As pessoas pensam que só existiu uma bomba de Hiroshima. Não, elas vivem caindo por aí e às vezes cai na nossa cabeça. Fui bombardeada por uma arma atômica arrasadora, e a gente não sabe onde vai buscar forças para conseguir levar a vida adiante. Sobrevivemos, simplesmente, assim como sobrevivi ao atropelamento. O ortopedista mal humorado me disse uma vez que eu escapei da morte porque estava gorda. “Foi graças à sua gordura”, disse-me ele, aparentemente alheio à sua própria condição de gordo também. E quando uma bomba atômica nos atinge em cheio, como se sobrevive? Não sei dizer.
Saí daquela sala incólume, na aparência, como se nada tivesse acontecido, embora tudo tivesse desmoronado dentro de mim. Senti-me traída, humilhada e desprezada. Eu não prestava para nada. Todo o meu esforço foi em vão. Todos os meus sonhos, minhas esperanças e até o meu sagrado foram pisados, esmagados. Nada ficara em pé. Estava tudo absolutamente destruído. Tudo tinha virado um monte de cinzas. Era a devastação provocada pela bomba. Não restava mais nada a fazer. Era a sensação de terra saqueada, vilipendiada, arrasada. Passei a entender muita coisa que antes pareciam tão abstratas. Agora eu sinto as dores do mundo.
Voltei à minha sala sem que ninguém percebesse nada incomum. Ou percebiam? Havia pensado em continuar trabalhando, como se nada tivesse acontecido. Era uma tentativa desesperada de me agarrar a um bóia que eu sabia estar furada. Eu ia afundar de qualquer jeito. Tudo perdera sua razão de ser. Senti-me vazia, sem ânimo, como acontece quando a gente finalmente entende que tudo acabou. Só me restava ir para casa e refletir sobre mais aquela tragédia.
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