eisenberg. Antigamente, a gente se referia a uma pessoa magérrima como "filé de borboleta". Mas isso era no tempo que os magérrimos ainda tinham alguma carne. Do Eisenberg não se consegue extrair nenhum filé e muito menos alguma expressão. A estética esquelética, famélica e aniquilante tomou conta de Hollywood. Não se consegue uma boa expressão de nenhum ator - estão todos apáticos neste e nos outros filmes que vi. No caso do Eisenberg, acho que nem uma boa feijoada resolveria.

À PROVA DE MORTE (DEATH PROOF) - Quentin Tarantino é bom demais. Adoro ele. Mais um filmaço e por filmaço me refiro à obra que entretém, prende a atenção do espectador e apresenta belas imagens, direção, elenco... enfim, tudo o que um filme deve ter. Não precisa ser necessariamente um filme-cabeça. Gostei de rever o Kurt Russell. E, detalhe: todas as mulheres de Tarantino são carnudinhas.

COMER REZAR AMAR (EAT PRAY LOVE) - Perdi tempo com esse filme cheio de pseudos: pseudo-filosofia, pseudo-divertimento, pseudo-ator, pseudo-atriz, pseudo-enredo... O filme parece destinado a botar um pouco de miolo nas desmioladas, oferecendo uma falsa cultura, falso... ah, tudo é falso no filme. Só não entendo como meu ator preferido, Javier Bardem, embarcou nessa de encarnar um brasileiro. Existe coisa mais falsa? Coitado, devia estar precisando de uns caraminguás. É visível o constrangimento dele. Bem feito!  Mas tudo bem: a gente tem direito de errar nessa vida. Mas que isso não se repita, hein?

sábado, 30 de abril de 2011

Sou uma Canna

This is What Kind Of Flower You Are

 

Fiz o teste e descobri que sou como a Canna. Veja o resultado. Hum... faz sentido. 

Faça o teste você também. O link está láaa embaixo.

 

You Are a Canna

"You stand up for what you believe in, even if it gets in the way of what other people think. You are proud of yourself and your accomplishments and you enjoy letting people know that."

quinta-feira, 24 de março de 2011

Good-bye, Liz!

O mundo ficou mais feio, mais triste e sem graça sem ela. Minha homenagem a essa grande atriz e mulher, que teve coragem de viver a sua verdade.


domingo, 20 de março de 2011

Japão: O triunfo do espírito



Gostei tanto da matéria do The Independent que decidi traduzi-la para quem se interessar.


O Japão sobreviveu aos horrores de Hiroshima. Reconstruiu-se após o pesadelo de Kobe. Quando os passageiros do metrô foram atacados na hora do rush, o transporte foi rapidamente retomado. Robert Twigger saúda a determinação de uma nação.

Quarta - feira, 16 de março de 2011
 
Em meados da década de 1990, na época do terremoto de Kobe e do ataque com gás nervoso sarin no metrô de Tóquio, eu vivia há vários anos na capital japonesa. Passei a maior parte do tempo treinando artes marciais tradicionais.

Uma pessoa acabara de morrer no dojo onde eu treinava. Um aluno, um homem mais velho, de atitude tipicamente genki - um conceito exclusivamente japonês que significa entusiasmo, diversão, animação - fora, durante o treinamento, atirado à esteira repetidas vezes, durante uma hora. Ele se queixou de dor de cabeça, mas continuou o exercício. Finalmente, conseguiu se levantar e minutos depois estava morto - sofrera uma hemorragia cerebral. Que ele tenha continuado a se exercitar, apesar da dor, é uma atitude característica  predominante no dojo. O aspecto incomum da morte do artista marcial, para mim, foi que sua esposa não reclamou ou moveu uma ação por perdas e danos. Ao invés disso, ela expressou seu contentamento por ele ter morrido fazendo algo que realmente amava. Estamos familiarizados, no Ocidente, com cenas exageradas de luto. Não no Japão. 

