quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO!!!!!



"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.  Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.  Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."

Carlos Drummond de Andrade

Feliz, saudável, próspero, iluminado 2011 a todos.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ELA FARIA 109 ANOS HOJE...

A eterna Marlene Marie Magdelene Dietrich von Losch, ou simplesmente Marlene Dietrich, nasceu em Berlim, Alemanha, em 27 de dezembro de 1901 e morreu em Paris, em 6 de maio de 1992, aos 90 anos.  Protagonizou filmes de sucesso como o magnífico (e um dos meus preferidos) "O Anjo Azul" (1930), "O Expresso de Shanghai" (1932), "Testemunha de Acusação" (1957), "Julgamento em Nuremberg" (1961), entre muitos outros.  E ainda cantava divinamente...

FELIZ ANO NOVO!!!!! AO SOM DE "BRASILEIRINHO"

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Zizi Possi - Per amore



Per Amore
Zizi Possi
Composição: Andrea Bocelli

Io conosco la tua strada ogni passo che farai
Le tue ansie chiusa e ivuoti sassi che allontanerai
Senza mai pensare che comme roccia io rittorno in te ...

Io conosco Il tuoi respiri tutto quello che non vuoi
Lo sai bene che non vivi
Riconoscerlo non puoi
E sarebbe come se questo cielo in fiamme
ricadesse in me
Comme scena su un attore ...

Per amore hai mai fatto niente solo
Per amore hai sfidato il vento e urlato mai ?
Diviso il cuore stesso pagato e riscommesso
Dietro questa mania che resta solo mia

Per amore hai mai corso senza fiato
Per amore perso e ricominciato
E devi dirlo adesso quanto de te ci hai messo
Quanto hai creduto tu in questa bugia

E sarebbe come se questo fiume in piena
risalisse a me
Comme china al suo pittore

Per amore hai mai speso tutto quanto la ragione
Il tou orgoglio fino alpianto
Lo sai stasera a resto
No non nessun pretesto
Soltanto una mania che è ancora forte e mia
Dentro quest'anima che strappi via

E te lo dico adesso sincero con me stesso
Quanto mi costa non saperti mia ...

E sarebbe come se tutto questo mare
annegasse in me ...

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ciro Gomes fica sem o Ministério da Saúde - Que bola fora!

Contrariando o desejo de Ciro, que pretendia assumir o Ministério da Saúde, Dilma oferece a pasta ao petista Alexandre Padilha, atual ministro das Relações Institucionais. 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cuidado com o que você vê e ouve na TV

Não sou professora, não entendo nada de Educação, mas hoje, lendo o Le Figaro, dei de cara com uma reportagem que vi na TV esta semana.  Aqui como na França, reclama-se do baixo nível educacional e critica-se o modo como o governo lida com a questão.  Estou falando do resultado da pesquisa da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Para quem não sabe, assim como eu não sabia, a cada três anos o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OCDE, avalia leitura e conhecimentos de matemática e ciências de alunos de 15 anos ou mais de 65 países do mundo, matriculados a partir da 7a. série do Ensino Fundamental.

O Brasil obteve 412 pontos, ficando em 51o. lugar.  Olhando assim, parece um resultado pífio, mas os mais de 20 mil estudantes que participaram da pesquisa conseguiram um avanço de 30 pontos em matemática em relação a 2006, data da última avaliação.  Em leitura, superaram a faixa dos 400 pontos, chegando a 405.  Pularam dos 390 pontos em ciências para 405.  Há 9 anos o Brasil vem apresentando bons resultados. 

Mas por que estou falando deste assunto?  Porque a Globo exibiu a matéria baixando o pau no Brasil, comparando nossos resultados aos da Albânia, Colômbia, Jordânia e, pasmem!, Argentina.  Acontece que eles se "esqueceram" de alguns detalhezinhos importantes.  E é disso que vou falar, porque também não sabia.  Como disse, graças ao jornal francês pude entender o jogo sujo embutido na notícia.

Nesta última avaliação, três países integraram a pesquisa: Taiwan, Macau e Hong Kong.  Xangai (China) obteve o 1o lugar, seguido da Coreia do Sul, em 2o., Finlândia em 3o. e Hong Kong em 4o.  China e Coréia do Sul desbancaram a Finlândia.  Aliás, a Ásia ficou com os melhores resultados, enquanto à Europa e Estados Unidos restou mesmo muita preocupação.  A queda do nível educacional em países desenvolvidos vem se acentuando.  Suécia e Irlanda tiveram resultados ruins, enquanto Alemanha, Itália e Portugal tiveram melhor performance graças às medidas que passaram a adotar.  O Brasil se inclui entre estes países.

No Le Figaro de hoje há uma matéria sobre a Coreia do Sul.  Lá, os jovens são obrigados a estudar à exaustão.  Em época de provas importantes, eles não dormem mais do que 5h30 por dia.  Em dias normais, além de estudarem de 8h às 18h, eles ainda enfrentam aulas noturnas, indo dormir muito tarde da noite.  Para o país, o sucesso escolar está associado ao êxito profissional e financeiro.  É tanta a obsessão da Coreia do Sul com a educação que o presidente Barack Obama tem pedido a alunos e professores americanos que se inspirem no modelo coreano.

Há muito mais para se dizer, mas o mais importante mesmo é não aceitar como verdade tudo o que se vê e se ouve na TV.  Especialmente quando se sabe que essa TV se envolveu até o pescoço com o candidato derrotado, chegando a passar por uma situação ridícula.  Segue tabela (não está muito legível) que mostra os bons desempenhos.  Observem que o Brasil aparece nela (é o antepenúltimo).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RESPOSTA A MOI

Aceito o ponto de vista de qualquer um e até agradeço que compartilhem comigo.  Uma pessoa que se chama Moi me escreveu, apontando o preconceito implícito no texto "O Cravo não brigou com a Rosa", que não é de minha autoria.  Fiz a postagem, porque gostei imensamente das considerações feitas pelo professor Luiz Antonio Simas.

O Moi (ou a) talvez tenha levado o texto muito ao pé da letra e provavelmente não tenha entendido a ironia ali implicita.  O autor foi muito feliz ao deixar bem claro que quem usa palavras politicamente corretas está sendo, na verdade, hipócrita e preconceituoso.  Chamar anão de "pessoa com problemas de crescimento" ou "vertically challenged" é usar um eufemismo ridículo e hilariante.  É muito mais preconceituoso e ridículo do que dizer "negão", "pintor de rodapé", "rolha de poço", etc., que pelo menos são expressões criativas.  Essas pilhérias podem até ser ofensivas, mas, a meu ver, muito menos do que "afro-descendente", por exemplo.

Foi pensando desta forma que postei o texto do professor Luiz Antonio Simas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ESTÁ CERTO DIZER "TORTA NEGA MALUCA"?

Virou piada o tal do "politicamente correto" e o povo deita e rola.  Leiam e divirtam-se com a piada abaixo.



Uma senhora entra numa confeitaria e pede ao balconista uma torta "Nega Maluca".

O balconista diz à cliente que usar o nome "nega maluca" hoje em dia pode dar cadeia, devido a:

- Lei Affonso Arinos;

- Lei Eusébio de Queiroz;

- Artigo Quinto da Constituição;

- Código Penal;

- Código Civil;

- Código do Consumidor;

- Código Comercial;

- Código de Ética;

- Moral e Bons Costumes,

- Além da Lei 'Maria da Penha' ...

- Então, meu filho, como peço a porra dessa torta?

