domingo, 28 de dezembro de 2014

CIGARRAS


Ainda agora, no jardim, elas estavam cantando. Pra mim, as cigarras são os arautos do verão. Elas me lembram da minha infância, porque quando cantavam, anunciavam mais calor e chuvas de verão no fim da tarde. Enquanto a chuva caía pesada, subia no ar o cheiro de terra molhada. E eu me juntava à molecada pra tomar banho daquela água fresquinha que caía do céu. Ainda me lembro da sensação de frescor que permanecia na pele. Mas nem todos apreciam as cigarras.

Uma vez, no tempo em que Prainha e Grumari eram praias semi-desertas e distantes para muitos, muito antes de se tornarem o inferno que são hoje em dia, fui com minhas meninas e um amigo à Grumari. Na hora do almoço, seguimos pela velha estrada em direção à Barra de Guaratiba. Lá no alto da serrinha, havia um restaurante (talvez ainda esteja lá) que tinha uma vista espetacular de toda a mata exuberante que inspirou Burle Marx. Sentamos embaixo de um frondoso flamboyant pra comer moqueca de peixe e pastel de camarão - delícias do lugar. Enquanto aguardávamos o banquete, as cigarras, aos montes, começaram a cantar. O que para mim era uma sinfonia encantadora, para as meninas e o amigo não passava de um barulho ensurdecedor. Diante dos protestos, tive de me conformar em entrar no restaurante, onde o "barulho" das cigarras foi substituído pelo do ar condicionado.


E quase todos ficaram felizes.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

VIDA NA ROÇA


Por mais ocupada que eu esteja, não deixo de apreciar a natureza todos os dias. Hoje, o dia estava especialmente bonito. Fez uma linda e fresca manhã de céu azulzinho. À tarde, os raios do sol estavam especialmente brilhantes e iluminavam o manacá da serra, beijando-lhe as flores rosadas "ton-sur-ton". Um verdadeiro romance e um espetáculo da natureza. Bem no meu jardim. Depois, tomei um café enquanto vi o sol se pôr em rosa, azul, amarelo, laranja. De tirar o fôlego. É a época das hortênsias florirem, os agapantos começaram mais cedo e agora estão no fim da florada. Antes foi o buquê de noiva, as azaléas... É um florir sem fim. Lindo demais. Queria poder emprestar meus olhos a todos os meus amigos. E meus ouvidos também, que estão cheios dos cantos dos passarinhos.

SONHOS


Em tudo, ontem foi um dia especial. Saí pra fazer umas compras à tarde e, de repente, olho pra vitrine da padaria e vejo uns sonhos, todos deitadinhos na bandeja, com seus cremes amarelos saindo pela borda e suas roupinhas de açúcar. Pareciam bebezinhos num berçário. E eles me diziam: "me leva".

Aí eu me lembrei que quando criança, e como sofrida filha mais velha, cabia a mim ir todos os dias à padaria. Enquanto o moço embalava o meu pedido, eu olhava cheia de desejo para os sonhos na vitrine. Ah, como eu gostava deles! De vez em quando, minha mãe me dava um trocadinho e dizia: "compre um docinho pra você." E eu comprava meu sonho.


Anos depois, a caminho de Búzios, passei por uma padaria que vendia sonhos. Parei o carro e fui me deliciar com um deles. Era uma época em que os sonhos eram permitidos. Não havia ainda os que hoje dizem pra tudo: "engorda".


Tudo isso me passou pela cabeça enquanto eu olhava para os sonhos. Acabei atendendo o apelo deles. Levei um pra casa. E me deliciei.


De vez em quando, a gente tem de voltar à infância.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...