sexta-feira, 30 de abril de 2010

Há um ano...

Hoja faz um ano que tive alta do hospital, depois do acidente.  Ao acordar, não me lembrava.  Só me dei conta quando liguei a TV para assistir ao noticiário, se é que se pode chamar de noticiário o que uma grande empresa de telecomunicações faz com seu público: informa apenas o que lhe convém, em detrimento do bom jornalismo.  É revoltante.  Ainda bem que o povo não é bobo.  Mas não é disso que quero falar.

Quero falar da emoção que senti ao chegar em casa naquele dia, que estava tão nublado e triste como hoje, mas para mim era como se o sol estivesse a brilhar no céu.  Fui transportada em maca do quarto onde estava internada até a ambulância.  No caminho, me despedi do pessoal da enfermagem que me tratou com tanto carinho.  Em pouquíssimo tempo, cheguei à portaria do prédio onde moro.  A ambulância estacionou do lado de fora.  Abriram a porta e tiraram a maca onde eu estava.  Da maca, me transferiram para uma cadeira de rodas.

Quem nunca ficou deitado muito tempo não imagina o que é se sentar pela primeira vez.  Dá um pouco de tonteira no início, o pescoço não gira normalmenta na cabeça e a gente fica meio parecido a um robô, mas é incrível a emoção de ver o mundo, as pessoas e tudo ao redor a partir de outra perspectiva. 

Entrei no elevador e minha cunhada atendeu a porta.  Ela havia chegado mais cedo para arrumar a casa e fazer um almoço de recepção para mim.  Na saída do elevador, já se podia sentir o cheiro gostoso da comida que ela estava preparando.  Ao entrar em casa, uma equipe de enfermagem me aguardava para as primeiras instruções.  A partir daquele momento eu não estaria apenas deitada.  Iria usar a cadeira de rodas para me locomover.

Era como se recebesse uma carta de alforria.  Ia sair da prisão do leito para uma cadeira de rodas.  Para muitos, isso pode parecer apenas uma extensão da tragédia.  Para mim, era um novo ciclo de vida que se iniciava.  Eu ia superar tudo e, em muito breve, iria dar meus primeiros passos. 

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tristeza

Hoje acordei "desinspirada".  A banda larga andou instável e demorou a estabilizar.  Enquanto isso acontecia, fiquei pensando no que poderia escrever.  Se ontem falei da energia positiva, da importância de cultivar os bons sentimentos, não queria dizer que hoje meus pensamentos estão sombrios e que estou triste.  Mas essa é a verdade.

A minha tristeza é principalmente devida a estar longe das minhas meninas, mas há outros componentes: a angústia e a incerteza do futuro.  Sei por experiência própria que a vida pode acabar num segundo e gosto de lembrar do salmo atribuído ao Rei David, que começa assim: "O Senhor é meu pastor, nada me faltará."  Mas tem dia que nenhuma lógica, nenhuma prece afasta a melancolia e nos consola.  

Se na noite de terça-feira não dormi bem, a noite passada dormi pior ainda.  Há duas noites não durmo bem.  Preocupações, ansiedade e angústia me dominam.  O pior de tudo é o medo.  Medo de não conseguir fazer o que tenho de fazer - e é muito o que tenho pela frente.  Medo do desconhecido, medo do fracasso.

É nessas horas que nos sentimos pequenos e indefesos.  Tudo o que temos é a fé e só ela pode nos salvar dos momentos de escuridão. "Meu Deus, ajudai-me a ter ânimo e vontade de seguir adiante.  Meu Deus, faça com que eu volte a ter alegria e bons pensamentos."

É tudo o que espero para o dia que está se iniciando.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

The Amazing Race

Tenho visto episódios antigos dessa série de reality shows que considero a melhor surgida até agora na TV.  Em The Amazing Race, onze duplas, que podem ser formadas por parentes, casais e amigos de distintas raças, credos e orientações sexuais fazem uma corrida ao redor do mundo, enfrentando tarefas que requerem força muscular para escalar, por exemplo, um trecho da Grande Muralha da China, estômago forte para comer alimentos considerados delicacies em certas culturas, como olho de peixe e gafanhoto frito, e muita inteligência para montar estratégias vencedoras que os levarão ao prêmio máximo de 1 milhão de dólares.