- Torta Afro-descendente com distúrbio neuro psiquiátrico...

 

domingo, 21 de novembro de 2010

A SALA DE ÂMBAR

Hoje é meu aniversário e estou me dando de presente um vídeo sobre a Sala de Âmbar.  Em russo, Янтарная комната Yantarnaya komnata; em alemão, Bernsteinzimmer. Para quem não conhece a história, a Sala de Âmbar é considerada por muitos como a Oitava Maravilha do Mundo, por sua beleza singular.

A Sala de Âmbar fica no Palácio de Catarina de Tsarskoye Selo, perto de São Petersburgo.  Foi um presente do Rei da Prússia Friedrich Wilhelm I para seu amigo e aliado, o tzar Pedro, o Grande.  Ela se constitui de painés de âmbar apoiados em folhas de ouro e espelhos.  O projeto é do escultor barroco Andreas Schlüter.  A construção da sala foi iniciada em 1701, na Prússia, e permaneceu no Palácio de Charlottenburg até 1716.  Na Rússia, o projeto sofreu acréscimos e alterações e chegou a ter seis toneladas de âmbar.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas desmontaram os paínéis de âmbar e os levaram para Königsberg.  Durante anos, esse roubo foi cercado de mistério, até que finalmente descobriu-se que os painéis foram destruídos durante um bombardeio no castelo da cidade, onde estavam escondidos.  Toda a beleza deslumbrante dos painéis foi barbaramente destruída.

Em 2003, depois de décadas de trabalho meticuloso realizado por artistas russos, a Sala de Âmbar foi reconstruída e inaugurada no Palácio de Catarina, em São Petersburgo.  Admirem a beleza impressionante dessa obra de arte.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

HAVAIANO TIRA FOTOS DO INTERIOR DAS ONDAS

Um ex-surfista americano agora se dedica a uma atividade inusitada: fotografar o interior das ondas.

Clark Little, 39 anos, começou a fazer as imagens depois que sua mulher manifestou o desejo de ter uma foto para decorar o lar do casal, no Havaí.  Há dois anos, vive do dinheiro que ganha com a venda das fotos.

"O mar é minha segunda casa e eu amo o que faço", disse Little. "Não existe para mim aquela sensação de encarar o trabalho como uma obrigação."

O fotógrafo conta que para obter as melhores imagens usa uma câmera capaz de bater até dez fotos por segundo.  As ondas variam entre 90 cm e 4,5 m.  Muitas vezes chegou a ser arremessado a até 10 m de distância de sua localização original.

"Sempre existe um risco para mim, por conta da força e tamanho das ondas. Mas minha experiência como surfista me deixa à vontade para encarar as ondas sem medo."




quinta-feira, 4 de novembro de 2010

POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE!

O texto que reproduzo a seguir não é meu, mas ilustra perfeitamente o que penso a respeito do exagero em torno do que seja "politicamente corrento".  Dizia minha filha que, na Inglaterra, não se chama mais anão de dwarf, mas de "vertically challenged", e daí nada mais justo do que ela achar que gordo também pode ser chamado de "horizontally challenged".  O texto é leve e divertido, como, aliás, são todos os textos do professor de história Luiz Antonio Simas, cujo blog acabei de descobrir. 

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA



Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

Até março de 2008, os juízes jordanianos ainda tratavam os crimes em nome da "honra" com tolerância. Naquele mês, o Tribunal Penal jordaniano condenou dois homens pelo assassinato de parentes do sexo feminino "durante um ataque de fúria" a apenas três e seis meses de reclusão. No primeiro caso, o marido encontrara um homem em sua casa com a esposa e suspeitou que ela o estava traindo.  No segundo, um homem matou a tiros a irmã de 29 anos por ela ter saído de casa sem o consentimento do marido e "por estar conversando com outros homens no celular".

Em 2009, um jordaniano confessou ter esfaqueado até a morte a irmã grávida, por ela ter voltado para a casa da família após discussão com o marido. O irmão achou que ela estava "saindo com outros homens".

E por aí vai.

Em Aman, no ano passado, três homens esfaqueararam 15 vezes a irmã divorciada de 40 anos por ela ter um amante. Um jordaniano foi acusado de matar a irmã de 22 anos com uma espada por uma gravidez fora do casamento. Muitas famílias que vivem na Jordânia são de origem palestina. Nove meses atrás, um palestino esfaqueou a irmã casada até a morte por causa do seu "mau comportamento". Mas no mês passado, o tribunal penal de Amã condenou outro irmão assassino a 10 anos de prisão, indeferindo a alegação de crime em nome da "honra", mas apenas porque não houve testemunhas para confirmar o adultério da irmã.

Na própria Palestina, a Human Rights Watch vem há muito culpando a polícia e o sistema judiciário pelo fracasso quase total em proteger as mulheres de Gaza e da Cisjordânia dos "crimes de honra". Tomemos como exemplo, o caso da menina de 17 anos estrangulada pelo irmão mais velho, em 2005, por ficar grávida do próprio pai. Este presenciou seu assassinato. Ela havia prestado queixa contra o pai à polícia. Ele não foi preso e nem interrogado.

No mesmo ano, homens armados e mascarados do Hamas mataram a tiros Yusra Azzami, de 20 anos, por "comportamento imoral", por ela ter passado o dia passeando com o noivo. Azzami era membro do Hamas e o futuro marido, membro do Fatah. O Hamas tentou desculpar-se, chamando a moça assassinada de "mártir", para indignação da família. No entanto, apenas no ano passado, muito tempo depois de o Hamas vencer as eleições palestinas e controlar a Faixa de Gaza, um homem da região foi detido por matar a filha com uma corrente de ferro, ao descobrir que ela possuía um celular e temer que estivesse falando com homens fora do círculo familiar. Ele foi solto depois.

Mesmo no Líbano liberal existem "crimes de honra" ocasionais.  O mais notório deles é o de uma mulher de 31 anos, Mona Kaham, cujo pai entrou no seu quarto e cortou-lhe a garganta, depois de saber que ela estava grávida do primo. Ele foi até a delegacia de polícia em Roueiss, subúrbio de Beirute, com a faca ainda na mão. "Minha consciência está tranquila", declarou. "Matei para limpar minha honra."

Não causa surpresa uma pesquisa de opinião pública que mostra que 90,7 por cento da população libanesa seja contra os crimes de “honra”. Dos poucos que os aprovam, muitos acreditam que eles ajudam a limitar o casamento inter-religioso.

A Síria segue o padrão do Líbano. Enquanto grupos de direitos civis exigem o endurecimento das leis contra os assassinos de mulheres, a legislação apenas elevou a pena de prisão para os homens que matam parentes do sexo feminino por sexo extraconjugal para dois anos.

Entre os casos mais recentes está o de Lubna, uma jovem de 17 anos que vivia em Homs, assassinada pela família por ter fugido para a casa da irmã, depois de se recusar a casar com um homem escolhido pelos pais. Eles também acreditavam - erroneamente - que ela não era mais virgem.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

O ativista curdo-britânico Aso Kamal, da Rede Contra a Violência Doaa, acredita que, entre 1991 e 2007, 12.500 mulheres foram assassinadas por razões de "honra", apenas nas três províncias curdas do Iraque - 350 delas nos primeiros sete meses de 2007 e apenas três foram condenados por esses crimes.

