Zini me fez companhia e ficou comigo até a hora da cirurgia. Ainda no quarto, eu falava com a filha mais velha e ia acompanhando a saída dela até o aeroporto, a chegada, o check-in e o embarque para a Inglaterra. Ela ia embora e eu ficaria sozinha, aguardando o momento em que seria operada. Desabei. Chorei muito. Tinha medo de morrer.
A operação correu bem. Eles removeram um tumor extenso que se havia instalado na coxa direita, quase no quadril. Esse tumor foi provocado pela perigosíssima bacteria Staphilococus Aureus, frequentadora das UTIs e responsável por muitas mortes em hospitais. Acho que a contraí no Miguel Couto, mas tive a sorte abençoada de tê-la concentrada apenas no abscesso, não atingindo a corrente sanguínea. O resultado é que fiquei onze dias hospitalizada, tomando remédios fortíssimos por via intravenosa.
Ao fim dos onze dias, recebi alta. Estava livre, enfim. Saí caminhando, ainda com alguma dificuldade e na saída quis passar na capela para agradecer ao bom Deus pela recuperação. Ao tentar subir os degraus, que estavam molhados, dei de cara com o Zeca Pagodinho que estendia as duas mãos para me amparar. Fiquei tão atônita que não entendi direito o gesto tão generoso. Subi sozinha os degraus me apoiando no corrimão. Ele também não entendeu. Baixou as mãos e foi embora. A filha mais velha, quando lhe contei o fato, me disse com seu bom humor habitual: “Você o inspirou a compor um pagode intitulado “Coroa Ingrata”.
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