Em todas os aspectos da vida, o japonês exalta, de modo alegre mas determinado, o konjo, ou a "coragem". Ser corajoso é visto como norma, e não exceção. Quando eu trabalhava em Tóquio, como professor, telefonei uma vez para dizer que estava com febre de 40 graus. Pediram-me para ir trabalhar de qualquer jeito. (Não fui, mas o fato de que tenham me pedido para ir diz alguma coisa.) 

A tragédia que ora desaba sobre o Japão pode apequenar qualquer avaliação batida da capacidade do país de se recuperar; no entanto, qualquer pessoa que conheça o Japão e sua história dirá: os japoneses são diferentes. A capacidade desse povo de superar desastres está profundamente enraizada nas religiões nacionais xintoísta e budista - em especial na variante Zen desta última -, bem como em conceitos não-tradicionais como yamato-damashii, ou "espírito japonês". 

O Zen não é universalmente aprovado no Japão, mas seus conceitos têm permeado todo lado, na arte e na vida. O projeto de mudar a realidade de ser, de não estar ligado ao momento, de dar tudo de si no que faz - tudo isso são conceitos Zen entrelaçados na vida cotidiana japonesa, na forma de encontrar um modo de expressão como, por exemplo, a execução de um trabalho.

Lembro-me de ficar fascinado por um adolescente entediado numa lanchonete em Tóquio, onde costumava ir. Um sujeito tranquilo, ainda na faculdade, o tipo do garoto que na Inglaterra só trabalharia direito se tivesse vontade. Mas lá, cada sanduíche que fazia era exatamente igual, perfeito sob todos os aspectos, do primeiro ao último: ele aprendera o método e continuava simplesmente praticando-o, não considerando, nem por um momento, que podia diminuir seu rendimento ou fazer um trabalho inferior. Esta é uma atitude inteiramente típica. 

Yamato-damashii é um conceito mais rico. Na década de 1930 e durante a Segunda Guerra Mundial, o "espírito japonês" representava a arrogância e o desejo de dominar outros povos de casta inferior. Após a derrota de 1945 (que ecoa assustadoramente em algumas imagens fotográficas do desastre atual), o japonês "mudou verdadeiramente", como eles dizem, e empregou seu espírito indomável na causa da reconstrução do país. Mas a determinação inquebrantável era a mesma. 

Continua no próximo post...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Está na moda ser devassa?


Uma vez eu embarcava num ônibus com minhas filhas, quando um sujeito passou a nossa frente, quase nos atropelando com suas pisadas e cotoveladas. Passado o susto, comentei ironicamente que os tempos haviam mudado e que os homens já não eram mais cavalheiros. O sujeito ouviu e replicou que "ser cavalheiro" era algo fora de moda. Ser educado, gentil, cavalheiro é estar fora de moda?

Agora, a propaganda, braço direito do regime "capetalista", faz um desfavor às nossas moças: apresenta a caretinha da Sandy dizendo que moderno é ser devassa - marca da cerveja que deve ter-lhe pago uma fortuna para desencaminhar meninas bobinhas que há aos montes por aí. Enquanto ela diz que é legal ser devassa, ao fundo aparece ela mesma dançando e se contorcendo em poses provocantes. A cerveja pretende espalhar a devassidão com novas regras de conduta (vide ilustração) e com isso engordar seus cofres às custas dessas meninas. Começou com Paris Hilton e agora é a vez de Sandy. Ser vulgar e devassa é estar na moda? Se Sandy diz que é...

Empinar o bumbum para a câmera agora é moda. Que mensagem uma menina que faz tal pose pensa estar transmitindo? O que pensam essas tolas cabecinhas? E não são apenas tolas cabecinhas. Há meninas que até foram longe em seus estudos e que também posam para a câmera empinando o bumbum, para deleite dos cafajestes de plantão. Sim, porque nenhuma dessas meninas pode esperar um princípe encantado em suas vidas, pode? Temo que engolirão muitos sapos...

