Hoje, ela faria 84 anos. Tinha medo de morrer e é com assombro que constato que está morta. Há precisamente 6 meses e 6 dias.
Nossa convivência foi muito difícil. Nunca a entendi. Ela nunca me entendeu. Nunca consegui me aproximar dela, porque ela parecia estar sempre mais distante.
Sua morte tem sido até o momento um susto para mim. Não a digeri, não a aceitei, também ela, tenho certeza, não a aceitou, porque gostava de viver. Com todos os problemas que a vida lhe trouxe, mesmo assim gostava de viver. E a vida lhe foi pesada e amarga.
Em seus momentos finais, pressentindo o que ia lhe acontecer, teve medo e não queria ficar só. Gritava socorro, chamava nosso nome, incessantemente. Como se o fato de estar em companhia pudesse afastar a morte de si. Não, ela não se atreveria a arrebatar-lhe a vida. Ela escaparia de suas garras. E mamãe tinha razão de ter medo: morreu só num leito de hospital. É isso o que mais lamento.
E custa-me crer que tenha morrido. Porque ela era cheia de vida e ria de tudo. Era debochada, irreverente, desbocada, livre. Transgressora, violenta algumas vezes mas, para quem teve a sorte de conhecer o outro lado, foi também generosa e carinhosa. Não comigo, infelizmente.
Não, eu nunca a aceitei. Verdade seja dita. E é também verdade que ela nunca me aceitou. Nosso relacionamento era superficial e isso sempre me surpreendeu e magoou. Tinha inveja de algumas amigas, via uma mãe carinhosa e a desejava.
Foi assim, mãe. Fomos duas estranhas uma para a outra a vida inteira. A verdade é que eu não soube lhe amar e nunca senti que você me amava. Talvez eu exigisse amor demais de você. Talvez você me amasse ao seu modo. Hoje em dia, prefiro pensar assim.
Mas eu celebro hoje a sua vida, lamento a sua morte, sofro por não termos sido amigas e rezo a Deus para que você descanse em paz. Rezo por você que tanto trabalhou e lutou na vida. Sei que você ia preferir estar cansada a estar morta. Também sei que não gostava de flores. Mas não tenho outra coisa para lhe dar hoje. Aceite-as, por favor.
E seja feliz onde estiver, mãe. Mais que tudo, desejo que tenha encontrado a paz.
Que Deus lhe abençoe. Amém.
Nossa convivência foi muito difícil. Nunca a entendi. Ela nunca me entendeu. Nunca consegui me aproximar dela, porque ela parecia estar sempre mais distante.
Sua morte tem sido até o momento um susto para mim. Não a digeri, não a aceitei, também ela, tenho certeza, não a aceitou, porque gostava de viver. Com todos os problemas que a vida lhe trouxe, mesmo assim gostava de viver. E a vida lhe foi pesada e amarga.
Em seus momentos finais, pressentindo o que ia lhe acontecer, teve medo e não queria ficar só. Gritava socorro, chamava nosso nome, incessantemente. Como se o fato de estar em companhia pudesse afastar a morte de si. Não, ela não se atreveria a arrebatar-lhe a vida. Ela escaparia de suas garras. E mamãe tinha razão de ter medo: morreu só num leito de hospital. É isso o que mais lamento.
E custa-me crer que tenha morrido. Porque ela era cheia de vida e ria de tudo. Era debochada, irreverente, desbocada, livre. Transgressora, violenta algumas vezes mas, para quem teve a sorte de conhecer o outro lado, foi também generosa e carinhosa. Não comigo, infelizmente.
Não, eu nunca a aceitei. Verdade seja dita. E é também verdade que ela nunca me aceitou. Nosso relacionamento era superficial e isso sempre me surpreendeu e magoou. Tinha inveja de algumas amigas, via uma mãe carinhosa e a desejava.
Foi assim, mãe. Fomos duas estranhas uma para a outra a vida inteira. A verdade é que eu não soube lhe amar e nunca senti que você me amava. Talvez eu exigisse amor demais de você. Talvez você me amasse ao seu modo. Hoje em dia, prefiro pensar assim.
Mas eu celebro hoje a sua vida, lamento a sua morte, sofro por não termos sido amigas e rezo a Deus para que você descanse em paz. Rezo por você que tanto trabalhou e lutou na vida. Sei que você ia preferir estar cansada a estar morta. Também sei que não gostava de flores. Mas não tenho outra coisa para lhe dar hoje. Aceite-as, por favor.
E seja feliz onde estiver, mãe. Mais que tudo, desejo que tenha encontrado a paz.
Que Deus lhe abençoe. Amém.
Um comentário:
Mae, o texto esta otimo!! Acho que entre voces nao houve falta de amor e sim afinidade. Em comum voces so tinham mesmo o espirito de luta... Beijos
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