Um dia, a tia chamou todos os sobrinhos para almoçarem na casa dela. Depois de comer, ficamos brincando no quintal. Nossa brincadeira favorita era irritar os gansos, que corriam atrás de nós a grasnar enfurecidos, ameaçando-nos com seus bicos afiados. Com tanta correria, tive sede. Entrei na cozinha para beber água e vi que a tia dava um presente para uma senhora muito humilde. Quando esta o desembrulhou, vi que era o colar.
As férias de verão terminaram e voltamos para casa. Com os afazeres da escola deixei de pensar no colar. E o tempo passou. Um dia, quando estava concentrada fazendo meu dever de casa, a empregada perguntou por minha mãe. Ela havia saído muito cedo para fazer compras no mercado. Era de novo o aniversário de mamãe e ela havia prometido um jantar delicioso para a família. Esperávamos ansiosas a chegada de papai, que sempre surpreendia mamãe com seus presentes maravilhosos, quase mágicos. E a gente tentava adivinhar o que ele traria daquela vez.
Por volta do meio dia, quando mamãe voltou, a empregada entregou-lhe um pacote embalado em papel colorido. Curiosa, cheguei perto para ver o que era. Mamãe agradeceu e desembrulhou o presente. Era uma caixa e dentro dela estava o colar, aquele mesmo que mamãe tanto detestara. Olhei para a mamãe e ela mal conseguia disfarçar a surpresa. Ficou confusa por um tempo e depois sorriu para mim com aquele jeito maroto e cúmplice que lhe davam um ar encantador. Naquele momento tive certeza de que o colar finalmente seria meu, e durante muito tempo aquela piscadela da mamãe foi o meu melhor presente.
quinta-feira, 4 de março de 2010
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