Não faço apologia dos contos de fadas e nem sou antiquada em matéria de sexo. Ao contrário, acho que entre quatro paredes tudo é permitido, mas sou contra a mulher que deixa a entender, nas redes sociais, o que pretende fazer entre as quatro paredes. Estará ela ciente da responsabilidade e do risco que poderá enfrentar? Não será isso uma nova forma disfarçada de prostituição?

Sou a favor da mulher livre, bem situada, que luta pelos seus ideais. Sou a favor da mulher séria, que sabe o que quer e não daquela que tem como espelho, unica e exclusivamente, o olhar masculino. Essas mulheres são vítimas fáceis de psicopatas, de homens que só querem usá-las e descartá-las. Sinto-me incomodada com isso e me dá pena ver moças tão lindas prestando-se a tal papel.

Um dos melhores filmes que vi no cinema "As Invasões Barbáras" já prenunciava tristemente para onde se encaminhava nossa civilização - para a barbárie. Não se respeitam mais costumes, regras sociais, respeito a si mesmo e ao próximo, dignidade, amor próprio e amor ao próximo. Tudo isso virou abstrato. Quando se chega a tal ponto, a impressão que temos é de estar vivendo o fim dos tempos. Parece que os bárbaros realmente nos invadiram. Só nos resta rezar e pedir perdão a Deus.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Nem só de pão vive o homem

Meio pão e um livro

Em setembro de 1931, o poeta espanhol Federico García Lorca fez o seguinte discurso de inauguração de uma biblioteca em Fuente de Vaqueros (Granada). Convido todos a ler essa pequena jóia.

"Quando alguém vai ao teatro, a um concerto ou uma festa de qualquer tipo que seja, se a festa é de seu agrado, lembra-se imediatamente e lamenta que as pessoas a quem ama não estejam presentes. 'Minha irmã e meu pai iam gostar disso', pensa, e não já não desfruta do espetáculo senão através de uma leve melancolia. Esta é a melancolia que sinto, não pelos meus, porque seria ruim e mesquinho, mas por todas as pessoas que, por falta de meios ou por desgraça não podem gozar do bem supremo da beleza que é vida e bondade, serenidade e paixão.

Por isso, não tenho nunca um livro, porque presenteio todos os que compro, que são infinitos, e por isso me sinto honrado e feliz de inaugurar esta biblioteca da cidade, a primeira seguramente de todo o município de Granada.

Nem só de pão vive o homem. Eu, se tivesse fome e estivesse abandonado na sarjeta não pediria um pão, mas meio pão e um livro. E denuncio aqui com veemência todos os que só falam de reivindicações econômicas, sem falar jamais das reivindicações culturais, que é o que o povo pede aos gritos. 

Está bem que todos as pessoas tenham o que comer, mas que também tenham o conhecimento. Que gozem de todos os frutos do espírito humano, porque o contrário é convertê-los em máquinas a serviço do Estado, é convertê-los em escravos de uma terrível organização social.Lastimo muito mais o homem que quer ter o saber e não pode do que um faminto. Porque um faminto pode matar sua fome facilmente com um pedaço de pão ou com algumas frutas, mas o homem que tem a ânsia do saber e não tem meios sofre uma terrível agonia, porque são livros, livros, muitos livros o que necessita e onde eles estão? 

Livros! Livros! Eis aqui uma palavra mágica que equivale dizer 'amor, amor', e que os povos deviam pedir como pedem o pão ou como quando anseiam pela chuva para suas plantações. Quando o insigne escrito russo Fiodor Dostoyevsky - muito mais pai da revolução russa do que Lenin -, estava preso na Sibéria, longe do mundo, entre quatro paredes e cercado por desoladas planícies de neve infinita, e pedia socorro por carta a sua distante família, dizia apenas: 'Enviem-me livros, livros, muitos livros para que minha alma não morra!'. Tinha frio e não pedia fogo, tinha uma sede terrível e não pedia água - pedia livros, ou seja, horizontes, ou seja, degraus para subir ao cume do espírito e do coração. Porque a agonia física, biológica, natural de um corpo que tem fome, sede ou frio dura pouco, muito pouco, mas a agonia da alma insatisfeita dura toda a vida. 