Muitas mulheres são forçadas por suas famílias a se suicidarem, queimando-se com óleo de cozinha. No hospital de Sulimaniya, em 2007, cirurgiões operaram muitas mulheres com queimaduras graves, que nunca poderiam ter sido causadas por "acidentes" culinários, como alegaram. Uma paciente, Sirwa Hassan, tinha 86% do corpo queimado. Hassan tinha três filhos e morava em uma aldeia perto da fronteira iraniana.

Em 2008, um médico em Sulimaniya disse à agência de notícias AFP que, apenas em maio, 14 mulheres jovens foram assassinados por crimes de "honra" em 10 dias. Em 2000, autoridades curdas no Sulimaniya decretaram que "matar ou cometer abusos contra mulheres sob o pretexto de livrar-se da ‘vergonha’ não podia ser usado como atenuante para o crime". Os juízes, segundo as autoridades, não podem aplicar uma lei de 1969  "para reduzir a pena do agressor". A nova lei, é claro, não fez diferença.

Mas no Iraque, como já dissemos, não é só os curdos que acreditam em "crimes de honra". Em Tikrit, uma jovem detida na prisão local enviou uma carta ao irmão, em 2008, dizendo-lhe ter ficado grávida após ser estuprada por um guarda. O irmão foi autorizado a visitar a prisão, entrou na cela onde estava a irmã, então visivelmente grávida, e assassinou-a para poupar sua família da "desonra". O necrotério de Bagdá recolheu amostras de DNA do feto da mulher e também de guardas do presídio de Tikrit. O estuprador era um tenente-coronel da polícia. O motivo para a detenção da mulher não foi esclarecido. Um relatório dizia que a família do coronel tinha "pagado" aos parentes da mulher para escapar das punições.

Em Basra, em 2008, a polícia registrava os assassinatos de 15 mulheres, por mês, por violação "dos códigos de vestimenta islâmicos". Uma menina de 17 anos, Rand Abdel-Qader, foi espancada até a morte por seu pai, há dois anos, porque se apaixonou por um soldado britânico. Outra, Shawbo Ali Rauf, 19, foi levada pela família para um piquenique no Dokan e baleada sete vezes, por terem encontrado um número desconhecido no celular dela.

Em Nínive, Du'a Khalil Aswad tinha 17 anos quando foi apedrejada até a morte por uma multidão de 2.000 homens por ter-se apaixonado por um homem fora de sua tribo.

Na Jordânia, organizações feministas dizem que, per capita, a minoria cristã do país de pouco mais de cinco milhões de pessoas está envolvida em mais "crimes de honra" que os muçulmanos - muitas vezes porque as mulheres cristãs querem casar-se com homens muçulmanos. Mas a comunidade cristã reluta em discutir os seus crimes e a maioria dos casos conhecidos de homicídios são cometidos por muçulmanos. Suas histórias, porém, são exaustiva e doentiamente familiares.

Em 1999, Sirhan gabava-se da eficiência com que matou sua irmã mais nova, Suzanne. Três dias depois de a jovem de 16 anos ter denunciado à polícia o estupro de que foi vítima, Sirhan deu-lhe quatro tiros na cabeça. "Ela cometeu um erro, mesmo que contra a vontade", disse. "De qualquer modo, é melhor ter um morto do que toda uma família morta de vergonha." Desde então, um espetáculo profundamente angustiante de crimes de "honra" tornado público na Jordânia, foi condenado pela família real e tem sido lentamente combatido pelos tribunais com sanções penais cada vez mais duras.

Ainda em 2001, um jordaniano de 22 anos estrangulou sua irmã casada de 17 - o 12º. assassinato desse tipo em sete meses - por suspeitar que ela teria um caso. O marido morava na Arábia Saudita. Em 2002, Souad Mahmoud estrangulou a própria irmã, pela mesma razão. Ela tinha sido forçada a casar com o amante, mas quando a família descobriu que estava grávida antes do casamento, decidiram executá-la.

Em 2005, três jordanianos esfaquearam a irmã casada de 22 anos, por ela ter um amante. Após testemunharem um homem entrar na casa dela, os irmãos invadiram o local e a mataram. Mas nada aconteceu ao amante.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

Em 2006, autoridades da região curda do sudeste da Anatólia calculavam que, em cada poucas semanas, uma mulher tentava cometer suicídio por imposição da família. Outras eram mortas por apedrejamento,  tiros, enterradas vivas ou estranguladas.

Uma jovem de 17 anos chamada Derya, que se apaixonou por um rapaz na escola, recebeu mensagem de texto de seu tio pelo celular. A mensagem dizia: "Você envergonhou nosso nome. Mate-se e limpe essa vergonha ou nós mesmos vamos matá-la." A tia de Derya havia sido morta pelo avô por motivo idêntico. Seus irmãos também enviaram mensagens de texto, chegando a 15 delas por dia. Derya tentou cumprir o desejo da família. Pulou no rio Tigre, tentou enforcar-se e cortou os pulsos – todas as tentativas foram mal-sucedidas. Acabou fugindo para um abrigo de mulheres.


Levou 13 anos para Murat Kara, de 40 anos, admitir que, em 2007, disparou sete tiros em sua irmã mais nova, depois que sua mãe viúva e os tios ordenaram que a matasse por ela ter fugido com o namorado. Antes de assassinar a irmã na cidade curda de Dyabakir, os vizinhos recusavam-se a conversar com Murat Kara e o imã havia dito que estava desobedecendo a palavra de Deus por não matar a irmã. Tornou-se, então, um assassino. Restaurou a honra.

Em seu livro “In The Grip of Tribal Customs” (Reféns de Costumes Tribais), um jornalista turco, Mehmet Farac, registra mortes em nome da “honra” de cinco meninas, na década de 1990, na província de Sanliurfa. Duas delas - uma tinha apenas 12 anos - tiveram as gargantas cortadas em praças públicas, duas outras foram atropeladas por tratores e a quinta, morta por seu irmão mais novo. Uma das mulheres que tiveram a garganta cortada chamava-se Sevda Gok. Seus irmãos seguraram-lhe os braços enquanto o primo adolescente cortava-lhe a garganta.

Mas a matança de mulheres em nome da "honra" não é um crime exclusivamente curdo, ainda que praticado em áreas rurais do país. Em 2001, Sait Kina esfaqueou a filha de 13 anos até a morte, por ter conversado com meninos na rua. Ele atacou-a no banheiro com um machado e uma faca de cozinha. Quando a polícia descobriu o cadáver, a cabeça da menina estava tão mutilada que a família a tinha enrolado em um lenço. Sait Kina disse à polícia: "Cumpri o meu dever."

No mesmo ano, um juiz de Istambul reduziu a sentença de prisão perpétua contra três irmãos para entre quatro a 12 anos, por eles terem matado a irmã, lançando-a de uma ponte, sob a acusação de ser prostituta. O juiz concluiu que o comportamento da moça tinha "provocado" o assassinato.

Há séculos, os exames de virgindade têm sido considerados parte normal da tradição rural, antes do casamento de uma mulher. Em 1998, quando cinco jovens tentaram o suicídio antes da avaliação, o ministro dos Negócios Familiares turco defendeu a obrigatoriedade de exames médicos em meninas que vivem em lares adotivos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação



Um dos mais terríveis assassinatos em 1999 foi o de uma jovem de 16 anos com retardo, Lal Jamilla Mandokhel, que, segundo relatos, foi violada por um funcionário público em Parachinar, província a noroeste da fronteira do Paquistão. Seu tio registrou queixa na polícia, mas entregou Lal à tribo e os anciãos decidiram que ela deveria ser morta para preservar a honra "tribal". Lal foi morta a tiros na frente deles.

