domingo, 28 de dezembro de 2014

CIGARRAS


Ainda agora, no jardim, elas estavam cantando. Pra mim, as cigarras são os arautos do verão. Elas me lembram da minha infância, porque quando cantavam, anunciavam mais calor e chuvas de verão no fim da tarde. Enquanto a chuva caía pesada, subia no ar o cheiro de terra molhada. E eu me juntava à molecada pra tomar banho daquela água fresquinha que caía do céu. Ainda me lembro da sensação de frescor que permanecia na pele. Mas nem todos apreciam as cigarras.

Uma vez, no tempo em que Prainha e Grumari eram praias semi-desertas e distantes para muitos, muito antes de se tornarem o inferno que são hoje em dia, fui com minhas meninas e um amigo à Grumari. Na hora do almoço, seguimos pela velha estrada em direção à Barra de Guaratiba. Lá no alto da serrinha, havia um restaurante (talvez ainda esteja lá) que tinha uma vista espetacular de toda a mata exuberante que inspirou Burle Marx. Sentamos embaixo de um frondoso flamboyant pra comer moqueca de peixe e pastel de camarão - delícias do lugar. Enquanto aguardávamos o banquete, as cigarras, aos montes, começaram a cantar. O que para mim era uma sinfonia encantadora, para as meninas e o amigo não passava de um barulho ensurdecedor. Diante dos protestos, tive de me conformar em entrar no restaurante, onde o "barulho" das cigarras foi substituído pelo do ar condicionado.


E quase todos ficaram felizes.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

VIDA NA ROÇA


Por mais ocupada que eu esteja, não deixo de apreciar a natureza todos os dias. Hoje, o dia estava especialmente bonito. Fez uma linda e fresca manhã de céu azulzinho. À tarde, os raios do sol estavam especialmente brilhantes e iluminavam o manacá da serra, beijando-lhe as flores rosadas "ton-sur-ton". Um verdadeiro romance e um espetáculo da natureza. Bem no meu jardim. Depois, tomei um café enquanto vi o sol se pôr em rosa, azul, amarelo, laranja. De tirar o fôlego. É a época das hortênsias florirem, os agapantos começaram mais cedo e agora estão no fim da florada. Antes foi o buquê de noiva, as azaléas... É um florir sem fim. Lindo demais. Queria poder emprestar meus olhos a todos os meus amigos. E meus ouvidos também, que estão cheios dos cantos dos passarinhos.

SONHOS


Em tudo, ontem foi um dia especial. Saí pra fazer umas compras à tarde e, de repente, olho pra vitrine da padaria e vejo uns sonhos, todos deitadinhos na bandeja, com seus cremes amarelos saindo pela borda e suas roupinhas de açúcar. Pareciam bebezinhos num berçário. E eles me diziam: "me leva".

Aí eu me lembrei que quando criança, e como sofrida filha mais velha, cabia a mim ir todos os dias à padaria. Enquanto o moço embalava o meu pedido, eu olhava cheia de desejo para os sonhos na vitrine. Ah, como eu gostava deles! De vez em quando, minha mãe me dava um trocadinho e dizia: "compre um docinho pra você." E eu comprava meu sonho.


Anos depois, a caminho de Búzios, passei por uma padaria que vendia sonhos. Parei o carro e fui me deliciar com um deles. Era uma época em que os sonhos eram permitidos. Não havia ainda os que hoje dizem pra tudo: "engorda".


Tudo isso me passou pela cabeça enquanto eu olhava para os sonhos. Acabei atendendo o apelo deles. Levei um pra casa. E me deliciei.


De vez em quando, a gente tem de voltar à infância.

domingo, 30 de novembro de 2014

CONSIDERANDO QUE...


Muitas vezes, me vejo na contramão do que as pessoas pensam e me sinto estranha. Não curto Black Fridays, nenhum Ipad, Ipod, Ipim, ou qualquer aparelho moderno que fazem as pessoas dormirem numa fila para adquirirem. Não pertenço a essa tribo. Me agarra então a sensação de não pertencer, de estar a quilômetros de distância de todo mundo. Vou ilustrar meu pensamento e me perdoem por mencionar fatos tão tristes num domingo. Não estou triste, ao contrário. Os domingos para mim são um ótimo pretexto pra tomar meu vinhozinho na hora do almoço. "É preciso ritos", disse a raposa.

