Eu lutava para me tornar independente. Tinha vergonha de ter de contar com as técnicas de enfermagem para tomar um simples banho. O pior era ter de usar fralda. Não me conformava de ter minha privacidade invadida daquele jeito, mas eu estava absolutamente impotente, incapaz de fazer minha própria higiene. Estava à mercê de outrem para que coisas tão simples e corriqueiras do dia a dia de uma pessoa comum fossem feitas para mim, não na hora que eu escolhia ou precisava, mas quando era possível. Tive de aprender a esperar. Tive de aprender a ter paciência, a não me irritar, a amansar meu espírito. Foi um longo e sofrido aprendizado para quem foi sempre rebelde e impaciente.
Era rara a noite em que eu não tinha pesadelo com o acidente. Era frequente o dia em que pensava várias vezes nele. Eu me perguntava infinitas vezes por quê? por quê? por quê? e não encontrava resposta. Destino, fatalidade, estava na hora errada no lugar errado – essas explicações nunca me satisfizeram. Fui atropelada no melhor momento da minha vida, quando me sentia infinitamente feliz e realizada. Estava amando e cheia de esperanças. E colhia finalmente os frutos do meu trabalho, da minha luta, de anos de espera por um lugar ao sol. Era injusto, muito injusto e eu não me conformava. Às vezes, achava que nada daquilo tinha acontecido, que tudo não passara de um terrível pesadelo, mas a extensa cicatriz no meu braço esquerdo me trazia de volta à realidade.
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