À noite, o sono me venceu. Ao despertar, a moça de uniforme, meu anjo da guarda, estava ao meu lado, pronta para me levar para a radiografia. Alguém perguntou se podia ir também e ela respondeu: “pode ir quem quiser.” Não entendia o porquê do interesse. Só fui entender muito tempo depois.
A sessão de radiografias foi longa, mas a moça de uniforme não me deixou só nem um minuto. Os homens de branco cochichavam com o pessoal do raios X. Escutei uma mulher de uniforme branco perguntar: “é gente nossa?” Tive a impressão que se referia à moça de uniforme. Depois de algum tempo, comecei a sentir dores muito fortes. Reclamei e eles me deram remédio. Dormi durante algum tempo e, quando acordei, ainda estava na radiografia. Não sei quanto tempo permaneci lá.
Finalmente, fui levada para o box da UTI. Passei a esperar, minuto a minuto, a vinda do diretor médico responsável por aquele setor. Nem sempre ele vinha e, quando aparecia, mostrava-se sempre muito otimista e animado. Gostava de ser portador de boas notícias. Era um homem muito bonito e simpático, mas nem sempre dizia a verdade.
Não sei a razão, mas a promessa de ser transferida para a unidade semi-intensiva não aconteceu, e ninguém me dizia o porquê. A filha caçula ia me visitar diariamente. Hoje tenho certeza de que a sua presença constante foi fator determinante para a minha sobrevivência naquele setor. A partir do momento que comecei a falar, pedi-lhe que me tirasse dali. Cada vez que a via, renovava o pedido. Ela me pedia calma, paciência, dizia que ia tomar providências, mas sei que nunca acreditou em mim. Como ela poderia acreditar que um hospital abrigasse tanto horror?
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