Quando as Torres gêmeas desabaram no fatídico 9/11, não foi o colapso que mais me impressionou, mas aquela montoeira de papéis voando, papéis antes tão importantes, tão bem guardados, que muitos talvez atribuíssem um valor enorme. Naquele momento eles voavam perdidos, indo-se juntar ao entulho do asfalto. E foi essa cena que me fez desapegar de tudo, Aqueles antes valiosos papéis não valiam absolutamente nada. Um poder maior se alevantara. Uma grande tragédia fez tudo parecer pequeno, insignificante.

Desapegar, desapegar, desapegar... é o que tento fazer todos os dias.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

VIDA NA ROÇA - RITINHA E ZEZINHO

Ritinha (em foto tirada por Daniela) chegou aqui em casa ainda bem pequenininha. Veio com os três irmãos: Jorginho (que desapareceu, pra minha profunda tristeza), Joãozinho e Maria, trazidos pela mãe, Belinha. Não queria mais gatos aqui em casa, além dos quatro que trouxe do Rio, mas não teve jeito. Todos ficaram. Foi aí que aprendi que gato adota você, e não o contrário.

Ritinha cresceu, ficou uma bela mocinha e conheceu um gato negro lindo, de andar macio e, acredito, bom de lábia, porque ela se apaixonou por ele. Dei-lhe o nome de Zezinho, mas ele não me adotou. Vem só filar a boia aqui em casa. É gato independente. 

Dia desses, tinha acabado de dar a comida pra gatarada quando Zezinho apareceu faminto. Ritinha fez o que toda gata apaixonada faz: ficou rodeando-o, toda oferecida. Botei comida pro Zezinho e logo os outros vieram em cima. Tentei espantar, mas eles não paravam. Só quando Ritinha se postou na frente do prato, ameaçadora, é que os todos se afastaram. Zezinho pode então comer à vontade.
Ah, o amor....

terça-feira, 14 de outubro de 2014

VIDA NA ROÇA

O dia hoje amanheceu estressante. Às 5h30 os passarinhos começam a cantar e é a hora que eu acordo. Vou lá no quintal pra dar comida aos gatinhos. Estavam todos lá, menos o Pinguinho. Me ponho a chamá-lo várias vezes, até que ouço um miadinho distante. Quando Pinguinho mia assim é confusão na certa. Olho pra todo lado pra ver se o encontro e levo o maior susto. Pinguinho está no telhado da casa vizinha, bem alto.
- Como é que você foi parar aí, meu filho?
- Miau, miau...
Pego a escada lá no fundo do quintal e boto na direção dele. Uma vez eu o resgatei do alto da árvore fazendo algo semelhante. Pinguinho olha e não se anima. Na verdade, nem eu me animaria a descer pela escada. Vou nos fundos do quintal e o chamo. Ele vai na mesma direção. Vou até a frente da casa da vizinha e o chamo. Ele aparece. Boto a escada de novo. Nada. Procuro sr. Jadir, o jardineiro e não o vejo em lugar nenhum. Estou muito aflita, pensando que terei de pagar o mico de ligar para o Corpo de Bombeiros e pedir que resgatem um gato faminto que está no telhado da vizinha. Volto pra casa, resignada e é quando vejo o Pinguinho no chão, procurando comida.
- Como é que você conseguiu descer, meu filho?
- Miau, miau... (anda logo com essa comida)
São tantas emoções.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

HOMENAGEM A PABLO NERUDA

HÁ 41 ANOS, MORRIA O GRANDE POETA CHILENO PABLO NERUDA. EM HOMENAGEM A ELE, TRANSCREVO MEU POEMA PREFERIDO.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo : 'La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos'.
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oir la noche immensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos arboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto al amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque ésta sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

ONU TIRA BRASIL DO MAPA DA FOME


Da próxima vez que alguém disser que não vota no PT "por causa disso que tá aí", vou entender que essa pessoa não gostou da notícia divulgada pela ONU. 

