segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

VIDA NA ROÇA – AS CARTAS NÃO MENTEM JAMAIS – A REVELAÇÃO


“...o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum!” (Guimarães Rosa, Grandes Sertões Veredas, 1976)

O sol ia alto no céu. Pequenas nuvens brancas e esparsas, emolduravam o firmamento, algumas ainda cinzentas, lembrando a chuva da noite anterior. O calor àquela altura era abrasador me fazendo suar em bicas, mas eu não ousava arredar pé daquele canto onde me sentara com o palhaço para ouvir a revelação do mistério da fazenda.

E ele começou assim: o avô do seu Doquinha era um homem muito mau. “Mau mesmo, moça, de verdade.” Era o pior dono de escravos da região e muitos deles morreram dos maus tratos sofridos. Conta-se que os que sobreviveram rogaram-lhe uma praga. Seu Juvelino, como se chamava, era homem sem fé e não se importava com pragas. Também não gostava da Folia de Reis e nunca quis receber o grupo em sua casa. Dizem que à praga somou-se a maldição pelo desprezo que tinha pelas pessoas e pela descrença em Deus. “A rezadeira, Maria Iná, foi quem espalhou a história pela região”, explicou Joca. A falecida Maria Iná contou que uma vez, ao se aproximar da fazenda, a bandeira que o alferes levava à frente do grupo, caiu-lhe das mãos e manchou-se de sangue. Seu Juvelino, postado no portão que levava à varanda, impediu a entrada da Folia de Reis. Desde então, de acordo com Maria Iná, presente durante o acontecimento, caiu uma maldição sobre a fazenda. Pouco tempo depois, seu Juvelino morreu de doença misteriosa e o povo da região acredita que é seu fantasma que zanza pela casa à noite. Joca interrompeu a narrativa e me perguntou se eu tinha alguma vez escutado passos pela casa durante a noite. Respondi que sim, a essa altura morta de medo. Filhos e netos também foram amaldiçoados, segundo Maria Iná, e a maldição chegou ao seu Doquinha, cujos olhos adquiriam o aspecto amedrontador de animal selvagem quando se aproximava o dia dos festejos da Folia de Reis. Perguntei se a maldição também atingira Vitória e Ledinha. Ele afirmou que também se comentava na região que as meninas adquiriram o hábito de roubar. E quem era o palhaço que vi na Folia de Reis de ontem, que tinha os mesmos olhos do seu Doquinha, era ele?”, perguntei. “Sim”, respondeu. “Por quê?”, quis saber e Joca me disse que era a sina dele e aí me contou outra história. 

“Os palhaços” – explicou – são o diabo que, a mando do rei Herodes e seus soldados, teriam saído em perseguição ao Menino Jesus, para matá-lo. Eles são profanos, moça, simbolizam a coisa ruim, por isso eles não devem entrar em igrejas, eles não levantam a sagrada bandeira e não podem ficar sozinho no final da folia, senão o diabo os carrega.“ São, enfim, personagens sempre cercados de obrigações, como a de recolher dinheiro para ajudar a Folia de Reis, regras e restrições. Eles devem permanecer do lado de fora das casas dos devotos até o momento de sua apresentação. Dizem que é perigoso tocar na sua roupa ou na máscara. “Os palhaços precisam do sagrado da Folia de Reis para se purificar e pagar os pecados dos seus antepassados.” O que os palhaços fazem na festividade é pedir perdão pela perseguição ao Menino Jesus. Eles são os soldados de Herodes que se arrependeram quando viram o Menino Jesus e usam as máscaras para que o próprio Herodes não os reconheça e os acuse de traição.

“Mas na fazenda disseram que seu Doquinha estava em Macuco, por que mentiram pra mim?” E Joca respondeu que todos sabiam que era seu Doquinha quem estava por trás da máscara, mas ninguém dizia nada porque tinham vergonha de sua condenação. Quis saber ainda por que fora Dona Nadir quem beijou a bandeira se seu Doquinha estava na Folia de Reis. “Porque só ela podia fazer isso, porque vem de uma família de gente religiosa, que respeita e venera a Folia de Reis” – respondeu.
Faltava perguntar por que a filha da Dona Geny era uma menina tão estranha e apática. E Joca me contou que ela dormira certa vez na fazenda, para atender a mãe de Dona Nadir, que estava enferma e, ao escutar passos no corredor, abriu a porta para ver quem era. Ficou cara a cara com o fantasma do seu Juvelino. “Todo mundo na região sabe disso, moça.” Desde então a menina passou a sofrer terrores noturnos e ficara assim, como disse Joca, “doente dos nervos”.


Curiosidade satisfeita, quis saber se algum dia a maldição teria fim. Joca me disse que seu Doquinha ainda teria de ser o palhaço da Folia de Reis por um longo tempo. “Foi maldade demais do seu Juvelino, moça. Tem muito pecado pra pagar.” Pode ser que ele um dia chegue a ser o alferes da bandeira, também chamada de "Doutrina", o elemento sagrado da festa, beijada respeitosamente pelos moradores das casas visitadas. Nela está colada uma estampa dos Três Reis Magos. “Mas acho que ainda levará anos até que a maldição seja apagada e os pecados do seu Juvelino perdoados.” Quando chegar esse dia, haverá a redenção do seu Doquinha e a quebra da maldição que atingiu Vitória e Ledinha.

sábado, 2 de dezembro de 2017

VIDA NA ROÇA – AS CARTAS NÃO MENTEM JAMAIS –IV


Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo. (Mark Twain)

Desviei o olhar do palhaço, procurei por todos os cantos a tia Maria e não a vi. Tentei ver se Vitória e Ledinha estavam perto, em vão. Meu coração batia acelerado, minhas pernas pesavam como chumbo, para onde olhava, não havia nenhum rosto conhecido. Chovera no dia anterior e o dia estava nublado e fresco, mas eu suava muito e minhas mãos estavam úmidas. Consegui chegar perto dos músicos para prestar atenção no que cantavam:

“Senhor e dono da casa, vai chegando a folia
Vem beijar a nossa bandeira e escutar a cantoria
Vem beijar a nossa bandeira e escutar a cantoria ai ai ai!


Tentei concentrar-me na música, mas meu desejo íntimo era fugir dali. Finalmente, os foliões começaram a entrar pela varanda e eu os segui, enquanto o palhaço ficava para trás, rodeado das crianças da fazenda, que tentavam imitá-lo. Com esforço, consegui entrar na casa abrindo caminho penosamente. Havia muita gente, os peões e suas famílias vieram em massa. Finalmente consegui chegar no quarto onde dormia com a tia Maria. Fiquei lá, tentando recuperar a calma, mas minha cabeça girava.

Voltei à sala pouco depois e lá estavam Vitória, Ledinha e tia Maria. Respirei aliviada. A mesa estava posta com as gostosuras preparadas pela Dona Geny, que ia e voltava da cozinha, trazendo seus quitutes para servir primeiro o grupo da folia de reis: o mestre, o contramestre, os três reis magos, os palhaços, os alfeires e os foliões. Dona Nadir seguiu o ritual e beijou a bandeira, mas seu Doquinha, o anfitrião, havia sumido. Perguntei a Vitória onde ele estava e ela me respondeu que havia ido à Macuco para fazer uma transação de gado. 


Àquela hora eu costumava estar faminta, mas o medo embrulhou-me o estômago. Não consegui comer nada. Fiquei ali na sala, controlando o palhaço com o olhar e esperei até Dona Geny trazer o último prato. Voltei com ela para a cozinha. Ela me olhou curiosa, pensando que eu queria algum doce, mas ao ver meu olhar aflito perguntou-me o que havia acontecido. Não sabia o que dizer ou se devia dizer e então perguntei pela Lela. Notei uma sombra em seu olhar e ela respondeu que a filha ficara em casa cuidando dos irmãos mais novos. Achei estranho, porque os filhos da Dona Geny estavam no quintal brincando com o palhaço, menos a Lela. Por que Dona Geny mentiria para mim? Confusa, pedi licença e voltei para a sala. 


Aquela era a primeira vez que via uma Folia de Reis e os cânticos, a festa, a música entraram na minha alma para sempre. Gostava do ritual, das fantasias, só o palhaço me dava medo. “O que estraga a felicidade é o medo,” dizia Clarice Lispector e era verdade. Decidi que precisava conversar com alguém. Chamei tia Maria num canto e lhe perguntei se o palhaço era seu Doquinha. Ela perguntou-me em voz baixa, olhando para o lado oposto do grupo da folia de reis, se eu ficara com medo do palhaço. Respondi-lhe que sim e ela então me disse, mal disfarçando o sorriso, que depois conversaria comigo. 


Abastecidos da comida deliciosa da Dona Geny, chegou a vez da criançada se fartar também. Eles se aproximaram numa grande algazarra, tropeçando uns nos outros, como fazem os pombos quando se lhes oferece milho. O grupo da folia de reis, pegou seus instrumentos, violas, reco-reco, tambores, acordeões, sanfonas, pandeiros e gaitas e se despediu com reverências, cantando:


Senhor e dono da casa, a folia vai saindo
Fica com Deus nosso pai e a proteção do divino
Fica com Deus nosso pai e a proteção do divino ai ai ai!”


