terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

O ativista curdo-britânico Aso Kamal, da Rede Contra a Violência Doaa, acredita que, entre 1991 e 2007, 12.500 mulheres foram assassinadas por razões de "honra", apenas nas três províncias curdas do Iraque - 350 delas nos primeiros sete meses de 2007 e apenas três foram condenados por esses crimes.

Muitas mulheres são forçadas por suas famílias a se suicidarem, queimando-se com óleo de cozinha. No hospital de Sulimaniya, em 2007, cirurgiões operaram muitas mulheres com queimaduras graves, que nunca poderiam ter sido causadas por "acidentes" culinários, como alegaram. Uma paciente, Sirwa Hassan, tinha 86% do corpo queimado. Hassan tinha três filhos e morava em uma aldeia perto da fronteira iraniana.

Em 2008, um médico em Sulimaniya disse à agência de notícias AFP que, apenas em maio, 14 mulheres jovens foram assassinados por crimes de "honra" em 10 dias. Em 2000, autoridades curdas no Sulimaniya decretaram que "matar ou cometer abusos contra mulheres sob o pretexto de livrar-se da ‘vergonha’ não podia ser usado como atenuante para o crime". Os juízes, segundo as autoridades, não podem aplicar uma lei de 1969  "para reduzir a pena do agressor". A nova lei, é claro, não fez diferença.

Mas no Iraque, como já dissemos, não é só os curdos que acreditam em "crimes de honra". Em Tikrit, uma jovem detida na prisão local enviou uma carta ao irmão, em 2008, dizendo-lhe ter ficado grávida após ser estuprada por um guarda. O irmão foi autorizado a visitar a prisão, entrou na cela onde estava a irmã, então visivelmente grávida, e assassinou-a para poupar sua família da "desonra". O necrotério de Bagdá recolheu amostras de DNA do feto da mulher e também de guardas do presídio de Tikrit. O estuprador era um tenente-coronel da polícia. O motivo para a detenção da mulher não foi esclarecido. Um relatório dizia que a família do coronel tinha "pagado" aos parentes da mulher para escapar das punições.

Em Basra, em 2008, a polícia registrava os assassinatos de 15 mulheres, por mês, por violação "dos códigos de vestimenta islâmicos". Uma menina de 17 anos, Rand Abdel-Qader, foi espancada até a morte por seu pai, há dois anos, porque se apaixonou por um soldado britânico. Outra, Shawbo Ali Rauf, 19, foi levada pela família para um piquenique no Dokan e baleada sete vezes, por terem encontrado um número desconhecido no celular dela.

Em Nínive, Du'a Khalil Aswad tinha 17 anos quando foi apedrejada até a morte por uma multidão de 2.000 homens por ter-se apaixonado por um homem fora de sua tribo.

Na Jordânia, organizações feministas dizem que, per capita, a minoria cristã do país de pouco mais de cinco milhões de pessoas está envolvida em mais "crimes de honra" que os muçulmanos - muitas vezes porque as mulheres cristãs querem casar-se com homens muçulmanos. Mas a comunidade cristã reluta em discutir os seus crimes e a maioria dos casos conhecidos de homicídios são cometidos por muçulmanos. Suas histórias, porém, são exaustiva e doentiamente familiares.

Em 1999, Sirhan gabava-se da eficiência com que matou sua irmã mais nova, Suzanne. Três dias depois de a jovem de 16 anos ter denunciado à polícia o estupro de que foi vítima, Sirhan deu-lhe quatro tiros na cabeça. "Ela cometeu um erro, mesmo que contra a vontade", disse. "De qualquer modo, é melhor ter um morto do que toda uma família morta de vergonha." Desde então, um espetáculo profundamente angustiante de crimes de "honra" tornado público na Jordânia, foi condenado pela família real e tem sido lentamente combatido pelos tribunais com sanções penais cada vez mais duras.

Ainda em 2001, um jordaniano de 22 anos estrangulou sua irmã casada de 17 - o 12º. assassinato desse tipo em sete meses - por suspeitar que ela teria um caso. O marido morava na Arábia Saudita. Em 2002, Souad Mahmoud estrangulou a própria irmã, pela mesma razão. Ela tinha sido forçada a casar com o amante, mas quando a família descobriu que estava grávida antes do casamento, decidiram executá-la.

Em 2005, três jordanianos esfaquearam a irmã casada de 22 anos, por ela ter um amante. Após testemunharem um homem entrar na casa dela, os irmãos invadiram o local e a mataram. Mas nada aconteceu ao amante.

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