domingo, 30 de maio de 2010

Moscou - parte 11 - O Kremlin, Lênin e os Tesouros da Rússia

Uma das visões mais fantásticas que uma pessoa pode ter é ficar no meio da Praça Vermelha e olhar ao redor.  A Praça é cercada de lugares históricos como a Catedral de São Basílio, construída no século XVI e agora museu, o Kremlin que domina grande parte da paisagem, com a famosa Torre Spasskaya e a Torre Burovistkaya (na verdade, são sete torres). Há ainda o Mausoléu de Lenin, que nos impressionou vivamente, a Torre Nikolskaya do Kremlim, o Museu Histórico e finalmente, fechando o cículo, a Catedral Kazan.


Das sete torres do Kremlin, escolhi falar da Torre Burovitskaya, que nos deixou encantadas, porque no seu topo há uma estrela vermelha brilhando intensamente à noite.  O guia nos disse que dentro da estrela há rubis.  Hum... será?  Mas é bom imaginar que sim.  A Torre Burovitskaya (em russo, Боровицкая башня) é uma torre de canto com passagem para o lado Oeste do Kremlin.  O nome vem de uma colina das sete em que se assenta a cidade.  A torre foi construída em 1490, no local onde existia o antigo portão do Kremlin, pelo arquiteto italiano Pietro Antonio Solari, por ordem de Vasili III. Em 1658, a mando do tsar Aleksey I da Rússia, a torre foi rebatizada com o nome Predtechenskaya.  O novo nome, porém, nunca se tornou popular.  Em 1812 a torre foi danificada por uma explosão, por ocasião da retirada do exército francês.  Passou por restauração em 1817-19 pelo arquiteto Osip Bove e, em 1935, os soviéticos mandaram instalar no seu topo uma estrela vermelha.  Junto com a estrela, o monumento mede 54.05m.

Foi no dia seguinte da nossa visita ao Mosteiro de São Sérgio que fomos, finalmente, visitar o Mausoléu de Lênin.  Visitamos depois o Kremlin e o museu onde estão os tesouros dos czares.  É tudo tão impressionante que prefiro ilustrar com fotos.

Terminada a visita aos seus tesouros arquitetônicos e às jóias do Kremlin, fomos descansar nos jardins extra-muros.  Diante de nós se estendia um gramado convidativo e nele estavam crianças, mães, casais de namorados, homens e mulheres solitários.  Tirei os sapatos e pisei na grama macia e fresca.  Caminhei um pouco e depois me sentei, para olhar as pessoas.  Havia uma paz naquele dia de sol quente, mas sem o calor abrasador do Rio.  Era um dia claro, de céu muito azul e de temperatura agradável.  Estava assim absorta, contemplando a beleza da paisagem e do dia quando ouvi uma voz masculina no auto-falante.  Era a polícia.  Embora não tenha entendido uma palavra, vi que as pessoas se apressavam a sair do lugar e foi o que também fiz.

É tudo muito lindo na Rússia, mas a burocracia e o rigor das autoridades destroem toda a felicidade humana.  O regime parece feito para contrariar e aborrecer o povo.  Nada é perfeito.

No dia seguinte, fomos a Sao Petersburgo.  Falarei da viagem amanhã.

sábado, 29 de maio de 2010

Moscou - parte 10 - Sergiev Posad

Volto a falar da viagem a Moscou.  Este reinício está sendo custoso para mim, pois Alda não me sai da cabeça. 

Os melhores momentos de nossa viagem a Moscou foram os últimos dois dias, um deles quando visitamos Sergiev Posad, do qual falarei hoje.

O Monastério fica a 75km a Noroeste de Moscou, em cidade mesmo nome.  Na era soviética se chamava Zagorsk.  Sergiev Posad é um cento industrial com mais de 100 mil habitantes e a fama da cidade está no Monastério Ortodoxo de São Sérgio, do século XIV.  Há apenas quatro deles em toda Rússia, que são o equivalente ao Vaticano.   O de São Sérgio consiste em construções medievais que chegam a rivalizar com o Kremlin.

Para chegar lá, tomamos o metrô e fomos à estação de Komsomolskaya   Andamos até a estação Yaroslavl e tomamos o trem, que sai a cada 20-30 minutos, e leva cerca de uma hora e meia ate São Sérgio.  Enquanto esperávamos o trem olhávamos as pessoas, todas de origem muito simples.  Havia bêbados àquela hora da manhã.

O trem chegou e eu me sentei junto à janela para olhar a paisagem.  A viagem me trouxe de volta recordações da juventude, quando devorava os autores russos e me impressionava com as suas descrições do país.  Era como se eu vivesse lá.  Da janela do trem, eu via as paisagens que eles tão bem descreveram: os campos de bétulas, os lirios do vale, o céu azul amplo, quase sem nuvens e o sol tranquilo a colorir os bosques e florestas.


São Sérgio de Radonezh era um monge de Rostov.  Com sua fé e piedade, ele conseguiu atrair seguidores que se estabeleceram nas florestas em volta de Moscou.  A construção de madeira que protegia os devotos foi destruída pelos tártaros, logo após a morte do santo, mas o seu túmulo foi preservado e, em 1422, ano de sua canonização, iniciou-se a construção da Caedral da Trindade.

Em 1476, Ivan o Grande mandou construir a Igreja do Espírito Santo e em 1540 foram feitas as fortificações do monastério que permanecem até hoje.

O Monastério da Trindade permaneceu o centro da Igreja Russa até 1920, quando foi fechado pelo governo bolchevique e os monges enviados aos campos de trabalhos forçados.  Stálin permitiu a reabertura do monastério como parte das comemorações da Vitória, em 1946, e o Patriarca Russo teve seu assento lá até 1988, quando a honra foi transferida para o Monastério de Danilov.

Desde sua fundação, o Monastério de São Sérgio tem sido destino de peregrinações, reverenciado por todos os Tsares e até mesmo pelos pensionistas do regime soviético.
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Passamos o dia inteiro nesse lugar maravilhoso.  Chegamos de volta a Moscou no fim da tarde.  Depois de assistirmos ao por do sol, descemos para jantar fora com as cores vibrantes do mosteiro ainda em nossas memórias.

No dia seguinte, visitamos o Kremlim e o túmulo de Lênin, mas disso falarei em outro post.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Alda

Ontem, eu devia prosseguir em minha viagem à Rússia, mas algo aconteceu e não consegui postar nada.  Foi ontem que soube que Alda está morrendo num leito de hospital.  A medicina parece não poder fazer muita coisa por ela.  A notícia me entristeceu.  Entristeceu também as filhas, que choraram quando falávamos de Alda pelo Skype.

Meu relacionamento com ela começou há muitos anos.  Tornamo-nos grandes amigas, mesmo sendo ela uns 10 anos mais velha do que eu.  Com o tempo e por problemas familiares, algumas rusgas vieram conturbar nossa amizade.  Brigamos e ficamos de mal algumas vezes.  O importante, porém, é que conseguimos superar os diversos incidentes e continuamos nossa amizade. 

Uma vez, quando nossos filhos eram crianças, ela me disse algo que ficou para sempre dentro de mim; "Você é a única pessoa a quem posso confiar meus filhos, caso algo me aconteça."  Alda havia perdido o marido, que morrera em seus braços, de um ataque cardíaco.  O pai, a quem muito amou, morrera três anos antes.  Essas duas perdas importantes provocaram mudanças em Alda e nossa amizade se estreitou. 