Já disse o grande Menéndez Pidal, um dos sábios mais verdadeiros da Europa, que o lema da República devia ser: 'Cultura'. Cultura porque só através dela se podem resolver os problemas em que hoje se debate o povo cheio de fé, mas carente de luz.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Inveja


Não sei se o que vou dizer aqui é novidade para alguém. Para mim, é, porque até recentemente estive cega.

Muito já se falou sobre o pecado capital que considero o mais grave de todos - a inveja -, mas ninguém ainda mencionou, ou pelo menos nunca li, vi ou ouvi, a inveja que parte das pessoas que supostamente deveriam amar-nos tanto quanto nós a amamos. Pois é, essa inveja existe e é doloroso quando nos damos conta de sua existência. É dificílimo acreditar que alguém tão próximo, tão amado, tão apreciado, tão admirado sinta inveja de nós.

Sei que há coisas demais que não queremos ver - e não vemos. Sei que pode-se passar uma vida inteira sem perceber o que está bem diante de nós. Recusamo-nos a montar as peças do quebra-cabeça para chegar à verdade que vai, com toda certeza, levar-nos a uma terrível decepção e amargura. Vivemos uma cegueira emocional, e não sei se é a melhor assim, porque dói muito ter de enxergar a inveja no rosto querido da pessoa que amamos.

E é justamente essa cegueira que pode nos matar. Um dia, sem mais nem menos, abrimos os olhos ou ouvimos uma frase qualquer que nos soa estranho, quase ininteligível, um comentário aparentemente inocente, um "bom" conselho, uma insinuação, seja lá o que for. Não foi a primeira vez que tal aconteceu. Nesse dia, por um acaso qualquer, estamos mais atentos, mais perceptivos e daí acontece o clique. Bingo!

Mais uma vez, custamos a crer, não queremos pensar, tentamos escamotear a verdade, mas justamente nesse dia, não se sabe por quê, somos obrigados a confrontá-la e já não resta nenhuma dúvida. É ela mesmo, a inveja. E daí, basta relacionar todos os acontecimentos anteriores para chegarmos à conclusão inevitável: a pessoa querida tem inveja de nós. Ao contrário do que supúnhamos, ela não deseja nosso bem-estar, não torce por nós, não está feliz com nossa felicidade. Ela ressente-se do nosso sucesso.


A inveja é irmã gêmea da maldade. Não é doença, como pode parecer. Uma pessoa invejosa vai sendo construída lentamente, desde a infância. O que costumamos encarar como ciúme (e muitas vezes é mesmo) pode ser o âmago da inveja. É dali que ela brota e cresce insidiosamente, nas áreas de sombra, escondida pelos cantos escuros da mente até transformar-se no monstro que vai atormentar nossa existência.

A inveja alimenta-se da nossa boa fé, da nossa inocência e do nosso amor. Não é de espantar que tantos não a vejam e que, por isso mesmo, ela passe a vida inteira despercebida. Até o dia em que abrimos bem os olhos.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Recordar é viver?

Passei os últimos dois anos me fazendo a mesma pergunta: como aconteceu?

Lembro do acidente diariamente, querendo ou não, e a forma como ele aconteceu sempre foi um mistério. Não conseguia entender e me angustiava esse lapso de memória. Por que não lembrava? O que teria acontecido nesse dia terrível? Sempre fui tão cuidadosa em atravessar uma rua e sempre soube também dos perigos que rondam o trânsito do Rio. Então, por quê?

Hoje de manhã, acordei meio cansada e indisposta. Tinha de ir à hidroginástica, mas não encontrava forças para botar o maiô e ir até lá - uns 10 minutos de caminhada rápida. Busquei uma força dentro de mim, não sei de onde, me arrumei e fui. No meio do caminho, aconteceu: lembrei claramente da noite longa e escura que desabou sobre mim há pouco mais de dois anos.

