Inventei rotinas diárias que me mantinham ocupada. Ao acordar, permanecia deitada e fazia exercícios para os braços, pernas e pelve. Minha uretra fora seccionada durante o acidente e, por isso, perdi o controle do esfíncter. Os médicos receitavam exames invasivos e eu me recusava a fazê-los. Ouvia a minha voz interior que me pedia para ter calma e paciência. Aquilo também ia passar. Com o tempo tudo ia se curar.
Um dia, ao fazer o exame de ultrassonografia transvaginal, perguntei à médica se estava certa em me recusar a fazer os exames invasivos e, para minha surpresa, ela me deu razão. Disse que minha uretra ainda estava muito sensivel e eu deveria esperar. Talvez nem precisasse fazer nenhum daqueles exames. Animada com a receptividade da medica, fiz-lhe outra pergunta que me rondava a cabeça. Eu sentia muitas dores na região pélvica, quando caminhava, e achava que deveria tomar um antibiótico à base de sulfa. Mais surpresa ainda fiquei quando ela concordou comigo. Por ética médica, ela não pode me dar uma receita, mas me disse que eu poderia conversar com um farmacêutico.
Lembrei-me da Susan Sonntag em seu livro “A Doença como Metáfora”, que felizmente li nos tempos de faculdade e agora vinha em meu socorro. Sonntag tivera câncer nos anos 80 e ela também precisou, primeiro, convencer os médicos de que não ia morrer. Depois, teve de lutar para escolher o melhor tratamento. Doentes assim, os médicos costumam chamar de “difíceis”. Foi o que disseram de mim, quando estive internada. Era o que diziam agora de mim, por me recusar a fazer exames com os quais não concordava. Mas eu estava aprendendo, finalmente, a ouvir a minha voz interior.
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