sexta-feira, 8 de abril de 2016

RODA VIVA

Não costumo ver o programa da TV Cultura, porque desde o Augusto Nunes, apresentador, até os inquisidores (não são entrevistadores), todos têm um pensamento único: constranger o convidado, a menos que o dito cujo pense igualzinho a eles - aí vira um bate-papo. Mas foi um tal zum-zum-zum na rede que decidi conferir a inquisição do ministro Marco Aurélio de Mello. Devo avisar desde logo que não nutria nenhuma simpatia pelo ministro, mas passei a gostar dele, desde então. O destaque da noite foi José Nêumane Pinto e seu momento vergonha alheia. Ninguém é obrigado a conhecer leis e processos judiciais, mas espera-se que um jornalista conheça pelo menos um pouco da lei Maior e Nêumane confessou não entender xongas. Ora, bolas, estava fazendo o quê ali? Nenhum dos inquisidores tinha a menor ideia do que é uma Constituição e muito menos pareciam saber que o STF é a última fronteira do cidadão comum, quando se sente injustiçado pelas decisões das instâncias inferiores. Na verdade, estavam todos ali pra malhar Lula e Dilma e contavam com o ministro pra ajudar na malhação. Deram com os burros n'água. Mello revelou-se uma pessoa extremamente calma, segura e elegante. Não se sentiu confrontado em nenhum instante e deixou Nêumane e os outros com cara de tacho. O ministro foi desmontando todas as falácias dos inquisidores, com argumentos calcados em quem tem mais de 30 anos de profissão. Quando lhe perguntaram sobre a manobra de Lula pra ter foro privilegiado, ele argumentou que podia ser, mas seria uma bobagem porque dona Marisa e o filho não teriam igual tratamento, a exemplo do que aconteceu com a mulher e a filha do Cunha. Instado a dar seu parecer sobre as delações premiadas, Mello disse que em seu tempo como magistrado nunca vira tantas e que algo estaria muito errado, que lhe parecia que prender uma pessoa, algumas durante um ano, para obter confissões ou delações era um atentado ao princípio da inocência e ao estado de direito. E o programa terminou com os inquisidores cabisbaixos e terrivelmente frustrados. O ministro Marco Aurélio Mello deu-lhes uma aula de democracia, algo do qual nunca ouviram falar.

terça-feira, 5 de abril de 2016

E O OUTONO CHEGOU!!!

Veio precedido de muita fanfarra, cheio de som e fúria, mas pleno de significado. Chegou no domingo com muito sol e não na data designada. Sim, porque a natureza não está nem aí pra datas e calendários. Ela segue mais ou menos um roteiro, uma sequência, e gosta de desafiar as datas fixadas pelos homens de ciência. Na semana antes, o outono vinha anunciando sua entrada triunfal. Todo dia, às 3 da tarde, o céu se envolvia num manto escuro e as trovoadas começavam, assustando cachorros, gatos e passarinhos. Algumas delas vinham combinadas de raios e trovões tão altos que chegavam a sacudir portas e janelas. Bunny, minha cadelinha recém-adotada, na sua inocência de filhote, latia reclamando do barulho. E a temperatura aos poucos foi caindo até ficar como agora: fresquinha. O sol já não queima, mas pousa suavemente no corpo, deixando um calorzinho gostoso que faz a gente pensar em chazinhos, bolinhos e sopinhas. E dá gosto abrir os olhos de manhã e olhar lá no horizonte, lá onde se deita a Mulher de Pedra e dizer em alto e bom som: bom dia!
Seja bem-vindo, outono!

sábado, 2 de abril de 2016

IMPEACHMENT JÁ?


Ontem, depois de assistir à cobertura desanimada da Globo sobre as manifestações, assisti à TV Senado. Estava lá um senador do PDT defendendo o impeachment da presidenta. Fiquei pasma. O senador estava sendo sincero na sua defesa e estaria absolutamente correto se o nosso sistema fosse parlamentarista. Mas não é, como sabem. O outro senador que o sucedeu tentou ser mais convincente, oferecendo dados e falando de dispositivos legais. Na verdade, amigos, a menos que você seja um especialista na matéria, dificilmente vai entender tudo isso aí. Nem os juristas se entendem e cada um defende um lado. Ou seja, é muito difícil uma análise isenta. 

O que pude entender é que há tipo uma linha financeira entre o governo e as instituições financeiras do governo e essa linha pode ficar a débito ou a crédito do governo, temporariamente. Quem defende o impeachment diz que quando há débito do governo, há também despesa financeira. Os que são contra o impeachment afirmam que tal não acontece. A verdade, porém, é que todos os governos anteriores a Dilma Rousseff adotaram o mesmo procedimento. O próprio governador Alckmin o adota. Ou seja, se vai punir Dilma, todos, prefeitos e governadores, também deverão ser punidos.


Ao aceitar o pedido de impeachment, Eduardo Cunha, recepcionou fatos referentes a 2015 apenas, ou seja, as ditas "pedaladas fiscais" desse ano. Ocorre que o TCU ainda não analisou as contas do governo referentes a 2015 e me parece importante a opinião desse tribunal para que se proceda a qualquer investigação de crime de responsabilidade.
De uma coisa porém estou absolutamente segura: querem tirar a presidenta a qualquer custo e o custo pode ser muito alto, especialmente para a classe trabalhadora. Não foi porque Dilma praticou esse ou aquele ato supostamente ilegal. Não. Tudo começou com um candidato frustrado por não ter ganhado as eleições e esse ser abjeto põe suas ambições pessoais acima de qualquer um de nós. Então, criou-se um culpado e depois se partiu para a acusação, e não o contrário, como deveria ser.
Trabalhador que defende o impeachment de Dilma está atirando no próprio pé. Isso, sim, é que é tiro no pé. Porque, como disse o senador Lindbergh Farias ontem no Senado, o projeto de governo de Temer, o tal "Uma Ponte pro Futuro" não passa de "Uma Pinguela pro Passado." Era bom que todos o lessem antes de abrir a boca pra dizer qualquer bobagem.
A pinguela é o retrocesso. Quem viver, verá.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...