À noite, quando fomos dormir, quis saber do palhaço, mas tia Maria alegou cansaço e dor de cabeça, virou-se para o outro lado e dormiu. Disse-me “amanhã te conto”. Aquilo me deixou mais ansiosa e custei a dormir. Lá pelas tantas, ouvi passos no corredor. Alguém zanzava de um lado para o outro. Pé ante pé, fui até a porta, tentei abri-la devagarinho, mas a porta rangeu. Assustada, voltei correndo para a cama e me agarrei à tia Maria, que quase acordou. Os passos cessaram. Meu coração foi se acalmando pouco a pouco e adormeci. Tive um sono turbulento e cheio de pesadelos. Antes de adormecer, porém, prometi a mim mesma que tiraria aquela história a limpo no dia seguinte.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

VIDA NA ROÇA – AS CARTAS NÃO MENTEM JAMAIS – III

Os dias que antecederam a Folia de Reis foram de muito rebuliço na fazenda. Dona Geny, a cozinheira que vivia de cara emburrada, trouxe uma assistente, sua filha Lela, uma menina magra, de cabelos desgrenhados e roupas muito velhas e encardidas. Enquanto brincávamos no quintal, Lela nos olhava com ar triste e distraído e sua mãe vivia ralhando com ela. Devia ter a nossa idade, entre 13 e 15 anos, mas era mais baixa e menos desenvolvida. Passados tantos anos ainda consigo ver perfeitamente as duas. Dona Geny era mulata, magra e movia-se com dificuldade. Com o tempo, percebi que uma de suas pernas era mais curta que a outra. Era baixinha, excelente cozinheira e, apesar do ar carrancudo, sempre sorria para mim quando, não podendo resistir ao cheiro da comida que se espalhava pela casa, aproxima-me do fogão e lhe pedia para provar um quitute. Ela o dava de bom grado, ao contrário da minha mãe que não admitia que eu comesse nada antes das refeições – o que me deixava sempre muito contrariada. Ameaçava não comer mais nada, mas minha mãe não se importava. Sabia que era chantagem. Dona Nadir, mãe de Vitória e Ledinha, não se atrevia a se meter na cozinha – aquela era a seara da Dona Geny e era ela quem decidia o que íamos comer a cada dia. E era tudo sempre muito delicioso. Se fechar meus olhos agora, acho que ainda posso sentir o gosto da comida dela.

Nos dias que antecederam a Folia de Reis, Dona Geny andava de um lado para o outro, atarefadíssima, preparando quitutes para receber os foliões. Mal pude acreditar quando a vi fazendo olho de sogra, meu doce preferido. Fez um prato enorme e o deixou na cristaleira, à mercê da minha gula, e eu ia sorrateiramente até a sala, me certificava de que não havia ninguém e comia um doce. Mais tarde, voltava e comia outro, e ficava assim o dia inteiro - uma compulsão. E eu tinha de ajeitar os doces na bandeja para não deixar buracos. Ou será que Dona Geny os preenchia, ciente que devia estar da minha gulodice? 


Vitória andava lá pras bandas de Macuco provando o vestido de 15 anos na costureira. Não me levou, porque queria que fosse surpresa. Só voltei a Macuco uma vez, quando foram comprar o tecido. Nunca tinha visto nada tão bonito e eu certamente faria feio com meu antigo vestido de nylon, fora de moda, que minha mãe mandara fazer para o casamento do meu tio, três anos atrás. Já estava meio apertado, principalmente a blusa, que achatava meus seios. Quando o vesti pela primeira vez, achei-o bonito, até que começou a me picar e a me dar alergia. Mas era o único vestido de festa que eu tinha.
Vitória voltou de Macuco e voltamos às cavalgadas matinais e aos banhos de rio, até que um dia, ao voltarmos para a fazenda, vimos à distância um grupo se aproximando da casa e Vitória anunciou: “Vamos depressa que está chegando a Folia de Reis.” 


Chegamos pouco depois dos foliões, que pararam na entrada da varanda da casa. Gilberto, irmão mais novo de Vitória e Ledinha, gritava com a voz dos seus 4 aninhos: “E toca, sanfoneiro!”. E o sanfoneiro tocava: tararatantan-tantan-tantan, uma melodia que nunca esqueci, enquanto o palhaço dançava e fazia malabarismos. Ele usava uma máscara e só se lhe viam os olhos. Um arrepio de medo percorreu meu corpo. O palhaço tinha os mesmos olhos famintos e selvagens, os mesmos olhos de predador do seu Doquinha, pai de Vitória e Ledinha.

sábado, 25 de novembro de 2017

VIDA NA ROÇA – AS CARTAS NÃO MENTEM JAMAIS – II

Vitória ia fazer 15 anos e minha mãe deixou que eu acompanhasse a tia Maria para a festança na fazenda. Eu ia ficar uns dias fora de casa e aquela era a primeira vez para mim, que sonhava conhecer o mundo. Acompanhei a tia da Vitória numa longa e inesquecível viagem, que me fez sentir o sabor, o cheiro, a cor e o som da liberdade. Estaria longe das garras sempre tão seguras da minha mãe, como na música do Ivan Lins. A sensação de liberdade que senti naquela viagem me acompanharia pelo resto da vida, fazendo-me lutar por ela - nenhuma garra, nenhum obstáculo, ninguém tiraria isso de mim...”abra as asas sobre mim, ó Senhora Liberdade...” Nova Friburgo, Bom Jardim, Cordeiro, desfilavam diante dos meus olhos ávidos e deslumbrados até chegarmos finalmente a Macuco, na época um vilarejo. 

De Macuco até a fazenda em São Sebastião do Alto era outro estirão, cheio de sacolejos. No caminho, só mato, árvores e muito boi. Chegamos à fazenda já quase noite, com os lampiões acesos. No dia seguinte, às 5 da manhã, me acordaram. Já era tarde para eles, os peões estavam desde cedo no campo. Ensinaram-me a levar a caneca até o estábulo e pegar o leite quentinho da vaca. Na casa, a lenha no fogão assava o bolo de milho. Depois do café, pegávamos os cavalos, saíamos pelos campos rodeados de montanhas aveludadas e tomávamos banho de rio. Rapidamente aprendi a montar e a cavalgar. Voltávamos às 9, quando serviam o almoço e às 4 da tarde, depois do jantar, ficávamos conversando na varanda até anoitecer, quando tínhamos de nos recolher aos nossos quartos. 

Acostumada a dormir mais tarde, custava a pegar no sono. E foi então que comecei a ver coisas estranhas acontecendo. O pai da Vitória e Ledinha zanzava pela casa, quando todos dormiam, qual alma penada. Para onde ia aquele homem? No dia seguinte, a mesma cena se repetia. Passei a ter medo dele, daquele olhar faminto e selvagem, olhos de predador. Pulava para a cama da tia Maria e me grudava nela, colocava objetos atrás da porta e meu sono, sempre tão pesado, tornou-se leve. Já não era mais divertido. Tinha sono durante o dia, por causa da vigília noturna e do medo, muito medo. Evitava aquele homem, fugia dele. Não sei se tia Maria percebeu alguma coisa. Um dia me chamou para ir à Euclidelândia, onde morava a outra irmã. Cavalgamos o dia inteiro e chegamos à noite. Não sei quantos dias ficamos nessa outra fazenda. Só voltamos a São Sebastião do Alto uns dois dias antes da festa luxuosa dos 15 anos de Vitória. Pouco depois, viajamos de volta ao Rio.

Ao chegar, me sentia estranha, não entendia a confusão que tinha se instalado na minha cabeça. Talvez, segundo Bernard Shaw, a ansiedade e o medo tenham envenenado meu corpo e meu espírito. Minha intuição dizia que todas as famílias têm baús repletos de segredos e ai daquele que ousasse revelar um só deles. Resolvi esquecer, apagar tudo da memória. Algo em mim, porém, mudou para sempre e minha amizade com Vitória e Ledinha esfriou. A alegria e a emoção dos nossos reencontros já não existiam mais e elas também não eram mais as mesmas. Aos poucos, fomos nos distanciando e um dia minha família mudou para outro bairro. Nunca mais as vi.


Só agora, quando releio as cartas de Vitória e Ledinha, me voltam as lembranças adormecidas daquele tempo, relembro os sentimentos confusos e o desassossego. Só agora consigo juntar as peças e concluir o quebra-cabeça.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

VIDA NA ROÇA - AS CARTAS NÃO MENTEM JAMAIS

Quando fiz a limpeza no quartinho da bagunça, queria mesmo era encontrar a caixa grande, onde guardei, durante tantos anos, todas as cartas, bilhetes de antigos namorados, cartões de Natal, de aniversário, cartas e cartões das minhas filhas. Sim, sou uma pessoa sentimental a ponto de nunca ter jogado fora nenhuma correspondência recebida.

Abri a caixa, organizei aquela pilha confusa, separando-a pelos remetentes. Fiquei surpresa de encontrar as cartas de Vitória e Ledinha, duas amigas da adolescência, que tanto amávamos. A avó delas era nossa vizinha, uma senhora que aparentava ter uns 200 anos, tamanha era a quantidade de rugas naquele rosto marcado pelo tempo e a vida dura da roça. Até hoje, nunca vi rosto tão enrugado. 


Vitoria e Ledinha moravam numa fazenda em Macuco e passavam as férias na casa da avó e seus quatro tios. Quando elas chegavam, mal baixavam as malas, iam correndo lá pra casa e aí nos abraçávamos, rindo e chorando de pura alegria e saudade. Puxa, aquilo sim era felicidade! Depois, íamos para o quarto da minha mãe e lá nos sentávamos na beira da cama para conversar. Era uma estratégia, porque Vitória era engraçadíssima, conhecia todo mundo e sabia contar mil histórias. Era a nossa Sheherazade. Contava histórias como a de uma vez em que a mãe dela pegou um cinto para dar umas cintadas na Ledinha. O pai agarrou a outra ponta do cinto e ficaram os dois discutindo aos berros, cada um puxando para um lado. Vitória foi lá na gaveta, tirou uma super tesoura e cortou o cinto ao meio, deixando cada um com um cotoco. Era numa hora dessas que nos deitávamos na cama da mamãe para rir até não poder mais, imaginando a cena cômica. Vitória também era muito namoradeira. Na viagem de Macuco ao Rio, ela sempre conhecia algum rapaz e o namorava; na volta para Macuco, conhecia outro e namorava também. Certa vez, comentou: “Não fico de mal com nenhum ex-namorado.” E Ledinha contestou rapidamente: “Se você ficasse de mal, não falaria com rapaz nenhum em Macuco.” Mais outras gargalhadas na cama da mamãe.


