Diante de mim, uma tela vazia e eu estou sem saber o que dizer. Hoje é sabado, meu acidente aconteceu num sábado. Amanhã vou sair, tal qual fiz naquele dia (gosto mesmo é de ficar em casa) e novamente com a minha cunhada, só que desta vez vou ver a exposição de orquídeas do Jardim Botânico.
No outro dia, conversávamos no telefone, eu e minha cunhada, e ela me dizia da angústia e desconforto que sempre sente quando está no metrô. Ela tem medo que o celular toque, porque no dia em que me acidentei ela estava no metrô e foi lá que recebeu a notícia do meu atropelamento. Ela ficou com esse trauma.
Às vezes penso como é possível que suportemos tantas coisas e ainda tenhamos força para seguir adiante. Não quero minimizar a angústia da minha cunhada, mas imaginem o que sinto. Lembro-me bem que, enquanto a ambulância me levava para o hospital, eu não tinha noção do que acabara de me acontecer. Não sentia nenhuma dor e estava confiante de que logo voltaria para casa. Fiquei três meses internada. E durante esses três meses sofri dores insuportáveis, e chorei tudo o que não havia chorado desde então. Ainda na UTI, depois que me tiraram o tubo de ar, fazia planos de viagem. Já estava decidido: iria ao Polo Norte para finalmente ver a Aurora Boreal. Não, eu não conseguia dimensionar a tragédia que havia se abatido sobre mim.
Hoje, a minha preocupação é saber se vou conseguir, amanhã, andar da entrada do Jardim Botânico até a exposição de orquídeas, porque caminhar ainda é penoso. É muito pouca ambição para quem sempre gostou de viajar, de ir muito longe.
Só mesmo o tempo vai poder acalmar meu coração e aliviar o sofrimento. Esquecer, virar a página, como costumam dizer, talvez nunca seja possível.
domingo, 2 de maio de 2010
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