sexta-feira, 9 de outubro de 2015

VIDA NA ROÇA – DEUS AJUDA QUEM CEDO MADRUGA



Ainda era cedo quando Brownie começou a se agitar. Olhei o relógio. Eram 5h e lá fora a passarada já começara a cantar. Ninguém gosta mais do amanhecer do que os pássaros, ficam loucos de alegria. Larguei o livro, os óculos e abri a porta que dá para o jardim. O que vi, me fez voltar, pegar um casaco e me sentar lá fora. A Lua e a Estrela da Manhã ainda brilhavam num céu muito azul, rasgado de nuvens levemente rosadas. Ao longe, nas montanhas, repousavam algumas nuvens acinzentadas que aos poucos cediam ao rosa e, mais atrás, um tom alaranjado se insinuava.  Fiquei ali observando e tiritando de frio, devia ter posto um casaco mais quentinho. Enquanto apreciava o espetáculo, as luzes da Lua e da Estrela da Manhã foram lentamente se apagando. Era o sol chegando e mudando as cores do céu. O forte alaranjado suavizou-se até se tornar amarelo, mas à medida que o sol avançava as nuvens se douravam e culminaram por apagar de vez o prateado do planeta e do satélite. Senti sua falta, Dani, que com as lentes de sua câmera teria captado toda a beleza que palidamente descrevo.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A PROVA DE FOGO


Sei que muita gente - e o mais incrível: muitas mulheres - ficará feliz se Dilma sofrer impeachment ou se vir forçada a renunciar. Hoje à noite, a turma do quanto pior, melhor vai fazer a presidenta passar por uma prova de fogo. Não há motivo nenhum para soltar foguete ou festejar se tal acontecer.

Foi a primeira vez que tivemos uma presidenta. O que devia ser motivo de orgulho é razão de escárnio. Cristina Kirchner e Michelle Bachelet têm sorte de viverem em países civilizados. Vejo alguns amigos argentinos insatisfeitos, mas nenhum desrespeitoso.


Dilma Rousseff foi perseguida desde o início, quando escolheu ser chamada "presidenta". Montes de linguistas fajutos, de última hora, saíram do anonimato para condenar a escolha - a maioria mulheres, pasmem! E as maldosas de plantão rimaram com "anta". Vários linguistas sérios a quem consultei confirmam a correção do vocábulo, mas até hoje ainda insistem em dizer que está errado. Errado mesmo é a baixa autoestima de muitas mulheres, um monte delas. Me decepcionei muito com algumas que julgava esclarecidas, sensatas, racionais. Foram as mais raivosas, as mais preconceituosas, as mais irracionais. Algumas se revelaram tão machistas que deixaram de lado a educação (se é que alguma vez a tiveram) e chamaram a presidenta de "vagabunda" nas redes sociais. Muitas encheram a boca para gritar VTNC em plena arena esportiva, numa solenidade, quando Dilma estava acompanhada de autoridades, humilhando-a, sem se darem conta que, ao mesmo tempo, davam a si mesmas diploma de bestas humanas. Foi uma vergonha que cruzou fronteiras e mostrou ao mundo o povo inculto e incivilizado que vive neste país. Não hesitaram em dirigir impropérios a uma mulher digna, que é mãe e avó, sem perceberem que as ofensas e as humilhações se voltavam contra elas mesmas, para delírio dos machos a quem chamam de maridos e filhos. 


Agora entendo porque se matam tantas mulheres no país, pois se nas classes mais abastadas elas não se respeitam, se sofrem de tanta baixa estima, imagino como deve ser nas classes inferiores. E se for negra e pobre é bem pior.


A eleição da Dilma Rousseff abriu meus olhos para o país onde vivo. E o que vi me deixou profundamente desgostosa e triste. Tem razão Lévi-Strauss: tristes trópicos.

sábado, 19 de setembro de 2015

DE PRIMAVERA E PASSARINHOS

Há algum tempo observo que o amor está no ar. Quando tomo meu solzinho pela manhã, vejo casais de passarinhos de todos os matizes, piando alegremente, voando de galho em galho e carregando uma palhinha no bico. Não há dúvida, estão fazendo ninhos. É a primavera chegando, a estação do amor. E eu me pergunto como pude perder tanta beleza durante tantos anos? Lá no Rio só tem duas estações no ano: Verão e Verãozinho. É só na serra que se vê todas as estações.