Mas toda luz tem sua sombra, como descobriram os Renascentistas com o “Chiaroscuro”, uma revolução que mudou a pintura chapada da Idade Média. Vitória e Leda roubavam, eram cleptomaníacas. Quando chegavam assim de surpresa, ao saírem fazíamos um inventário das coisas que tinham levado: um grampinho ou um arco de cabelo, uma escova mal-ajambrada, uma blusa surrada... nada de valor e não entendíamos o porquê. Simplesmente íamos sorrateiramente na casa da avó delas e pegávamos tudo de volta. E tínhamos de deixar tudo trancado, escondido, para que não roubassem de novo. Nossa amizade transcendia qualquer deslize, qualquer fraqueza moral. Era o que de melhor tínhamos e não queríamos nunca perder. 


Hoje em dia, acho que sei o que as faziam ter esse desvio de conduta, mas contarei no próximo post, porque este está grande demais.

sábado, 11 de novembro de 2017

NÃO É COMIGO, QUE SE DANE

Infelizmente, muita gente pensa apenas em si e, no egoísmo e burrice, acabam se dando mal.
Vi um vídeo em que a senadora Gleisi Hoffmann defende indignada e bravamente os trabalhadores e acusa o congresso de insensibilidade com o povo, comparando os altos salários e benefícios dos congressistas com o salário do trabalhador. Depois da pungente denúncia da senadora, o amaldiçoado e desprezível senador Magno Malta vai à tribuna e defende com unhas e dentes a reforma trabalhista, atacando violentamente a senadora. Acredite se quiser, milhares apoiaram o senador e chamaram Gleisi e tudo que se possa imaginar - claro que a misoginia prevaleceu.
Não sou melhor do que ninguém, exceto talvez que não tenho preguiça de usar meu cérebro. E minhas reflexões sobre o momento atual me diz que a Previdência, tal como a conhecemos atualmente, vai acabar. Milhões de aposentados e pensionistas poderão se dar por satisfeitos se conseguirem receber aposentadorias e pensões futuramente. Para ser mais incisiva, esse filme que estamos vendo no Rio de Janeiro, em que milhares de trabalhadores não recebem salários há meses, deverá ter um "sequel" que atingirá milhões idosos. 
A reforma trabalhista desobriga o patrão de contribuir para a previdência, ou seja, o patrão paga diretamente todos os direitos aos empregados, e esses, como vão ganhar muito menos do que estão habituados e de que precisam para sobreviver, vão usar esse dinheiro para cobrir o rombo financeiro que a mudança provocará em suas vidas, deixando, assim, de contribuir para a Previdência. Em outras palavras, o governo está transferindo para o trabalhador seu rombo financeiro causado pelas pautas bombas ainda na gestão de Dilma Rousseff, pelo famigerado Eduardo Cunha, e que muitos descerebrados atribuem a "gastos exorbitantes e roubos do PT", e ainda os bilhões gastos pelo vampirão para comprar deputados e senadores para se manter no poder.
O ódio insano e irracional ao PT, que vitimou os pobres e a classe mérdia, incensados pela mídia nojenta e pérfida, vai custar muitas lágrimas de sangue, muita violência e muita miséria. Foram em vão nossos alertas de que esse caos se instalaria depois do golpe, mas de nada adiantaram. Agora, rezem para que os nazistas e fanáticos religiosos ou o candidato apoiado pela mídia encabeçada pela Globo não assumam o poder, porque aí sim vocês verão um grande país destruído. O Brasil sofrerá um forte atraso e retrocesso durante muitos anos, causados pela incompetência, ignorância e insensibilidade dessas pessoas. Temo que ainda não tenhamos chegado ao fundo do poço. Receio que o buraco seja ainda mais embaixo.
O tempo dirá.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

UM NATAL CHEIO DE TRAUMAS

Atenção: o assunto que vou abordar é espinhoso e triste. Não leia se não estiver preparada (o).

Conheço duas mulheres vítimas de abuso sexual. E os dois casos aconteceram em família, corroborando a pesquisa do Ipea: "70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência, muitas vezes, ocorre dentro dos lares." É o caso da amiga que chamarei de "O". Convidada por ela, certa vez, viajei com minhas filhas para passarmos o Natal juntas. "O" tem muitos irmãos e uma família enorme. Tudo corria bem no clima natalino até a chegada de um dos cunhados de "O". Eu não sabia da história, mas foi impossível não perceber a transformação por que passou minha amiga. De alegre e descontraída, ficou nervosa e seus olhos cintilavam de ódio e medo. Ficou transtornada. E foi então que eu soube, depois da festa, que o cunhado havia abusado dela, quando criança. Contou-me em poucas palavras, com o olhar distante e triste, e interrompeu o relato abruptamente. Meu coração sangrou por ela. 


O segundo caso, mais grave, também aconteceu no Natal. Uma amiga, que chamarei "P", me convidou e lá fui eu com minhas meninas. Fizemos juntas a ceia e montamos a mesa. Estávamos na sobremesa quando a campainha tocou. Nervosa, "P" deu um salto da cadeira e foi abrir a porta, hesitante e de ombros baixos. Eram os pais dela. Notei o pavor, o terror, o medo descontrolado resvalando para a quase loucura nos olhos dela. Foi aí que o Natal desandou, sentia-se o clima pesado no ar, até que finalmente os pais foram embora. Foram lá desejar um "feliz Natal" à filha e à neta. Era chegada a hora de voltar para minha casa, mas antes de sair, minha amiga me contou ter sofrido abuso sexual do pai desde a infância, com a total indiferença da mãe, para meu horror e incredulidade. Naquele tempo, eu ainda tinha muita fé nas pessoas. A história da amiga também corrobora a pesquisa do Ipea: "24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima."


Por isso, Natal para mim é um dia muito triste, porque posso imaginar os milhões de meninas e meninos e dos adultos, que sofrem até hoje porque tiveram suas infâncias roubadas e seus corpos violados numa data em que, ironicamente, se comemora, no mundo inteiro, o nascimento de uma criança - o menino Jesus.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

VIDA NA ROÇA (publicado em 6 de novembro de 2014)


Vejo, diariamente, o jornal do meio dia RJTV Serramar. É muito fraquinho, gente. De dar dó. É bem verdade que pouca coisa acontece na região, que abrange as cidades serranas e se estende ao litoral, indo até Campos e São João da Barra. É certo que a violência tem crescido em alguns lugares, especialmente em Macaé, Cabo Frio e Campos, mas fora isso não há muito o que noticiar. 

Mas eu queria mesmo é falar dos apresentadores: são muito fraquinhos e provincianos. O jornal parece aqueles ensaios que as faculdades de comunicação fazem em seus laboratórios de mídia.
Um dia desses, o RJTV do Rio fez uma chamada dentro do Serramar. Era a Sandra Annenberg. Confesso a vocês que a minha admiração pela jornalista caiu muito. Em geral, os jornalistas se cumprimentam e foi o que fez a moça do Serramar, mas a Annenberg esnobou e foi direto ao assunto. Dias depois, foi a vez do Evaristo e o mesmo aconteceu.


Me fez lembrar o prédio onde morei no Rio. Alguns que moram no bloco de 3 quartos esnobam os moradores do bloco de 2 quartos. É hilário.
O ser humano não tem jeito mesmo...

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

DÁ UM DESÂNIMO!

Estava ainda há pouco vendo um documentário sobre a patifaria da Samarco, que provocou o maior desastre ambiental no país. A gente não sabe que sentimento é mais forte, se é ódio de ver a (in)justiça corrupta deste país apoiando os poderosos ou se chora de pena com o sofrimento dos que perderam mais do que suas casas e seus bens: os amigos, a história e a tradição de um pequeno povoado enterrado sob a lama, como alguns afirmaram. E não é só isso. A gente ainda se entristece com o ser (des)umano e sofre ao saber que, além de todo o sofrimento por que passam, os sobreviventes ainda tiveram suas casas, as que continuaram de pé, saqueadas e - a maior das ironias - ainda são chamados de privilegiados pelos moradores da vizinha Mariana, por receberem uma ajuda miserável mensal da Samarco. Os sobreviventes são discriminados, pasmem! Um senhorzinho de 80 anos é obrigado a trabalhar carregando tijolos para poder comprar água potável. E essa empresa desgraçada, a verdadeira privilegiada da história, ainda tem a coragem, a cara de pau de dizer que tudo estará resolvido em 2019. Vou repetir: 2019. Enquanto isso, o rio continua morto, as pessoas tentam tocar a vida, sonhando com a volta ao antigo povoado, como um deles declarou. Alguns não aguentaram a demora e voltaram para o que restou de suas casas.
E você ainda é obrigado a engolir o título daquele filme: "A lei é para todos".
Puta que pariu!

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A FELIZIDADE

Tudo bem, fazer aniversário todo ano cansa (e o meu já está chegando), além de trazer alguns problemas chatos. E de pouco serve botar botox aqui e ali pra disfarçar. Dói o joelho, caminhar é mais difícil..., mas não dá pra ficar em casa se lamentando. Até na velhice cobram da gente "a felicidade". "Precisa sair, se divertir", aconselham. Ouço isso desde mocinha, quando já era uma chata digna de um prêmio Nobel, porque preferia ficar em casa lendo a sair à toa.

