segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

FICA A DICA - LIVRO "AS MAKIOKAS"

Não me lembro como cheguei ao romancista japonês Junichiro Tanizaki. O fato é que numa das minhas viagens consegui comprar AS MAKIOKAS, a obra prima de Tanizaki, a preço de banana. Não é original o que vou dizer, mas, pra mim, bom escritor é quem consegue manipular com arte as palavras de tal forma a provocar emoções e sensações. Quando digo isso, não posso deixar de lembrar de "Desonra", de J.M. Coetze, ganhador do Nobel de literatura, que me assombra até hoje. A história de AS MAKIOKAS é banal e talvez nem desperte o desejo de leitura de alguns. Está ambientada no Japão pré-Segunda Guerra Mundial. Tsuruko e Sachiko, as duas irmãs mais velhas da tradicional família Makioka de Osaka, estão casadas e precisam casar Yukiko, antes da irmã mais nova, Taeko. E até lá pela página 200 o romance gira em torno dos candidatos à mão de Yukiko, todos minuciosamente investigados e descartados, por não atenderem às exigências da família tradicional. Yukiko, por sua vez, não demonstra a menor pressa, a menor emoção. O leitor chega quase a desanimar do livro, porque é tudo tão anacrônico, tão ultrapassado, mas é justamente este desconforto, essa exasperação que Tanizaki quer causar. Yukiko e Taeko são a metáfora do velho e novo Japão. Enquanto Yukiko é lenta, meditativa e misteriosa, Taeko tem sede de viver, de se emancipar, de ser livre enfim. A partir da página 200 (por aí), o livro adquire tal dinamismo que é impossível largá-lo. Li as últimas 330 páginas bem mais rápido que as 200 primeiras. Recomendo o livro apenas para pessoas tranquilas, que curtem uma boa leitura. É literatura de primeira.

VIDA NA ROÇA - A DELÍCIA E A DOR


Recebi um presentaço da minha amiga AMPLA: essa famigerada empresa de energia elétrica me deixou sem luz desde às 16 horas de ontem. Isso depois de ter ficado sem internet a metade do dia. Bem verdade que caiu um toró, mas falta luz sempre que há qualquer toró. Isso pra mim é incompetência. E quem é incompetente, não se estabelece. Mas naquele açodamento das privatizações, naquela ânsia de deixar o amigo ou o parente bem de situação, escolheram dar a concessão de energia elétrica a um incompetente qualquer nesta Terra Brasilis, que só se dá bem quem é amigo do PSDB. Acabei perdendo a cerimônia do Oscar, sem falar que meus aparelhos domésticos passaram por grande risco.
Mas quem se importa? Na Terra Brasilis se você não é do PSDB pode até acabar indo preso por algo que não fez e nem sabe do que se trata como, por exemplo, uma offshore. O que é mesmo isso, gente?
 

O OVO DA SERPENTE

Na Idade Média, a Igreja, que era o grande poder, arregimentava jovens vagabundos, sem rumo e lhes dava uma causa por que lutar: as Cruzadas. Os jovens eram incentivados a expulsarem os infiéis da Terra Santa e, em troca, ganhavam títulos de nobreza, quando se destacavam. Essa ideia pegou e na contemporaneidade foi adotada, por exemplo, por Hitler, que usou como apelo para a Segunda Grande Guerra a humilhação sofrida pela Alemanha no Armistício de Compiègne (1918), quando, entre outras coisas, o país foi obrigado a pagar pesadas multas de guerra e devolver a Alsácia-Lorena à França. Hitler ainda buscou um bode expiatório do caos no país: os judeus. E aí 6 milhões foram mortos. Vários outros países adotaram a mesma prática e até a aperfeiçoaram, como os Estados Unidos, que mataram nas guerras promovidas mundo a fora gerações inteiras de negros, pobres e hispanos, principalmente. É a chamada limpeza étnica.
Aonde eu quero chegar com isso? É que vem se formando, no mundo inteiro, uma massa de jovens sem rumo e de pouca instrução, vítimas especialmente da mídia, que os manipula ao seu bel-prazer. Ainda na semana passada, fiz um comentário num FB local e, pra minha surpresa e mal-estar, percebi que grande parte dos jovens eram fãs ardorosos do Bolsonaro e o querem para presidente da República. Retirei-me para não polemizar, até porque aprendi que não se deve discutir com fanáticos, mas o pouco que disse foi o bastante para provocar a ira dessa horda de insanos.
Não quero nem pensar no que pode vir daqui pra frente. As únicas soluções que vejo são: mais educação de qualidade e a retirada do poder absoluto da mídia em nosso país, concentrada nas mãos de poucas famílias, que usam o poder concedido pelo povo em benefício próprio.
Fora isso, repito o que disse a marquesa de Pompadour: "après nous, le déluge" (depois de nós, o dilúvio).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

VIDA NA ROÇA


O verão na serra tem sido o mais ameno, desde que cheguei aqui. O dia amanhece devagar, com um sol meio preguiçoso, deixando poucas horas para o banho de sol, porque depois ele queima de verdade. Ao meio-dia, não me atrevo a ir lá fora. Mas lá pelas três da tarde, a gente começa a ouvir umas trovoadas ao longe. Elas me fazem lembrar das trovoadas dos verões da minha infância e dos banhos de chuva refrescantes.Quem nunca tomou banho de chuva no verão não sabe o que é felicidade verdadeira. Minha mãe dizia que as trovoadas eram a voz zangada de Deus e que Ele estava brigando comigo. Eu era muito levada, como são as crianças, mas o que mais aborrecia minha mãe é que eu era também malcriada e respondona, como dizia. Aliás, um defeito que ela mesma me passou. Mas Deus, claro, só se zangava comigo. E eu ficava quietinha, tentando me emendar, mas isso nunca aconteceu, até não muito tempo atrás, quando comecei a ficar realmente cansada das pessoas. Hoje em dia, só sou malcriada e respondona com aquelas que eu gosto. Com as outras, meu silêncio.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...