domingo, 1 de fevereiro de 2015

VIDA NA ROÇA


Andaram arrastando móveis pesados lá no céu na noite passada ou, como dizia minha mãe, para aplacar minha rebeldia infantil: "Papai do Céu está zangado com você." 

Eram mais ou menos umas duas horas da manhã quando ouvi o primeiro estrondo e acordei sobressaltada. Fato raro, porque tenho sono de pedra. Pinguinho, que dormia tranquilamente nas minhas costas, deu um salto e foi se esconder debaixo da cama. Brownie, que dormia num canto da cama, se enrolou como uma cobra e só abria um olho quando o ruído ficava mais forte. E era um atrás do outro, aterrorizantes, enquanto a chuva caía pesada. Aqui na serra, talvez pela paz e tranquilidade, a trovoada faz um barulho dos diabos e assusta tanto os bichinhos quanto os fogos de artifício.


Mas o dia amanheceu inocente de tudo, com nuvenzinhas rosas e nesgas de céu azul. Aos poucos, a névoa branca que cobria todo o céu foi se aninhar na alta montanha de pedra que parece abraçar as casas dos arredores. Os pássaros voltaram a cantar e as borboletas voaram felizes. 


E hoje é domingo, um dia diferente de todos os outros, porque é quando tomo meu vinho no almoço e vejo um filmezinho, antes que o dia termine.
"É preciso ritos", disse a raposa.
Bom dia, amigos e bom domingo!


domingo, 28 de dezembro de 2014

CIGARRAS


Ainda agora, no jardim, elas estavam cantando. Pra mim, as cigarras são os arautos do verão. Elas me lembram da minha infância, porque quando cantavam, anunciavam mais calor e chuvas de verão no fim da tarde. Enquanto a chuva caía pesada, subia no ar o cheiro de terra molhada. E eu me juntava à molecada pra tomar banho daquela água fresquinha que caía do céu. Ainda me lembro da sensação de frescor que permanecia na pele. Mas nem todos apreciam as cigarras.

Uma vez, no tempo em que Prainha e Grumari eram praias semi-desertas e distantes para muitos, muito antes de se tornarem o inferno que são hoje em dia, fui com minhas meninas e um amigo à Grumari. Na hora do almoço, seguimos pela velha estrada em direção à Barra de Guaratiba. Lá no alto da serrinha, havia um restaurante (talvez ainda esteja lá) que tinha uma vista espetacular de toda a mata exuberante que inspirou Burle Marx. Sentamos embaixo de um frondoso flamboyant pra comer moqueca de peixe e pastel de camarão - delícias do lugar. Enquanto aguardávamos o banquete, as cigarras, aos montes, começaram a cantar. O que para mim era uma sinfonia encantadora, para as meninas e o amigo não passava de um barulho ensurdecedor. Diante dos protestos, tive de me conformar em entrar no restaurante, onde o "barulho" das cigarras foi substituído pelo do ar condicionado.


E quase todos ficaram felizes.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

VIDA NA ROÇA


Por mais ocupada que eu esteja, não deixo de apreciar a natureza todos os dias. Hoje, o dia estava especialmente bonito. Fez uma linda e fresca manhã de céu azulzinho. À tarde, os raios do sol estavam especialmente brilhantes e iluminavam o manacá da serra, beijando-lhe as flores rosadas "ton-sur-ton". Um verdadeiro romance e um espetáculo da natureza. Bem no meu jardim. Depois, tomei um café enquanto vi o sol se pôr em rosa, azul, amarelo, laranja. De tirar o fôlego. É a época das hortênsias florirem, os agapantos começaram mais cedo e agora estão no fim da florada. Antes foi o buquê de noiva, as azaléas... É um florir sem fim. Lindo demais. Queria poder emprestar meus olhos a todos os meus amigos. E meus ouvidos também, que estão cheios dos cantos dos passarinhos.

SONHOS


Em tudo, ontem foi um dia especial. Saí pra fazer umas compras à tarde e, de repente, olho pra vitrine da padaria e vejo uns sonhos, todos deitadinhos na bandeja, com seus cremes amarelos saindo pela borda e suas roupinhas de açúcar. Pareciam bebezinhos num berçário. E eles me diziam: "me leva".

Aí eu me lembrei que quando criança, e como sofrida filha mais velha, cabia a mim ir todos os dias à padaria. Enquanto o moço embalava o meu pedido, eu olhava cheia de desejo para os sonhos na vitrine. Ah, como eu gostava deles! De vez em quando, minha mãe me dava um trocadinho e dizia: "compre um docinho pra você." E eu comprava meu sonho.


