Era com Paulo que eu devia ter me casado. Minha mãe fez de tudo para me forçar a casar com ele. Paulo tinha todas as qualidades para um futuro bom marido: era sério, terno, amoroso, me amava e, como se não bastasse, tinha ainda uma boa profissão e ganhava bem. Pena que não tinha a qualidade mais importante pra mim, naquela época. Era feio. Ao lado do meu futuro marido a feiúra dele se acentuava. Escolhi casar com aquele que só tinha a última das qualidades do Paulo.
Ao fazer minha escolha eu o perdi para sempre. Soube, tempos depois da nossa separação e quando já estava casada, que ele tinha se casado com uma judia mais velha do que ele, e que tivera uma filha. Fiquei com inveja, com ciúme e senti um profundo arrependimento.
Nós nos conhecemos no trabalho. Paulo inventava qualquer pretexto para ir à minha sala. Eu sabia que ele era noivo e, embora não oficialmente, eu também era. Um dia, ele tomou coragem e me convidou para almoçar, e eu lhe joguei na cara que sabia que era noivo. Ele não se deu por vencido: “Só chamei para almoçar”. Não sei por quê gostei da resposta e fui almoçar com ele. Levou-me a um dos melhores restaurantes das redondezas da Praça Mauá, onde trabalhávamos, o “Mosteiro”. Ele quis me impressionar e conseguiu. Outros almoços se seguiram e eu percebia que Paulo estava gostando de mim. Podia ter dito que não o amava, que não perdesse seu tempo comigo, mas eu era inconsequente, não queria perder a companhia, as idas ao cinema, os prazeres gastronômicos e o papo agradável. Eu me calei e fui adiante.
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