terça-feira, 16 de junho de 2015

VIDA NA ROÇA


Um dos meus maiores desejos era ter um vaso de avencas e outro de samambaia-chorona. Nunca pude tê-las, porque, lá na cidade, avencas são dengosas e requerem muita atenção. Uma atenção difícil, pela vida corrida que eu levava. E as samambaias não resistiriam às traquinadas das minhas meninas. Já havia perdido a esperança, até que vim morar na roça. Há avencas aqui aos montes. Uma vez, pedi a um jardineiro que me limpasse uma parede, porque a hera estava avançando muito. Ele deixou a parede no cimento e a exibiu, todo orgulhoso. Havia arrancado toda hera e, ainda por cima, as lindas avencas. Quase tive um troço, mas aprendi que jardineiros aqui, por causa da abundância da vegetação, acham que avenca é mato. Mas o ambiente na roça é tão propício que elas voltaram com toda força. Que bom! E as samambaias-choronas são mesmo do mato, e dão aos montes. Caem lindamente das ribanceiras e, ontem, o jardineiro botou uma delas num vaso pendurado. 

Estava lá no jardim pegando meu solzinho da manhã e pensando em avencas e sambambaias, quando um pássaro amarelo começou a cantar no galho mais alto da sibipiruna. Curiosa, chamei o jardineiro da casa ao lado pra saber o nome do pássaro. O bichinho se assustou com a minha voz e foi embora. Ainda sou muito estabanada e não aprendi a controlar meus impulsos. Minha grande ambição agora é conhecer os pássaros da região e reconhecê-los pelo canto.


E assim, entre avencas, samambaias e pássaros, vivo a vida que sempre sonhei.

A ENTREVISTA


O programa do Jô foi ao ar depois do antipático jornal (e do âncora William Waack) da Globo, ou seja, no c.. da madrugada. A minha estratégia foi tirar um cochilo antes, pois de outro modo não poderia ver uma das melhores entrevistas da TV brasileira, porque Jô estava num momento inspirado e deixou o entrevistado falar. Quem não viu, não deve perder, quando estiver disponível no YouTube. Serena, tranquila a presidenta falou de vários assuntos, até mesmo do período traumático em que esteve presa. Mostrou sua fibra, perseverança e espírito de luta. Admirável. O Jô talvez tenha se decepcionado lá no final da entrevista quando perguntou à presidenta se ela, agora no segundo e último mandato, não faria uma mudança drástica e brincou, dizendo "demitir um senador, por exemplo". Dilma entendeu que Jô se referia à reforma na lei dos meios, nesse oligopólio absurdo das comunicações que tanto envergonha cidadãos democráticos, mas ela tergiversou e falou do marco civil da internet, uma batalha duríssima no Congresso. Quem sabe ler nas entrelinhas, entendeu que a presidenta quis dizer que com o Congresso que está aí, uma reforma na lei de meios não seria viável.

Há muito que se comentar sobre a entrevista, mas vou me deter na postura da presidenta. Primeiro, quero dizer que ela me representa, tenho orgulho dela. Dilma é de uma elegância ímpar, não apenas no modo de se vestir, mas do jeito como se comporta. Na sua mineirice, falando pausadamente, ela vai se revelando uma mulher doce, sensível, culta, inteligente e extremamente educada. Deve causar inveja em muitas mulheres que, não podendo ser como ela, dirigem-lhe as ofensas das quais, em última análise, são elas o próprio alvo.

VIDA NA ROÇA - TANGERINAS


Tenho um pé de tangerina ainda pequeno. Este ano ele nos presentou com 12 deliciosas tangerinas, que eu e Daniela devoramos. Na casa ao lado, o pé de tangerina se encheu de frutos amarelinhos e grandões. Imagino que o arbusto deve ter ter umas 100 tangerinas, sem exagero. Ninguém mora nessa casa e nem mesmo a visita. Um jardineiro cuida dela. Eu o encontrei casualmente e lhe pedi tangerinas. Ele me deu uma sacola, mas todas estavam ainda meio verdes e eram pequenas - nada parecidas com as belezuras amarelas. Mas...cavalo dado não se olha os dentes. Pensei que as melhores certamente estariam reservadas pra ele ou para os próprios donos, que talvez aparecessem. Mas não. Já se passou mais de duas semanas e as tangerinas continuam no pé, como enfeites de árvore de Natal, só que correndo o risco de apodrecerem, se é que já não aconteceu. Uma pena, porque, mesmo estando boas, já devem talvez ter perdido o sabor que as frutas têm quando atingem o ponto. Volta e meia vou ao quintal e olho pra elas com pesar. 

E isso me faz pensar na metáfora que Cristo usou para amaldiçoar a figueira. Tem gente que não consegue nunca dar frutos.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...