Sempre vou lembrar dos almoços e jantares que ela fazia com capricho e carinho, se esforçando para agradar os convidados.  Alda tinha esse tipo de preocupação: gostava de ver seus convivas felizes.  Eu mesma e minhas filhas participamos de vários desses acepipes.  Sim, os almoços e jantares que Alda preparava eram verdadeiros banquetes, e todos eram feitos com muito amor.  Era a sua forma de expressão.

Como todo ser humano, Alda tinha também seu lado desagradável, ranzinza e peçonhento.  Era teimosa até a raiz dos cabelos, arrogante, muitas vezes, e algumas delas impiedosa.  Quando convivemos com as pessoas temos sempre a tendência de olhar com lente de aumento os defeitos e "esquecer" as qualidades.  Isso, claro, acontecia no nosso relacionamento, mas se ele durou tantos anos foi porque soubemos superar, eu e ela, os defeitos de ambas e, no final, nossas qualidades prevaleceram.

Os últimos anos têm sido de perda para mim e eu não consigo me acostumar com o fato de estarmos aqui de passagem.  Não posso me conformar em perder a amiga, mas tenho de aceitar o inevitável. 

Alda, querida, vá em paz e que Deus te acompanhe.  Eu serei eternamente sua amiga.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Moscou - parte 9 - Metrô e Izmaylovo




No terceiro dia em Moscou conhecemos finalmente o metrô, aliás, conhecemos várias estações de metrô -  todas surpreendentemente lindas.  Tomamos o metrô logo depois do café da manhã para irmos fazer compras.  Eu estava aflita para adquirir umas matrioskas - as famosas bonecas russas.  O guia nos levou a um local onde havia milhares delas e a dificuldade era escolher qual levar.  Naquela época, 1999, as bonecas eram baratíssimas e acabei exagerando e comprando um monte.


Depois de estarmos neste lugar do qual não me lembro o nome, fomos finalmente para Izmailovo, onde há um enorme mercado em que se pode tanto comprar mais artesanato russo quanto provar as iguarias russas.  Na entrada do mercado, um grupo folclórico se apresentava e nos detivemos a olhar.


Não sei precisar quantas horas ficamos em Izmailovo, admirando tudo o que viamos e comprando, claro.  Saímos de lá já era tarde e voltamos ao hotel.  Nesse dia, o guia sugeriu que jantássemos num restaurante georgiano, um pouco distante de onde estávamos.  Foi uma longa caminhada até chegarmos a uma grande casa bem rústica, mas muito aconchegante.

Nosso grupo era formado de aproximadamente 10 pessoas, pelo menos.  Sentamos e nos deixamos levar pelas sugestões gastronômicas do guia.  A comida era deliciosa e o vinho, claro, georgiano.  Quando estávamos no meio da refeição, surgiu um grupo folclórico e a animação foi total. 

Voltei para o hotel de táxi, pois já não aguentava mais.  Não bebera muito, mas estava cansada.  A filha do meio ficou com o grupo e eles voltaram a pé.  Ela me contou mais tarde sobre por do sol que presenciaram e o céu colorido que fez naquele entardecer.  Perdi essa beleza, porque me deixei vencer pelo cansaço.

No dia seguinte íamos conhecer um mosteiro que fica fora de Moscou.  Falarei dele em outro post.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Moscou - parte 8 - Arbat

Depois de visitarmos o Parque da Vitória fomos passar a tarde na Arbat, bairro considerado como um dos mais charmosos e exuberantes de Moscou.  Mais ou menos como o bairro de Santa Teresa para os cariocas.  O bairro boêmio é cheio de cafés, tem intensa vida intelectual e artística e conta ainda com com uma série de lojas que vendem souvenirs.  Na Arbat é possível ver artistas pintando telas em plena rua apinhada de gente. 

A Arbat é o símbolo da velha Moscou e seu nome é mencionado nas crônicas da cidade desde 1493.  Naquele ano, a cidade inteira pegou fogo e acredita-se que tenha começado por uma vela acesa na Igreja de São Nicolau, em Peski, que está situada na Arbat.  Pois não é que foram botar um MacDonalds justo nesse lugar histórico?

A filha do meio não resistiu ao ver o MacDonalds e quis comer um hamburguer.  Fiquei indignada e não deixei, porque os restaurantes russos exibiam comidas deliciosas.  Hoje em dia, certamente, teria sido mais flexível. 

Voltamos caminhando para o hotel e à noite nos reunimos para um jantar.  Um rapaz e uma moça de São Paulo, que haviamos conhecido no Parque da Vitória, se uniram a nós e fomos comer... uma pizza.  Fui voto vencido na escolha do restaurante.  Logo chegaram outros brasileiros.  Aliás, a pizzaria estava cheia deles.  Acho inacreditável que as pessoas viajem e deixem de provar a comida local.  Um brasileiro que se sentou na nossa mesa revelou que aprendera a falar restaurante em russo: "É pektopant," disse todo orgulhoso. Bem, não deixa de ser uma forma engenhosa de contornar a dificuldade com o idioma.

No dia seguinte, o segundo em Moscou, o guia nos levaria a fazer compras em Izmailovo - um lugar incrível do qual falarei em outro post.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Moscou - parte 8 - Sightseeing

No dia seguinte, uma boa surpresa nos esperava quando descemos para tomar o café da manhã.  Era impressionante as iguarias expostas no bufê.  Não resistimos.  Bem que quisemos experimentar todas elas, mas era impossível.  Prometemos continuar a tarefa no dia seguinte.

Satisfeitas e bem fornidas, embarcamos no ônibus que nos levou para uma visão panorâmica da cidade.  Passamos pelo parque Gorky e depois o ônibus estacionou perto do Arco do Triunfo moscovita, que fica na Avenida Kutuzov e foi erguido para comemorar a vitória sobre o exercito de Napoleão.   Dali seguimos até o Park Pobedy, ou o Parque da Vitória, imenso e deslumbrante.  Era domingo de manhã, dia em que se realizam os casamentos, segundo o costume de alguns países europeus.  Eu me lembrei de um dia em Roma, há muitos anos, quando passeava nas redondezas do foro romano num domingo pela manhã.  Fiquei impressionada com os vários casamentos que vi acontecendo nas igrejas.  Casais faziam poses para a câmara ao lado dos antigos monumentos romanos.  Tirei várias fotos desse dia e as tenho comigo até hoje.  Foi interessante ver, no Parque da Vitória, que os moscovitas vão até lá para fotografar o dia mais importante de suas vidas, as suas vitórias pessoais.  Era visivel que muitos deles vinham de longe e se notava entre eles gente muito simples.  Uma coisa que nos impressionou - mais do que isso talvez: nos deixou boquiabertas-, é que várias dessas pessoas, homens e mulheres, ao sorrir, exibiam dentes de ouro, que reluziam ao sol. 

Estou falando de uma viagem feita há 11 anos e é difícil lembrar a sequência correta dos eventos.  Tentei buscar orientação no mapa da cidade, mas os que encontrei na web estão em russo.  De modo que não posso dizer com precisão se o o Parque da Vitória é perto do Arco do Triunfo, mas tenho quase certeza que sim.  Lembro perfeitamente de que quando saímos do ônibus o guia nos mostrou o Arco, que estava próximo.  Andamos um pouco e chegamos ao imenso Parque da Vitória.  Antes, porém, tínhamos visitado outros parques de rara beleza, dos quais já não me lembro o nome, infelizmente.  Devia ter escrito este relato há onze anos...