Arbab Khatoon foi estuprada por três homens no distrito de Jacobabad. Ela registrou queixa na polícia. Sete horas depois, foi assassinada pelos parentes, que alegaram que ela os "desonrou" ao ter relatado o crime.

Há mais de 10 anos, a Comissão do Paquistão para os Direitos Humanos registrava uma taxa de mil "assassinatos em nome da honra" por ano. Mas se o Paquistão parece ter as piores taxas de crimes de "honra" - e é preciso lembrar que muitos países afirmam falsamente não ter nenhum – a Turquia deve ocupar o segundo lugar.

Segundo a polícia, entre 2000 e 2006, 480 mulheres – 20% delas com idades entre 19 e 25 anos - foram mortas por crimes de "honra" e inimizades. Outra estatística turca, elaborada há mais de cinco anos por grupos de mulheres, sugere que pelo menos 200 meninas e mulheres são assassinadas todos os anos em nome da "honra". Esses números estão atualmente muito subestimados. Muitos aconteceram em áreas curdas do país; uma sondagem concluiu que 37% dos cidadãos de Diyabakir aprovam o assassinato de mulheres que tenham relações extraconjugais. Medine Mehmi, a menina que foi enterrada viva, vivia na cidade curda de Kahta.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

Zakir Hussain Shah cortou a garganta de sua filha Sabiha, 18, em Bara Kau, em junho de 2002, porque ela havia "desonrado" a família. Mas sob a notória lei paquistanesa qisas, o herdeiro tem poderes para perdoar o assassino. Por essa razão, a mãe e o irmão de Sabiha "perdoaram" o pai e ele foi libertado.

Quando um homem matou suas quatro irmãs, em Mardan, no mesmo ano, porque elas queriam uma parte da herança, a mãe o "perdoou", com base na mesma lei. Em Sarghoda, mais ou menos nessa época, um homem disparou contra as mulheres de sua família, matando duas de suas filhas. Mais uma vez, a esposa - e várias outras filhas feridas por ele - "perdoaram" o assassino, porque eram suas herdeiras.

Outro absurdo: o estupro é também usado como punição nos de crimes de lavagem da "honra". Na aldeia de Meerwala, no Punjab, em 2002, um "júri" tribal alegou que um menino de 11 anos da tribo Gujar, Abdul Shakoor, tinha como babá uma mulher de 30 anos da tribo Mastoi - uma "desonra" para este grupo tribal. Os anciãos tribais decidiram que, para "devolver" a honra ao grupo, a irmã do menino, de 18 anos, Mukhtaran Bibi, devia ser estuprada por vários homens. O pai, avisado de que todas as mulheres da família também seriam estupradas se Mukhtar não fosse entregue a eles, levou a filha, respeitosamente, para esse "júri" profano. Quatro homens, um dos quais do "júri", imediatamente arrastaram a moça para uma cabana e a estupraram, enquanto cerca de uma centena de homens riam e aplaudiam do lado de fora. Ela foi então obrigada a andar nua pela aldeia na volta para casa. Levou uma semana até a polícia registrar o crime como uma "reclamação".

Ataques com ácido também fazem parte das punições criminosas em nome da "honra". O Independent deu ampla cobertura, em 2001, a um homem chamado Bilal Karachi Khar, que jogou ácido no rosto de sua mulher Fakhra Yunus, depois que ela o deixou e voltou para a casa da mãe, na área de prostituição da cidade. O ácido fundiu-lhe os lábios, queimou o cabelo, derreteu os seios e uma orelha e transformou-lhe o rosto em uma "borracha derretida".

Naquele mesmo ano, uma mulher de 20 anos, chamada Hafiza, foi alvejada a tiros duas vezes por seu irmão, Asadullah, em frente a uma dúzia de policiais fora de um tribunal de Quetta, por ter-se recusado a seguir a tradição de se casar com o irmão mais velho do marido falecido. Ela casou-se com outro homem, Fayyaz Lua, mas a polícia prendeu a moça e a levou de volta para sua família em Quetta, sob o pretexto de que o casal poderia casar-se formalmente lá. Mas ela foi forçada a registrar queixa de que Fayaz a havia sequestrado e estuprado. Quando Hafiza dirigiu-se ao juiz para queixar-se de que sua declaração fora feita sob pressão e que ela continuava a considerar Fayaz como seu marido, o irmão Asadullah a matou. Ele entregou a arma a um policial que havia presenciado o assassinato.

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domingo, 12 de setembro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

Ou Aisha Ibrahim Duhulow, 13, que na Somália, em 2008, na frente de mil pessoas, foi arrastada para um buraco no chão - o tempo todo gritando, "Eu não vou - não me mate" – e depois enterrada até o pescoço e apedrejada por 50 homens, culpada de adultério? Passados 10 minutos, tiraram-na do buraco e, estando ela ainda vida, puseram-na de volta e continuaram o apedrejamento. O crime de Aisha? Ela fora estuprada por três homens e, fatalmente, a família decidiu relatar os fatos ao grupo paramilitar Al-Shabab, que controla Kismayo.

Ou o "juiz" islâmico Al-Shabab, no mesmo país, que anunciou em 2009 o apedrejamento e morte de uma mulher - o segundo deste tipo no mesmo ano - por ela ter um amante? O homem recebeu meras 100 chibatadas.

Ou a jovem encontrada em uma vala de esgoto próximo a Daharki, no Paquistão, morta por sua família em nome da "honra" porque deu à luz o segundo filho, tendo o nariz, orelhas e lábios decepados antes de morrer, seu primeiro filho morto entre suas roupas e o corpo do recém-nascido ainda em seu ventre, com a cabeça de fora? Estava em estado de decomposição e a polícia local foi chamada para enterrá-la. Mulheres levaram os três ao túmulo, mas um clérigo muçulmano recusou-se a rezar por ela porque era "irreligioso" cumprir o ritual fúnebre namaz-e-janaza para uma "mulher maldita e seus filhos ilegítimos".

São tão terríveis os detalhes desses "crimes de honra" e tantas são as mulheres assassinadas, que a história de cada uma pode transformar o horror em banalidade. Mas para que esses atos - e os nomes das vítimas, quando pudermos descobri-los – não sejam esquecidos, relatamos os sofrimentos de algumas mulheres nos últimos dez anos, selecionadas ao acaso, país por país, crime por crime.

Em março passado, Munawar Gul matou a tiros a irmã de 20 anos, Saanga, no noroeste de uma província fronteira do Paquistão, e o homem suspeito de ter "relações ilícitas" com ela, Aslam Khan.

Em agosto de 2008, cinco mulheres foram enterradas vivas em nome dos "crimes de honra", no Baluchistão, por homens armados de uma tribo; três delas - Hameeda, Raheema e Fauzia - eram adolescentes que, depois de serem espancadas e mortas a tiro, foram jogadas vivas em uma vala e depois cobertas com pedras e terra. Quando duas mulheres mais velhas, de 45 e 38 anos, protestaram, sofreram o mesmo destino. As três mulheres jovens tinham tentado escolher seus próprios maridos.

No parlamento paquistanês, o senador Israrullah Zehri refere-se a esses assassinatos como uma "tradição secular" que ele "continuará a defender".