E aí, acostumados que somos a ser tocados como gado a vida inteira, a gente busca daqui e dali o tal do "divertimento" até começar a receber folhetos eletrônicos de viagens aos paraísos brasileiros. Eba, vou me divertir! São lugares bonitos, interessantes e muitos com programação destinada a entreter, digamos, er...os aposentados. E aí a gente lê com interesse o roteiro da viagem, já antecipando a baita diversão que vai ter, até chegar à programação noturna, ou seja, o show do Sidney Magal (cacildis!), pior ainda, o do Agnaldo Rayol (eca!), ou - esse é de matar - do insuportável Fábio Júnior (morri de vez!). Minha nossa! Chamam a isso divertimento?

E aí o que parecia atraente, bonito, vira pesadelo. Pra mim, claro, que sou uma velhota exigente, difícil de agradar, porque a maioria curte de montão. E eu começo a me imaginar num lugar desses. Receberia, de cara, o título de "velhota antipática" ou uma "chata de galocha". Detesto barulho e amo o silêncio. Então o que é que vou fazer nesse raio de excursão, me diga? Acabar com meus ouvidos? Ouvir piadinhas sem graça e rir pra não perder o amigo? Pior ainda, ouvir os analfapolíticos despejar um monte de idiotices ouvidas na Globo? Nananinanão! E aí tomo a saudável decisão de ficar em casa mesmo. Não chateio ninguém, ninguém me chateia e nem pago pra me aborrecer.

A felizidade até existe...

domingo, 15 de outubro de 2017

CANALHA, CANALHA, CANALHA!


O mais nojento de tudo do que temos tido de suportar é o cinismo e descaramento do vampirão falando de N.S.Aparecida. O crápula não teve colhão pra ir à festa em Aparecida, porque sabia que ia ser vaiado, como o foram os capangas que mandou representá-lo. Como se não bastasse, vampirão ainda tem a desfaçatez, a hipocrisia e a perversão de publicar um vídeo rogando a Deus pelas famílias do Brasil, enquanto presenteia os estrangeiros com as nossas riquezas e tira do trabalhador sua dignidade - o trabalho. Vampirão tem o desplante e a falsidade de falar em paz e pedir harmonia a 13 milhões de desempregados, muitos passando necessidade e fome. O bandido mafioso, que gasta nosso dinheiro comprando deputados para inocentá-lo de crimes de roubo e formação de quadrilha documentados, ainda ameaça tirar do trabalhador o repouso na velhice, aumentando o tempo para ele se aposentar.
 
Nunca sentimos tanto desprezo e nojo por um "governante". E nunca um "presidente" teve apenas 3% de apoiadores (banqueiros e ricaços em sua maioria), o que o transformou numa margem de erro na pesquisa. 
 
O que é que esse canalha golpista ainda quer do povo? O que é que esse pilantra vagabundo e traidor espera de uma gente humilhada e ofendida? O que é que esse descarado arrogante espera de Nossa Senhora, quando nem o Papa quis recebê-lo no Vaticano pelo asco que deve lhe causar tal ser minúsculo e ridículo (viva o Papa!)? Que surpresa saber que esse insolente desrespeitoso tem um coração. 
 
Tudo o que podemos fazer é rezar e esperar para que esse caradura asqueroso vá logo pros quintos dos infernos e que o Diabo nunca mais o solte de novo.
 
Pronto, desabafei!

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"É LÁ QUE EU HEI DE OUVIR CANTAR O MEU SABIÁ..."

Tem pessoas que vivem amarguradas e infelizes e a gente fica matutando sobre a causa de tamanha infelicidade. Sim, porque é preciso ser muito insensível, infeliz e amargurado para reclamar do canto do sabiá.

Fiquei pasma com a reportagem que vi na TV, em que algumas pessoas reclamavam de acordarem com o canto do sabiá. Tive de segurar o queixo. A mesma reportagem explicou que o sabiá canta cedinho pra não ser percebido pelo tucano (tucano?...hum...), que é seu predador (só podia...). O motivo é que o sabiá começa desde cedo a ensinar os filhotinhos a cantar.
Não é uma história linda? Eu fico a imaginar a nobre mãezinha sabiá tendo de acordar cedinho pra preservar o canto da espécie, enquanto alguns dorminhocos infelizes reclamam do seu canto.
E, volto a dizer, a gente fica matutando sobre a razão de tanta infelicidade...

RÉQUIEM PARA UM PAÍS QUE MORREU

NO DIA 6 DE OUTUBRO DE 2016, EU ESCREVI:

Hoje não é um dia feliz pra ninguém, pelo menos para quem tem consciência do que está acontecendo no país. Entregaram as nossas riquezas aos estrangeiros e aquele projeto de destinar parte dos royalties à saúde e à educação já não vale mais. Lamento dizer que vamos ter 20 anos de retrocesso pela frente. Eles deram um jeito de limitar os gastos com a saúde e a educação para pagar a dívida com os bancos. Você ainda não sentirá isso agora, mas não demora vai sentir. Quem reclama do SUS, não sabe o que lhe aguarda. Quem critica a educação, não sabe que nos tornaremos o país dos tolos, dos burros, dos alienados. Muitos não se darão conta do que estou dizendo, porque o governo vai usar toda sua máquina de propaganda pra dizer que está tudo normal, que é assim mesmo e sua dor será mais suportável. A velha regra do pão e circo.
Desculpem, amigos, mas perdi toda a esperança no país e eu lamento muito pelas novas gerações. Odeio ser pessimista, mas só vejo nuvens escuras no horizonte. Para os pobres, claro, para a nova classe média. O Brasil acaba de dar um largo passo para trás.
Tristes trópicos.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

VIDA NA ROÇA - SURPRESAS, TRISTEZAS E ALEGRIA

Tive uma quarta-feira 13 maravilhosa, com surpresas agradáveis. Nesse dia, rezei agradecida e fui dormir feliz. Nada me preparava para a triste surpresa que eu teria no dia seguinte. Fredinho II não apareceu para comer a ração da manhã e aí fui procurá-lo no quintal. Estava morto. Fredinho II foi adotado pela Daniela Peternel, mas acabou vindo morar comigo. Não vou dizer que era bonzinho porque morreu, não. Era implicante com os outros gatos e me fazia encher as vasilhas de água toda hora, porque gostava de brincar com a água. Um chato. Mas como sofri com a morte dele. Fiquei muito mal. Liguei pra Daniela pra dar a notícia e reclamei: "Da próxima vez que vir um bichinho abandonado, vire a cara pro outro lado. Eles morrem e a gente fica mal. Você está certa, mãe," ela me respondeu.

Na sexta, tive visita e consegui me desligar um pouco, mas no sábado, quando foram embora, a tristeza voltou, dessa vez acompanhada de um mal-estar físico. E eu tinha trabalho pra fazer. Trabalhei em péssimas condições. A certa altura, interrompi o que estava fazendo para procurar um cirurgião plástico para uma pessoa. Fiz um pequena intervenção com ele, certa vez, e adorei o médico. Era gentil, atencioso e competente, como não se vê mais. E aí descubro que o doutor Wagner Esteves morreu em março, de um ataque cardíaco. Era magro, aparentava felicidade, praticava atividades físicas, devia estar entre os seus 60 e 70 anos, portanto, "jovem". Isso só fez agravar meu estado de ânimo, porque gostava do doutor Esteves como pessoa também. Fui dormir triste nesse dia.


E aí, no domingo, ainda não recuperada do mal-estar físico, acordo decidida a levantar o moral. Depois do café, fui ler meu kindle na varanda. Assim que sentei, meus dois cachorros começaram a latir sem parar. Curiosa, fui olhar e vi que latiam para um cachorrinho muito miúdo, que estava no portão do vizinho. Esperei pra ver se aparecia alguém, até me dar conta de que ele havia sido abandonado ali por algum passante. Estava sujíssimo, desorientado, mas dava pra ver que era cachorrinho de raça. Atravessei a rua e ele veio na minha direção, levantando as patinhas. Ah, aquilo derreteu meu coração! Peguei-o no colo, dei-lhe um banho quentinho, tirei toda aquela cloaca que estava grudada nele, levei-o ao sol, bem abrigado numa toalha grossa e seca. Ele ficou tão agradecido que lambeu meu nariz. Dei-lhe depois comida. Agora de manhã, ao me ver, ficou tão feliz que deu pulos de alegria. Não sai de perto de mim e me acompanha pra todo lado. Depois publico foto do fofinho.
Quem disse que não há fortes emoções na serra?

domingo, 10 de setembro de 2017

ESTAMOS COMENDO MERDA?