Eu estava na calçada dando adeus à minha cunhada. O sinal estava fechado e, ao invés de caminhar até a faixa de pedestre, como sempre costumava fazer, atravessei a rua, no meio dos carros, que estavam todos parados. Tinha pressa de chegar em casa e essa pressa quase me levou ao túmulo.

O caminhão estava parado e o motorista, segundo disseram as testemunhas, conversava com o colega do lado. Ele viu o sinal abrir, mas não notou que eu estava atravessando naquele momento. Viu apenas que o carro que estava na frente dele se moveu e fez o mesmo, automaticamente. O caminhão atingiu meu ombro esquerdo e me fez gritar de dor. Lutei para não cair, enquanto o veículo me empurrava. Acabei perdendo o equilibrio e ele passou por cima de mim, causando-me múltiplas fraturas.

Por que estou relatando tudo isso? Por que lembrar de tudo agora depois que dois anos já se passaram? Porque tenho esperança de que esse pesadelo termine de vez. Porque quero virar essa página e seguir adiante com a minha vida. Acho que, enquanto não se faz a catarse, os problemas agarram-se à nossa pele, como sanguessugas, que chupam-nos o sangue, tirando-nos toda a vitalidade.

Só espero, meu Deus, que meus pesadelos e meus medos tenham ido embora. Amém!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Levar desaforo para casa

Quando criança, minha mãe me dizia que desaforo não se levava para casa. Um mau conselho e a vida me fez entender isso.

Anos mais tarde, em Londres, fui verbalmente agredida por um funcionário do metrô que achou que eu estava tentando embarcar sem pagar o bilhete. Por mera confusão, eu havia entrado numa área onde não podia estar e, ao pedir informação, o funcionário se irritou comigo e me disse de tudo. Frustrada no meu inglês ainda incipiente, acabei levando o desaforo para casa.

Há quase vinte anos (meu Deus como o tempo passa!), conversando com uma colega, reclamava do tratamento indelicado da professora de francês. Por alguma razão, aquela mulher nao simpatizara comigo e não perdia a oportunidade de me ridicularizar diante de todos. A coisa chegou a tal ponto que tive de pedir ao diretor que me transferisse para outra turma.

Mas reclamava eu com a colega, quando esta me contou um caso que lhe acontecera durante uma viagem de férias. Era perto do Natal e o grupo havia decidido fazer o amigo oculto. Na hora de entregar o presente, fazia-se a brincadeira de sempre: meu amigo é alto, simpático... essas coisas. Tocou a minha colega uma mulher que fez, diante de todos, a seguinte descrição dela: minha amiga oculta já é uma mulher passada. A colega enrubesceu e se sentiu, evidentemente, arrasada. Dizia-me ela então: "Foi a última vez que deixei que um comentário de tal natureza me abalasse." E  pôs-se então a discorrer sobre a importância de não dar valor às críticas maldosas. Não existia tal coisa como levar-desaforo-para-casa, desde que não se atribuísse importância exagerada a um comentário feito para nos desagradar. Em resumo, não se deve supervalorizar o que não merece sequer ser ouvido ou pensado. Parece simples falando assim, não é? Pois para mim não foi.

Nesses quase vinte anos que se seguiram a essa conversa, deixei muito desaforo onde o encontrei. E para quê, me pergunto agora? Que vantagem tirei, que mérito ganhei? Nem sequer me lembro dos desaforos. Tudo o que sei é que a vida é para ser levada com uma certa leveza. Não se deve levar tudo a ferro e fogo. As pessoas têm o direito de pensar o que quiserem de nós e até expressar seus sentimentos, ainda que desaforadamente. Cabe a nós termos nossa opinião própria de nós mesmos, conhecermo-nos bem e estarmos em paz.  Só assim o chamado "desaforo" passa ao largo e deixa de nos atingir. Não é sentir-se soberano ou soberbo - é ter o espírito desarmado.