A fome foi um dos flagelos do país e o pilar dos governos petistas. Lula prometeu acabar com a fome e conseguiu. Muitos chamaram o Bolsa Família de Bolsa Esmola, mas o programa veio acompanhado do aumento real do salário mínimo e o aumento da oferta de emprego. As novas gerações, nutridas e escolarizadas, dificilmente serão cooptadas pelo crime organizado. O resultado será menos violência e uma sociedade mais justa, mais fraterna.


Então, quem não vota no PT "por causa disso que tá aí" ou não conhece o país onde vive ou confia cegamente no que Veja, Estadão, Folha e Globo, essa mídia que tem interesses inconfessáveis, divulgam.


Se o "por causa disso que tá aí" se referir à corrupção, pior ainda, porque ela rolou solta no governo FHC, não foi investigada (foi engavetada) e não vi ninguém ir às ruas reclamar "disso que tá aí".


Então é o quê? E quando faço essa pergunta, fico sempre sem resposta. Mas o silêncio me diz tudo.

E POR FALAR EM FELICIDADE...


Felicidade é estar sentada no jardim, desfrutando o dia recém-nascido, quando de repente eu ouço um toc-toc-toc. Um não, dois. Eram dois pica-paus, um deles com um penacho bem grande e amarelo na cabeça; no outro, o penacho era menor. Seria um casal? Na primavera, os pássaros namoram.

Foi então que voltei à minha infância, ao tempo da escola primária, em que cantávamos felizes: "Pica-pau é um passarinho bem bonito e mui gentil, que se encontra pelos lares majestosos do Brasil." E aí vinha a estrofe final que arrancava gargalhadas dos meninos maliciosos: "Pica-pau, pau, pau, pica-pau, pica-pau, pica-pau, pica-pau, pica-pau, pau, pau." Eram tantas as risadas dos meninos que nós, meninas, muitas como eu, sem entender, ríamos também. A professora tentava, à princípio, fazer os meninos pararem, mas acabava desistindo e ria também.


E é com essa cena tão feliz que começo meu dia (depois de ter comido umas amoras do pé).

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

VAMOS CONVERSAR?


Eu até entendo que banqueiros, magnatas, grandes empresários, os grandões da mídia, alguns setores do agronegócio votem em Marina ou Aécio. Afinal, os dois têm programas muito parecidos, nos quais todos eles serão fortemente favorecidos e o povo, acredite, vai ficar de fora. 


E é por isso que não entendo que um trabalhador, um aposentado, uma pessoa que saiu da pobreza para a classe média vote nesses dois candidatos. Não faz o menor sentido. É como dar um tiro no próprio pé.
Eles, Aécio e Marina, não desistem do Brasil, mas é daquele Brasil cheio de mamatas e conchavos. Estão prontinhos para entregar o país, como sempre o fizeram, nas mãos dos americanos. Consultem quem são os economistas desses partidos e vocês verão que estou certa. Lembrem-se que quase nos juntamos à ALCA - que era um péssimo negócio para o Brasil.


O que vai acontecer, e podem esperar, é que, se eleitos, esses dois candidatos seguramente desistirão do povo em nome do famigerado ajuste fiscal (eufemismo para "nós lucramos e o povo que se dane") que, como já sabemos, prevê arrocho salarial e desemprego. É a política neoliberal, embora Marina faça de conta que não é. Como não é se o banco Itaú que a apoia? Informe-se sobre o que está acontecendo na Europa, nos EUA. Trocando em miúdos, na política neoliberal quem paga pelos desacertos é sempre o povo e há milhões de desempregados nesses continentes.


Antes de votar, informe-se sobre o seu candidato. Não confie na mídia. Faça sua pesquisa. Assista às TVs Câmara e Senado. E vote pensando no bem-estar de sua família, no bem do povo e no que é melhor para o Brasil.

VOCÊ SE LEMBRA?


É incrível o que o tempo faz com a memória das pessoas.
Alguns conhecidos viajam pra Europa, Estados Unidos, América do Sul quase todo ano. Alguém lembra que 12 anos atrás os aeroportos ficavam às moscas?

