terça-feira, 22 de setembro de 2015

A PROVA DE FOGO


Sei que muita gente - e o mais incrível: muitas mulheres - ficará feliz se Dilma sofrer impeachment ou se vir forçada a renunciar. Hoje à noite, a turma do quanto pior, melhor vai fazer a presidenta passar por uma prova de fogo. Não há motivo nenhum para soltar foguete ou festejar se tal acontecer.

Foi a primeira vez que tivemos uma presidenta. O que devia ser motivo de orgulho é razão de escárnio. Cristina Kirchner e Michelle Bachelet têm sorte de viverem em países civilizados. Vejo alguns amigos argentinos insatisfeitos, mas nenhum desrespeitoso.


Dilma Rousseff foi perseguida desde o início, quando escolheu ser chamada "presidenta". Montes de linguistas fajutos, de última hora, saíram do anonimato para condenar a escolha - a maioria mulheres, pasmem! E as maldosas de plantão rimaram com "anta". Vários linguistas sérios a quem consultei confirmam a correção do vocábulo, mas até hoje ainda insistem em dizer que está errado. Errado mesmo é a baixa autoestima de muitas mulheres, um monte delas. Me decepcionei muito com algumas que julgava esclarecidas, sensatas, racionais. Foram as mais raivosas, as mais preconceituosas, as mais irracionais. Algumas se revelaram tão machistas que deixaram de lado a educação (se é que alguma vez a tiveram) e chamaram a presidenta de "vagabunda" nas redes sociais. Muitas encheram a boca para gritar VTNC em plena arena esportiva, numa solenidade, quando Dilma estava acompanhada de autoridades, humilhando-a, sem se darem conta que, ao mesmo tempo, davam a si mesmas diploma de bestas humanas. Foi uma vergonha que cruzou fronteiras e mostrou ao mundo o povo inculto e incivilizado que vive neste país. Não hesitaram em dirigir impropérios a uma mulher digna, que é mãe e avó, sem perceberem que as ofensas e as humilhações se voltavam contra elas mesmas, para delírio dos machos a quem chamam de maridos e filhos. 


Agora entendo porque se matam tantas mulheres no país, pois se nas classes mais abastadas elas não se respeitam, se sofrem de tanta baixa estima, imagino como deve ser nas classes inferiores. E se for negra e pobre é bem pior.


A eleição da Dilma Rousseff abriu meus olhos para o país onde vivo. E o que vi me deixou profundamente desgostosa e triste. Tem razão Lévi-Strauss: tristes trópicos.

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