Quando criança, minha mãe me dizia que desaforo não se levava para casa. Um mau conselho e a vida me fez entender isso.
Anos mais tarde, em Londres, fui verbalmente agredida por um funcionário do metrô que achou que eu estava tentando embarcar sem pagar o bilhete. Por mera confusão, eu havia entrado numa área onde não podia estar e, ao pedir informação, o funcionário se irritou comigo e me disse de tudo. Frustrada no meu inglês ainda incipiente, acabei levando o desaforo para casa.
Há quase vinte anos (meu Deus como o tempo passa!), conversando com uma colega, reclamava do tratamento indelicado da professora de francês. Por alguma razão, aquela mulher nao simpatizara comigo e não perdia a oportunidade de me ridicularizar diante de todos. A coisa chegou a tal ponto que tive de pedir ao diretor que me transferisse para outra turma.
Mas reclamava eu com a colega, quando esta me contou um caso que lhe acontecera durante uma viagem de férias. Era perto do Natal e o grupo havia decidido fazer o amigo oculto. Na hora de entregar o presente, fazia-se a brincadeira de sempre: meu amigo é alto, simpático... essas coisas. Tocou a minha colega uma mulher que fez, diante de todos, a seguinte descrição dela: minha amiga oculta já é uma mulher passada. A colega enrubesceu e se sentiu, evidentemente, arrasada. Dizia-me ela então: "Foi a última vez que deixei que um comentário de tal natureza me abalasse." E pôs-se então a discorrer sobre a importância de não dar valor às críticas maldosas. Não existia tal coisa como levar-desaforo-para-casa, desde que não se atribuísse importância exagerada a um comentário feito para nos desagradar. Em resumo, não se deve supervalorizar o que não merece sequer ser ouvido ou pensado. Parece simples falando assim, não é? Pois para mim não foi.
Nesses quase vinte anos que se seguiram a essa conversa, deixei muito desaforo onde o encontrei. E para quê, me pergunto agora? Que vantagem tirei, que mérito ganhei? Nem sequer me lembro dos desaforos. Tudo o que sei é que a vida é para ser levada com uma certa leveza. Não se deve levar tudo a ferro e fogo. As pessoas têm o direito de pensar o que quiserem de nós e até expressar seus sentimentos, ainda que desaforadamente. Cabe a nós termos nossa opinião própria de nós mesmos, conhecermo-nos bem e estarmos em paz. Só assim o chamado "desaforo" passa ao largo e deixa de nos atingir. Não é sentir-se soberano ou soberbo - é ter o espírito desarmado.
Viver em paz - essa é a grande lição da vida. Amém!
Anos mais tarde, em Londres, fui verbalmente agredida por um funcionário do metrô que achou que eu estava tentando embarcar sem pagar o bilhete. Por mera confusão, eu havia entrado numa área onde não podia estar e, ao pedir informação, o funcionário se irritou comigo e me disse de tudo. Frustrada no meu inglês ainda incipiente, acabei levando o desaforo para casa.
Há quase vinte anos (meu Deus como o tempo passa!), conversando com uma colega, reclamava do tratamento indelicado da professora de francês. Por alguma razão, aquela mulher nao simpatizara comigo e não perdia a oportunidade de me ridicularizar diante de todos. A coisa chegou a tal ponto que tive de pedir ao diretor que me transferisse para outra turma.
Mas reclamava eu com a colega, quando esta me contou um caso que lhe acontecera durante uma viagem de férias. Era perto do Natal e o grupo havia decidido fazer o amigo oculto. Na hora de entregar o presente, fazia-se a brincadeira de sempre: meu amigo é alto, simpático... essas coisas. Tocou a minha colega uma mulher que fez, diante de todos, a seguinte descrição dela: minha amiga oculta já é uma mulher passada. A colega enrubesceu e se sentiu, evidentemente, arrasada. Dizia-me ela então: "Foi a última vez que deixei que um comentário de tal natureza me abalasse." E pôs-se então a discorrer sobre a importância de não dar valor às críticas maldosas. Não existia tal coisa como levar-desaforo-para-casa, desde que não se atribuísse importância exagerada a um comentário feito para nos desagradar. Em resumo, não se deve supervalorizar o que não merece sequer ser ouvido ou pensado. Parece simples falando assim, não é? Pois para mim não foi.
Nesses quase vinte anos que se seguiram a essa conversa, deixei muito desaforo onde o encontrei. E para quê, me pergunto agora? Que vantagem tirei, que mérito ganhei? Nem sequer me lembro dos desaforos. Tudo o que sei é que a vida é para ser levada com uma certa leveza. Não se deve levar tudo a ferro e fogo. As pessoas têm o direito de pensar o que quiserem de nós e até expressar seus sentimentos, ainda que desaforadamente. Cabe a nós termos nossa opinião própria de nós mesmos, conhecermo-nos bem e estarmos em paz. Só assim o chamado "desaforo" passa ao largo e deixa de nos atingir. Não é sentir-se soberano ou soberbo - é ter o espírito desarmado.
Viver em paz - essa é a grande lição da vida. Amém!
3 comentários:
MUITO BOM,ADOREI!!!!!!!!!!!!
beijão
Tenho um ima de geladeira pra me lembrar disso todos os dias: "Life is too important to be taken seriously"! (Oscar Wilde)
Muito bom o texto!
Tirei a inspiração deste texto no problema pelo qual a Rachel está passando e pelo desabafo no Facebook.
A propósito, você me deu esse imã de geladeira e, de vez em quando, dou uma olhada nele.
Postar um comentário