Viver em paz - essa é a grande lição da vida. Amém!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dois anos hoje

Fico com inveja quando ouço dizer que as pessoas têm memória fraca. Isso não acontece comigo. Aliás, nunca aconteceu. Tenho e sempre tive memória de elefante. Sendo assim, como iria esquecer hoje? Tento, mas não consigo. Há dias ando inquieta, dormindo mal, tendo pesadelos e depressão - tudo por causa de hoje.

Há exatamente dois anos uma noite escura desabou sobre mim e meus dias se tornaram nebulosos e tristes durante os longos 8 meses em que estive me recuperando da minha quase morte.

Era um dia ensolarado como hoje e eu me sentia ótima, feliz. Havia feito uma limpeza e reorganização nas varandas e meu jardim estava florido.  Tinha reformado o grande sofá da sala, iniciado um regime de emagrecimento e começara a colher os primeiros resultados positivos. Estava arrumando a casa para receber meu netinho, que vinha comemorar seu primeiro aniversário comigo. Planos, muitos planos e muitos sonhos também. De repente, quase tudo desmoronou. Tive a sorte de organizar a festa do neto antes do acidente e ele pôde vir comemorar o aniversário.

Nunca imaginei que uma tragédia assim iria me acontecer. A gente costuma achar que essas coisas acontecem nas novelas, nos livros, nos jornais. Num átimo, somos nós os protagonistas de uma calamidade. Em poucos segundos, a vida vira do avesso. Nossa sociedade não pensa a morte, não nos prepara para nosso fim e terminamos por achar-nos imortais. Era assim que me sentia quando a noite longa e escura desabou sobre mim.

A morte não estava nos meus planos e foi por isso que lutei com todas as minhas forças para sobreviver. E consegui. Só não consegui ainda me livrar da lembrança, borrar da minha memória aquele dia fatídico. Nesses dois anos, lembrei-me dele diariamente, com toda a riqueza de detalhes que pude recordar. Não entendo como aconteceu, mas consigo reviver cada minuto. É horrível, eu sei, e as pessoas me dizem para esquecer, como se não fosse eu a primeira a desejar que isso acontecesse.

Talvez seja bom lembrar, afinal. Pode ser que lembrando daquele trágico dia eu me dê conta, finalmente, da minha finitude, de que não disponho de muito tempo nesta vida e que preciso ter força e coragem para ser feliz. Amém!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ó pedaço de mim

Me lembro, quando menina, de olhar para as pessoas à minha volta - tios, tias, avós, amigos e amigas da família - e pensar no quanto a vida dessas pessoas carecia de sentido. Elas viviam exatamente como as saúvas que empesteavam o quintal da minha casa e que eu gostava tanto de olhar com curiosidade. Não havia uma só delas que tivesse realizado as façanhas dos livros que eu gostava de ler. E eu achava que viver era muito mais, era como nas histórias que enchiam minha imaginação e me faziam sonhar. Viver era viajar pelo mundo, enfrentar perigos e saborear a aventura de cada momento. Viver, em toda plenitude, era assim.

As pessoas me pareciam conformadas em viver uma vida comum: cresciam, casavam, tinham filhos, netos, às vezes bisnetos, e depois morriam, sem nunca terem vivido sequer uma aventura. Eu jurava para mim mesmo que comigo seria diferente. Minha vida não seria como a da minha prima, por exemplo, que cumpriu exatamente o destino que lhe foi reservado. Morreu cedo, minha prima, deixando filhos e netos tal como sua mãe, sua avó, bisavó, tetravó, tataravó... Cumpriu uma função biológica e só. De vez em quando nos lembramos dela com carinho e tristeza. Não, comigo seria diferente. Era assim que pensava; foi assim que vivi.

Comecei mal, porém. Enveredei pelo mesmo caminho, mas em algum momento mudei meu rumo - ou a vida me fez mudar. Não, eu precisa viver, realizar meus sonhos. Havia muito a conhecer, aprender, conquistar, vencer. E foi assim que comecei a viajar. Passei por cima de muitas regras e mandamentos. Precisava realizar meu sonho. E realizei. Fui a quase todos os lugares que queria ir. Vivi toda a plenitude do momento. E me senti imensamente feliz.