Se não me engano, foi nesse mesmo dia que fomos à Árbat, lugar que reúne comércio, badalação e cultura.  Mas sobre isso falarei em outro post.

domingo, 23 de maio de 2010

Moscou - parte 7 - O Bolshoi


Depois de visitarmos a Praça Vermelha e olharmos a Catedral de São Basilio por fora (estava fechado aquela hora), voltamos para o hotel.  Naquela noite íamos assistir a um espetáculo de ballet no Teatro Bolshoi  (Большой театр, em russo).  De onde estávamos até o teatro era uma boa caminhada, mas interessante para conhecermos a cidade. 

O teatro, situado perto do Kremlin, em pleno centro de Moscou foi concebido em 1856 pelo arquiteto Albert Cavos.  Hoje em dia, ele está adornado com um águia de duas cabeças ao invés da foice e do martelo acrescidos na época soviética. Sua cor é bege, com exceção das colunas, que são brancas.

A companhia foi fundada em 1776 pelo príncipe Peter Urussov e Michael Maddox. Depois de três anos a apresentar-se num recinto privado, o Teatro Petrovsky o adquiriu. Em 1805, um incêndio destruiu o edifício.  O teatro entrou em reformas desde 2005.  A enorme obra de restauração do Bolshoi foi salpicada de acusações de malversação de fundos e corrupção. Sua reabertura, inicialmente prevista para setembro de 2008, foi adiada várias vezes. Enquanto isso, o elenco do Bolshoi atua num teatro próximo.  Os andaimes que tapavam a fachada do teatro foram retirados no dia 9 de maio para a festa dos 65 anos do Dia da Vitória (na Segunda Guerra Mundial).
 
Na ocasião em que visitei o teatro, confesso, sinceramente, que não me impressionei com nada do que vi.  O Bolshoi tem uma arquitetura muito simples, se comparada com o nosso Teatro Municipal aqui do Rio.  Imaginava que, internamente, veria o mesmo luxo do nosso Municipal, mas me desiludi.

Quando o espetáculo começou, veio a decepção: a obra apresentada era "made for tourist".  Nosso grupo aplaudiu entusiasticamente; eu, não.  Fiquei aborrecida com aquelas piruetas sem sentido.  Não sou expert em ballet, mas já vi alguns e sei quando é bem dançado.

Saímos do teatro e fomos jantar.  Aí, sim.  Foi um jantar simples, mas muito bom.  Fomos a um restaurante que ficava perto do hotel e comemos a sopa borscht de entrada e depois cada um pediu seu prato.  Os brasileiros quiseram experimentar o strogonof e disseram que estava muito bom.  Não me lembro do que comi, mas estava delicioso, assim como o vinho georgiano que tomamos.  O guia nos acompanhou e, diante da pãodurice dos demais, paguei a conta dele.  Lembro que aquele banquete para 3 pessoas me custou um pouco mais de 30 dólares.  Uma pechincha.  E é bom ser generoso em momentos de felicidade.

Um grupo folclórico se apresentou e nosso dia terminou com muita alegria.  No dia seguinte, íamos conhecer mais essa bela cidade.

sábado, 22 de maio de 2010

Moscou - parte 6 - O Kremlin e a Catedral de São Basílio

Finalmente saímos daquele hotel "monstro" e fomos para a rua.  A primeira coisa que nos impressionou foi a imensidão do espaço urbano.  Nada de prédio colado um ao outro.  Tudo era amplo, espaçoso.  Nenhuma construção era excessivamente alta e a gente podia olhar para cima e ver o céu, com aqueles riscos que se formam depois da passagem dos aviões.  O céu russo parecia muito maior do que em qualquer outra parte do mundo.  Na Rússia tudo é gigantesco e impressionante.  A gente se sente muito pequeno lá.

Tivemos a felicidade de ir em 1999, quando o país ainda recebia seus primeiros visitantes e emergia do comunismo.  Não havia quase carros na rua e o trânsito era bom.  Hoje sei que é um inferno.  Os carros eram antigos e parecia que a gente tinha entrado no túnel do tempo.  Era como se estivéssemos vivendo 40 anos atrás. (Aliás, senti o mesmo em outros países comunistas, dos quais falarei em outro post)

As pessoas eram outro capítulo à parte: sombrias, arredias, distantes.  Todas usavam casacos, apesar de fazer sol e o tempo estar fresco.  Nós, que somos dos trópicos, estávamos mais à vontade do que eles.  Na volta, perguntamos ao guia o porquê e ele nos disse o que ficou para sempre na minha memória: "Nós respeitamos o frio."

Logo, logo chegamos ao Kremlin e à Catedral de São Basílio.  Nosso coração parou de emoção diante de tanta beleza e magnificência.  Foi como se tivéssemos sido atingidas por um soco, terremoto ou sei lá o quê, mas no bom sentido.  Aliás, no melhor de todos os sentidos.  Ficamos zonzas.  Era tudo incrivelmente belo e gigante.  Meus olhos se encheram de lágrimas. 

A Praça Vermelha é tão grande que não se pode descrevê-la em palavras.  Está situada em frente ao Kremlin e foi construída na virada do século XV para o XVI. A função da praça era estratégica: garantir aos Czares boa visibilidade no caso de aproximação de inimigos.  Também foi palco de importantes acontecimentos históricos que mudaram o mundo, e o nome Praça Vermelha não é por causa da cor dos tijolos ou dos muros, mas sim porque a palavra vermelho em russo também serve para caracterizar bonito.  E como tudo é tão bonito...

No próximo post falarei mais das belezas que ficaram para sempre em nossos olhos, corações e mentes.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Moscou - parte 5 - Hotel Rossiya

O Hotel Rossiya (em russo: Россия ) foi o maior hotel construído em Moscou, em 1967, por ordem do governo soviético.  A sua construção provocou enorme demolição de uma área histórica conhecida como Zaryadye.  O Rossyia era o maior hotel da Europa, pelo Guinness Book, até 2006, quando foi demolido.

Eu tive a felicidade de me hospedar nesse "monstro" de 3.200 apartamentos e 245 suítes, além de contar com outras facilidades, entre elas o Concert Hall estatal de 2.500 lugares.  O edifício de 21 andares, de frente para as muralhas do Kremlin e para as cúpulas da Basílica de São Basílio, chegou a abrigar mais de 4 mil hóspedes.  Em 1977 o hotel pegou fogo, matando e ferindo muita gente.

O Rossiya fechou oficialmente suas portas no dia 1 de janeiro de 2006.  A demolição começou em março daquele ano, para dar lugar a um complexo de entretenimento, sob a supervisão do arquiteto inglês Sir Norman Foster.  Havia planos de reconstruir o Rossiya, mas em outubro daquele mesmo ano a Suprema Corte os cancelou.  Recentemente, de acordo com o Moscow Times, o projeto foi revisto e é provável que a construção tenha prosseguimento.  Para mim, foi um choque saber da demolição do gigante.

De posse da "karta", voltamos à escrivaninha de outra senhora (também mal humorada) e lhe entregamos o papel.  Ela o recolheu e nos deu então a tão almejada chave.  Demos uma volta, disfarçamos e saímos de fininho com a aquela peça tão preciosa.  Fomos visitar a Catedral de São Basílio e o Kremlin.  Sobre a emoção do nosso primeiro contato com esses tesouros da humanidade, falarei em outro post. 

Quanto à "karta", descobrimos como funcionava o sistema.  Cada vez que saíamos, tínhamos de deixar a chave na escrivaninha e a senhora nos dava a "karta".  Ao voltarmos da rua, entregávamos a "karta" e ela nos dava a chave.  Passamos os 5 dias em Moscou brincando de gato e rato com essas senhoras.  A gente dava sempre um jeito de distraí-las, ao entrarmos no nosso quarto e sairmos dele, para não passarmos por tal burocracia.  E como nos divertimos!  Mas de tudo isso ficou uma lição: o excesso de controle, significa descontrole.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Moscou - parte 4 - "A Karta"

O ônibus parou na frente do hotel Rossiya, o maior do mundo, que ficava às margens do Moscova.  Ficava bem pertinho do Kremlin, Praça Vermelha, Catedral de São Basílio, enfim, de tudo.  O hotel era gigantesco e usado na época do comunismo para as reuniões do partido e hospedagem de seus membros.  Histórico, gigantesco (como eram todas as construções do período) e maravilhoso.  Infelizmente, foi abaixo e disso falarei amanhã.

