“Out, out brief candle!
Life’s but a walking shadow
A poor player that struts and frets his hour upon the stage
and then is heard no more”
Ela se chamava Solange, mas à noite nós a chamávamos de Raul. Era quando fazíamos o nosso teatro e cada uma de nós tinha um papel a desempenhar. O da Solange tinha o mínimo de diálogos possível, porque ela era uma atriz pra lá de canastrona. Quando tocava a fala de seu personagem, ela ria e esquecia o que tinha de dizer, para nosso desespero e gritos de “fora, fora daqui.”. Solange era o anticlímax do nosso teatro. Eu me arvorava em diretora e muitas vezes tive vontade de voar no pescoço dela. Se bem que, às vezes, ríamos também, especialmente quando a cena se tornava excessivamente dramática. Nosso teatro não tinha roteiro e os diálogos eram improvisados na hora. Não havia nem sequer uma trama. A história ia acontecendo pouco a pouco e não tínhamos preocupação com o resultado, apenas com a atuação.
Muitas vezes pensamos em tirar Solange do elenco, mas não podíamos. Ela era a produtora e patrocinadora. Sem ela, nada aconteceria. Eu bem que tentei, uma vez, fazer o teatro lá em casa. Peguei uns lençóis, que serviriam de cortina, mas minha mãe logo percebeu e me botou de castigo. Eu não podia usar os lençóis limpos para brincar. “E os sujos?” “Também não”, respondia com determinação. Sendo assim, não nos restava outra alternativa que não fosse usar os lençóis da tia. Ela não se importava e nossa arte podia prosseguir. Naquele tempo, achávamos que poderíamos ser artistas quando crescêssemos, mas a vida nos levou para outros caminhos.
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