domingo, 1 de agosto de 2010

O Corpo como Metáfora


Ultimamente, não tenho tido muito tempo para assistir à TV, mas, de vez em quando, vejo parte de algum programa só para ficar antenada.  Não sei se as pessoas reparam ou se dão conta, mas a mídia controla o nosso corpo.  Um dia desses, sintonizei o canal líder de audiência.  Vi duas artistas muito muito conhecidas, uma delas dizendo à outra, a título de elogio supremo: "Mas como você está magrinha!!!"  Estava mesmo.  A moça estava no osso - não havia mais o que emagrecer.  No entanto, é provável que ela não esteja ainda satisfeita com seu corpo, e nada impede que, a exemplo da Demi Moore, adote uma dieta extrema, à base de suco de limão e mel, para emagrecer.  A estética atual é de aniquilamento do corpo, de desprezo ao alimento, especialmente os calóricos.  Não é, pois, de se admirar que haja tantos bulímicos por aí.

No canal a cabo, uma personagem também conhecida se refere à colega como "magérrima" - elogio máximo.  Dia desses, também no canal a cabo, vi um documentário em que médicos de prestigio em suas especialidades examinavam pessoas que haviam escolhido e se submetido a dietas supostamente saudáveis.  Um caso especial me chamou a atenção. Era o de um homem muito magro, que adotou a dieta anti-envelhecimento das células.  Segundo essa dieta, deve-se ingerir pouca comida, para não sobrecarregar as células, e a consequência é o retardamento do envelhecimento.  Após uma bateria de testes, o médico disse a esse homem que ele estava correndo perigo de vida e o aconselhou, alarmado, a COMER.  Pois é, comer - essa coisa simples que nos mantém vivos e que parece ter virado o horror de muita gente.  Vejam só.

Imagino que as pessoas que adotam dietas extremas fiquem indignadas com tal conselho, que vem na contramão dos seus hábitos modernos.  Que história é essa de comer?  Comer engorda e ser gordo é ser out.  O gordo nunca sofreu tanto como agora.  E até mesmo o rótulo de gordo já não é o de antigamente.  Passou de certo manequim, que, aliás, encolheu uma barbaridade, a pessoa já pode se considerar gorda.  Está condenada ao opróbio, ao ostracismo.  É, enfim, um ser abjeto.  Marilyn Monroe, que enlouqueceu tantos homens, seria hoje chamada de gorda.  Que mundo insensato, não lhe parece? 

E, no entanto, as pessoas parecem não refletir sobre essas questões.  Abraçam qualquer modismo para fazer parte de uma tribo.  Todos querem pertencer ao grupo.  Ficar fora dele é perigoso.  O mundo avançou, mas ainda temos as mesmas fobias dos primórdios da civilização.  Nossa inteligência emocional parece não ter acompanhado o avanço da ciência em todos esses séculos.  Em nosso íntimo, não passamos de pobres criaturas indefesas, a despeito de mostrarmos poder e ambição nas fotos publicadas pela mídia.  A mesma mídia que, arbitrariamente, controla nosso corpo e determina nossos hábitos. 

Mas culpar só a mídia seria injusto.  Muito antes de ela existir nosso corpo já era controlado.  E como era feito esse controle?  Por que ele sempre existiu?  Para quem e a quem serve?  Bem, sobre isso falarei em outro post.  Até lá.

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