Não foi tão maravilhosa assim a burocracia que tivemos de enfrentar.  Para começar, o pessoal da recepção não falava uma palavra de inglês e o pobre do guia era um só para dar conta de tanta gente.  Tivemos de dar nossos passaportes e eles o seguraram durante três dias e só o devolveram quando nos cansamos de pedir. 

Depois da sabatina na recepção (queriam saber tudo, para quê meu Deus?), recebemos finalmente o que depois, mais tarde, ficamos sabendo que era a "karta".  De posse desse papelzinho, ou "karta", nos dirigimos ao elevador e ao andar onde ficava o nosso quarto.  No elevador, pedi que a filha do meio guardasse o tal papelzinho, porque tive medo de o perder no meio de bolsas e malas.

Ao descermos do elevador, nos deparamos com um longuíssimo corredor onde havia uma escrivaninha e, atrás dela, uma mulher com cara de poucos amigos.  Achamos que devíamos nos dirigir à tal mulher que, claro, só falava russo.  Ela nos perguntou algo em russo que, claro também, não entendemos patavina.  E ela fazia sinal com as mãos, que formavam um quadrado.  Apesar de não falarmos russo, nosso nível intelectual não é dos piores, mas o cansaço da viagem e talvez a antipatia instantânea que sentimentos pela mulher nos impedia de entendê-la.  E ela repetia sem parar "karta", sempre que lhe pedíamos as chaves (falada em vários idiomas e também através de gestos).  Meu Deus do Céu, o que era aquilo que ela tanto repetia?

Diante de nossas caras de bocó, essa fera chamou um senhor que parecia da manutenção e que supostamente falava alemão.  O pobre coitado não falava nem russo.  Mas foi graças a ele que tivemos acesso ao nosso quarto.  Ele usou uma ferramenta para abrir a porta.  Finalmente!!!  Tínhamos o quarto, mas não tínhamos a chave, mas isso a gente ia ver depois.

E foi aí que a filha do meio abriu a bolsa e disse, mostrando o papelzinho do qual eu já nem me lembrava mais: "Mãe, acho que a tal "karta" é isso aqui?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Moscou - parte 3

O avião fez escala em Túnis e tivemos de desenbarcar, felizmente, porque então pudemos conhecer o aeroporto.  Um luxo.  Parecia um palácio das Mil e Uma Noites.  Lamentei profundamente não ter tempo para passar uns dias na cidade.  Alguns passageiros compraram o pacote e eu os invejava (boa inveja).

A escala foi de aproximadamente 1 hora e depois decolamos para Moscou.  Na chegada, já nos defrontamos com a burocracia que nos aguardava.  E olha que era um tour e o guia local nos aguardava.  Embarcamos no ônibus e aí começou a nossa emoção.  Mesmo estando fora do centro dava para ver a beleza da cidade.

Antes de chegar ao hotel, pudemos ver, pela janela do ônibus, a Catedral de São Basílio (em russo, Собор Василия Блаженного) conhecida mundialmente pelas noves cúpulas em estilo oriental.  É extraordinário ver de perto o que há muito era apenas a imagem de um sonho que parecia tão distante.  Transcrevo um pedaço do que diz sobre ela o Wikipédia:  "Pertencente à Igreja Ortodoxa Russa, a catedral teve sua construção ordenada pelo Czar Ivan o Terrível, entre 1555 a 1561, para comemorar a conquista do Cantão de Kazan."  Dizem que o Czar mandou chamar o arquiteto e lhe perguntou se seria capaz de construir outra igual.  Ele disse que sim.  O Czar mandou então arrancarem-lhe os olhos.  Terrível, não?  Mas foi com esse apodo que o Czar Ivan entrou na história russa.

Estávamos ansiosas para chegar logo ao hotel, deixar nossas malas e sair correndo para visitar a Catedral.  Ainda era dia e fazia um tempo lindo lá fora.  Maio é um ótimo mês para conhecer Moscou.  Tenho amigos que foram àquela cidade em dezembro e mal conseguiram sair do hotel, tamanho o frio que enfrentaram.  "La Place Rouge était blanche", como diz a música do Aznavour.  Maio era diferente e era possível sentir o perfume das flores no ar.

Mas teríamos de enfrentar a burocracia russa antes de chegarmos à Catedral....

terça-feira, 18 de maio de 2010

Moscou - parte 2

A conversa com o chefe foi tensa.  Ele me negou os dez dias de férias de que precisava.  Argumentei que podia parecer que eram muitos dias, mas não eram, porque havia um feriado longo.  Ainda assim ele negou e eu notei nele uma má vontade em atender ao meu pedido.  Disse-lhe então que ia ter de faltar (aleguei que era assunto de extrema gravidade) e que ele podia descontar os dias do meu salário.  Lembrei-me do que me disse uma vez uma americana: em caso de recusa sem motivo, exagere no pedido.  Foi como se eu tivesse dito palavras mágicas: ele finalmente concordou.

Na saída do trabalho, parei na agência de viagens.  Íamos precisar ir ao consulado russo para pegar o visto, eu e minha filha.  Na data marcada, fomos ao Leblon, onde fica o consulado, e aí vimos como o país era burocrático.  Fomos sabatinadas, antes de receber o visto, mas estávamos felizes demais para reclamar de qualquer coisa.

No início de maio, viajamos para São Paulo, de onde partiria o vôo para Moscou, com escala em Túnis.  Nossa curiosidade era imensa  Íamos viajar pela primeira vez num Ilyushin e não sabíamos o que esperar.  O vôo era operado pela Aeroflot, que minha filha dizia temer que fosse aeroploft!

Qual não foi nossa surpresa quando entramos no avião.  Era enorme, confortabilíssimo, muito diferente dos aviões de outras empresas que levam passageiros como sardinhas em lata.  Entre uma e outra poltrona, o espaço era decente.  O avião tinha um certo ar tzarista ou assim o imaginávamos.  E a comida era um capítulo à parte.  Mal decolamos e nos serviram bebidas e, de tira-gosto, caviar.  Eu já havia experimentado caviar na Noruega e não gostara.  Acho que quando somos jovens nosso gosto ainda não é muito apurado.  Dentro do Ilyushin, a caminho de Túnis, o caviar me parecia o melhor petisco do mundo.

Mas eu ainda ia ter muitas outras surpresas agradáveis.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Moscou - parte 1

Estou inaugurando um novo marcador: Viagens

Em 1998, eu passava por um momento muito difícil.  Tinha uma casa geminada em Teresópolis e meu vizinho, antes tão simpático, havia mudado, desde que fez da casa de campo sua residência permanente.  Ele passou a usar a minha casa como extensão da sua e fez obras que obstruíram a passagem.  De nada adiantou reclamar.  O síndico era amigo e compadre dele e nada fez.  Diante do impasse e do estresse, decidi vender a casa.  Essa decisão me fez sofrer muito.  A casa de Tere era meu refúgio e meu contato com a natureza.  Eu adorava ir lá, mas desde esse incidente tomei verdadeiro pavor de casas de condomínio.