Temos uma visão muito higienista e ingênua da política. Foi essa visão, esse purismo, que acarretou o impeachment da Dilma. Também Lula, em algum momento do passado, deve ter tido essa mesma visão, até que se deu conta de que para nadar no meio de tubarões é preciso saber negociar com eles. O perigo de tal atitude é que você come farelo junto com os porcos. Ou seja, você é percebido como um deles. Lula foi cobrado por ter recebido Renan no palanque nessa viagem ao nordeste e ele respondeu que, enquanto governou, Renan trabalhou para aprovar muitos projetos de interesse do país e que era grato a ele por isso. Lula teve de transigir para obter algum ganho e é assim que funciona. Também falou bem do Sarney, que o ajudou muito. Então, se o cara entra na política, tem que se preparar para lidar com todo tipo de gente. Há muita gente boa no Congresso, muitos parlamentares corretos e decentes, mas o povo acredita neles? Não, né? Estão todos enlameados. Lula falou em uma entrevista que, enquanto governou, vivia fazendo churrascos e festas para todos os parlamentares. Infelizmente, é assim que se governa, porque nenhum partido é grande o suficiente pra ter maioria parlamentar e, se não fizer alianças, se não comer farelo, termina como a Dilma. Todo mundo sabe que ela foi tirada do poder não pelos erros que cometeu, mas por não ter cedido às chantagens, por não ter comido com os porcos. E todo mundo sabe também que não há uma prova sequer contra Lula e que o motivo é um só: desmoralizá-lo a ponto de tornar sua candidatura inviável em 2018. Lula vem sendo investigado há 40 anos e nunca se descobriu nada contra ele. Se houvesse uma prova contra Lula imagina o escarcéu que a Globo faria. Agora há também os traidores, os bandidões, os ratos, como o drácula, o Aecim, o Geddel, Moreira Franco... Essa turma é da pesada. Eles estão envolvidos com o narcotráfico e são assassinos. Nunca vou me esquecer do sorriso cínico do Beira-Mar quando foi depor na CPI. Ele estava lá reconhecendo os chefões. Pois bem, até com essa turma, se você quiser ser um dia presidente da República, terá de negociar. E sem essa de colher de merda. Nossa colher nem merda tem. Tá todo mundo fodido.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

DE RATOS E HOMENS

Cada dia que passa, mais cresce a minha admiração pela Dilma Rousseff. Eu a imagino aos 19 anos, presa nos porões da ditadura militar, sofrendo violência e tortura para denunciar seus companheiros de militância. Aquelas frágeis vidas dependiam da coragem e bravura de uma jovem. E, como disse Dilma algumas vezes quando entrevistada, a tortura dói, "dói muito" - várias vezes repisou estas duas palavras, que provocaram admiração na grande jornalista americana Christiane Amanpour, quando a entrevistou. 

Anos depois, ao assumir a presidência do Brasil, brigou com todo mundo para fazer o que achava justo, honesto e necessário. Dilma se imolou corajosamente para manter-se fiel aos seus princípios de honestidade e zelo pela coisa pública. Não transigiu no que lhe era caro, foi brava e forte. Eita mulher cabra da peste! Eu me orgulho de ter tido uma presidenta com essa verve.


Infelizmente, o mesmo não posso dizer de Antonio Palocci, e com isso não estou defendendo quem quer esteja envolvido em malfeitos. Tive a paciência de ouvir toda a delação dele, de quem sempre ouvi falar bem e de ser apontado como pessoa de alta capacidade intelectual. Mas uma coisa me chamou a atenção: foi quando li que ele não estava aguentando a prisão e pensava negociar uma delação. Dizia-se que estava sofrendo com a tortura impingida a todos os potenciais delatores de Lula. Vivia sob pressão para delatar o amigo. Veja bem, eu disse amigo. E aí me surpreendo com uma delação sem provas. Não estou aqui dizendo que Palocci mentiu. Acredito que tenha dito muitas verdades, menos as que se referiam a Lula e Dilma. E por quê? Porque, por mais que quisesse aparentar normalidade, notava-se um certo constrangimento, a impressão de que aquilo que dizia fora ensaiado. O que me chocou na inquirição de Palocci foram dois fatos que reputo importantes: o primeiro é a frieza, beirando o cinismo em algumas ocasiões. Palocci denuncia o agora ex-amigo, sem apresentar uma única prova. Ele diz, por exemplo, que não estava presente quando tal fato ocorreu, mas que Lula lhe contou. Difícil provar isso, porque é a palavra de um contra o outro. Ele confessa ilícitos dos quais, se Lula não tomou conhecimento na ocasião, deve estar agora profundamente decepcionado. O outro fato é que quando arguido pelos advogados de Lula e de Roberto Teixeira, ele não encarou nenhum dos dois. Manteve-se de costas o tempo todo. Sou muito ligada na linguagem do corpo e isso não me caiu bem. Na verdade, Palocci, a quem antes admirava, revelou-se para mim o que talvez ele tenha sempre sido: um dissimulado, um sujeito covarde que não hesita em atirar na fogueira o próprio amigo. E volto a dizer: sem provas.


Para Lula, o prejuízo moral e político vai além do judicial. Não existem provas contra ele.
Mas o tempo é amigo da verdade e ela há de aparecer um dia. Eu continuo acreditando na inocência de Lula e por isso deixo aqui registrado meu profundo desapontamento com a atitude de Palocci. E fica a pergunta: pode-se culpá-lo por ser fraco e covarde, por não ser da mesma estirpe de Dilma Rousseff?

DOCUMENTÁRIO: JOVEM AOS 50 - A HISTÓRIA DE MEIO SÉCULO DA JOVEM GUARDA, 2017 (2 horas de duração)

Recentemente, aderi à TV a cabo e ontem, casualmente, assisti ao documentário acima. Foram 2 horas em ótima companhia, com direito a boas risadas e a constatação de que havia um certo clima de ingenuidade nos idos dos anos 50 e 60. O documentário inicia contando como foi o surgimento do rock'n roll e seu impacto nos jovens brasileiros. Fala dos diversos artistas e grupos que se formaram desde então, incluindo casos dos bastidores, como o que contou Paulo Silvino, que me faz rir até agora. Sem querer estragar a surpresa de quem pretende ver, falo do episódio do contrabaixo, acontecido entre o comediante e o Carlos Imperial. Vi ontem, no canal Viva. Quem se interessar, olhe a programação, porque eles costumam repetir. Se você gosta de música e de entretenimento leve, este é um programa ideal.

MICHELANGELO - UMA VIDA ÉPICA

Finalmente, terminei de ler o livro de Martin Gayford sobre um dos maiores gênios da Humanidade. Comecei a ler esse tijolo de quase 800 páginas faz tempo e demorei um tempão, porque só leio pela manhã, quando tomo meu solzinho. Eu bem queria comprar a tradução em português, por causa das gravuras, mas na época, há uns 8 meses, custava R$130,00 (hoje, "com inflação baixa", R$150,00). Tive de me contentar com a versão espanhola, pela qual paguei, pela Amazon, apenas R$30,00, na versão Kindle. Dou todos esses dados para os que se interessarem pelo assunto.
O autor dá uma visão quase psicológica do caráter excêntrico (e não podia ser de outro modo) de Michelangelo, contando sua vida e abordando, com riqueza de detalhes,sua magnífica obra. É leitura pesada, recheada de muita informação (tem mais de 1000 notas), porque requer idas e vindas no livro, para entender melhor os desafios da criação e os fatos históricos que determinaram a execução de cada obra. Interessantíssimo e eu recomendo a historiadores e/ou pessoas interessadas em arte e que tenham, acima de tudo, uma paciência à toda prova. Para esses, a leitura valerá a pena.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

VIDA NA ROÇA - TERÇA-FEIRA DRAMÁTICA E EMOCIONANTE

Tudo começou quando vi um anúncio na página do FB do Já vendi. E aí, um pouco abaixo, vi outro anúncio no qual uma moça procurava seu pai. Contava que a mãe morrera, que se sentia só e procurava o pai e possíveis irmãos e sobrinhos. A moça dispunha de poucos dados sobre o pai, com o qual não tivera contato e não via há 17 anos. E aí formou-se uma corrente do bem, com todos tentando ajudar a moça a encontrar o pai. E ela o encontrou. Uma sobrinha viu a mensagem. Alguns se emocionaram com a história, inclusive eu.

Fui pra cozinha para fazer meu almoço. Pouco depois, ouvi um miado estranho e persistente da gata Zoinha. Baixei o fogo e fui até a sala. A gata estava em cima do aparador, olhando para o alto, tentando pegar um beija-flor, que voava freneticamente, batendo a cabecinha no teto. O bichinho estava desesperado, querendo fugir. Imediatamente abri a porta da sala e botei a Zoinha pra correr. Tentei fazer o beija-flor baixar mais um pouco para sair pela porta, mas o bichinho continuava assustado. Achei então que eu devia estar assustando-o também. Voltei pra cozinha e fiquei olhando pelo cantinho da porta. Nada aconteceu. O beija-flor continuava batendo a cabeça no teto, se cansava e parava em cima do trilho da cortina. Reparei que estava sem a cauda. Olhei pro chão e estavam lá as peninhas da cauda que a Zoinha devia ter arrancado. Xinguei a gata e depois comecei a rezar. Pedi a São Francisco que o ajudasse, depois pedi a São Jorge, Santo Expedito... Nada. Fui até a lavanderia e peguei uma vassoura. Queria ver se conseguia baixá-lo e foi então que consegui encurralá-lo na vidraça que dá para o jardim. Baixei-me e o peguei. Ele se debateu um pouco, mas consegui ir até a porta e soltá-lo. Voou pro jardim. Graças a Deus, a São Francisco, a São Jorge, a Santo Expedito...


Terminei minha comida e almocei em paz. Dois finais felizes. São tantas emoções...