Vejo todo mundo saindo e se divertindo. Alguém lembra que 12 anos atrás estávamos todos de cara amarrada, sombrios? Ipanema e Copa, centros de diversão carioca, não tinham movimento. Era fácil chegar em qualquer bar e restaurante e conseguir lugar. Hoje, vivem cheios. Ninguém consumia nada há 12 anos. Nos supermercados, os carrinhos viviam quase vazios. Eu me lembro que fui ao teatro uma sexta-feira à noite e Ipanema estava quase às escuras. Deprimente! Aquilo me chocou. Mas, claro, funcionário público ficou 8 anos sem um aumentozinho sequer, no governo FHC. Você se lembra?

Quem tem boa memória valoriza as conquistas que tivemos nos últimos 12 anos. Valoriza as viagens, os novos aeroportos, as estradas sem buracos e reconhece que sim, houve um enorme avanço. Tivemos um ano quentíssimo de seca em vários rios, alguém ficou sem luz? Lembram dos apagões da era FHC?

Quem não tem boa memória, ameaça levar o país de volta a essa época tão infeliz de nossas vidas. Há o perigo de voltar aqueles economistas que só faziam o bolo dos banqueiros crescer. Os mesmos que confiscaram a nossa poupança. Você lembra? O nome André Lara Resende lhe faz lembrar alguma coisa?

Raramente saio à noite e vivo uma vida muito simples, rodeada dos meus bichanos. Pra mim, tanto faz que ganhe A, B ou C, embora eu devesse votar naquele candidato que diz que vai melhorar os ganhos dos aposentados. Tudo mentira, claro, mas quanta gente não está sendo enganada? Mas não penso em mim, penso no país que está prestes a ser entregue aos banqueiros, que vai virar um cassino. Penso no nosso petróleo que, não duvide, vai para os ávidos americanos, comprometendo o futuro de milhões de brasileiros que dependem desse recurso para a saúde e a educação. A Petrobrás quase virou Petrobrax. Você se lembra? Pois esta ameaça agora, mais do que nunca, existe.

Sinto como se estivesse vivendo os dias terríveis que precederam a eleição de Fernando Collor. Deu no que deu e Sarney assumiu, lembra? Lembra que a inflação chegou a 84% ao mês? A propósito, você sabe quem é o vice do seu candidato? Investigou o vice?

Naqueles dias assombrosos, numa viagem a São Paulo, consultei uma pessoa influente, que me recomendou tirar o dinheiro da poupança e avisar aos meus amigos mais próximos. Ninguém acreditou em mim. Eu me safei, mas foi triste ver o desespero das pessoas.

Acho que é assim mesmo. Ninguém quer acreditar. Então, é ver para crer.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

VIDA NA ROÇA

Lindo, mas lindo mesmo é sair lá fora no jardim, depois do tempo nebuloso e frio de ontem, e ver o sol brilhar. É maravilhoso ver a orquídea-bambu florida, a buganvílea com seus cachos de flores rosadas, os calâncoes salpicados de flores vermelho-sangue, as azaléas coloridas de rosa, enfileiradas junto ao muro, os manacás cobertos de roxo e branco, perfumando todo o jardim, o roseiral cheio de rosas e a sibipiruna, que eu tanto temia fosse morrer, toda copada e já se preparando com seus botões para florir na primavera.
Não há nada mais lindo. E nem mais importante.
Bom dia de sol para todos!

VIDA NA ROÇA


Sou jardineira de primeira viagem. Por isso, estou sempre procurando aprender, mas concluí que nada - para tudo nesta vida - vale mais do que o bom senso e a observação. 


Estava desgostosa com a minha magnólia, que só havia produzido umas 3 florzinhas. Conversei com o jardineiro da casa do lado, um senhor que mantém o jardim da vizinha em perfeitas condições. Ele me disse, com muita ênfase, que eu deveria podar a magnólia, antes que viessem as folhas. Sim, porque a magnólia se despe das folhas para então florir. 