A venda da casa trouxe enorme alívio financeiro, pois eu também passava por dificuldades nessa área.  Minha filha mais velha, que tanto me ajudava, saíra de casa e viajara para longe, me deixando emocionalmente abalada.  Para a filha foi uma oportunidade imperdível; para mim, um sofrimento atroz, mas eu ficara muito feliz por ela.

Um dia, já em 1999, voltando para casa, o ônibus parou num ponto e li um anúncio "Rio-Moscou-Rio por US$ 500".  Desci correndo do ônibus e entrei na agência de turismo.  Precisava saber se aquilo era verdade, pois um dos meus maiores sonhos era conhecer a Rússia.  Era verdade.  Reservei imediatamente duas passagens e fiquei de voltar no dia seguinte.  O meu plano era viajar com a filha do meio, já que a caçulinha com certeza não ia poder me acompanhar. 

Voltei para casa feliz, mas preocupada.  Tinha dinheiro para viajar, mas não tinha tempo e precisaria de 10 dias.  Como resolver essa situação?  Ia ser dificil convencer o chefe a me liberar, mas eu sempre tive sorte e ela não abandonaria nessa hora.  Eu ia conseguir.

domingo, 16 de maio de 2010

A natureza sempre surpreende

Ontem à tarde, estava às voltas com um problema.  Precisava encontrar alguém que tivesse uma impressora para que eu pudesse imprimir uns documentos.  Lembrei do vizinho que mora bem no andar de cima e liguei para ele sem muita esperança, porque era sábado e as pessoas costumam sair, especialmente em dias bonitos de sol.  Mas ele estava em casa e prontamente atendeu meu pedido.

Subi as escadas, porque eu precisava acessar meu e-mail através do computador dele e daí imprimir.  Pouco depois de chegar, uma surpresa.  Meu vizinho tem dois aquários grandes e, num deles, cria um peixinho deficiente físico.  Vocês já tinham ouvido falar em semelhante coisa?  Na verdade, deveria dizer que é um peixinho com necessidades especiais.  E como é um peixinho nessas condições?  É um peixinho que não consegue nadar, fica deitadinho no fundo do aquário e precisa de cuidados especiais na alimentação.

O vizinho vai casar e estava aflito para encontrar alguém que pudesse tomar conta do peixinho durante sua ausência.  Eu logo me ofereci e ele me explicou como fazer para alimentá-lo.  Fiquei feliz de poder ajudar.  Além dos peixinhos, o vizinho tem quatro gatinhos e nunca houve problemas entre peixes e gatos.  Parece que só nós somos belicosos.  Eles vivem harmoniosamente.

Já na sala, ao me despedir, olhei para a varanda e vi o por do sol típico do céu de maio colorindo a Lagoa.  Lá fora, a natureza dava o maior show, vestindo um manto azul e rosa que se espalhava em todas as direções.  Lindo.  Voltei pra casa feliz.

sábado, 15 de maio de 2010

Um dia feliz

Pois é.  Quando me dispus a escrever, prometi a mim mesma que o faria diariamente.  Ontem, por questões alheias à minha vontade, não foi possível.  Estive ocupadíssima o dia todo e depois bateu aquele cansaço.  À noite, uma querida amiga veio me visitar e festejamos o dia com pizza e vinho.  Festejamos, sim e vocês vão saber porquê.

Apesar de cansativo e agitado, ontem foi um dia muito feliz.  Foi quando finalmente comecei a a colher o fruto do meu trabalho: consegui um emprego.  Não é aquele emprego, mas vai me deixar mais tranquila em relação às contas que tenho de pagar.  Vai dar uma folga no meu orçamento e não vai exigir muito de mim.  Além disso, é um trabalho também prazeroso, quase tanto quanto o trabalho que tinha antes. 

A notícia veio um pouco antes da amiga chegar.  Ainda bem que tinha um vinho guardado e aí foi só pedir a pizza.  Depois, conversamos até tarde e fomos dormir cansadas e felizes.  Como é bom ter uma amiga que torce por mim e se alegra com a minha conquista!

E eu devo tudo isso ao meu santinho, a Santo Expedito.  É a ele que invoco todos os dias nas minhas orações, é a ele que peço força e coragem para superar tudo o que passei.  E é a ele que imploro que atenda aos meus pedidos.  E ele atende.

Hoje, enquanto almoçava, via o programa "Estrelas", porque Angélica entevistava Caco Barcelos, um jornalista e escritor a quem muito admiro.  Também ele é devoto de Santo Expedito e não deixa de levar a imagem do santo aonde quer que vá.  E olha que ele já passou por situações extremamente perigosas.

E pensar que não muito tempo atrás eu me indignava com as pessoas que se agarravam aos santos, pedindo coisas só para si.  Eu sempre dizia que, se tivesse de rezar, seria em prol das pessoas que sofrem.  Mas eu nunca rezava, nem por elas e nem por mim.  Eu não acreditava em nada.  Até o acidente.

Hoje, tendo de refazer minha vida, vejo quanto tempo precioso perdi.  Tento recuperar, rezando diariamente: "...perdoai as nossas ofensas..."

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A gente sempre supera o que parece insuperável

Hoje de manhã, enquanto tomava banho, me veio à memória que há bem pouco tempo eu não conseguia fazer uma operação tão simples quanto essa.  Eu não podia tomar meu banho sozinha e isso me incomodava muito.  É horrível ter a nossa privacidade assim tão devassada.  Talvez por isso, para esquecer esse sofrimento, eu tenha ficado um bom tempo assistindo aos programas mais esdrúxulos da TV. 

Antes do acidente, gostava muito daqueles que podiam ser considerados como "barra pesada".  Minha série favorita era a premiadíssima "A Sete Palmos", e quando eu revelava minha preferência as pessoas faziam caretas.  Gostava também dos documentários do History Channel, Natgeo e Discovery.  Eram os meus canais preferidos.

Já no hospital comecei a ver a TV "trash" e conseguia me encantar com os programas da Márcia e do Ratinho.  Em casa, continuei a ver isso que chamam porcaria e as minhas filhas não conseguiam entender como conseguira passar do luxo ao lixo.  Nem eu mesma conseguia dizer por quê.

Enquanto tomava banho, tentava avaliar o porquê dessa mudança súbita de comportamento.  A verdade é que não foi só o meu modo de encarar as coisas que mudou - tudo em mim mudou.  Meu cabelo caía aos tufos, minhas unhas estavam manchadas e enrugadas e, o mais impressionante: perdi o apetite.  Reclamava quando exageravam na quantidade de comida que punham no meu prato e muitas vezes tive de fazer de conta que apreciava o que estava comendo.  Eu não conseguia sentir o paladar da comida e, consequentemente, não desfrutava do que comia.  Logo eu que antes fora uma glutona.  Emagreci.

Hoje, quando olho como estou agora e lembro de como estava antes, vejo como avancei, como consegui superar o que antes parecia insuperável.  Meu apetite voltou ao normal (foi a primeira coisa).  Meu cabelo parou de cair e voltou a se encher, como era antes, e minhas unhas estão rosadas e firmes.  Não sabia, mas esses são indicativos de doença.  Não estou mais doente.  Estou bem e confiante e, detalhe, já não curto mais os programas "trash". 

Estou quase voltando a ser o que era antes.  Graças ao meu bom Deus, graças a fé em mim mesma e graças aos grandes amigos que me apoiaram o tempo todo.  Sim, é verdade, se conseguimos reunir tudo isso a podemos superar os piores momentos na vida. 

