Uma meia hora depois que adormeci, o barulho começou. No início era fraco, como se um casal estivesse fazendo amor no quarto ao lado e a cama batesse contra a parede. Aos poucos, porém, as pancadas ficaram mais forte, como se alguém estivesse querendo por a parede abaixo com uma marreta. Assustadas, Marilia e Barbara gritaram meu nome, temiam um desabamento justamente em cima de mim. Eu não ouvia. Apavoradas, elas saíram porta afora e foram bater no quarto ao lado. Ninguém atendeu a porta. Elas voltaram ao quarto e o barulho persistia. Gritaram outra vez meu nome. Eu seguia dormindo. Desanimadas, correram até a recepção à procura de um funcionário que desse fim aquele ruído infernal. Não encontraram ninguém. A pousada estava deserta e parecia que éramos as únicas hóspedes.
Marilia e Barbara ficaram do lado de fora do quarto tentando entender o que estava acontecendo. Haviam perdido o sono. Várias vezes entraram e saíram, mas nada mudara. Já era alta madrugada quando o ruído cessou e elas puderam, enfim, entrar no quarto e dormir.
Chamamos o garçom e relatamos o ocorrido. Ele nos olhava sem jeito e dizia não saber de nada. Chamamos o gerente. Este também não conseguia entender o que tinha acontecido e nos pedia desculpas. Barbara não se conformava em ficar sem nenhuma explicação e insistia. Ninguém soube esclarecer o que tinha acontecido.
Tentamos esquecer o incidente e aproveitar o dia de sol. À noite, voltamos ao restaurante e o mesmo garçom veio nos atender. Marilia, muito falante e charmosa, já tinha feito amizade com ele. Ela lhe contou o que havia acontecido na noite da nossa chegada e ele disse exatamente o nome da pousada onde estávamos. Surpresas e intrigadas quisemos saber como adivinhara e ele prontamente nos contou o que sabia. O dono da pousada havia falecido e diziam na cidade que ele voltava ao lugar quase todas as noites. Aquele barulho que ouvimos era a presença dele. Marilia e eu ficamos arrepiadas, mas Barbara, como boa americana, havia imaginado alguém de carne e osso. E se sentia aliviada com o fim do mistério: “Oh! Ainda bem que foi só uma assombração.”
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