quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

Até março de 2008, os juízes jordanianos ainda tratavam os crimes em nome da "honra" com tolerância. Naquele mês, o Tribunal Penal jordaniano condenou dois homens pelo assassinato de parentes do sexo feminino "durante um ataque de fúria" a apenas três e seis meses de reclusão. No primeiro caso, o marido encontrara um homem em sua casa com a esposa e suspeitou que ela o estava traindo.  No segundo, um homem matou a tiros a irmã de 29 anos por ela ter saído de casa sem o consentimento do marido e "por estar conversando com outros homens no celular".

Em 2009, um jordaniano confessou ter esfaqueado até a morte a irmã grávida, por ela ter voltado para a casa da família após discussão com o marido. O irmão achou que ela estava "saindo com outros homens".

E por aí vai.

Em Aman, no ano passado, três homens esfaqueararam 15 vezes a irmã divorciada de 40 anos por ela ter um amante. Um jordaniano foi acusado de matar a irmã de 22 anos com uma espada por uma gravidez fora do casamento. Muitas famílias que vivem na Jordânia são de origem palestina. Nove meses atrás, um palestino esfaqueou a irmã casada até a morte por causa do seu "mau comportamento". Mas no mês passado, o tribunal penal de Amã condenou outro irmão assassino a 10 anos de prisão, indeferindo a alegação de crime em nome da "honra", mas apenas porque não houve testemunhas para confirmar o adultério da irmã.

Na própria Palestina, a Human Rights Watch vem há muito culpando a polícia e o sistema judiciário pelo fracasso quase total em proteger as mulheres de Gaza e da Cisjordânia dos "crimes de honra". Tomemos como exemplo, o caso da menina de 17 anos estrangulada pelo irmão mais velho, em 2005, por ficar grávida do próprio pai. Este presenciou seu assassinato. Ela havia prestado queixa contra o pai à polícia. Ele não foi preso e nem interrogado.

No mesmo ano, homens armados e mascarados do Hamas mataram a tiros Yusra Azzami, de 20 anos, por "comportamento imoral", por ela ter passado o dia passeando com o noivo. Azzami era membro do Hamas e o futuro marido, membro do Fatah. O Hamas tentou desculpar-se, chamando a moça assassinada de "mártir", para indignação da família. No entanto, apenas no ano passado, muito tempo depois de o Hamas vencer as eleições palestinas e controlar a Faixa de Gaza, um homem da região foi detido por matar a filha com uma corrente de ferro, ao descobrir que ela possuía um celular e temer que estivesse falando com homens fora do círculo familiar. Ele foi solto depois.

Mesmo no Líbano liberal existem "crimes de honra" ocasionais.  O mais notório deles é o de uma mulher de 31 anos, Mona Kaham, cujo pai entrou no seu quarto e cortou-lhe a garganta, depois de saber que ela estava grávida do primo. Ele foi até a delegacia de polícia em Roueiss, subúrbio de Beirute, com a faca ainda na mão. "Minha consciência está tranquila", declarou. "Matei para limpar minha honra."

Não causa surpresa uma pesquisa de opinião pública que mostra que 90,7 por cento da população libanesa seja contra os crimes de “honra”. Dos poucos que os aprovam, muitos acreditam que eles ajudam a limitar o casamento inter-religioso.

A Síria segue o padrão do Líbano. Enquanto grupos de direitos civis exigem o endurecimento das leis contra os assassinos de mulheres, a legislação apenas elevou a pena de prisão para os homens que matam parentes do sexo feminino por sexo extraconjugal para dois anos.

Entre os casos mais recentes está o de Lubna, uma jovem de 17 anos que vivia em Homs, assassinada pela família por ter fugido para a casa da irmã, depois de se recusar a casar com um homem escolhido pelos pais. Eles também acreditavam - erroneamente - que ela não era mais virgem.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

O ativista curdo-britânico Aso Kamal, da Rede Contra a Violência Doaa, acredita que, entre 1991 e 2007, 12.500 mulheres foram assassinadas por razões de "honra", apenas nas três províncias curdas do Iraque - 350 delas nos primeiros sete meses de 2007 e apenas três foram condenados por esses crimes.