Uma corrida pressupõe estresse e é interessante observar o efeito que ele tem sobre as pessoas.  Até casais considerados zens acabam brigando.  Amizades sofrem abalos e namoros podem até terminar.  Por outro lado, o estresse também une as pessoas.  Passado o desabafo, o momento de tensão, eles voltam a se entender e iniciam um novo ciclo de relacionamento.  O programa acompanha passo a passo cada conflito e cada decisao certa ou errada dos participantes.

Depois de ver muitos episódios da série fiquei pensando o que fazia com que uma dupla, entre aquelas onze, se tornasse a vencedora.  O espírito de equipe é sem dúvida muito valioso e foi minha primeira opção.  A motivação, a força e a determinação também contam muito.  Mas qual é o fator decisivo para a vitória?  Depois de refletir, me parece agora que a boa energia é fundamental.  As duplas que não brigam, que mantêm sempre uma atitude positiva, que são alegres e entusiasmadas, que se preocupam mais em viver aquele momento e dar o melhor de si são as mais propensas a ganhar.  As duplas cujo foco é apenas a vitória conseguem ganhar prêmios em até mais de um pit stop, mas raramente ganham o prêmio máximo.  Boa energia é, portanto, a mina de ouro.

Não é só em The Amazing Race que venho observando a importância da boa energia nas nossas vidas. Já tive muitas experiências próprias em que pude constatar como o bom humor, a alegria, a positividade e os bons sentimentos contribuem para o nosso bem-estar e nossas conquistas na vida.  Um pouco antes do acidente, eu andava triste e com uma energia muito ruim.  Não digo que o acidente ocorreu por causa disso, mas eu deveria ter feito as mudanças que precisavam ser feitas naquela ocasião, para ser feliz, para afastar de mim o humor sobrio.  Percebo isso agora e vejo que é hora de mudar.  Positivamente.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ouvindo a voz interior - final

Nota: Hoje vou à igreja de Santo Expedito para agradecer as várias graças que tenho recebido Dele. Muito obrigada, Santo Expedito.

Aos poucos, sinto que já não preciso mais falar do acidente, como antes, e isso significa menos sofrimento e dor. Sim, é visível o meu restabelecimento. Caminho com mais naturalidade e disposição. Antes, o simples fato de ter de ir à rua me angustiava.

Na sexta-feira, saí com uma querida amiga e revisitei, não intencionalmente, os lugares onde estive no dia em que me acidentei. O roteiro original que tínhamos combinado era diferente, e foi minha amiga quem o alterou em cima da hora. Acabei indo ao mesmo shopping, e passei pelos mesmos andares. Não posso negar que aquele trajeto foi me deixando, aos poucos, muito angustiada, com pressa de ir embora para casa – a mesma sensação do dia do acidente.

Minha cunhada se aborreceu porque eu disse, no primeiro post, que voltáramos ao shopping para fazer compras. Na verdade, voltamos porque ela estava em busca de um banco eletrônico. Na sexta-feira, sem saber, minha amiga também precisou ir ao mesmo banco eletrônico.

Ao sair do shopping, tomamos um táxi e eu revi o local exato do acidente. Esse trajeto também não foi intencional, mas uma voz interior me avisava que eu ia passar por aquele momento.  Estava mesmo na hora de passar por ali. Eu precisava vencer mais essa etapa.

Passar pelo local do acidente foi, afinal, bem mais fácil do que imaginava. Mas alegria mesmo senti quando cheguei em casa. “Obrigada, meu Deus, por estar viva.”

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ouvindo a voz interior - parte 3

Nota: Nunca uso cor para falar do acidente. A exceção foi na parte 1 de “Ouvindo a voz interior” e eu o fiz para homenagear a foto belísissima do Universo, tirada pelo telescópio Hubble.

Antes mesmo de terminar os sete dias de tratamento, eu já me sentia melhor. Era incrível. Fui à rua e senti mais firmeza no caminhar. Ainda me pesavam os quadris, mas esse incômodo seria corrigido com alongamentos. Faltavam ainda muitas etapas a vencer. Era preciso calma. O passo mais importante eu acabara de dar, graças à minha intuição, graças a ter ouvido a minha voz interior.