Em dezembro de 2003, uma mulher de 23 anos, em Multan, identificada apenas como Afsheen, foi assassinada por seu pai porque, depois de um casamento arranjado infeliz, ela fugiu com um homem chamado Hassan, pertencente a uma tribo rival. Afsheen vinha de família educada, composta de funcionários públicos, engenheiros e advogados. "Dei-lhe comprimidos para dormir em uma xícara de chá e depois a estrangulei com uma dapatta [uma longa echarpe, parte da vestimenta tradicional feminina], confessou o pai. Ele disse à polícia: "A honra é a única coisa que um homem tem. Posso ainda ouvir os gritos dela, era minha filha preferida. Quero destruir minhas mãos e acabar com a minha vida." A família havia encontrado Afsheen com Hassan em Rawalpindi e prometera não fazer-lhe nenhum mal se ela voltasse para casa. Estavam mentindo.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo

Inauguro este post em protesto pelas 20 mil mulheres que são assassinadas a cada ano em nome da "honra". A reportagem de Robert Fisk foi publicada ontem no The Independent.
Acompanhe e faça também seu protesto.
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É um dos últimos grandes tabus: o assassinato de pelo menos 20 mil mulheres por ano em nome da "honra". Mas o problema não está confinado ao Médio Oriente: o contágio se espalha rapidamente.

É uma tragédia, um horror, um crime contra a humanidade. Os pormenores dos assassinatos - das mulheres decapitadas, queimadas e apedrejadas até a morte, esfaqueadas, eletrocutadas, estranguladas e enterradas vivas em nome da “honra” de suas famílias - são tão bárbaros quanto vergonhosos. Muitos grupos de mulheres no Oriente Médio e sudoeste da Ásia suspeitam que o número de vítimas seja pelo menos quatro vezes maior do que a última estimativa anual das Nações Unidas, de cerca de 5 mil mortes por ano. A maioria das vítimas é jovem, muitas adolescentes, massacradas por uma tradição vil que remonta há centenas de anos, mas agora abrange a metade do mundo.

A investigação de 10 meses feita pelo The Independent na Jordânia, Paquistão, Egito, Gaza e Cisjordânia expõe detalhes aterrorizantes de um dos mais repulsivos assassinatos. Os homens também são mortos em nome da "honra" e, embora os jornalistas tenham identificado esses crimes como uma prática de maioria muçulmana, comunidades cristãs e hindus também os cometem. Na verdade, a lavagem da "honra" (ou ird) das famílias, comunidades e tribos transcende a religião e a compaixão humana. Grupos voluntários de mulheres, organizações de direitos humanos, a Anistia Internacional e arquivos de notícias sugerem que a matança de inocentes por motivo de "desonra" de suas famílias vem aumentando a cada ano.

Os curdos iraquianos, os palestinos da Jordânia, o Paquistão e a Turquia parecem ser os piores praticantes de tais crimes, mas a imprensa nesses países é regiamente compensada para manter o sigilo que rodeia os "assassinatos de honra" no Egito - que afirma mentirosamente não haver nenhum - e outras nações do Oriente Médio no Golfo e no Levante (região mediterrânea entre a Turquia e o Egito). Mas os crimes de honra há muito tempo se espalharam pela Grã-Bretanha, Bélgica, Rússia, Canadá e muitas outras nações. Autoridades de segurança e juízes de grande parte do Oriente Médio são coniventes em reduzir ou revogar penas de prisão para famílias acusadas de assassinato de mulheres, classificando esses crimes, muitas vezes, como suicídios, no intuito de evitar processos judiciais.

É difícil permanecer insensível diante do vasto e detalhado catálogo de tais crimes. Como reagir a um homem - isso aconteceu tanto na Jordânia quanto no Egito - que estupra a própria filha e depois, quando ela engravida, a mata para salvar a "honra" de sua família? Ou o pai turco e avô de uma menina de 16 anos, Medine Mehmi, na província de Adiyaman, que a entrerrou viva debaixo de um galinheiro, em fevereiro, por “fazer amizade com meninos”? O corpo de Medine foi encontrado 40 dias depois, sentado e com as mãos amarradas.
 
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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Nasceu Noah!!!!


Depois de muita tristeza, chegou Noah  para enxugar nossas lágrimas e fazer nossos corações ficarem alegres novamente.  É um menino abençoado.  Nasceu num dia de sol esplendoroso e muita luz.  Foi aguardado ansiosamente e recebido com muito carinho.

Seja bem-vindo, meu querido Noah e saiba que nós amamos você de todo coração. 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Para Alda, com saudade



 Essas são as flores que quero dar a Alda neste dia.  Vai com Deus, amiga!  Descanse em paz!

Quando penso na Alda, me vem à lembrança uma grande árvore, carregada de folhas e frutos.  É assim que gosto de imaginá-la.  Alda era protetora, cuidava para que não faltasse nada aos seus e, muitas vezes, chegava às raias do exagero.  Amava profundamente sua família, mas demonstrava seu afeto de modo peculiar - com rispidez, muitas vezes. Talvez não soubesse expressar seu amor em palavras.  O que sabemos das pessoas, mesmo daquelas com as quais convivemos ou conhecemos há tantos anos?  Elas são sempre um mistério insondável.  

O que sei de Alda é que ela se sacrificava para dar o melhor à família e esse melhor se traduzia em presentes, conforto e amenidades. Não sabia expressar carinho, amor, afeição.  Era terrivelmente timida, embora aparentasse o contrário.  Era também muito severa e crítica, mas este era o seu jeito de amar.  Foi isso, talvez, o que lhe ensinaram ou o que aprendeu com a vida.

Tenho muitas lembranças dos muitos anos em que fomos amigas.  Algumas até engraçadas, como da vez em que ela insistiu em ir à minha casa conhecer minha família.  Alda era assim: queria saber com quem o irmão estava se metendo e nada mais apropriado do que conhecer a família da pretendente.  Lá fomos nós.  Eu estava pouco à vontade, porque minha família é o que se chama hoje em dia de disfuncional.  Fora isso, eu morava numa casa modesta e de aspecto feio, o que me envergonhava.  Quando nos aproximávamos da minha casa, Alda apontou-a, perguntando: "Quem será que mora naquela casa horrorosa e mal-assombrada?"

Outra lembrança divertida, entre as muitas, foi de uma vez que fomos passar uma temporada em Poços de Caldas.  Ficamos hospedadas com as freiras, que nos incentivaram a ir a um evento na cidade.  Argumentamos que não tínhamos traje apropriado, pois era um acontecimento em grande estilo.  Mas as freiras derrubaram nossas objeções e lá fomos nós.  Foi só entrar para percebermos que todos estavam vestidos com roupas muito chiques de festa, enquanto nossos trajes, por melhores que fossem, não eram minimamente adequados àquele evento.  Olhamos uma para outra e tivemos uma crise de riso tal que fomos forçadas a esconder-nos em algum canto. 

Acho que conheci Alda muito mais que a família dela.  Ela me fazia confidências e, por isso, sei das muitas maldades que lhe fizeram quando esteve internada em um hospital nos Alpes, ainda criança.  Essa experiência a marcou profundamente.  Sabia dos seus medos e suas dúvidas.  E, uma vez, quando seus filhos ainda eram muito pequenos, ela me disse que eu era a única pessoa a quem podia confiá-los, caso alguma coisa lhe acontecesse.  Tal era a nossa proximidade.

Tivemos várias discussões, brigas e chegamos até a ficar sem nos falar durante um tempo.  Em uma das últimas vezes em que conversamos, chegamos a discutir, porque ela enfrentava um problema terrível e eu queria que ela se salvasse, que fosse menos protetora, menos árvore frondosa, que pensasse mais em si mesma.  Mas ela não me ouviu e mergulhou na inconsciência e, depois, no aniquilamento físico.  A família sempre foi mais forte e isso custou-lhe a vida.

