Finalmente, o grande dia. Voltei ao trabalho e foi como se todo aquele tempo em que estive internada 3 vezes, desde o acidente não tivesse passado. E o tempo a que me refiro é de 7 meses - quase um ano. Meu Deus, quase um se passou e eu não vivi. Quase um ano inteiro de muito sofrimento e angústia.
Fui ao trabalho de táxi. Era o único transporte que podia usar, pois ainda estava convalescendo. Não tinha readquirido total movimento do braço esquerdo e as chances são de que nunca ele voltará ao normal. Secretamente, esperava uma bela recepçao, sei lá, flores, mais animação. Mas não. Foi como se eu tivesse saído na sexta e voltasse ao trabalho na segunda. Foi como se o tempo passado fosse apenas o espaço de um fim de semana, uma ilusão apenas.
Eu percebia algo estranho, olhares que se baixavam, perguntas que me pareciam esquisitas, amedrontadoras, inexplicáveis e para as quais eu não queria e nem buscava qualquer explicação. Eu percebia um movimento raro, mas dizia a mim mesma que era tudo impressão. Estava tudo bem. Minha amiga Deise veio me trazer uma ramada de flores lindas e com isso ela iluminou meu dia, me deu esperança e afastou aquelas nuvens perigosas. Não era nada. Tudo ia ficar bem. Afinal, o chefe me recebeu na sala dele, me deu um abraço de boas-vindas. Se algo estivesse errado ele certamente não tomaria essa atitude. Não, era impressão mesmo.
Estava contente de trabalhar e não me importava de gastar com o táxi na volta para casa. Dediquei-me ao trabalho, queria recuperar o tempo perdido, sentir-me útil. Precisava tomar analgésicos para controlar a dor que ainda sentia. Não era fácil ir à rua almoçar com os amigos. Mas eu me esforçava. Estava muito feliz.
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