Confesso que sou teimosa e não fiquei convencida, porque já havia adubado o arbusto. Resolvi esperar, dar um tempo à magnólia, porque sei que as flores são manhosas, cheias de mimimi, não surgem assim sem mais nem menos. Demandam carinho e atenção como, aliás, os seres humanos também. E o resultado veio depois de alguns dias. A magnólia está carregada de flores e ainda tem botões para desabrochar. Está linda. Fotografei uma flor para que vejam. E que tenham um dia muito feliz!

terça-feira, 13 de maio de 2014

VIDA NA ROÇA

Apareceu um buraco aqui na rua. Botaram um galho de árvore pra avisar ao motorista. Esperei que a prefeitura tomasse providências, mas nada aconteceu. O tempo passou. Um dia, aparece outro buraco, desta vez mais perto da minha casa. Liguei pra ouvidoria da prefeitura e me atendeu um sujeito muito simpático - que raro! Falei dos dois buracos e ainda da placa da rua que, pasmem!, é de madeira. O funcionário abriu processos pras minhas queixas e pediu que eu ligasse de volta quando o assunto estivesse resolvido. Dois meses se passaram e nada. Um dia, uma teresopolitana me aconselhou a ligar pra televisão. “Eles vão até o local, botam a matéria no ar e logo, logo a prefeitura toma providências.” Liguei pra TV e a jornalista que me atendeu, pediu meus dados e me avisou que eu seria entrevistada. O quê? Nunca apareci na TV e, podem acreditar em mim, nunca fiz a menor questão. Sempre gostei de ficar do outro lado. Diante da minha indecisão, a jornalista ameaçou cancelar a matéria. Na última hora, aceitei. Tudo pelo social. Assim que desliguei o telefone, me veio à cabeça aquelas ataques de vaidade que toda mulher tem: “com estas unhas?, com este cabelo?” Corri até o salão e me produzi. No dia da tal entrevista, acordei cedo e me emperequetei toda, logo eu que adoro andar de pijama. Mas era eu mesma, irreconhecível até pra mim, e de salto!? A entrevista fora marcada pras 11 horas. As 11 horas chegaram, o tempo passou e...nada. Levei o maior bolo. Tirei aquela parafernália toda e voltei a vestir o pijama. Lá pelas 3 da tarde o vizinho avisou: “O caminhão da prefeitura está aí tapando os buracos.” Agora só falta a placa.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

OUTONO


A gente entende mesmo que o outono chegou quando o jardineiro traz uma sacolinha de caqui. É a fruta da estação. Pensei em você, Patricia.

Aqui na serra o outono chegou pra valer desde a última chuva. Foi-se embora o calorão atípico (nunca havia sentido tanto calor). As chuvas do fim da primavera castigaram a sibipiruna e a tulipa da África. Ainda bem que a quaresmeira plantada recentemente está brotando. Vou ter flores na próxima quaresma. O pau-brasil cresceu e está viçoso. Agora é esperar que o tempo cure as duas árvores. 


Pela manhã, um friozinho e aos poucos o dia vai esquentando. Talvez por isso onze-horas e terezinhas ainda floresçam todos os dias, embelezando o jardim. As rosas também resistem à chegada do outono e daí ainda posso oferecer uma rosa à santa Terezinha. As noites são frescas e as madrugadas frias. Já tirei o cobertor do armário. 


Pinguinho, que no verão gosta de dormir no jardim, entra em casa ao anoitecer e fica me rodeando. Ele quer que eu desça pro quarto e agora vocês sabem por que durmo cedo. Mimei tanto esse gatinho que ele agora se acha meu dono. 


E entre cuidar dos gatinhos, molhar as plantas, tirar um capim aqui e ali e admirar a orquídea florida no alto da sibipiruna vivo meus dias em paz.


Bom dia!