Para você, Alda, que foi uma pessoa tão especial, mando meu abraço, meu carinho e todo o meu amor.  Que você encontre a felicidade que tanto buscou na Terra na outra dimensão.  Adeus, amiga!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ich bin von Kopf bis Fuss auf liebe eingestellt


Ich bin von Kopf bis Fuß
Auf Liebe eingestellt,
Denn das ist meine Welt.
Und sonst gar nichts.
Das ist, was soll ich machen,
Meine Natur,
Ich kann halt lieben nur
Und sonst gar nichts.

Ela vai logo avisando e não deixa dúvidas: "Da cabeça aos pés, sou feita para o amor.  É minha natureza e nada posso fazer."   Ele ouve embevecido e passa ao largo do aviso.  Vai ter início o duelo entre Eros e Thanatos.

Ele entrega-se da cabeça aos pés à sedutora que vai destruí-lo, esmagá-lo até reduzi-lo ao nada.  Mas nada disso importa, desde que ele esteja ao lado desse anjo de mulher, por quem nutre uma paixão avassaladora.  A solidão foi lentamente preparando este homem para o aniquilamento.  Ele vai desprezar tudo o que chamam de respeito, dignidade, amor próprio para se entregar à deusa que lhe acena com a promessa de uma paixão intensa.  E caminha rumo à destruição total.

Esta é, em síntese, a sinopse da obra prima cinematográfica "Der Blaue Engel - O Anjo Azul", do diretor alemão Josef von Sternberg, baseada no romance de Heinrich Mann "Professor Unrat" - Mann usa, ironicamente, a palava "unrat" (lixo, em alemão) para sobrenome do professor -, tendo como protagonistas Marlene Dietrich (como a sedutora Lola Lola) e Emil Jannings (como o professor Immanuel Rath). 

E este é também o tema de "Passione", em que Mariana Ximenes (estupenda como Clara) revive o Anjo Azul, seduzindo inapelavelmente Totó (Toni Ramos).  Ele sabe que ela não o ama, que quer destrui-lo, mas nada disso lhe importa.  A solidão tornou-o faminto de afeto, carinho, amor.  Mas também o fez ficar cego, surdo e mudo.  Todos os seus sentidos se concentram na paixão avassaladora que sente por Clara.

Na fusão narcísica da paixão, o mundo desaparece.  O sujeito para a ser o mundo e o mundo é a extensão dele.  É o narcisismo primário a que Freud se referia, em que o apaixonado deseja formar um todo indissolúvel com o objeto do seu amor.

A diferença entre "O Anjo Azul" e "Passione" é que, como folhetim e tendo uma audiência que não vai aceitar a destruiçao do protagonista, Totó certamente será salvo.  E isso já está acontecendo.  Ele já conheceu outro Anjo, também de doces olhos azuis, que vai resgatá-lo das garras de Clara e lhe mostrar o caminho do amor. 

E este é, para mim, o grande abismo entre cinema e TV.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Naughty pig

Minha filha me contava, em conversa pelo Skype, o susto que ela e o marido levaram quando, no meio da noite, ouviram um coinc, coinc, coinc.  Acordaram e ficaram conjeturando o que poderia ser aquilo.  O ruído vinha do quarto do meu netinho e eles foram para lá.  Encontraram, finalmente, o culpado daquela situação: era um porquinho que, mesmo tendo sido surpreendido na travessura, continuou com o coinc, coinc, coinc.  Tiveram de levá-lo para outro aposento para continuarem o sono.  O netinho chama esse porquinho, e com razão, de "naughty pig".


Essa história me fez lembrar o que me aconteceu há alguns anos quando fui à Argentina.  Antes de viajar, conversei com o porteiro, sr. Vitor, que sempre quebrava meus galhos, desde problemas de luz até um dinheirinho trocado.  Pois bem, querendo agradar ao Sr. Vitor perguntei se ele gostaria que eu trouxesse alguma coisa da viagem.  Ele foi categórico: quero um relógio de pulso despertador.  Oh, boy! 


Um dia, passeando na Florida, vi uma loja que tinha relógios até na calçada.  E foi lá que encontrei o tal objeto do desejo do sr. Vitor, que despertava ao som de um galo cantando cocorococó.  Comprei-o, aliviada. 

No dia seguinte, pela manhã, Horacio me perguntou se eu havia comprado um relógio de "gallo" (que os argentinos pronunciam gajo).  Foi então que soube da história.  Ele havia acordado no meio da noite com o galo cantando e não conseguia descobrir de onde vinha o canto.  Olhou pela janela, debaixo da cama, até que, apurando o ouvido, descobriu que vinha da minha mala.  E a mala estava bem do meu lado.  Ou seja, aquele relógio nunca serviria para mim.  E Horacio mal conseguia disfarçar o desgosto de ter perdido o sono no meio da noite.  Eu ria às gargalhadas e ele acabou se descontraindo.

Entreguei o presente ao sr. Vitor que, como homem da roça, adorou saber que despertaria ao som de um galo.  E lá se foi sr. Vitor viajar de avião para a terra de seus parentes com o relógio no pulso.  Enquanto estava à bordo, o relógio, sabe-se lá por que razão, disparou e o galo cantou sem parar cocorococó, para desconforto do porteiro, porque os passageiros que estavam ao redor o encaravam irritados, logo que descobriam que o barulho partia de onde ele estava.  Acuado, sr. Vitor se levantou, foi ao banheiro da aeronave e lá mesmo deu fim àquele galo inoportuno.  Botou o relógio no chão e o pisoteou até o galo se calar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Para Luciana, com amor

Hoje, vou escrever para a filha que não me lê.  Ela não curte blogs.  Mas mesmo assim vou deixar registrado meu amor por ela.

Luciana chegou na minha vida de surpresa.  Eu  não a esperava e até tentava evitar outra gravidez.  Mas ela veio e foi muito bem-vinda.  Estava sendo aguardada para setembro, mas por razões que não cabe contar aqui, chegou mesmo no dia 22 de agosto.  Tinha de ser leonina.  E ela tem todas as características do signo: é vaidosa, muitíssimo generosa e fantasiosa também.

Foi com grande emoção que recebi em meus braços aquele pedacinho de gente.  Não foi fácil cuidar dela nos primeiros meses.  Ela havia contraído uma bactéria (hoje sei que foi hospitalar) e teve de tomar injeções para ficar boa.  Era tão espertinha minha Luciana que, ainda bebezinho, abria o maior berreiro assim que eu entrava na farmácia com ela.  A danadinha sabia que ia tomar injeção e armava seu barraco.

Passada essa fase ruim, Lu, como eu a chamo, não me deu mais trabalho.  Era muito engraçada aos 5, 6 anos, porque trocava as palavras.  Uma vez, abriu o maior berreiro porque queria um suspensório que estava na moda, e gritava: "eu quero um consultório!"  Um dia, depois de olhar um livro sobre o corpo humano e receber esclarecimentos sobre cada órgão, passou a usá-los em seu vocabulário.  E saía com coisas como: "Patricia me deu um empurrão e eu bati com o pulmão na parede", "Patricia beliscou meu estôngamo."

Cresceu e se tornou popular.  Sempre fez muitos amigos e sempre foi muito querida.  Não pude dar a ela tudo o que merecia, porque eu tinha de dividir tudo por três, para que cada uma recebesse sua parte.  Também tinha de me dividir por três e, inúmeras vezes, a carga foi pesada demais para mim.  Mas Deus ajudou e eu consegui. 