Quando falo de passarinhos e de ninhos me lembro de uma querida amiga que se foi. Ela me contou que uma vez viu uma passarinha carregando palhinha por palhinha pra fazer o ninho. Solidária, resolveu abreviar as viagens da passarinha. Pegou umas palhinhas e jogou lá dentro do ninho. Ah, pra quê? A passarinha virou uma fera. Jogou tudo pra fora e ficou piando sem parar. Se passarinho falasse...


Também eu levei uma bronca monumental de uma passarinha. Certa vez, no condomínio onde morava, veio a ordem de tirar as plantas da varanda. Estavam pintando o prédio. Uma passarinha tinha feito o ninho na árvore de Natal e lá estavam 3 pimpolhinhos. Quando ela se afastava, íamos olhá-los. Com todo cuidado e muito carinho, tiramos a arvorezinha da varanda, preocupadas com a mãe, que finalmente voltou e não encontrou seus filhotes. Ah, pra quê? Ela pulava de um lado a outro na balaustrada da varanda, irritadíssima. Se passarinho falasse...


Tivemos de carregar de volta a arvorezinha pra varanda, pra sossego de todos. E que se danasse a pintura. Aquela maezinha estava ali pra cumprir sua função biológica e não ia se afastar enquanto não a terminasse. E os pimpolhinhos já piavam famintos, querendo a mamãe.


E eu me lembro perfeitamente que era primavera. Me lembro com saudade que o amor estava no ar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

TERRA DA FANTASIA - O BRASIL JÁ FOI UMA TERRA MUITO FELIZ, UMA DISNEYLÂNDIA

Até a chegada do PT éramos muito felizes. Tínhamos um sistema de saúde perfeito, ninguém morria nas filas dos hospitais e não precisávamos do MAIS MÉDICOS, do SAMU, das UPPs. Tínhamos uma educação maravilhosa, muitos negros e pobres se formavam sem o auxílio do PROUNI, FIES, PRONATEC, CIÊNCIA SEM FRONTEIRA e por aí vai. Não tínhamos fome nem miséria, todos comiam muito bem, sem precisar do BOLSA FAMÍLIA. Tínhamos casa e não precisávamos do MINHA CASA MINHA VIDA. Tínhamos todos luz em todos os recantos e não precisávamos do LUZ PARA TODOS. Não havia seca no nordeste e esse negócio de TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO sempre foi considerado uma frescura, cujo objetivo era acabar com a farra da troca de água por votos. Maldito PT!!! Nossos transportes eram perfeitos e esse negócio de BRT e VLT era uma bobagem. Podíamos nos dar o luxo de ficar horas e horas nas filas do transporte e nos trajetos. Nossos PORTOS E AEROPORTOS funcionavam maravilhosamente, as estradas não eram esburacadas. Nunca precisamos de obras do PAC para a nossa mobilidade urbana. Nosso povo viajava para todos os recantos do mundo, porque tudo era quase de graça e as pessoas tinham um salário astronômico. E quando o FHC instaurou a CPMF ninguém reclamou, porque era um imposto justo. Não reclamou nem mesmo quando ele quase dobrou o valor. Nunca houve corrupção no país. Éramos um povo honesto e trabalhador, respeitávamos filas, nunca demos carteirada, não avançávamos o sinal do trânsito e jamais subornamos ou aceitamos propinas. Elegíamos políticos honestíssimos, que nunca aceitaram vender votos em troca de reeleição.
Enfim, tudo era divino e maravilhoso,até que chegou o PT e esculhambou tudo.
Maldito PT!!!

