terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Corpo como Metáfora - Padrões de Beleza

"Na cera mole dos corpos, cada sociedade deixa sua marca." (Philippe Perrot)

Olhe a figura ao lado e diga o que acha?  Você consideraria essa estátua como representativa de um padrão de beleza?  Acho que não.  Trata-se da Vênus de Willendorf ou a Mulher de Willendorf, uma escultura descoberta no sítio arqueológico do paleolítico situado perto de Willendorf, na Áustria.  Mede um pouco mais de 11cm e estima-se que tenha sido esculpida há 22 ou 24 mil  anos.  Era o padrão de beleza da época.  Se nos basearmos nos livros, vamos lembrar que nem sempre foi fácil conseguir o alimento.  Pode-se, portanto, imaginar que as pessoas que viveram nesse período eram magras, famintas e que talvez idealizassem um corpo opulento, de formas arredondadas como esse, não é mesmo?  É uma hipótese com grandes chances de ser verdadeira.

Vamos pular para a Idade Média, precisamente para o século XIV, quando a peste bubônica invadiu a Europa, matando um terço da população.  Trazida nos porões dos navios que vinham do Oriente, a epidemia não poupou ninguém: morreram reis, príncipes, senhores feudais, servos, padres - era pegar a doença e morrer, pois não havia cura.  Havia, sim, preconceito.   E este era tão grande que os doentes eram, muitas vezes, abandonados pela própria família nas florestas ou em locais afastados. A doença foi sendo controlada no final do século XIV, com a adoção de medidas higiênicas nas cidades medievais.

Agora olhe a foto ao lado.  É a obra mais famosa do pintor flamengo Jan van Eyck.  Você vai imaginar que se trata de um casal à espera do filho, não é mesmo?  Pois vou lhe dizer que está enganado.  A pintura foi feita no dia do casamento do rico comerciante Giovanni Arnolfini e sua mulher Giovanna Cenami.  Por quê a barriga de Giovanna?  Porque era moda.  Era preciso estimular o nascimento de bebês para repovoar a Europa e dai a moda da barriga postiça.  Era in usar bolsinhas por baixo do vestido para simular uma gravidez. 

Desde o fim da antiguidade greco-romana, a moda parecia ter como objetivo essencial esconder as formas por meio de faixas comprimindo os seios e de roupas amplas. A roupa era igual para homens e mulheres.  Mas ao longo dos séculos XII e XIII, as roupas foram usadas para acentuar a silhueta.

Veja como era descrita a moda do século XV (a pintura ao lado é desse século):  “o vestuário feminino é igualmente ajustado e exalta os atributos da feminilidade: o traje alonga o corpo através da cauda, põe em evidência o busto, os quadris, a curva das ancas. O peito é destacado pelo decote; o próprio ventre [...] é sublinhado por saquinhos proeminentes escondidos sob o vestido”. E ainda “...as mangas possuíam longas fitas ou palatinas que às vezes se arrastavam no chão”.  Tudo isso está evidenciado no célebre quadro de Jan van Eyck.

Em outro post, falarei mais sobre o assunto.  Até lá.

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