Com ela fui à Rússia e, juntas, desfrutamos uma viagem inesquecível.  Quando chegamos a Moscou, Lu se deslumbrou com a Catedral de São Basílio.  Em São Petersburgo, Lu não se cansava de me perguntar: "Mãe, existe cidade mais bonita do que esta no mundo?"  Hoje, digo com toda certeza que não.  Porque estávamos juntas e felizes.

Hoje, estou aqui prestando essa homenagem a minha querida filha, que mora longe e de quem sinto muita saudade.  Quero dizer, filha, mesmo que você não me leia, que te amo de todo coração e que tudo o que desejo nesta vida é a sua felicidade.  Feliz aniversário, filha, e que Deus abençoe você.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Corpo como Metáfora - O corpo aprisionado

“Nenhum animal transforma voluntariamente, como o homem, o seu próprio corpo: extraindo os dentes, amputando os membros, perfurando os órgãos, derramando o sangue, deformando o crânio”
("Tabu do Corpo", José Carlos Rodrigues)



Os séculos XII e XIII privilegiavam a magreza e a verticalidade. A roupa, bem colada ao corpo e talhada de maneira a alongar a silhueta, faziam as mulheres se assemelharem às finas colunas góticas. O fim da Idade Média libera as amarras do corpo: ombros, cabelos e parte dos seios podiam ser mostrados. No século XV, porém, uma espécie de colete muito justo voltava a comprimir o busto. A ênfase do vestuário concentrou-se no ventre, que devia ser proeminente e evocar a fertilidade. Para alcançar esse efeito, as mulheres usavam uma bolsa estofada sob a roupa.


No final do Renascimento, as roupas eram escuras e rígidas. Os seios espremidos, os quadris apagados, os ventres salientes e as linhas sinuosas da Idade Média deram lugar à roupa folgada, que escondia a silhueta. A vestimenta devia salientar a retidão, a altivez, as qualidades da alma. Era uma época de incertezas e turbulências provocadas pelas tensões religiosas entre católicos e protestantes. Na era elizabetana, o corpo feminino estava totalmente coberto. A substância predominava sobre a matéria. Esse estilo prevaleceu até meados do século XVII (período Barroco).

O início do século XVIII trouxe um certo relaxamento ao corpo. As roupas pesadas, o colarinho duro e os babados do Barroco cederam lugar às roupas que acompanhavam as linhas do corpo, dando destaque à suavidade, beleza e ao aspecto delicado. O período neoclássico marcou a volta da simplicidade do traje e o conforto passou a predominar sobre a ostentação. Na virada do século XIX, a moda feminina voltou ao estilo de alguns séculos atrás. Na época de Jane Austen, o traje feminino evocava lembranças dos séculos XVI e XVII.

Nos primórdios do século XX, o corpo bem nutrido e carnudo evidenciava abundância e prosperidade material. A estética da época privilegiava a textura, a tangibilidade e a massa. Substância e textura eram características da moda feminina: bonecas francesas, em versão miniaturizada, vestiam o último lançamento da haute couture. Cada dobradura do tecido, cada enfeite, cada aspecto que compunha a sua confecção eram um tributo à tangibilidade.

Por volta de 1920, porém, um aspecto mais moderno sugeria a transmigração da matéria, a libertação da substância de sua forma. Desde a década de 60 o corpo ideal vem cada vez mais se afinando: as curvas voluptuosas de Marilyn Monroe foram-se achatando até chegarem ao corpo retilíneo, quase etéreo, de Twiggy. Em 1979, Raymond Loewy, um dos maiores designers industriais, observava a tendência do ultra-esbelto também na arquitetura automobilística e introduziu o intaglio (superfície comprimida) na confecção do Starliner, da Studebaker. Ao final da obra, comentou o resultado: “quis dar ao Starliner um aspecto magro e faminto".

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Corpo como Metáfora - Padrões de Beleza

As imagens que mostro a seguir foram tiradas pelo fotógrafo alemão Hans Sylvester (Ethiopia-People of the Omo Valley-prêmio Livro do Ano em Fotografia, Paris, 2006) às margens do Rio Omo, na Áfriica.  O Rio Omo atravessa o Sudão, a Etiópia e o Quênia.  Foi nas suas margens que os arqueólogos encontraram o "Homem de Kibish", um ancestral de 12.000 anos.



Nessa região habitam algumas tribos que ainda estão na pré-história: Dassanech, Mursi, Hamar, Karo, Bume e Beshadar.

O vale do Rift - onde se encontra a grande fenda africana que separa geograficamente os negros dos árabes - é uma região vulcânica que fornece uma grande variedade de pigmentos multicoloridos.  Com esses pigmentos - alguns raros - as tribos do Rio Omo praticam sua arte.

No conceito ocidental, são verdadeiros gênios da pintura, pois os traços lembram muito a arte contemporânea de Picasso, Miró, Paul Klee e Taples. 

Em poucos minutos, com uma rapidez impressionante, decoram rosto, torsos, seios, pernas e pés.  Não usam pincéis, apenas uma habilidade fantástica com a ponta dos dedos.

É uma arte ancestral praticada por todos da tribos: crianças, jovens, adultos e idosos.  O aprendizado se dá apenas na observação.  Eles se integram à Natureza, fazendo parte dela, sendo como ela.


A arte é explicada por ela mesma.  Não há explicação.  Não há teoria.  Por isso, é arte no mais alto grau de pureza.  São motivados apenas pelo desejo de ser belos, de seduzir, de exteriorizar o prazer.

(texto extraído de um documento que recebi sobre o assunto)

domingo, 15 de agosto de 2010

A NATUREZA DÁ SHOW

Esta semana, a Natureza deu um presente para o mundo: uma chuva de meteoros que tem sido observada há cerca de 2.000 anos.  Meteoros são restos de um cometa e este vem da Constelação de Perseus. Alguns católicos referem-se a essa chuva de meteoros como "as lágrimas de São Lourenço", porque o dia 10 de agosto marca a data em que o santo foi martirizado.

Assistam ao espetáculo da natureza.


domingo, 8 de agosto de 2010

Floresta de Bétulas

Esta foto de Sergei Karpukhin para a Reuters foi tirada no dia 30 de julho nas cercanias de Voronezh.  Um soldado russo atravessa uma floresta de bétulas devastada por um dos 700 incêndios que devoraram mais de 1000km2 de florestas no pior verão russo dos últimos 130 anos.

Meu coração sangra com essa foto e eu me lembro dos romances de Dostoiévski e Tolstoi, que li quando menina.  Enquanto lia, imaginava a mim mesma passeando pelas florestas de bétulas tão comuns no solo russo e tão bem descritas.  Ao viajar para aquele país, quis conhecer essas florestas, que ficam bem perto de Moscou, e tive ainda a felicidade de ver os perfumadíssimos lírios do vale, cujas florezinhas se assemelham a sinos.  Quem me acompanhou na viagem à Rússia (que, por preguiça, ainda não conclui), verá que num dos posts pus uma foto dessa flor, símbolo da Rússia.

E agora me entristeço e choro ao pensar que os incêndios devem ter exterminado essa flor tão delicada, matado animaizinhos e devastado essas árvores grandes e esguias, de tronco esbanquiçado.  Faço um minuto de silêncio em honra desses mártires.

Choro agora, mas me consolo porque sei que a floresta vai se recuperar, os lírios vão brotar e, quando a floresta voltar a ser o que era, os animaizinhos regressarão ao seu habitat.  Em Chernobyl, pensava-se que o desastre nuclear destruiria a vegetação para sempre, mas não foi isso o que aconteceu.  Para surpresa geral, o mato e até as flores invadiram a usina atômica abandonada, apoderando-se do que, por direito legítimo, pertence à natureza.  E ela é muito mais forte que o homem.