segunda-feira, 7 de abril de 2014

VIDA NA ROÇA


Estava atrás de uma muda de maracujá até que a vizinha me deu logo duas. Uma delas cresceu e se espalhou pra todo lado, deu um montão de flor, mas não deu fruto. Conversei com a vizinha e ela me disse que a dela já frutificara. Como pode ser? Ela não soube explicar. Frustrada, consultei o Google e lá estava: pra dar fruta, a flor do maracujá precisa ser polinizada pela abelha marmangava. Abelha o quê? Gente, sou urbana, não entendo nada de abelhas. Uma vez, chamei o jardineiro e pedi que ele acabasse com uma infestação de marimbondos nas roseiras. Estava preocupada que mordessem meu neto. O jardineiro mal conseguiu disfarçar o riso e me disse: “Não é marimbondo, não, dona, é abelha cachorra.” Abelha o quê? Que nome bem dado! Além de cachorra, é uma safada e sem vergonha, porque mata os botõezinhos das rosas, impedindo-os de desabrochar. Mas voltando ao maracujá, olhei a foto da marmangava e tentei encontrá-la. Ela tem a bundinha amarela com listas negras. Nada. Até que outra pesquisa me levou à adubação. Adubei os dois pés. Um domingo desses, Daniela descobriu o primeiro maracujazinho. Foi a maior alegria. Depois, descobri o segundo e Dani, o terceiro e o quarto. Já estava me sentindo uma agricultora e tanto quando, no domingo, Dani resolveu fazer um suco de maracujá. Eca, que gosto horrível! Outra pesquisa no Google me levou a concluir que eu plantara, na verdade, o maracujá selvagem. Decepção. Mas em tudo há uma lição a aprender. O maracujá amarelo ou azedo, próprio pra suco é o Passiflora edulis f. flavicarpa. Tem um que é docinho e pode ser comido como sobremesa. Este se chama Passiflora alata. Vivendo e aprendendo...

sexta-feira, 28 de março de 2014

PAPO MULHERZINHA


Quando não estou trabalhando, estou estudando. Faço curso de tudo...online. A minha curiosidade é ilimitada e vai desde o francês, passando pelo empreendedorismo, filosofia, tricô e o bolo pelado. Descobri recentemente que existe um tal de bolo pelado e ontem assisti à primeira aula. Na semana passada, foi tricô. As duas jovens professoras são excelentes, competentes, carismáticas e ensinam pra valer. Mas uma coisa me incomodou muito: elas usam o diminutivo pra tudo. "Você pega esse pontinho passa nesse buraquinho e daí dá uma voltinha e segura esse outro pontinho." Ou: "você pega essa pazinha, mexe devagarinho pra fazer um docinho bem bonitinho e gostosinho."
O que está acontecendo? É moda falar assim ou é mesmo infantilismo?

VIDA NA ROÇA


Estava andando pela cidade quando uma conhecida se aproximou com o carro e perguntou:
- Quer uma carona?
Entrei, suspirando e agradecida...mas logo me dei conta que tinha entrado numa furada. A moça é fã ardorosa do Luan Santana e ouvia o CD do cantor a todo volume: "EU VOU ESTAR TE ESPERANDO NEM QUE JÁ ESTEJA VELHINHA GAGÁ, COM NOVENTA, VIÚVA, SOZINHA..." O pior é que ela acompanhava. Oh, boy! A certa altura, ela gritou:
- VOU PARAR PRA PEGAR MEU FILHO NO CURSO DE INGLÊS.
- AH, TÁ...
Que alívio! Um pouco de sossego enquanto ela saía pra pegar o menino, que chegou ansioso, perguntando:
- Comprou meu CD do Luan?
- Claro, filho.
Antes de aumentar o volume, ela me disse:
- Agora levo você pra casa, tá?
- Obrigada!
E lá fui eu, ouvindo tudo outra vez, desde o início, aos berros: "MESMO QUE VOCÊ NÃO CAIA NA MINHA CANTADA, MESMO QUE VOCÊ CONHEÇA OUTRO CARA."
O jeito foi rezar: "Ave Maria, cheia de graça..."

sábado, 22 de março de 2014

DISCURSO DE RUBENS PAIVA



O deputado convocou estudantes e trabalhadores a acompanharem as transmissões da Rádio Nacional, que formava uma rede em defesa da legalidade junto a outras emissoras. "Estejam atentos às palavras de ordem que emanarem aqui da Rádio Nacional e de todas as outras rádios que estejam integradas nesta cadeia da legalidade. Julgamos indispensável que todo o povo se mobilize tranquila e ordeiramente em defesa da legalidade prestigiando a ação reformista do presidente João Goulart que neste momento está com o seu governo empenhado em atender todas as legítimas reivindicações de nosso povo".

