Uma das grandes surpresas que tive ao vir morar na serra foi
encontrar um grande número de evangélicos. Nada contra a religião de ninguém,
mas acho que está havendo um certo exagero. Pega-se um táxi e o motorista, em
geral sempre solícito, está ouvindo uma música evangélica aos berros. Eu nem me
atrevo a pedir que desligue o rádio ou o CD player. Tenho medo de levar um
chute pela ofensa gravíssima e ter voltar a pé pra casa. Só peço, gentilmente,
que baixe o volume, mas ele só diminui um pouquinho. Suspiro resignada e ligo o
botão do dane-se.
Aos domingos, invariavelmente, recebo a visita das
Testemunhas de Jeová. Antes, eu dizia que era católica, mas eles são treinados
pra enfrentar e derrotar qualquer oposição. Hoje em dia, me limito a botar a
cara pra fora e gritar: “Tô ocupada vigiando o leite.” Tem dado certo, por
enquanto.
Hoje, fui à famosa loja Amigão, lá no centro. Enquanto
cobiçava uns potinhos simpáticos, a música evangélica começou a berrar: “Bendito
seja, em nome do senhôôôôôô...” Tentei me concentrar nos potinhos. Não deu
certo. Cheguei a agarrar dois tapetinhos de porta e disparei para o caixa.
Queria sair dali correndo. A moça do caixa cantarolava, acompanhando a música: “Senhor,
eu te amuuuuuuuuuu, senhor eu te amuuuuuuuuu”. Paguei e saí batida da loja.
Lá fora, meu ouvido
ainda retumbava. Caraca, preciso tomar um café.
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