domingo, 12 de setembro de 2010

Os crimes de lavagem da honra: A onda de assassinatos que envergonha o mundo - continuação

Ou Aisha Ibrahim Duhulow, 13, que na Somália, em 2008, na frente de mil pessoas, foi arrastada para um buraco no chão - o tempo todo gritando, "Eu não vou - não me mate" – e depois enterrada até o pescoço e apedrejada por 50 homens, culpada de adultério? Passados 10 minutos, tiraram-na do buraco e, estando ela ainda vida, puseram-na de volta e continuaram o apedrejamento. O crime de Aisha? Ela fora estuprada por três homens e, fatalmente, a família decidiu relatar os fatos ao grupo paramilitar Al-Shabab, que controla Kismayo.

Ou o "juiz" islâmico Al-Shabab, no mesmo país, que anunciou em 2009 o apedrejamento e morte de uma mulher - o segundo deste tipo no mesmo ano - por ela ter um amante? O homem recebeu meras 100 chibatadas.

Ou a jovem encontrada em uma vala de esgoto próximo a Daharki, no Paquistão, morta por sua família em nome da "honra" porque deu à luz o segundo filho, tendo o nariz, orelhas e lábios decepados antes de morrer, seu primeiro filho morto entre suas roupas e o corpo do recém-nascido ainda em seu ventre, com a cabeça de fora? Estava em estado de decomposição e a polícia local foi chamada para enterrá-la. Mulheres levaram os três ao túmulo, mas um clérigo muçulmano recusou-se a rezar por ela porque era "irreligioso" cumprir o ritual fúnebre namaz-e-janaza para uma "mulher maldita e seus filhos ilegítimos".

São tão terríveis os detalhes desses "crimes de honra" e tantas são as mulheres assassinadas, que a história de cada uma pode transformar o horror em banalidade. Mas para que esses atos - e os nomes das vítimas, quando pudermos descobri-los – não sejam esquecidos, relatamos os sofrimentos de algumas mulheres nos últimos dez anos, selecionadas ao acaso, país por país, crime por crime.

Em março passado, Munawar Gul matou a tiros a irmã de 20 anos, Saanga, no noroeste de uma província fronteira do Paquistão, e o homem suspeito de ter "relações ilícitas" com ela, Aslam Khan.

Em agosto de 2008, cinco mulheres foram enterradas vivas em nome dos "crimes de honra", no Baluchistão, por homens armados de uma tribo; três delas - Hameeda, Raheema e Fauzia - eram adolescentes que, depois de serem espancadas e mortas a tiro, foram jogadas vivas em uma vala e depois cobertas com pedras e terra. Quando duas mulheres mais velhas, de 45 e 38 anos, protestaram, sofreram o mesmo destino. As três mulheres jovens tinham tentado escolher seus próprios maridos.

No parlamento paquistanês, o senador Israrullah Zehri refere-se a esses assassinatos como uma "tradição secular" que ele "continuará a defender".

Em dezembro de 2003, uma mulher de 23 anos, em Multan, identificada apenas como Afsheen, foi assassinada por seu pai porque, depois de um casamento arranjado infeliz, ela fugiu com um homem chamado Hassan, pertencente a uma tribo rival. Afsheen vinha de família educada, composta de funcionários públicos, engenheiros e advogados. "Dei-lhe comprimidos para dormir em uma xícara de chá e depois a estrangulei com uma dapatta [uma longa echarpe, parte da vestimenta tradicional feminina], confessou o pai. Ele disse à polícia: "A honra é a única coisa que um homem tem. Posso ainda ouvir os gritos dela, era minha filha preferida. Quero destruir minhas mãos e acabar com a minha vida." A família havia encontrado Afsheen com Hassan em Rawalpindi e prometera não fazer-lhe nenhum mal se ela voltasse para casa. Estavam mentindo.

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