Comissão da Verdade reúne documentos sobre a morte de Rubens Paiva (Secretaria de Estado da Cultura / http://www.cultura.sp.gov.br)
"Está lançada inteiramente para todo o país o desafio: de um lado, a maioria do povo brasileiro desejando as reformas e desejando que a riqueza se distribua, os outros são os golpistas que devem ser repelidos e desta vez, definitivamente para que o nosso país veja realmente o momento da sua libertação raiar". Foi dessa maneira que Paiva concluía a sua intervenção pela rádio, em que convocava a resistência pacífica contra o Golpe.
Na madrugada do dia 03 de abril, Paiva ainda providenciou um avião para levar o ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro, e o Procurador-Geral da República, Waldir Pires - que tentavam a resistência em Brasília - para o Rio Grande do Sul, onde Jango tentava ainda articular forças para resistir ao Golpe. No meio do trajeto eles souberam pelo rádio que não haveria resistência e, assim como o presidente, rumaram para o exílio no Uruguai.
No dia 10 de abril, com os militares já no poder,  Rubens Paiva teve seu mandato cassado após a edição do primeiro Ato Institucional (AI-1) . Eleito em 1962 para o mandato parlamentar, Rubens Paiva teve papel de protagonismo na CPI que investigou o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), cuja conclusão apontava a intervenção da entidade “no processo de escolha de representantes políticos do povo brasileiro para a tomada do poder através da corrupção eleitoral”.
Em 1971, entre os dias 20 e 22 de janeiro, o deputado entrou para a lista dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira (1964-1985).

VIDA NA ROÇA


Depois do luar do ontem e de rezar sob as estrelas, dormi em paz. Acordei cedo e vi o sol nascer. Saí descalça e pisei na grama orvalhada. Preparei o café e o tomei no jardim, rodeada de gatinhos. 


Meu dia começou assim. Feliz.


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VIDA NA ROÇA


Nem tudo são flores na roça. Aqui, as coisas funcionam de um jeito todo especial. Por exemplo, você quer marcar uma consulta com o médico. Tem de ligar na véspera , pela manhã, numa faixa horária determinada pela atendente. Motivo? Preguiça de ligar pra confirmar, mas elas dão outra desculpa. Se perder o horário, só no outro dia. E não adianta reclamar. São duronas mesmo. 


Outro exemplo, você diz seu endereço, número, informa a localização, mencionando um ponto conhecido e eles não entendem. Falo de taxistas. Perguntam coisas do tipo: "É perto do seu Estevão?", "É um portão branco?" No início, esta carioca estressada quase tirava as calças pela cabeça. Mas já me teresopolitei.

sábado, 8 de março de 2014

TRISTE, MUITO TRISTE


A BÉLGICA, A EXEMPLO DOS PAÍSES BAIXOS, ACABA DE APROVAR A EUTANÁSIA PARA CRIANÇAS VÍTIMAS DE ENFERMIDADE INCURÁVEL.

JÁ SE MATAM OS VELHOS HÁ MUITO TEMPO, EMBORA NINGUÉM ADMITA TAL PRÁTICA. AGORA CHEGOU A VEZ DAS CRIANÇAS.

HÁ POUCO MAIS DE 100 ANOS, ERA MAIS OU MENOS COMUM AS PRÓPRIAS FAMÍLIAS MATAREM VELHOS E CRIANÇAS PARA NÃO TER DE SUSTENTÁ-LOS. AGORA, O ESTADO SE ENCARREGA DISSO.

ME FEZ LEMBRAR UM POST TRISTÍSSIMO, QUE CIRCULOU, DE UM MENINO SÍRIO, GRAVEMENTE FERIDO, QUE DECLAROU ANTES DE MORRER: "VOU CONTAR TUDO A DEUS." CONTE, MENINO, CONTE.

VIDA NA ROÇA



Ontem, salvei mais uma libélula. Foram muitas até agora. Volta e meia também salvo um passarinho. Resgatei 10 gatinhos abandonados. E lá fora no jardim, o hibisco, que antes era podado, mas não dava flor, agora está todo florido. Impedi que o podassem de novo. Deixei-o livre. No primeiro verão que passei aqui, as alamandas não floriram. Diagnóstico de um expert: excesso de poda. Passei a proibir também e lhes dei o alimento de que precisavam. Estavam muito raquíticas. Passeando no jardim, me encantei com a beleza das alamandas roxas e amarelas. As hortênsias foram tão podadas que custaram a crescer e florir. Agora, florescem o ano todo. Aqui na roça, eles preferem uma planta tosada a uma planta florida. Não consigo entender. Mas o que eu quero mesmo dizer é que me dou conta, a cada dia, que minha vida tem muito mais sentido.
 

