Antes da hospitalização para remover o abscesso eu contava apenas com Zini e Adriana, que se revezavam em turnos de 8 horas cada uma. À noite, dormia sozinha. Felizmente e por sorte, a filha mais velha estava em casa nessa época,me visitando, e eu tinha companhia. À noite, sempre jantávamos juntos e era uma festa. Eu me divertia com o meu netinho e me sentia profundamente feliz. Mas o tempo, que transcorria com raivosa lentidão no hospital, parecia agora voar. (Tristeza não tem fim; felicidade, sim)
Com a partida da filha mais velha, eu agora ia experimentar dormir sozinha todas as noites. Era um desafio e eu estava assustada. Ainda precisava de cuidados. Depois do acidente, passei a experimentar o que as pessoas chamam de doença do pânico. Na primeira fase da minha hospitalização,não conseguia ficar só nem um minuto. Se uma das moças saía do quarto, ainda que brevemente, eu chorava em desespero. Zini gostava de sair para fumar e teve de se privar do vício enquanto cuidou de mim. Tudo isso dificultava a vida delas, porque não podiam sair nem para comer. Para contornar a situação,eu pedia excesso de comida e dividia com elas.
Uma psicóloga veio me atender. Era uma mulher simpática e muito doce, mas não gostei dela, profissionalmente. Ela tentava me consolar, dizendo "você é uma pessoa muito forte, vai superar tudo isso, etc., etc." Eu sempre soube que era forte, ou não teria resistido a tantas vicissitudes ao longo da minha vida. Não queria ouvir frases de efeito, e era tudo o que ela tinha para me oferecer. Não questiono que deve funcionar para muitas pessoas. Para mim, não. Não me consolavam, não me curavam. Eu esperava mais dela, algo que ela nunca me deu, mesmo tendo prometido e mesmo nos meus momentos de maior dor.
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