Estava morando sozinha e era vital poder ir à rua sem sentir a dor que quase me fazia chorar e querer desistir no meio do caminho. Era uma dor torturante, que me fazia parar no meio do caminho e ter de esperar que ela passasse. A filha do meio sabe do que estou falando. Aquela dor quase conseguia me tirar o prazer de viver e não passara totalmente, mas eu já me sentia melhor. Ainda precisava dos analgésicos, mas muito menos que antes. “Meu Deus, muito obrigada por mais este milagre”.

Antes do acidente, eu gozava de uma saúde estupenda. Fazia exercícios físicos diariamente, inclusive aos sábados. Meus movimentos eram livres e eu sentia a alegria de viver das pessoas saudáveis. Com o acidente, tudo mudou, a começar pelo meu humor. Eu me irritava com muita facilidade e chorava frequentemente. Ainda me irrito, mas o choro, antes transbordante, está agora mais contido, quase normal. Sim, o trauma está passando. Dentro em breve vou poder ter uma vida normal. E é essa certeza que me faz seguir adiante.

domingo, 25 de abril de 2010

Ouvindo a voz interior - parte 2

Terminada a ultrassonografia, fui à farmácia. O farmacêutico não quis receitar remédio algum,quando lhe contei o meu problema. (E chorei, por ter de contar o que eu queria tanto esquecer. Mas era preciso.) Também ele alegava questões éticas.  Senti um desânimo profundo.  Era tudo tão difícil

Fiquei pensando em como poderia contornar aquela situação e me veio uma idéia. Perguntei se ele achava que um antibiótico à base de sulfa poderia fazer bem, no meu caso. Ele concordou. Em seguida, quis saber se tal remédio era perigoso. Nao, não era. Daí foi só falar com o vendedor e pedir a medicação.

Fui para casa e logo tomei o remédio. O tratamento duraria sete dias. Eu mal podia esperar o resultado. Sentia intimamente que estava no caminho certo. Como os médicos não se davam conta disso? Por que não ouviam seus pacientes? Receitavam remédios inócuos, caríssimos, de efeitos duvidosos. Eles não se importavam. Uns poucos, sim, como a dra. Cristina, mas também ela não se animava a me receitar mais antibióticos, depois de tantos que eu havia tomado.

À medida que o tempo passava, me sentia cada vez melhor. Andar não era tão frustrante e doloroso. Sentia-me mais leve. Em breve, saberia o resutado. Em breve, iria saber se fizera bem em ouvir a voz interior.

sábado, 24 de abril de 2010

Ouvindo a voz interior - parte 1

Inventei rotinas diárias que me mantinham ocupada. Ao acordar, permanecia deitada e fazia exercícios para os braços, pernas e pelve. Minha uretra fora seccionada durante o acidente e, por isso, perdi o controle do esfíncter. Os médicos receitavam exames invasivos e eu me recusava a fazê-los. Ouvia a minha voz interior que me pedia para ter calma e paciência. Aquilo também ia passar. Com o tempo tudo ia se curar.

Um dia, ao fazer o exame de ultrassonografia transvaginal, perguntei à médica se estava certa em me recusar a fazer os exames invasivos e, para minha surpresa, ela me deu razão. Disse que minha uretra ainda estava muito sensivel e eu deveria esperar.  Talvez nem precisasse fazer nenhum daqueles exames.  Animada com a receptividade da medica, fiz-lhe outra pergunta que me rondava a cabeça. Eu sentia muitas dores na região pélvica, quando caminhava, e achava que deveria tomar um antibiótico à base de sulfa. Mais surpresa ainda fiquei quando ela concordou comigo. Por ética médica, ela não pode me dar uma receita, mas me disse que eu poderia conversar com um farmacêutico.

Lembrei-me da Susan Sonntag em seu livro “A Doença como Metáfora”, que felizmente li nos tempos de faculdade e agora vinha em meu socorro. Sonntag tivera câncer nos anos 80 e ela também precisou, primeiro, convencer os médicos de que não ia morrer. Depois, teve de lutar para escolher o melhor tratamento. Doentes assim, os médicos costumam chamar de “difíceis”. Foi o que disseram de mim, quando estive internada. Era o que diziam agora de mim, por me recusar a fazer exames com os quais não concordava.  Mas eu estava aprendendo, finalmente, a ouvir a minha voz interior.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...