VIDA NA ROÇA


Hoje, me surpreendi com o atendimento do INSS aqui da roça. Fui lá fazer uma alteração cadastral e estava até levando - além da certidão de nascimento da vovó e do vovô, porque eles pedem até o impensável - o "kit INSS" que eu usava no Rio, ou seja:
1. Lexotan e todos sabem porquê;
2. Quentinha pra demora;
3. Garrafa d'água;
4. Sapato baixinho, porque nem sempre tem lugar pra sentar;
5. Rede pra tirar uma cochilo;
6. Dramamine pros enjoos que sempre acontecem;
8. Jornal e uns dois livros de 400 páginas cada um;
7. Remédio pra garganta pra poder gritar bem forte;
8. Uma escopeta pra sair metralhando.
Pois bem, nada disso foi necessário. Fui recebida por uma atendente super atenciosa (estou me beliscando até agora) e um senhor super cordial (que que isso?) que resolveu meus problemas em uns 3 minutos.
Parece um sonho, mas é verdade. Vive la rósse!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

VIDA NA ROÇA



Uma das grandes surpresas que tive ao vir morar na serra foi encontrar um grande número de evangélicos. Nada contra a religião de ninguém, mas acho que está havendo um certo exagero. Pega-se um táxi e o motorista, em geral sempre solícito, está ouvindo uma música evangélica aos berros. Eu nem me atrevo a pedir que desligue o rádio ou o CD player. Tenho medo de levar um chute pela ofensa gravíssima e ter voltar a pé pra casa. Só peço, gentilmente, que baixe o volume, mas ele só diminui um pouquinho. Suspiro resignada e ligo o botão do dane-se.  

Aos domingos, invariavelmente, recebo a visita das Testemunhas de Jeová. Antes, eu dizia que era católica, mas eles são treinados pra enfrentar e derrotar qualquer oposição. Hoje em dia, me limito a botar a cara pra fora e gritar: “Tô ocupada vigiando o leite.” Tem dado certo, por enquanto. 

Hoje, fui à famosa loja Amigão, lá no centro. Enquanto cobiçava uns potinhos simpáticos, a música evangélica começou a berrar: “Bendito seja, em nome do senhôôôôôô...” Tentei me concentrar nos potinhos. Não deu certo. Cheguei a agarrar dois tapetinhos de porta e disparei para o caixa. Queria sair dali correndo. A moça do caixa cantarolava, acompanhando a música: “Senhor, eu te amuuuuuuuuuu, senhor eu te amuuuuuuuuu”. Paguei e saí batida da loja.

 Lá fora, meu ouvido ainda retumbava. Caraca, preciso tomar um café.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

VIDA NA ROÇA


Não choveu. Mas o tempo andou feio. À noite, as estrelas não apareceram e a lua andou escondida nas nuvens cinzentas. Foi um fim de tarde melancólico e uma noite comum, como são as noites sem lua e sem estrelas. Mas não é disso que vou falar.

Há dois anos plantei uma macieira. Comprei-a ainda bebê, porque tenho a ambição de viver ainda uns bons anos. Cuidei dela com carinho, mas teve um tempo que pensei que ia morrer, de tão raquítica que estava. Um passarinho tirou a macieira da depressão. Jogou uma sementinha de amora bem junto dela e a amoreira, folgada, danou a crescer. Andei até pensando em arrancá-la, com medo de que a macieira se acabasse de vez. Mas um dia notei que a macieira, ao contrário, começou a ficar mais viçosa e até cresceu bem. Hum... sem querer me meter na vida dos outros, comecei a desconfiar de alguma coisa. 


Um dia desses, molhando as plantas, notei que a macieira estava em flor. Que lindo! Não pensem vocês que era um monte de flor, umas três ou quatro, por aí. Mas foi o bastante pra me convencer: as duas estão de caso.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...