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A vida passa depressa

De um dito popular francês, "Ah, si jeunesse savait, ah, si vieillesse pouvait. (ah, se a juventude soubesse, ah se a velhice pudesse)," se pode aprender muita coisa.  Eu tive um chefe que, muitas vezes olhando para mim e querendo abrir meus olhos, repetia esse dito.  Se eu o tivesse levado a sério teria sido mais sábia.  Não perderia tanto tempo com bobagens, não juntaria tanta tralha inútil, que me consumiu tempo precioso, me lamentaria muito menos e, certamente, ganharia mais com isso e viveria melhor.  Mas quando somos jovens achamos que temos uma vida inteira pela frente e que o futuro (a velhice) está muito distante.  Não está.  Ela está logo ali, bem na esquina.  E é terrível o susto que levamos quando chegamos até ela.

Hoje em dia cabe a mim olhar os jovens e tentar fazê-los compreender que eles não têm todo o tempo do mundo, como imaginam.  A vida passa muito depressa.  Ela é muito mais rápida do que imaginamos.  Eu me lembro que um dia, assim de uma hora para outra, meu irmão me olhou atentamente e me perguntou o que havia acontecido com os meus olhos.  Nessa época, eu tinha passado um pouco dos quarenta anos.  Fiquei grilada e sem entender.  Ao chegar em casa e me olhar detidamente no espelho percebi: eu começara a mostrar os primeiros sinais de envelhecimento.  As minhas pálpebras começavam a cair, dando-me o olhar cansado, sinônimo de que o acúmulo dos anos podiam ser agora notados.  Foi o primeiro choque, o primeiro susto, a primeira dor.

Pois acreditem que nem com esse sinal evidente eu me curei da mania de perder tempo com bobagens.  Sem contar que sempre fui muito desatenta.  Passei grande parte da minha vida nas nuvens, sonhando com o futuro, e trabalhando para realizar os meus sonhos e os de minhas filhas.  Mas não é para isso que vivemos?  Sim, é, mas a gente não deve esquecer de desfrutar o presente, aproveitar o dia e viver cada minuto da forma mais intensa possível.  Parece lógico e simples, não é?  Mas não é o que comumente fazemos.

Não tive a sabedoria para seguir o conselho que estou dando agora.  E o pior é que estou tão acostumada a não desfrutar o presente que continuo com a tendência de viver acelerada, correndo não sei para onde, como se o futuro não tivesse ainda chegado.  Ele chegou e me despertou do sonho em que vivi.  O futuro chegou sob a forma de uma pesadelo, que me manteve presa a um leito durante três meses.

"Deus, dai-me sabedoria para superar o que passei e desfrutar do presente com muita paz e harmonia."  Esta talvez devesse ser a minha oração diária.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Perdoar e pedir perdão

Hoje deveria seguir com o assunto "Como evitar preocupações", mas não consegui avançar na leitura.  Vou então falar de um assunto que há muito ronda a minha cabeça.

Muito se fala em perdoar como um ato nobre.  E é, sem dúvida.  O Pai Nosso diz bem claramente: "assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".  Mas antes do "perdoamos" a oraçao diz: " "Perdoai as nossas ofensas."  Pedir perdão é talvez mais difícil do que perdoar.

Na minha prática de vida tenho observado como é dificil ouvir um pedido de perdão.  A gente costuma ouvir pedidos de desculpas com relativa frequência, mas e o pedido de perdão de quem magoou e ofendeu alguém?  Quantas vezes isso costuma acontecer numa vida? 

Pedir perdão (não é pedir desculpas) significa que a pessoa reconhece que errou, ofendeu e magoou seu semelhante.   É aí que surge o problema.  São raros os que dão o braço a torcer, que reconhecem e admitem seus erros e pedem humildemente perdão.  Todo mundo tem razão, até mesmo aquele cara que encheu a cara e saiu atropelando transeuntes na calçada.  Todo mundo quer ser inocente, como se errar não fosse humano.

E como se sente a pessoa que foi magoada ou ofendida e não recebeu o pedido de perdão?  A essa pessoa se lhe diz que é rancorosa, que guarda as ofensas e as mágoas, que não é capaz de perdoar.  Mas como ela pode perdoar se não lhe pediram perdão?  Então é assim: a gente sofre injustiça, recebe ofensas, se magoa, sofre e depois esquece, perdoa?  É assim?  Podemos perdoar sem ouvir um pedido de perdão?

Se é assim, parece-me que estou rodeada de santos.  Todos são santos e eu posso magoá-los à vontade, porque sei que vão me perdoar, não importando o que eu faça.  Mas não é isso que vejo acontecer.  E é por isso que vou citar o Poema em Linha Reta, de Fernando Pessoa, no trecho abaixo, que reflete como me sinto em relação aos santos que me rodeiam:

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Como evitar preocupações - parte 2

Estou falando em evitar preocupações e cá estou preocupada.  Tentei espairecer durante o fim de semana, mas me sinto tensa. 

Iniciei um trabaho novo e encontrei algumas dificuldades, justamente por ser precipitada e ansiosa.  Por que o tempo ainda não me curou desses dois monstros?  Tenho me policiado para não cometer erros, mas volta e meio escorrego e faço tudo errado.  E passo tanta vergonha, meu Deus.  Por isso, não sei se sou a melhor pessoa para falar em "evitar preocupações".   Pelo menos não hoje.

Mas como prometi e sou muito teimosa, resolvi transcrever os primeiros conselhos que Dale Carnegie dá às pessoas que estão na mesma condição que estou agora.  Lá vai:

1.  Não esquente a cabeça com o futuro.  Viva cada dia apenas até a hora de ir para cama.
Disto tenho certeza, depois do acidente, e concordo plenamente.  Quanto ao que vem a seguir, sempre agi dessa forma várias vezes e acho que funciona.  Tente você também.
2.  Diante de um problema que lhe parece grande demais, pergunte a si mesmo: "Qual a pior coisa que poderá me acontecer se eu não conseguir resolver meu problema?
3.  Prepare-se mentalmente para aceitar o pior, se necessário.
4.  Depois, calmamente, procure remediar a situação, partindo do pior - que você já concordou mentalmente em aceitar.
5.  Lembre-se do custo que a preocupação terá sobre sua saúde.

Vou tentar avançar na leitura do livro (ontem não li) para dar continuidade a este assunto.  Enquanto isso, mantenham a esperança e sejam felizes.  Eu estou tentando.

domingo, 9 de maio de 2010

Como evitar preocupações - parte 1

Tenho uma amiga que está enfrentando problemas muito sérios e foi ela quem me falou do livro de Dale Carnegie, "Como Evitar Preocupações e Começar a Viver".  Eu conhecia o autor, porque há muito li o famoso best-seller "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas".  Lembro-me de ter posto em prática o que ele recomendava e, para minha surpresa, tudo funcionou.  Na época, eu também vivia um momento difícil, mas no trabalho.  É interessante as coisas que podemos fazer com a nossa mente.

Apesar de conhecer Carnegie, não conhecia este livro sobre as preocupações.  Adquiri um exemplar (baratinho) e comecei a ler.  Carnegie tem um estilo limpo e direto, que prende logo a atenção e ele usa uma ferramenta de marketing muito interessante.  Ele pede ao leitor que leia pelo menos as 30 primeiras páginas.  Se não gostar, deve abandonar o livro imediatamente, e isso acaba se tornando impossível, à medida que  avançamos na leitura.  Já passei das 30 páginas e decidi dividir o que estou aprendendo.  Não é nada novo e nem excepcional.  Os conselhos que Carnegie dá são todos óbvios, o problema é que na correria e no estresse do dia-a-dia nos esquecemos de por cada um deles em prática.