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

POPSTAR

Não faço exercício físico no domingo e nem assisto à TV. Então ontem foi exceção. Enquanto pedalava minha bicicleta ergométrica, liguei a TV na Globo (o melhor canal da minha TV aberta) e vi que estão dando o "Popstar". O que me chamou atenção foi gente boa, como a afinadíssima Zizi Possi, dona de uma bela voz, estar ali aguentando cantores muito ruins. A situação tá braba mesma. Gente, quanta desafinação! Tirando a Mariana Rios, o resto é de lascar. Eu ia até mudar de canal, mas meu lado sadomasô e fofoqueiro insistiu em ver o programa pra criticar....hehehe. Então, vamos lá. Primeiro deixa eu limpar o veneno que está escorrendo da minha boca. Pronto! Que sainha horrorosa é aquela da Fernanda Lima? E daquela cor? Não tinha nada mais curto e feio pra usar? Ficou vulgar com aquela roupinha estilo menininha que já não lhe cabe mais. E que cara é aquela da cantora Rosemary - uma espécie de Cometa Halley que só aparece a cada 72 anos? Tudo bem, envelhecer é chato paca, mas encher a boca de botox e ficar com bico de pato Donald? Credo! Quem vê uma foto da Rosemery jovem e compara como está agora só a reconhece pelo cabelo - sempre foi loura. Aliás, toda mulher que envelhece fica loura, inclusive eu, já repararam? E que opinião quase unânime e orquestrada dos jurados de elogiar aqueles galos roucos? Bom, esses assuntos me mantiveram ligada no programa e aliviaram meus ouvidos acostumados com Elis Regina. Mas fico aqui pensando: em ouvido mal treinado qualquer desafinado parece ótimo. E cá pra nós, desafinado só dá mesmo pra aguentar o João Gilberto, né não?
Da próxima vez, vejo outro canal, mesmo com imagem ruim. Eca!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

DICA DE LIVRO - "EL GENERAL EN SU LABERINTO" - GARCÍA MÁRQUEZ

Estudei espanhol pra ler Márquez no original, de tanto que gosto do escritor. Depois de ler o cubano Leonardo Padura, de quem gostei imensamente, fiquei com aquela sensação de orfandade, que me ataca sempre que termino de ler um bom livro. Não sabia que livro ia ler em seguida e saí tentando alguns, mas nenhum me agradou especialmente, até que me deparei com esse livro do Márquez, que havia comprado já há algum tempo. O momento político brasileiro era propício pra lê-lo e por isso fui em frente. García Márquez escreve com maestria (desculpem o pleonasmo) não uma biografia, mas um romance, sobre a viagem exílio de Simón Bolívar, também conhecido como o Libertador, pelo rio Magdalena, no que seria, sem que ele soubesse, seus últimos dias. E o extraordinário é que Márquez consegue contar a história com precisão histórica e ao mesmo tempo dar vida ao personagem, pontuando seus pensamentos. Eu pouco sabia sobre Bolívar e a cada página que virava mais a história me parecia uma velha conhecida. Os grandes homens não são reconhecidos no seu tempo e só a História consegue lhes dar o devido valor. Assim foi com Bolívar. Sua morte precoce, aos 47 anos, foi causada por envenenamento para alguns, enquanto outros diziam que Bolívar era tuberculoso. Em 2010, Hugo Chávez determinou a exumação do cadáver para dar fim ao mistério. Mas não se chegou à nenhuma conclusão e a morte de Bolívar permanece tão misteriosa como antes. A foto é uma reconstituição de seu rosto. Recomendo o livro pra quem curte romance histórico e, claro, aos fãs de García Márquez.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

VIDA NA ROÇA - A LIÇÃO DA CEREJEIRA EM FLOR


Foi graças ao amigo Anilton Soares que realizei um grande sonho: ter um pé de cerejeira. Ele me deu uma muda, e eu cuidei dela com muito carinho, até virar uma árvore frondosa sob a qual me sentava para minha leitura diária. No ano passado, metade das folhas caíram e foi nessa metade que as flores se abriram. Ah, foi uma festa!
Neste ano, aguardei ansiosa o ciclo da cerejeira. Primeiro ela joga fora todas as folhas antigas, amarelecidas, até ficar totalmente desnuda. É triste vê-la assim sem folhas, com os galhos secos e pontudos, como bracinhos a pedir ajuda. Cheguei a pensar que minha cerejeira estava morrendo e, durante um bom tempo, nada me convencia do contrário. Eu me perguntava o que tinha feito de errado com a minha árvore tão querida e me preparava para a terrível perda. Foram semanas de incerteza e angústia, até que um dia percebi que pequenos brotos surgiam nos galhos. A cerejeira é muito vaidosa e leva tempo se preparando para florir. Mas floriu. No início, ela é só flores e os passarinhos chegam em bandos para sugar-lhes o néctar. Dias depois, chegam as abelhas e quem passa pela cerejeira escuta o barulhão dos zumbidos. Uma festa gastronômica! A cerejeira não é apenas linda, mas também generosa no banquete aos seus convidados. Depois de alimentar passarinhos e abelhas, as flores começam pouco a pouco a cair, cumpriram seu ciclo, e aí voltam as folhas novas e verdinhas. Daqui a pouco, quando as folhas crescerem um pouco mais e o verde se intensificar, vou voltar a sentar-me à sombra da cerejeira e ler meu livro.

domingo, 16 de julho de 2017

VIDA NA ROÇA - O AMANHECER DE DOMINGO

Hoje, às 6 da manhã, abri a porta e me assombrei com o forte clarão alaranjado que vi no céu. Parecia uma grande fogueira lá pras bandas da Mulher de Pedra. Saí pro jardim e fui recebida por uma cantoria linda dos pássaros, que se aboletavam no alto da sibipiruna desnuda, ainda parindo as folhas bebê que estarão verdinhas na primavera. Depois entendi, os pássaros haviam se aliado ao vento para expulsar o resto de nuvens agourentas, sobras da tarde de ontem, que tentavam empanar o brilho do sol. Pouco a pouco, vencidas pela forte torcida do vento com os passarinhos, elas foram clareando e se dissipando. As cores do céu também se tornaram mais suaves e já se via nesgas azuladas e tons rosados lá e cá, tingindo umas poucas nuvens. Pouco a pouco o sol guerreiro venceu todos os obstáculos e nasceu em cores mais amenas. Até um leve prateado já se notava em seu caminho. A lua ainda estava alta no céu, cercada de um halo cor de prata. A natureza estava em todo seu esplendor, divina e bela, e eu fiquei com pena dos que ainda dormiam e com isso perdiam o belo espetáculo do amanhecer de domingo. Rezei, agradecida, e entrei.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

VIDA NA ROÇA - OS ESPIRITISMOS

José, o jardineiro, chegou numa segunda-feira dessas com ar abatido e cansado. Ele é caseiro e a mulher cozinheira. Moram aqui perto. Os patrões vêm todo fim de semana e trazem patota. Ao vê-lo assim perguntei:
- Quantos vieram dessa vez?
- 14.
- 14?, me espantei.
E José explicou que eles acordam lá pelas 10 da manhã e só almoçam às 5 ou 6 da tarde.
- E não comem nada entre 10 e 5 da tarde?
- Comem, sim, mas não vou dizer o quê, porque a senhora vai rir de mim.
José atiçou minha curiosidade.
- Claro que não vou rir de você, José. Imagina. O que eles comem nesse período?
- Não, senhora, não vou dizer.
- Ah, diz, eu juro que não vou rir.
- Eles comem uns espiritismos.
- KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK.

domingo, 14 de maio de 2017

VIDA NA ROÇA - FLORADA NA SERRA

E, de novo, a flor de maio volta a florir com suas delicadas pétalas que parecem papel de seda colorido, em rosa, fúcsia e leve alaranjado. Ao lado dela, o antúrio se desmancha em salamaleques, fazendo um lindo contraste com suas flores vermelho sangue. Uma festa para os olhos.

O aloe vera finalmente floriu. Ufa! A florada era aguardada em abril, mas desde o ano passado a linda suculenta prefere florir no início de maio. As flores têm seu próprio tempo e caprichos. Minha flor de maio, lá no Rio, só florescia em julho. Veio pra serra e se ajustou ao nome. Estava enlouquecendo, como eu, na cidade grande.


O bico de papagaio que eu achava só florescia em dezembro, venceu os ataques da cadelinha Bunny, que quase o destruiu duas vezes, e abriu-se em flores. Virou um arbusto e está lindo.


A alamanda roxa está em fim de florada, assim como os lírios do campo e a orquídea pingo de ouro. O lírio da paz está todo florido.


As próximas floradas são as azaleas (já começaram), o buquê de noiva, e ainda aguardo ansiosamente a florada da cerejeira. Vou todo dia lá olhar, às vezes desanimo, mas a senhora que cuida do meu jardim me garantiu que ainda não chegou o tempo. Está atrasada também ou sou eu que não estou aguentando a espera? E as tangerinas começam a amadurecer no pé. Logo também terei pêssegos. E mal posso esperar as amoras...ah...