Muitas mulheres são forçadas por suas famílias a se suicidarem, queimando-se com óleo de cozinha. No hospital de Sulimaniya, em 2007, cirurgiões operaram muitas mulheres com queimaduras graves, que nunca poderiam ter sido causadas por "acidentes" culinários, como alegaram. Uma paciente, Sirwa Hassan, tinha 86% do corpo queimado. Hassan tinha três filhos e morava em uma aldeia perto da fronteira iraniana.

Em 2008, um médico em Sulimaniya disse à agência de notícias AFP que, apenas em maio, 14 mulheres jovens foram assassinados por crimes de "honra" em 10 dias. Em 2000, autoridades curdas no Sulimaniya decretaram que "matar ou cometer abusos contra mulheres sob o pretexto de livrar-se da ‘vergonha’ não podia ser usado como atenuante para o crime". Os juízes, segundo as autoridades, não podem aplicar uma lei de 1969  "para reduzir a pena do agressor". A nova lei, é claro, não fez diferença.

Mas no Iraque, como já dissemos, não é só os curdos que acreditam em "crimes de honra". Em Tikrit, uma jovem detida na prisão local enviou uma carta ao irmão, em 2008, dizendo-lhe ter ficado grávida após ser estuprada por um guarda. O irmão foi autorizado a visitar a prisão, entrou na cela onde estava a irmã, então visivelmente grávida, e assassinou-a para poupar sua família da "desonra". O necrotério de Bagdá recolheu amostras de DNA do feto da mulher e também de guardas do presídio de Tikrit. O estuprador era um tenente-coronel da polícia. O motivo para a detenção da mulher não foi esclarecido. Um relatório dizia que a família do coronel tinha "pagado" aos parentes da mulher para escapar das punições.

Em Basra, em 2008, a polícia registrava os assassinatos de 15 mulheres, por mês, por violação "dos códigos de vestimenta islâmicos". Uma menina de 17 anos, Rand Abdel-Qader, foi espancada até a morte por seu pai, há dois anos, porque se apaixonou por um soldado britânico. Outra, Shawbo Ali Rauf, 19, foi levada pela família para um piquenique no Dokan e baleada sete vezes, por terem encontrado um número desconhecido no celular dela.

Em Nínive, Du'a Khalil Aswad tinha 17 anos quando foi apedrejada até a morte por uma multidão de 2.000 homens por ter-se apaixonado por um homem fora de sua tribo.

Na Jordânia, organizações feministas dizem que, per capita, a minoria cristã do país de pouco mais de cinco milhões de pessoas está envolvida em mais "crimes de honra" que os muçulmanos - muitas vezes porque as mulheres cristãs querem casar-se com homens muçulmanos. Mas a comunidade cristã reluta em discutir os seus crimes e a maioria dos casos conhecidos de homicídios são cometidos por muçulmanos. Suas histórias, porém, são exaustiva e doentiamente familiares.

Em 1999, Sirhan gabava-se da eficiência com que matou sua irmã mais nova, Suzanne. Três dias depois de a jovem de 16 anos ter denunciado à polícia o estupro de que foi vítima, Sirhan deu-lhe quatro tiros na cabeça. "Ela cometeu um erro, mesmo que contra a vontade", disse. "De qualquer modo, é melhor ter um morto do que toda uma família morta de vergonha." Desde então, um espetáculo profundamente angustiante de crimes de "honra" tornado público na Jordânia, foi condenado pela família real e tem sido lentamente combatido pelos tribunais com sanções penais cada vez mais duras.

Ainda em 2001, um jordaniano de 22 anos estrangulou sua irmã casada de 17 - o 12º. assassinato desse tipo em sete meses - por suspeitar que ela teria um caso. O marido morava na Arábia Saudita. Em 2002, Souad Mahmoud estrangulou a própria irmã, pela mesma razão. Ela tinha sido forçada a casar com o amante, mas quando a família descobriu que estava grávida antes do casamento, decidiram executá-la.

Em 2005, três jordanianos esfaquearam a irmã casada de 22 anos, por ela ter um amante. Após testemunharem um homem entrar na casa dela, os irmãos invadiram o local e a mataram. Mas nada aconteceu ao amante.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...