Quando estive em Belém, há alguns anos, o que mais me impressionou foi testemunhar a força da natureza.  Era perceptível o vigor da floresta mesmo estando coberta pelo asfalto das ruas e estradas.  Pequenas, mas ameaçadoras rachaduras não deixavam dúvida - era a natureza lutando para se reerguer.  Um só vacilo e a floresta se regenera, voltando ao seu antigo esplendor.  E é isso que me consola quando ouço, com horror, falar das queimadas, das derrubadas de árvores.  De uma coisa tenho absoluta certeza: nós passamos, a natureza fica, porque é eterna.


sábado, 7 de agosto de 2010

O anel que tu me deste....

.... era vidro e se quebrou; o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.  Esta é uma das minhas cirandas preferidas.  Hoje em dia, vejo a sabedoria de cada uma dessas palavras, quando me relaciono com algumas pessoas. 

Como a maioria, costumo idealizar.  Conheço uma pessoa superficialmente e acho que já sei quem ela é.  O pior é que tenho uma certeza instantânea.  Mesmo recebendo avisos, ouvindo sábios conselhos de gente querida, não faço caso. Conheço e pronto.  E nós sabemos que não é bem assim.  Leva-se anos para conhecer alguém... mais ou menos.  Sim, porque somos seres surpreendentes.

Hoje estou num dia nostálgico e triste.  Desfiz uma amizade que nunca foi, na verdade, amizade.  Foi uma dessas idealizações minhas.  Achei que conhecia, que tinha conquistado uma amiga e tanto.  Eu a idealizei durante alguns anos.  Achava que era uma amiga sensível e inteligente, dessas que a gente pode contar segredos, falar dos medos e incertezas, porque ela sempre estará lá.  Ela, por sua vez, também iria fazer confidências e a gente se conheceria profundamente.  Não foi assim.  Quando penso em amizade, imagino um lugar sereno, à beira de um rio, onde a gente estende a rede e descansa tranquilamente.

A pessoa de quem deixei de ser amiga e que julgava sensível e inteligente era, infelizmente, insensível e de uma burrice emocional impressionante.  É uma pessoa rancorosa, amargurada e triste.  Como todas as pessoas que não viveram a vida em sua plenitude, é uma pessoa infeliz e só.  Teve, como todo mundo, sua oportunidade de brilhar, de voar, de conhecer lugares, pessoas, amar de verdade, mas teve medo.  Se entocou.  Viveu escondida, sentindo que assim estaria segura.  Mas o tempo passou e lhe cobrou um balanço de vida.  O que fizera durante todos aqueles anos?  Ela havia feito muitas coisas boas, mas não teve o bom senso de apreciá-las.  Sempre se julgou menor, inferior.  Em vez de pensar nas conquistas, ainda que não tivesse chegado a todas, queixava-se do que não teve forças para conquistar.  Vive agora em busca do tempo perdido, como se pudesse voltar atrás.  Não pode e sabe que não pode.  O resultado é que sobra amargura para todo lado.  Uma pessoa assim não pode e não consegue ser amiga de ninguém.  No entanto, uma amizade lhe faria bem.

Eu sigo o meu caminho.  Estou mais aliviada agora que pude expressar o que sinto.  Não sou de voltar atrás.  Estou sempre indo adiante.  Tentei de todas as maneiras salvar a amizade, mas uma andorinha só não faz verão.  Perdi a amiga, mas estou inteira... e feliz.. como sempre.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Aurora Boreal


A Aurora Boreal foi fotografada do espaço no domingo, 1 de agosto.  Daí partiu o aviso: ela volta a aparecer na quarta.  Não deu outra.








Ela apareceu na quarta-feira, na Noruega.
Não vou falar muito, porque uma imagem vale
mais que mil palavras.





















Eu deveria escrever a última parte de "O Corpo como Metáfora", mas este evento fascinante se interpôs. A Aurora Boreal que,caprichosa, costuma aparecer quando bem entende, resolveu dar seu segundo show neste ano. E não posso deixar de mostrar as fotos belíssimas que foram tiradas durante esta semana.

Estão dizendo que ela vai aparecer com mais frequência nos próximos anos. Tomara! É minha chance, quem sabe?, de vê-la finalmente.

Desfrutem, como eu desfrutei.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Corpo como Metáfora - Padrões de Beleza

"Na cera mole dos corpos, cada sociedade deixa sua marca." (Philippe Perrot)

Olhe a figura ao lado e diga o que acha?  Você consideraria essa estátua como representativa de um padrão de beleza?  Acho que não.  Trata-se da Vênus de Willendorf ou a Mulher de Willendorf, uma escultura descoberta no sítio arqueológico do paleolítico situado perto de Willendorf, na Áustria.  Mede um pouco mais de 11cm e estima-se que tenha sido esculpida há 22 ou 24 mil  anos.  Era o padrão de beleza da época.  Se nos basearmos nos livros, vamos lembrar que nem sempre foi fácil conseguir o alimento.  Pode-se, portanto, imaginar que as pessoas que viveram nesse período eram magras, famintas e que talvez idealizassem um corpo opulento, de formas arredondadas como esse, não é mesmo?  É uma hipótese com grandes chances de ser verdadeira.

Vamos pular para a Idade Média, precisamente para o século XIV, quando a peste bubônica invadiu a Europa, matando um terço da população.  Trazida nos porões dos navios que vinham do Oriente, a epidemia não poupou ninguém: morreram reis, príncipes, senhores feudais, servos, padres - era pegar a doença e morrer, pois não havia cura.  Havia, sim, preconceito.   E este era tão grande que os doentes eram, muitas vezes, abandonados pela própria família nas florestas ou em locais afastados. A doença foi sendo controlada no final do século XIV, com a adoção de medidas higiênicas nas cidades medievais.

Agora olhe a foto ao lado.  É a obra mais famosa do pintor flamengo Jan van Eyck.  Você vai imaginar que se trata de um casal à espera do filho, não é mesmo?  Pois vou lhe dizer que está enganado.  A pintura foi feita no dia do casamento do rico comerciante Giovanni Arnolfini e sua mulher Giovanna Cenami.  Por quê a barriga de Giovanna?  Porque era moda.  Era preciso estimular o nascimento de bebês para repovoar a Europa e dai a moda da barriga postiça.  Era in usar bolsinhas por baixo do vestido para simular uma gravidez. 

Desde o fim da antiguidade greco-romana, a moda parecia ter como objetivo essencial esconder as formas por meio de faixas comprimindo os seios e de roupas amplas. A roupa era igual para homens e mulheres.  Mas ao longo dos séculos XII e XIII, as roupas foram usadas para acentuar a silhueta.

Veja como era descrita a moda do século XV (a pintura ao lado é desse século):  “o vestuário feminino é igualmente ajustado e exalta os atributos da feminilidade: o traje alonga o corpo através da cauda, põe em evidência o busto, os quadris, a curva das ancas. O peito é destacado pelo decote; o próprio ventre [...] é sublinhado por saquinhos proeminentes escondidos sob o vestido”. E ainda “...as mangas possuíam longas fitas ou palatinas que às vezes se arrastavam no chão”.  Tudo isso está evidenciado no célebre quadro de Jan van Eyck.

Em outro post, falarei mais sobre o assunto.  Até lá.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...