segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dois anos hoje

Fico com inveja quando ouço dizer que as pessoas têm memória fraca. Isso não acontece comigo. Aliás, nunca aconteceu. Tenho e sempre tive memória de elefante. Sendo assim, como iria esquecer hoje? Tento, mas não consigo. Há dias ando inquieta, dormindo mal, tendo pesadelos e depressão - tudo por causa de hoje.

Há exatamente dois anos uma noite escura desabou sobre mim e meus dias se tornaram nebulosos e tristes durante os longos 8 meses em que estive me recuperando da minha quase morte.

Era um dia ensolarado como hoje e eu me sentia ótima, feliz. Havia feito uma limpeza e reorganização nas varandas e meu jardim estava florido.  Tinha reformado o grande sofá da sala, iniciado um regime de emagrecimento e começara a colher os primeiros resultados positivos. Estava arrumando a casa para receber meu netinho, que vinha comemorar seu primeiro aniversário comigo. Planos, muitos planos e muitos sonhos também. De repente, quase tudo desmoronou. Tive a sorte de organizar a festa do neto antes do acidente e ele pôde vir comemorar o aniversário.

Nunca imaginei que uma tragédia assim iria me acontecer. A gente costuma achar que essas coisas acontecem nas novelas, nos livros, nos jornais. Num átimo, somos nós os protagonistas de uma calamidade. Em poucos segundos, a vida vira do avesso. Nossa sociedade não pensa a morte, não nos prepara para nosso fim e terminamos por achar-nos imortais. Era assim que me sentia quando a noite longa e escura desabou sobre mim.

A morte não estava nos meus planos e foi por isso que lutei com todas as minhas forças para sobreviver. E consegui. Só não consegui ainda me livrar da lembrança, borrar da minha memória aquele dia fatídico. Nesses dois anos, lembrei-me dele diariamente, com toda a riqueza de detalhes que pude recordar. Não entendo como aconteceu, mas consigo reviver cada minuto. É horrível, eu sei, e as pessoas me dizem para esquecer, como se não fosse eu a primeira a desejar que isso acontecesse.

Talvez seja bom lembrar, afinal. Pode ser que lembrando daquele trágico dia eu me dê conta, finalmente, da minha finitude, de que não disponho de muito tempo nesta vida e que preciso ter força e coragem para ser feliz. Amém!

2 comentários:

Patricia Peternel disse...

Mae, seu mundo desmoronou no dia 7 e meu pesadelo comecou no dia seguinte quando soube da noticia... Tudo ainda incerto, noticias desencontradas e a espera de novidades parecia uma eternidade! Mas eu sabia que voce sairia dessa! Sempre foi guerreira na vida e saberia portanto lutar contra a morte! Nao seria esse seu fim, afinal, como disse, estava feliz e cheia de sonhos! Tente construir uma ponte que te transporte daquele momento ate o presente. E o acidente fica la embaixo, como um rio que passou em sua vida... Beijos!

Aurora Boreal disse...

Acho que essa ponte será construída no futuro. Enquanto eu ainda sentir os efeitos desse trauma violento acho que será impossível. Ninguém tem mais interesse nessa ponte do que eu. Sou de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Mas não está sendo nada fácil desta vez. Mas continuo tentando.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...