sábado, 25 de julho de 2015

JÁ NÃO HÁ MAIS POBRES COMO ANTIGAMENTE

Lembro uma vez, quando menina, de um casal muito pobre que esteve em nossa casa pedindo ajuda. Os dois estavam maltrapilhos e famintos. Minha mãe prontamente os alimentou e lhes deu roupas. Meu padrasto olhou para o pé daquele homem e disse:
- Sapato não posso dar, porque parece que seu pé é bem maior que o meu.
E o homem respondeu:
- E pobre lá tem número de sapato? A gente corta a ponta e cabe direitinho.
Nunca me esqueci deste fato. E durante anos foi assim. A gente juntava as tralhas que já não serviam e dava pros pobres. Os anos passavam e nada mudava. Era o Natal da fome, a campanha do agasalho... que serviam para acalmar a culpa. E todos podiam exibir sua boa ação e dormir em paz.
Aí, um dia, quis dar uns sapatos e bolsas em ótimo estado e ninguém quis. Alguém então me disse: "os pobres mudaram". Mudaram, sim, graças ao Lula e a Dilma. Há que se reconhecer isso, mesmo que você não goste dos dois.
E então, um belo dia, a faxineira chega na minha casa e exclama com orgulho:
- Minha geladeira é igualzinha a sua (uma duplex com degelo automático)!
Para muitos, que ainda não perderam o hábito de dar esmola e acha que pobre tem que "se enxergar", isto poderia ser uma afronta. Mas sou cristã, no sentido pleno da palavra, e entendi que o Brasil tinha mudado para melhor, que estava se tornando um país mais igualitário, mais fraterno. O Brasil está finalmente se tornando um país de Primeiro Mundo. É certo que ainda falta muito, temos uma elite egoísta e uma turma do contra que fazem questão de travar o país.
Depende de nós impedir o retrocesso. Depende de nós fazer o país avançar ainda mais.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Quando ganhei o livro, apressei-me a lê-lo, mas parei nas páginas iniciais. Gosto das escritas claras, bem pontuadas e sinalizadas. Saramago não é assim. Obriga o leitor a ir penosamente pontuando, indo e vindo, talvez para obrigá-lo a repensar em coisas cuidadosamente guardadas. E isso fez com que me distraísse, perdesse a paciência e largasse o livro pra lá. 

Depois veio o filme, fui ver e não gostei. Achei a metáfora gasta, batida e imagino que não tenha sido sucesso de bilheteria. As pessoas fogem da realidade e embarcam na fantasia. E deve ser por isso que entretenimento é tão  fundamental. Mas não foi o meu caso. Leio livros considerados difíceis num dia só. Então, atribuí a culpa do meu desgosto ao Saramago, até que um acontecimento recente me fez repensar em fatos há muito esquecidos, deixados pra lá.

É interessante como a realidade surge assim do nada, de repente. Uma mensagem inbox cifrada me deixou encucada vários dias e aí a realidade caiu pesada sobre mim. Eu havia cortado aqueles fatos, como no maravilhoso filme do Giuseppe Tornatore, "Cinema Paradiso", em que o personagem principal recebe todas as cenas cortadas dos seus filmes de infância. Também eu, tal qual dona Solange, do tempo da ditadura, havia censurado fatos importantes da minha vida, que fiz questão de não ver. Logo eu que sempre me julguei lúcida e corajosa, que fiz análise e sempre me achei pronta para encarar qualquer realidade. Logo eu...

E tudo se tornou dolorosamente claro para mim.

sábado, 4 de julho de 2015

VIDA NA ROÇA - O AMANHECER


Acordei cedo, abri a porta pro Pinguinho e o Brownie saírem e já ia começar minha lida diária quando um raio luminoso chamou minha atenção. Era o sol que se insinuava lá longe, por trás da silhueta negra das montanhas. Larguei tudo e fui sentar lá fora no jardim, para apreciar. A natureza estava inspirada e começou pintando, camada por camada, um belo espetáculo. Por trás dos raios alaranjados, um céu muito azul. Nuvens cinza clarinhas vestiam saias prateadas e uma delas fez um caprichoso desenho, parecendo um disco voador. Outra mais a frente tinha uma roda laranja bem pálida, enquanto outras, mais altas, misturavam branco com rosa, branco com laranja, branco com amarelo, branco com prata e se alternavam, como se dançassem no amanhecer. Mais acima, o céu assumiu a cor prata, contrastando com o ouro detrás dos montes. Atrás do grande pinheiro, uma nuvem rosa-alaranjada esguiava-se mansamente em direção ao sol. E, lentamente, o dia foi desabrochando. Fiquei feliz e orei.

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...