Anos depois, a caminho de Búzios, passei por uma padaria que vendia sonhos. Parei o carro e fui me deliciar com um deles. Era uma época em que os sonhos eram permitidos. Não havia ainda os que hoje dizem pra tudo: "engorda".


Tudo isso me passou pela cabeça enquanto eu olhava para os sonhos. Acabei atendendo o apelo deles. Levei um pra casa. E me deliciei.


De vez em quando, a gente tem de voltar à infância.

domingo, 30 de novembro de 2014

CONSIDERANDO QUE...


Muitas vezes, me vejo na contramão do que as pessoas pensam e me sinto estranha. Não curto Black Fridays, nenhum Ipad, Ipod, Ipim, ou qualquer aparelho moderno que fazem as pessoas dormirem numa fila para adquirirem. Não pertenço a essa tribo. Me agarra então a sensação de não pertencer, de estar a quilômetros de distância de todo mundo. Vou ilustrar meu pensamento e me perdoem por mencionar fatos tão tristes num domingo. Não estou triste, ao contrário. Os domingos para mim são um ótimo pretexto pra tomar meu vinhozinho na hora do almoço. "É preciso ritos", disse a raposa.

Quando as Torres gêmeas desabaram no fatídico 9/11, não foi o colapso que mais me impressionou, mas aquela montoeira de papéis voando, papéis antes tão importantes, tão bem guardados, que muitos talvez atribuíssem um valor enorme. Naquele momento eles voavam perdidos, indo-se juntar ao entulho do asfalto. E foi essa cena que me fez desapegar de tudo, Aqueles antes valiosos papéis não valiam absolutamente nada. Um poder maior se alevantara. Uma grande tragédia fez tudo parecer pequeno, insignificante.

Desapegar, desapegar, desapegar... é o que tento fazer todos os dias.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

VIDA NA ROÇA - RITINHA E ZEZINHO

Ritinha (em foto tirada por Daniela) chegou aqui em casa ainda bem pequenininha. Veio com os três irmãos: Jorginho (que desapareceu, pra minha profunda tristeza), Joãozinho e Maria, trazidos pela mãe, Belinha. Não queria mais gatos aqui em casa, além dos quatro que trouxe do Rio, mas não teve jeito. Todos ficaram. Foi aí que aprendi que gato adota você, e não o contrário.

Ritinha cresceu, ficou uma bela mocinha e conheceu um gato negro lindo, de andar macio e, acredito, bom de lábia, porque ela se apaixonou por ele. Dei-lhe o nome de Zezinho, mas ele não me adotou. Vem só filar a boia aqui em casa. É gato independente. 

Dia desses, tinha acabado de dar a comida pra gatarada quando Zezinho apareceu faminto. Ritinha fez o que toda gata apaixonada faz: ficou rodeando-o, toda oferecida. Botei comida pro Zezinho e logo os outros vieram em cima. Tentei espantar, mas eles não paravam. Só quando Ritinha se postou na frente do prato, ameaçadora, é que os todos se afastaram. Zezinho pode então comer à vontade.
Ah, o amor....

terça-feira, 14 de outubro de 2014

VIDA NA ROÇA

O dia hoje amanheceu estressante. Às 5h30 os passarinhos começam a cantar e é a hora que eu acordo. Vou lá no quintal pra dar comida aos gatinhos. Estavam todos lá, menos o Pinguinho. Me ponho a chamá-lo várias vezes, até que ouço um miadinho distante. Quando Pinguinho mia assim é confusão na certa. Olho pra todo lado pra ver se o encontro e levo o maior susto. Pinguinho está no telhado da casa vizinha, bem alto.
- Como é que você foi parar aí, meu filho?
- Miau, miau...
Pego a escada lá no fundo do quintal e boto na direção dele. Uma vez eu o resgatei do alto da árvore fazendo algo semelhante. Pinguinho olha e não se anima. Na verdade, nem eu me animaria a descer pela escada. Vou nos fundos do quintal e o chamo. Ele vai na mesma direção. Vou até a frente da casa da vizinha e o chamo. Ele aparece. Boto a escada de novo. Nada. Procuro sr. Jadir, o jardineiro e não o vejo em lugar nenhum. Estou muito aflita, pensando que terei de pagar o mico de ligar para o Corpo de Bombeiros e pedir que resgatem um gato faminto que está no telhado da vizinha. Volto pra casa, resignada e é quando vejo o Pinguinho no chão, procurando comida.
- Como é que você conseguiu descer, meu filho?
- Miau, miau... (anda logo com essa comida)
São tantas emoções.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...