sexta-feira, 28 de abril de 2017

GUARDE SUA INDIGNAÇÃO PRA DEPOIS - texto de 28 de abril de 2016

Muita gente amargurada, sem trabalho, aposentados sem receber, enfim, o caos. Já se perguntaram por quê? Até o final de 2014, estava tudo indo muito bem, o desemprego em baixa, etc e tal. Aí veio a grande tragédia brasileira: Aecim perdeu a coroa de rei. E Aecim foi criado pra ser reizinho, pra ter tudo o que quer. Pois o playboy embirrou, bateu pé e, como tem amigos influentes e é praticamente o dono do Brasil, botou um gângster na Câmara e mandou ele azucrinar, só votar pautas-bomba. Falou com os amigos empresários e tivemos aqueles lockouts, disfarçados de greve, só pra parar o país e mandar a economia pro brejo. Não satisfeito, mandou um juiz provinciano prender todos os empresários da construção civil pra impedir que as obras do PAC avançassem. E o que fez Dilma? NADA. Aí está o grande erro do PT, a grande miopia de não ter percebido a trama toda urdida pelo playboy chateado. E Dilma deu mais munição à turma do quanto pior, melhor. Voltou atrás no discurso de campanha e já de cara foi anunciando corte de gastos e ainda botou um ministro da fazenda com cara de quem comeu e não gostou, ou seja, meteu os pés pelas mãos. Enfim, foi uma cagada atrás da outra - vamos falar francamente. Dilma botou mais lenha na fogueira e ajudou a fomentar o ódio do povo incitado pelo playboy. A mídia maldita, inimiga do povo, mas amiga do Aecim, caiu em cima. Aí, Dilma, com toda sua coragem, cortou o aumento do Judiciário. Ah, pra quê? Os coitadinhos que ganham tão pouquinho ficaram muito putos e resolveram boicotar a presidenta. Pra resumir, Dilma conseguiu desagradar todo mundo. Foi ser correta e republicana em país de máfias e gângsters comparáveis aos perigosíssimos mafiosos italianos e se ferrou. Vai ser empichada. O circo está armado e o povo idiota vai achar que foi feita a justiça. É melhor aceitarmos que quem vai assumir, muito provisoriamente, é o Conde Drácula. Mas este, coitado, também não vai se sustentar, porque o objetivo máximo do playboy magoado, que praticamente manda no Brasil, é receber a faixa presidencial. É seu grande sonho. Pra isso, usou o Cunha pra fazer o trabalho sujo de empichar. Renan já tá comprado pra sacramentar o impítimam. O que eles talvez não saibam é que o playboy que faz beicinho vai usar o Drácula pra lançar medidas drásticas pra cima do povo. E o povo vai sofrer, mas não vai reclamar, porque "Deus quis assim." Muita gente só reclama quando vê uma mulher na presidência. Afinal, mulher não foi feita pra essas coisas. Já o homem, sim. Depois, o playboy feliz vai voltar como o salvador da Pátria, com o sorrisinho cínico que se tornou sua marca registrada. Quem viver, verá.
E tem gente que acha o Marcola do PCC perigoso.
Tsc..tsc...tsc...

segunda-feira, 24 de abril de 2017

FICA A DICA

Está sendo difícil pra mim assistir à minissérie OS DIAS ERAM ASSIM, não apenas pelo adiantado da hora (durmo cedo), mas também pelo clima pesado e triste dos anos 1970. Os que conhecem a "página infeliz da nossa história" devem sofrer, como eu, ao ver tão bem retratado esse período, mas vale a pena o esforço. A produção conseguiu recriar e transmitir o ambiente de incerteza e medo - o cálice - que vivemos nos anos de chumbo. E ainda de quebra a gente se delicia com as músicas da época - única lembrança agradável. Nunca se fez tanta música boa.
Aconselho aos que não conhecem, ou sabem muito pouco, a respeito do que foi o regime militar que comandou o país durante 21 anos, e talvez por isso fiquem por aí pedindo a volta dos militares, que vejam a minissérie.
Numa TV aberta dominada por programas evangélicos, que fazem lavagem cerebral nos desesperados, dizendo a toda hora que a felicidade é uma questão de ter, e não de ser, é um alento ver produção tão caprichada e tão apropriada para o momento atual.
Detesto o jornalismo da Globo (na verdade, é um editorial dos Marinho), mas reconheço a excelência de vários programas de entretenimento da emissora.
Não sou xiita. E é por isso que volto a recomendar que vejam a minissérie.

VIDA NA ROÇA - TERESÓPOLIS É TUDO DE BOM

Em 24 de abril de 2013 eu escrevia...
No sábado, peguei um táxi no centro da cidade. Ao chegar em casa, a conta deu R$12,75 e eu paguei com uma nota de R$20,00. O taxista me devolveu R$10,00 de troco, dizendo que o restante eu poderia pagar em outra ocasião. Catei dinheiro na bolsa até encontrar o valor total da conta, enquanto o taxista me pedia pra deixar pra lá.
Assim que entrei em casa, dei por falta do meu guarda-chuva. Este era um especial, porque funciona muito bem e lamentei a perda. À tarde, toca a campainha e era o taxista. Veio devolver o guarda-chuva e nem quis cobrar a corrida.
É ou não é tudo de bom? Tem gente que acha que moro longe, em lugar desolado (mas lindíssimo), sem ônibus na porta (o ônibus passa na rua de baixo). Isso é tudo o que eu adoro.
E não bastasse, ainda tem gente super legal.
"Isso aqui ô, ô, é um pouquinho de Brasil iá,iá deste Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz..."

sexta-feira, 14 de abril de 2017

SAUDADE DO MEU PINGUINHO


FAZ 4 ANOS HOJE QUE CONHECI O PINGUINHO
HÁ 1 ANO ELE DESAPARECEU
 
Estou achando, galera, que a Cecília é Francisco. Acho que me enganei no sexo...rsrsrsrs. O gatinho está no maior grude comigo. Só sai do meu decote pra comer, beber água e fazer as necessidades dele. Uma gracinha ele usando a terra. É tão esfomeado que avançou na ração dos gatos adultos. Isso depois de ter comido a ração dele. Não quis saber de leite, não. Quis mesmo a ração. Tomou um banhozinho de gato (com shampoozinho apropriado), porque estava muito fedorento. Antes, brincou de bola com o Noah (lindo os dois). Agora está mais cheirosinho. Ah, ele é um fofo!

sexta-feira, 7 de abril de 2017

MEU ABRAÇO AO POVO ARGENTINO PELA GREVE DE ONTEM

Das muitas vezes em que estive em Buenos Aires, houve uma em que eu programei de chegar justamente num dia de greve. Acostumada às greves mixurucas no Brasil, não dei muita importância. Pra quê? Os argentinos levam as greves muito a sério, são altamente politizados. Quando cheguei em Buenos Aires, depois de ter cruzado o rio da Prata desde Montevidéu, tive uma baita surpresa: a impressão que caíra uma bomba química e matara todos os buenaierenses. Não havia viva alma nas ruas, tudo deserto, não passava um táxi, não havia um ônibus, acho que nem mosca voava, nada. Tive de andar com minha bagagem até a casa do amigo que me hospedou. Ainda bem que não era tão longe assim, e caminhar por Buenos Aires é sempre muito agradável. Desde então passei a respeitar e amar esse povo. E não há Macri nesse mundo, por mais irônico que seja, que me faça mudar de ideia.
Viva o povo argentino!

sábado, 25 de março de 2017

VIDA NA ROÇA - O SOL DE OUTONO

O céu agora está cinza chumbo, nuvens pesadas ameaçam tempestade. Não quis acreditar, hoje de manhã, quando o FB avisou que ia chover. Parecia impossível.

O dia amanhecera lindo. Antes do alvorecer, abri a porta e vi a lua quarto crescente ainda brilhando em seu meio sorriso. Ao longe, tímidos raios de sol tingiam o céu de um dourado suave. Um pouco mais tarde, voltei a abrir a porta e o sol parecia um grande farol amarelo. 


Tomei meu café da manhã no jardim, enquanto relaxava sob o suave e acariciante sol de outono, que aquecia meu corpo friorento. A manhã estava radiante. Era desses dias em que toda a natureza parece sorrir feliz. Uma brisa brincalhona tocava os ramos das árvores e elas balançavam de alegria. Uma enorme borboleta azul celeste passou perto de mim, enquanto outras menores e mais coloridas voavam alegremente em torno de pé de maracujá. Os pássaros cantavam felizes. Nada prenunciava uma tarde triste.


Almocei no jardim e fiz de conta que não vi as nuvens agourentas aproximando-se até cobrir todo o céu com seu tom assustador, lá pelas 4 da tarde, silenciando os pássaros, levando pra longe as borboletas e acabando com a mimosa brincadeira do vento nos galhos das árvores. 


Um pesado silêncio caiu sobre a natureza exuberante da mata atlântica, fazendo coro com o que sinto neste momento: uma enorme tristeza e desolação pela morte intempestiva de uma jovem cheia de vida.
Preciso atravessar essa escuridão e confiar que amanhã o novo amanhecer afastará as nuvens pesadas que desabaram sobre mim também.

segunda-feira, 13 de março de 2017

VIDA NA ROÇA - OBRA DE ARTE

Hoje de manhã, quando abri a janela ainda muito cedo, o que vi me deixou estática. O céu muito azul estava salpicado de nuvens brancas e algumas delas refletiam o amarelo do sol, que acendeu um fogaréu. Lá longe, em meio ao verde de várias tonalidades, uma buganvílea roxa e exuberante clamava sua presença. Linda! Os pássaros cantavam e, no meu jardim, a sete léguas jogava um ramo florido sobre o muro, enquanto as hortências o contornava carregada de flores. Havia tanta paz, tanta luz, tanta cor...
Não me ocorreu outra coisa a não ser rezar.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VIDA NA ROÇA - A SERENATA


 No domingo à noite, depois de ver mais um episódio da maravilhosa série "Breaking Bad", fui pro meu quarto. Já estava quase pegando no sono quando escutei um cri-cri-cri-cri-cri-cri. Era de um gafanhoto grandão e colorido que tinha voado pro meu quarto pela manhã e se instalado em cima do poster antigo em homenagem aos 25 anos do filme "Doutor Jivago", do genial e saudoso cineasta David Lean. Deixei-o ficar ali. Lembrei das minhas meninas, que morrem de medo de qualquer bichinho. Uma vez, lá no Rio, estava voltando da padaria quando encontrei caída no chão uma cigarra. Estava viva, peguei-a e levei pra casa. Abri a porta anunciando: "Meninas corram e venham ver". Pra quê? Assim que viram "aquele monstro", todas correram e se trancaram no quarto. De lá, gritavam: "Joga fora esse bicho!" Fui com a cigarra até a varanda e deixei-a num vaso de planta. Em pouco tempo ela se recuperou e saiu voando.
 