Primeiro é preciso reconhecer que as preocupações nos causam doenças, porque elas terminam afetando todo o nosso organismo.  É por isso que a Yoga e a Acupuntura funcionam tão bem, porque elas restauram o equilibrio orgânico.  Mas se a preocupação persiste, nenhum tratamento consegue erradicar os efeitos que as doenças provocam em nós.  Posso garantir que isso é verdade, porque aconteceu comigo e com minha irmã.  Ambas sofremos de hipotireoidismo e temos de tomar hormônio diariamente.  Com o acidente que sofri, nossa dose de hormônio ficou inadequada subitamente e a causa estava no tremendo estresse que sofremos. 

No próximo post vou falar dos primeiros conselhos de Carnegie para evitar as preocupações.  Até lá tentem refletir sobre o que lhes preocupa e pensem se a preocupação é real ou imaginária.  Sejam felizes.

sábado, 8 de maio de 2010

O pão nosso de cada dia nos dai hoje...

Quem reza o Pai Nosso diz esse trecho da oração, mas será que entende o que ele significa ou o vivencia em sua vida cotidiana? 

Para mim, viver o presente, o hoje, significa algo muito importante que só fui descobrir recentemente.  Eu não rezava até sofrer o acidente.  Foi o sofrimento e a dor que me aproximaram de Deus.  Hoje, rezo diariamente.

Antes do acidente, vivia uma vida corrida e só pensava no futuro.  Vivia em função do meu próximo passo e do planejamento de ações futuras - eu não vivia o presente.  Nos últimos tempos, antes do acidente, eu mal olhava o céu.  A lua, que sempre amei, não me emocionava como antes.  Na verdade, quase nem me lembrava da existência dela.  Estava preocupada com as coisas terrenas, que hoje reconheço como eram sem importância.  E foi então que me acidentei.

Nos três meses em que estive internada, fui forçada a aprender a esperar, porque as feridas não se curam de uma dia para o outro.  Aprendi a ter paciência e a suportar tudo o que antes me parecia insuportável.  Mas talvez a lição mais importante tenha sido aprender a viver o dia presente, porque eu tinha de agradecer diariamente por estar viva.

Não é preciso muito para viver.  Viver com felicidade, em toda a sua plenitude, é preciso menos ainda.  Basta o presente.  Não se pode carregar nas costas duas cargas tão pesadas: a do passado e a do futuro.  Viver o presente significa ter mais leveza, é desfrutar mais e aprender a ser feliz.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dia das Mães

Estava assistindo ao programa da Oprah Winfrey há mais ou menos uma semana e uma coisa me chamou a atenção.  O tema girava em torno de crianças que sofrem abusos de qualquer tipo, mas o foco era no abuso sexual.  Uma frase ficou rondando a minha cabeça: quando se abusa de uma criança, rouba-se algo precioso dela.  Hoje em dia não se concebe mais bater numa criança, sob qualquer pretexto, e eu estou de acordo, embora não tenha me comportado dessa maneira.

Fui muitas vezes cruel e autoritária, mas quando recebemos um bebê nos braços, há tanto tempo desejado, junto com ele vem um rol de incertezas e muito medo.  Tudo o que sabemos é o que recebemos de nossos pais.  Esse saber passa por um crivo que nós mesmos criamos, e então tentamos ser melhores, queremos superar nossos pais.  É por isso que chegamos hoje ao ponto de condenar até um tapinha numa criança.  Evoluimos.

Eu me lembro, quando criança, de uma velhinha cuja imagem tenho até hoje gravada na memória.  Ela parecia frágil e indefesa, mas não era.  Ensinava em casa e seus alunos tinham verdadeiro pavor dela, porque ela lhes batia impiedosamente.  Eu tinha medo só de vê-la, às escondidas, agredindo aquelas crianças.  Essa senhora teve uma morte triste.  Ela costumava deixar velas acesas nos degraus que davam acesso ao andar superior, onde ficava seu quarto.  Um dia, ao subir as escadas, tropeçou e a barra do vestido encostou na vela, pegando fogo.  Ela gritou, mas até os vizinhos chegarem, arrombarem a porta, já era tarde.   Lembro-me de ter ficado contente com a morte daquela mulher.  Acho que seus alunos também.

Conto essa história para ilustrar o quanto avançamos nesses útimos anos.  É inimaginável que exista hoje uma professora como essa velhinha que conheci.  E as mães, hoje em dia, se aproximam cada vez mais de Nossa Senhora.  Elas tentam de tudo para fazer seus filhos felizes e dá alegria vê-las se desdobrarem na tarefa.

Não compartilho do pessimismo de muita gente.  Acho que daqui a mais alguns anos vamos ter seres humanos muito melhores dos que o de hoje.  Até lá, as mães terão se tornado santas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Fé em si mesmo

Nunca postei tão tarde....

Como disse anteriormente, isso é bom sinal.  Estive praticamente o dia inteiro ocupadíssima.  E pensar que apenas um mês e meio atrás eu tinha tempo e preocupações de sobra.  Precisava decidir minha vida, escolher um rumo e complementar minha renda. Precisava, enfim, definir o que ia fazer dali em diante, depois de ter perdido o emprego, depois que uma noite longa e escura se abateu sobre mim. 

Não posso negar que andei triste e sombria.  Pensamentos negativos vinham me assombrar e eu, qual uma náufraga, tentava me manter à tona e nadar em direção a algum porto seguro.  Felizmente, dormi todas as noites, e não era para menos - ao me deitar, estava exausta.  É incrível como às vezes a cabeça pesa, a vida pesa e o corpo pesa.  Carregamos um peso enorme e parece que a cada dia o fardo se torna mais pesado.

Mesmo nos momentos mais escuros, no entanto, nunca perdi a fé e a esperança de dias melhores.  Ao acordar, depois alimentar os gatinhos (para que eles me deixassem em paz), fazia meus exercícios e rezava, como ainda rezo, fervorosamente.  Pedia a Deus apenas mais fé, mais luz, mais esperança e pelo menos um pouco de alegria.  E como sou grata a Ele e a Santo Expedito...

Ontem, eu conversava com uma amiga no telefone e ela me dizia: "Desde que vim morar neste apartamento, tudo deu errado."  É assim mesmo, a gente sempre busca um bode expiatório.  E eu pedi a querida amiga que não repetisse mais aquilo, que nunca reclamasse em voz alta.  Parece que um anjo (talvez do Mal) ouve e nossa vida vira de ponta-cabeça.  Em voz alta, a gente só deve expressar bons desejos.  Os antigos chineses costumavam esconder a felicidade, reclamando da vida em voz alta.  Queriam afastar os espíritos invejosos.  Parece que esse costume também é ocidental: a gente só eleva a voz para reclamar, mas não para esconder a felicidade, e, sim, para externar nossa frustração.  Talvez esteja aí  a diferença.

Eu andei me policiando durante todos esses meses.  Procurava não externar minha frustração diante dos obstáculos que a vida às vezes nos apresenta.  Rezei em voz alta e hoje posso dizer que funciona.  Afastamos o Mal e nossas preces sao ouvidas pelo Criador.

Longe de mim fazer deste blog uma auto-ajuda ou uma pregação religiosa.  Tudo o que quero é fazer as pessoas refletirem sobre o que dizem e reafirmarem a confiança e a fé que devem ter em si mesmas.  Amém.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Começar de novo

Cada dia que passa, demoro mais a escrever um post, mas isso não é ruim.  Significa apenas que ando muito atarefada, com milhões de coisas para fazer.  Estou procurando trabalho e as primeiras oportunidades estão aparecendo.  Isso está me animando muito.  Estou começando tudo de novo.  Posso dizer que estou superando o que passou.