O que eu não sabia é que ao realizar meus sonhos, ao tornar realidade o que parecia apenas sonho, transpus uma fronteira, fui para o outro lado. Não sei se acontece com todo mundo, mas tive a ilusão da imortalidade ou a impressão de que a morte ainda estava muito distante de mim. Se tudo era possível, querer era poder. Não estava preparada para o que ia me acontecer. Não, eu não era imortal.

O acidente foi um terremoto que sacudiu a minha vida, me virou de cabeça pra baixo, abalou minha estrutura e minha crença. Então era assim? De uma hora pra outra se morria? Era tão fácil morrer? E como ficariam meus sonhos realizados, minhas impressões de viagem, minhas alegrias e minhas tristezas? O que seria desse tesouro? Ficariam órfãos de mim? Seriam jogados no lixo, simplesmente? Que sentido havia naquela morte repentina?

Vencer a morte, sobreviver não trouxe resposta para meus questionamentos. Não me trouxe alívio, não me trouxe paz. Tudo para mim carecia de sentido. Não sou melhor do que as pessoas que vêm ao mundo para cumprir um destino biológico. Elas, pelo menos, não se preocupam em deixar tesouro nenhum para trás. Sabem que tudo é transitório, que a grande aventura da vida é ver seus filhos crescerem, é esperar a chegada dos netos e não ter a ilusão de que a morte está muito distante. Não têm ilusões, como eu tive. Quiçá sejam até muito mais felizes do que eu? Talvez tenham vivido muito mais intensamente do que eu e com certeza viveram menos apressadamente do que eu.

Ter uma família, filhos e netos - com sorte, também bisnetos - é a maior aventura que o ser humano pode empreender. O resto é pura ilusão. Nossos sonhos e conquistas viram pó; são tesouros valiosos apenas para nós e não temos com quem dividi-los. Ao morrermos, eles também se acabam; tal qual os objetos que colecionamos (às vezes com tanto carinho) durante a vida, acabam se perdendo para sempre. Com sorte, tornamo-nos uma doce lembrança nos corações e mentes das pessoas que nos quiseram bem. A vida é simples assim.

domingo, 16 de janeiro de 2011

FIDELIDADE E GRATIDÃO

A dona morreu na pior tragédia do Brasil.  Ao seu lado ficou o cão fiel.  Uma foto vale mais que mil palavras e essa me arrancou lágrimas.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

De sonho em sonho

Quando a noite longa e escura se abateu sobre mim, a saída que encontrei foi sonhar.  Era tudo muito escuro, desesperançoso e desalentador.  Mas eu não sabia.  Tinha esperança e sonhava.  E foi isso que me salvou.

Não sabia o que havia acontecido comigo e só aos poucos fui me dando conta.  As pessoas me olhavam com tristeza e desespero, mas eu nao via isso.  Via esperança no olhar delas.  E continuei sonhando.

Meu primeiro sonho foi fugir do hospital.  Era um sonho impossível, porque eu estava imobilizada da cabeça aos pés.  Mas eu sonhava com a fuga e ela logo aconteceu.  Tiraram-me o respirador artificial.  Eu ia poder finalmente falar.  Não foi de imediato, tive de esperar mais um dia.  Mas o primeiro sonho se realizou: não fugi do hospital, mas escapei daqueles que me torturavam.  E o meu desejo de fuga era para me ver livre deles.

Depois, sonhei em beber água.  Por um tempo, foi meu maior sonho.  Como tudo é tão relativo!  E persegui meu sonho, tentava convencer a enfermagem que sim, eu era capaz de beber o precioso líquido.  E assim foi.

Fui de sonho em sonho perseguindo metas e vencendo obstáculos.  Eram coisas mínimas como voltar a caminhar, parar de sentir dor e desconforto, mas também chegavam a sonhos ambiciosos como o de ir ao Pólo Norte para ver a Aurora Boreal. 

