quinta-feira, 23 de julho de 2015

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Quando ganhei o livro, apressei-me a lê-lo, mas parei nas páginas iniciais. Gosto das escritas claras, bem pontuadas e sinalizadas. Saramago não é assim. Obriga o leitor a ir penosamente pontuando, indo e vindo, talvez para obrigá-lo a repensar em coisas cuidadosamente guardadas. E isso fez com que me distraísse, perdesse a paciência e largasse o livro pra lá. 

Depois veio o filme, fui ver e não gostei. Achei a metáfora gasta, batida e imagino que não tenha sido sucesso de bilheteria. As pessoas fogem da realidade e embarcam na fantasia. E deve ser por isso que entretenimento é tão  fundamental. Mas não foi o meu caso. Leio livros considerados difíceis num dia só. Então, atribuí a culpa do meu desgosto ao Saramago, até que um acontecimento recente me fez repensar em fatos há muito esquecidos, deixados pra lá.

É interessante como a realidade surge assim do nada, de repente. Uma mensagem inbox cifrada me deixou encucada vários dias e aí a realidade caiu pesada sobre mim. Eu havia cortado aqueles fatos, como no maravilhoso filme do Giuseppe Tornatore, "Cinema Paradiso", em que o personagem principal recebe todas as cenas cortadas dos seus filmes de infância. Também eu, tal qual dona Solange, do tempo da ditadura, havia censurado fatos importantes da minha vida, que fiz questão de não ver. Logo eu que sempre me julguei lúcida e corajosa, que fiz análise e sempre me achei pronta para encarar qualquer realidade. Logo eu...

E tudo se tornou dolorosamente claro para mim.

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