Hoje, tive de interromper o que estava fazendo para escutar uma querida amiga, que está passando por um momento ruim.  Há pessoas que estão sempre se queixando da vida, mas não é o caso dela.  Sempre nos divertimos muito quando conversamos no telefone.  De vez em quando, nos encontramos e damos ótimas risadas.  Eu precisava, portanto, deixar o trabalho de lado e emprestar meu tempo (que agora se tornou precioso) para ouvir a amiga.

Há momentos na vida que tudo escurece e a gente fica sem chão.  Ficamos sem perspectiva e até sem ânimo de tentar qualquer coisa.  Parece que algo dentro de nós diz para ficarmos quietinhos num canto e deixar aquela onda ruim passar.  Alguns esperam que passe, enquanto outros estão sempre esperando mais uma onda ruim.  É a atitude, positiva ou negativa, que vai determinar o tempo em que o sol vai voltar a brilhar.

Viver requer coragem e atitude positiva.   O sol está brilhando para mim no momento em que escrevo.  Preciso viver este momento.  Estou feliz.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um novo tempo

Talvez a parte mais difícil na vida seja a de avaliar os estragos que sofremos, juntar de novo todas as peças quebradas, jogar tudo o que não presta no lixo (às vezes nos apegamos até àquilo que não presta) e começar de novo.

Já passei pelas duas primeiras fases e este blog me ajudou muito a botar pra fora as coisas que me angustiavam.  Sempre achei que conversar com um amigo fosse a melhor maneira de fazer isso, mas as pessoas se cansam - também elas têm suas angústias, suas dúvidas, seus medos.  Muitas vezes estamos mesmo é sozinhos e, com sorte, diante da tela de um computador.

Estou iniciando uma nova fase, que eu chamo de um novo tempo.  Estou começando tudo de novo, deixando para trás os restos do meu mundo desmoronado.  Já avaliei os estragos, juntei as peças quebradas e me sinto agora cheia de energia para mais desafios.

Falar assim parece fácil.  Foram meses de espera e de muitas incertezas.  Começo a ver uma luz no fim do túnel.  Ela sempre aparece e eu não tenho dúvidas disso.  Por mais escuro que tudo possa parecer, a luz está lá, esperando.

Estou indo nessa direçao, com novo ânimo e novas esperanças.  Tudo vai dar certo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Vitória

O dia 2 de maio marcou uma vitória em minha vida.  Eu havia combinado uma saída ao Jardim Botânico para ver as orquídeas e estava receosa e apreensiva quanto a ter condições físicas de percorrer as longas aléias até chegar à exposição.  Fazia um lindo dia de sol, cenário perfeito para o dia que me prometia muita felicidade. 

Chegamos ao Jardim Botânico e iniciamos a caminhada.  Era a primeira vez que eu andava sem sentir desconforto e alguma dor.  Extasiada com a beleza das árvores e satisfeita com a minha performance, segui confiante e feliz. 

Ao sairmos da exposição, fomos almoçar no Couve, antes que o restaurante ficasse muito cheio e insuportável.  Tomamos um vinho, conversamos e curtimos nossa deliciosa refeição.  Tomamos um táxi de volta para casa.

Ao chegarmos, descemos até a pisicina, onde passamos a tarde de sol em conversa interminável, enquanto o Cristo, em sua armadura de aço, parecia nos abençoar lá do alto.

O sol foi embora e era hora de tomarmos um chá.  Estava um dia lindo e fresco que convidava a mais conversa lá em cima, no meu apartmento. 

E o dia terminou feliz, cheio de realizações e promessas de outros dias iguais.  "Obrigada, meu Deus, por me dar tanta alegria".

domingo, 2 de maio de 2010

Lembranças

Diante de mim, uma tela vazia e eu estou sem saber o que dizer.  Hoje é sabado, meu acidente aconteceu num sábado.  Amanhã vou sair, tal qual fiz naquele dia (gosto mesmo é de ficar em casa) e novamente com a minha cunhada, só que desta vez vou ver a exposição de orquídeas do Jardim Botânico. 

No outro dia, conversávamos no telefone, eu e minha cunhada, e ela me dizia da angústia e desconforto que sempre sente quando está no metrô.  Ela tem medo que o celular toque, porque no dia em que me acidentei ela estava no metrô e foi lá que recebeu a notícia do meu atropelamento.  Ela ficou com esse trauma.

Às vezes penso como é possível que suportemos tantas coisas e ainda tenhamos força para seguir adiante.  Não quero minimizar a angústia da minha cunhada, mas imaginem o que sinto.  Lembro-me bem que, enquanto a ambulância me levava para o hospital, eu não tinha noção do que acabara de me acontecer.  Não sentia nenhuma dor e estava confiante de que logo voltaria para casa.  Fiquei três meses internada.  E durante esses três meses sofri dores insuportáveis, e chorei tudo o que não havia chorado desde então.  Ainda na UTI, depois que me tiraram o tubo de ar, fazia planos de viagem.  Já estava decidido: iria ao Polo Norte para finalmente ver a Aurora Boreal.  Não, eu não conseguia dimensionar a tragédia que havia se abatido sobre mim.

Hoje, a minha preocupação é saber se vou conseguir, amanhã, andar da entrada do Jardim Botânico até a exposição de orquídeas, porque caminhar ainda é penoso.  É muito pouca ambição para quem sempre gostou de viajar, de ir muito longe. 

Só mesmo o tempo vai poder acalmar meu coração e aliviar o sofrimento.  Esquecer, virar a página, como costumam dizer, talvez nunca seja possível.

sábado, 1 de maio de 2010

Guido - Há um ano...

Hoje faz um ano que um Santo subiu aos Céus.  Estou falando de Guido, um jovem bonito que morreu de repente, quando desfrutava de um momento de felicidade junto a um de seus melhores amigos.  

Eu conhecia Guido de ouvir falar.  A filha caçula sempre elogiava seu comportamento santo, porque ele nunca negava uma palavra de fé e conforto aos que precisavam dele.  Guido era médico e seminarista.  Em breve, seria padre.  Mas Deus há muito o olhava e o queria a Seu lado.  E ele partiu, deixando um enorme vazio e uma saudade imensa.  O que nos consola é saber que Guido está lá no Céu, olhando por nós. 

No dia 22 de julho de 2009 dei meu depoimento sobre este santo:
No dia 2 de maio eu estava muito triste, apesar da alegria de estar finalmente de volta à minha casa, depois de 2 meses e meio de hospitalização. No dia 7 de fevereiro fui atropelada por um caminhão e sofri politraumatismo.
A minha tristeza se devia à morte do Guido no dia anterior. Estava desolada, pois, enquanto estive na UTI, ele foi me visitar e rezou por mim. Mais que isso, ele deu conforto espiritual à minha filha caçula, devastada com a ameaça de morte que pairava sobre mim e com a responsabilidade enorme que teve de enfrentar sozinha, pois minhas duas outras filhas vivem no exterior.

No dia em que enterraram Guido, rezei com muito fervor por ele, agradeci tudo o que fez por mim e pela filha caçula e supliquei a Deus que lhe reservasse um lugar muito especial no Céu. Enquanto rezava, senti uma vibração no corpo inteiro, uma onda a mexer com todos os meus músculos. 

No dia seguinte, para minha surpresa e das enfermeiras que me assistiam, consegui fazer vários movimentos, que nunca tinha antes feito e nem ameaçava fazer. Daí por diante, minha recuperação foi impressionante. Logo, logo andei e estou quase totalmente recuperada.

Para mim, Guido é santo e eu devo esse milagre a ele.  Obrigada, São Guido.  Amém.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...