Na noite de domingo, minha pretensão e ignorância, fez com que eu pensasse que o gafanhoto cantava pra mim aquela bela e exclusiva serenata. Antes de cair no sono, me lembrei de uma vez, quando tinha 20 anos e fui passar uma temporada em Poços de Caldas, com a minha saudosa amiga Alda, que viria a ser minha cunhada. Quanto nos divertimos! À noite, os rapazes da cidade vinham até o pensionato de moças das freiras, onde estávamos hospedadas, e faziam serenata pra nós. Ficávamos debruçadas na janela felizes, ouvindo-os cantar: "Lua, manda a tua luz prateada despertar a minha amada..." É essa a imagem que tenho da cidade e ela me acompanha até hoje. Dormi feliz com a lembrança.
 
Pela manhã, ao acordar, me deparei com a verdade. Havia dois gafanhotos e eles estavam, despudoradamente, no maior rala e rola no meu quarto. Deixei-os lá e fui cuidar da minha vida.
Ah, o amor...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

VIDA NA ROÇA - O CREPÚSCULO VESPERTINO

Gosto do me sentar na varanda ou perto do pé de cerejeira e ver as luzes do dia se apagando no céu. É a despedida do sol e ele sai em grande estilo, colorindo tudo de rosa e amarelo. Ao longe, nuvens azuis mais escuras tentam tomar o lugar dos flocos de nuvens cor de neve, prenunciando o anoitecer. É nessa hora que cai um silêncio estranho sobre a natureza: os passarinhos se recolhem ao ninho e deixam de cantar - não se ouve um pio. Tento parar de pensar e me concentrar exclusivamente no espetáculo que se desenrola diante de mim. Mas em vão.
 
Me lembro de uma vez em que caminhava pela rua São Clemente, indo na direção do Humaitá, quase em frente à Casa de Portugal. Parei e olhei para o céu. O que vi me deixou estatelada. O céu estava todo coberto de um manto rosa, púrpura, azul, amarelo, laranja, vermelho - um dos céus mais lindos que já vi na minha vida. Apaixonada pelo que via, não me contive, parei um transeunte e lhe disse, apontando o céu: "Olha de coisa linda!" O homem olhou pra mim primeiro, depois levantou o olhar pro alto por apenas um segundo e seguiu em frente. Parecia decepcionado. Talvez esperasse um OVNI ou um choque de aviões, quem sabe? Só eu fiquei ali parada, esperando as cores irem pouco a pouco esmaecendo até dar lugar à noite, como ontem. Nessa hora, o silêncio se aprofunda, como em reverência, e as estrelas, uma a uma, começam a acender-se, deixando o céu todo estrelado.
Hora de entrar.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

VIDA NA ROÇA - TENTANDO DORMIR

Tive um dia exaustivo ontem. Vi o episódio piloto de "Breaking Bad" recomendado por um amigo (gostei), mas daí fiquei cansada, com vontade de me espichar, estava ainda agitada pelo movimento do dia. Fui pro quarto e liguei a TV que, pra mim, é um sonífero potente. Deus do Céu! É inacreditável o que se vê na TV aberta (só tenho essa) numa sexta-feira à noite, por volta de 21h30.
 
Ainda rolava aquela novela boba da Globo "A lei do amor", mostrando a falta de química entre a Cláudia Abreu e o Reynaldo Gianecchini. O rapaz é lindo, mas a Globo fez questão de deixá-lo feio com aquele cabelo mal tratado e oxigenado e uma barba horrível. A combinação de cabelo e barba deixou-o pálido e descolorido. O tratamento da Cláudia foi bem melhor, mas ela ficou jovem demais pra ter uma filha tão crescida. E ainda tem o mega canastrão e vilão, José Meyer, que só consegue ser melhorzinho quando dirigido por um diretor bem cri-cri. A novela estava no finalzinho e daí entrou o Big Bosta Brasil. No way!
 
Mudei pro SBT e lá estava o Ratinho com aquela moça que ele um dia chutou ao vivo e a cores. A moça, indignada, saiu porta a fora, mas pelo jeito esfriou a cabeça e voltou. Coitada!
 
Mudei de canal de novo e, pra meu horror, a Record fazia um programa em homenagem ao Tirulipa, filho do Tiririca. Cheguei a pensar que tinha dormido e tivera um pesadelo. Era tudo real, acreditem.
 
Mudei de novo de canal e a Band mostrava um sujeito ridículo, de barba postiça, que apresentava três moças de biquinininho fio dental. E a câmera fazia closes o tempo todo do bumbum das moças.
 
A essa altura, estava indignada demais pra dormir. Fui mudando de canal até chegar na TV Aparecida, onde uma dupla caipira se apresentava. Porcaria. Mas daí me lembrei de um lugarejo de Minas que costumava frequentar anos atrás. Meu pensamento viajou e me lembrei de uma vez que estava sentada num banquinho na vendinha, enquanto os pinguços tomavam pinga. Ao meu lado sentou-se um violeiro dos bons e começou a cantar as músicas que falam das coisas simples da roça. Enquanto ele cantava uma canção linda sobre um casal de passarinhos, os cachorros, que estavam deitadinhos tranquilos, por alguma razão começaram a brigar ferozmente. Alguém pegou uma bomba e acendeu, provocando um barulhão. Foi um tal de pinguço e cachorros correrem porta a fora espavoridos, deixando a vendinha subitamente vazia. Fiquei paralisada diante daquela cena. O violeiro olhava aquilo tudo com olhos "déjà vu". Depois que passou o susto, tive tamanho ataque de riso que só parou quando o violeiro entoou outra linda música.
E foi então que adormeci.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

UM PAÍS CHEIO DE ÓDIO

Eu me lembro que o ódio que se vê agora e que assusta tanta gente começou a se manifestar (porque é muito mais antigo) em 1989, com a disputa acirrada entre Collor e Lula. A rede Globo insuflou a classe média, os pobres de direita e os metidos a rico, empurrando um candidato de olhos vidrados. E eu me perguntava: o que leva as pessoas a votar num sujeito que tem olhos assim? Desconfiada e pressentindo algo mau, saquei o dinheiro da herança do meu pai, que acabara de receber, e converti tudo em dólar. Quando veio o sequestro da poupança eu era uma das poucas endinheiradas. O sequestro foi um choque terrível. Ninguém acreditava que aquele homem "bem nascido", caçador de marajás fosse fazer uma safadeza daquelas. Collor nivelou todo mundo: todos só tinham 50 cruzeiros (já nem lembro a moeda da época). E aí os pobres saíram vendendo seus cacarecos pra botar um prato de comida na mesa, como está acontecendo agora. Num jornal que li, uma ricaça desabafou: "pelo menos meu marido vai parar de dar dinheiro à vagabunda e meu filho não vai ter grana pra se drogar." 

E nem assim essa gente aprendeu. Veio o sociólogo, anos depois, e mesmo com a derrota do meu candidato, minha esperança se acendeu: pelo menos era um partido de centro-esquerda. Achei que ele ia tirar o povo da miséria e da fome (lembram das campanhas em que pobre só comia uma vez por ano, no Natal? E dos casaquinhos tricotados pelas madames?). Mas foi o contrário, o assistencialismo continuou, porque neste país pobre não tem direito, ele tem de se contentar em receber esmola. FHC privatizou quase tudo, deu sumiço no dinheiro, deu dinheiro pra banqueiro, levou uma bronca inesquecível do Bill Clinton e ainda foi de pires na mão pedir dinheiro ao FMI.


E aí, finalmente, meu candidato venceu. Sempre tive apenas simpatia pelo PT e votava nos candidatos desse partido em todas as esferas de governo. Só muito recentemente, indignada com o que vem acontecendo, achei que era hora de tomar uma posição e me filiei ao PT, porque quem é trabalhador tem de votar em trabalhador. E o PT fez o maior milagre que este país conheceu até hoje. Tirou milhões da miséria e da fome e levou outros milhões à classe média. Acabou com o assistencialismo e deu direitos às pessoas. E o que elas deram em troca? Muitas delas, ingratidão. Não aprenderam que a rede Globo é inimiga do povo. É certo que o partido cometeu erros gravíssimos, especialmente por ter se aliado a partidos reconhecidamente corruptos. Nunca engoli Maluf, Jáder Barbalho, Collor e outros bandidões. Mas foi desse jeito que o PT se elegeu. O país passou a ser respeitado no exterior e vivemos anos de bonança, com muita gente que não tinha dinheiro nem pra ir a Cascadura, viajando pra Disney.


Veio a Dilma, continuou a obra de Lula, foi reeleita e o resto todo mundo sabe. Mas o que dói de verdade é ver a ingratidão principalmente dos pobretões. Os metidos a rico já nem falo mais, porque são ridículos até a medula. Acompanhei todo o calvário de Marisa Letícia até o velório ontem e estou até agora assombrada. Ódio a uma pessoa que está no hospital lutando pra viver é demais. Ódio a um viúvo que está prestando homenagem a companheira de mais de 40 anos é insuportável.


Vocês, classe média ingrata, pobres de direita, classe média metida a rica estão destruindo o país. O ódio de vocês, que fez com que os pobres vivessem em guetos, vai um dia explodir contra vocês mesmos. Porque vocês ridicularizaram os projetos sociais, que tinham o propósito de fazer do país uma nação igualitária. Vocês exigiram a saída de uma presidenta honesta e digna pra botar no lugar dela uma gangue de facínoras, que congelaram por 20 anos os investimentos em educação e saúde. E agora se preparam para tirar os direitos dos trabalhadores e dos aposentados. Vocês são culpados.
E quando a fome bater lá no morro e a indignação crescer, eles vão descer pro asfalto. De nada vai adiantar seus muros, suas grades, seus pitbulls. Nem a polícia vai salvá-los da horda assassina e incontrolada que vai invadir seus lares e matar vocês.


Ódio dá nisso.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...