Confesso que abandonei, temporariamente, o sonho de ver a Aurora Boreal.  Talvez porque meu corpo tenha exigido muito de mim ultimamente.  Há dois anos que vivo de sonhar em vencer os obstáculos que se abateram sobre meu corpo.  Há dois anos que luto para viver uma vida normal, sem restrições.  De sonho em sonho, estou conseguindo. 

Hoje, venci mais uma etapa: voltei a me exercitar.  Quero meu antigo corpo de volta, talvez não como era antes, mas quase, o mais próximo possível do que era.  E, quando esse tempo chegar, irei então, talvez, ao Pólo Norte, ou não.  Talvez eu sonhe outro sonho, mais ou até menos ambicioso.  Não importa, desde que eu continue sonhando e tenha força, disposição e coragem para realizar meus sonhos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

HOJE EU VOU MUDAR



Assim mesmo: em letras berrantes, para que eu mesma as ouça na minha cabeça e as fixe para sempre na memória, não me deixando esquecer jamais a promessa que faço a mim mesma, hoje.  Vou mudar.  É a minha mais firme proposta para este ano.

Anos atrás, apareceu uma música com o título desse post e dizia coisas como "vasculhar minhas gavetas, jogar fora sentimentos e ressentimentos tolos, fazer limpeza no armário, retirar traças e teias e angústias da minha mente".  Era um convite à mudança e hoje, pensando nela, resolvi aceitar. 

Chega de baixo astral, de tristeza e de melancolia.  Meiden den Kummer und meiden den Schmerz, dann ist das Leben ein Scherz!  É isso aí: a vida é uma brincadeira.  As pessoas normais fogem de quem está pra baixo.  Ninguém quer ouvir reclamações, tragédias e histórias tristes.  As pessoas só querem ouvir histórias de superação - jamais de fracassos.  Elas querem diversão, alegria, alto astral.  E é isso que prometo lhes dar, doravante.

Como é que se chega a uma decisão como esta, quando se é tão reflexiva, introspectiva e melancólica?  A gente só chega a uma conclusão assim quando bate no fundo do poço, quando perde toda a esperança de que alguém lhe ouça os gritos.  Quando o poço é muito fundo dificilmente alguém virá em seu socorro, raramente aparecerá alguém para resgatar você.  E é aí que se tem de buscar a força que todos temos dentro de nós e da qual raramente nos damos conta.  Uma força que muitos não conhecem e podem passar a vida inteira sem percebê-la.  Mas há aqueles que um dia, no auge do desespero, se vêem na contingência de ter de recorrer a essa força.  E ela está lá, pronta para ajudar.  Eu chamaria essa força de Anjo.  É um Anjo que reside dentro de nós.

É acreditando que existe um Anjo dentro de nós que conseguimos superar a adversidade.  Porque só um Anjo nos consolaria no momento de aflição e desespero.  Só um Anjo esperaria o desaguar de toda a nossa tristeza e desolação para insinuar em nosso pensamento uma solução para a crise.  Só um Anjo inspiraria nosso espírito e nos mostraria a saída, a salvação.  E não há melhor saída do que voltarmos a ser alegres, positivos e de termos esperança em dias melhores.

Só pode ter sido esse Anjo que se apiedou de mim e me disse baixinho: não tenha pena de você mesmo e muito menos deixe que as pessoas sintam pena de você.  Viva com mais prazer.  Esqueça os dissabores e as tristezas.  Dê umas boas risadas.  Sinta a alegria de viver e seja feliz.  Amém.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula!!!!

Ontem, foi o último dia do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gosto do Lula, porque ele tinha tudo para dar errado, mas deu certo. Todas as chances eram contra ele, e hoje ele poderia usá-las para escusar um fracasso. Mas não, lutou, quando é tão fácil ceder. Gosto das pessoas que "se armam contra um mar de adversidades e, opondo-se a elas, vencem-nas." Estou apenas citando um dos maiores gênios da humanidade: Shakespeare. Feliz Ano Novo pra você, Lula!

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...