segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Para Alda, com saudade



 Essas são as flores que quero dar a Alda neste dia.  Vai com Deus, amiga!  Descanse em paz!

Quando penso na Alda, me vem à lembrança uma grande árvore, carregada de folhas e frutos.  É assim que gosto de imaginá-la.  Alda era protetora, cuidava para que não faltasse nada aos seus e, muitas vezes, chegava às raias do exagero.  Amava profundamente sua família, mas demonstrava seu afeto de modo peculiar - com rispidez, muitas vezes. Talvez não soubesse expressar seu amor em palavras.  O que sabemos das pessoas, mesmo daquelas com as quais convivemos ou conhecemos há tantos anos?  Elas são sempre um mistério insondável.  

O que sei de Alda é que ela se sacrificava para dar o melhor à família e esse melhor se traduzia em presentes, conforto e amenidades. Não sabia expressar carinho, amor, afeição.  Era terrivelmente timida, embora aparentasse o contrário.  Era também muito severa e crítica, mas este era o seu jeito de amar.  Foi isso, talvez, o que lhe ensinaram ou o que aprendeu com a vida.

Tenho muitas lembranças dos muitos anos em que fomos amigas.  Algumas até engraçadas, como da vez em que ela insistiu em ir à minha casa conhecer minha família.  Alda era assim: queria saber com quem o irmão estava se metendo e nada mais apropriado do que conhecer a família da pretendente.  Lá fomos nós.  Eu estava pouco à vontade, porque minha família é o que se chama hoje em dia de disfuncional.  Fora isso, eu morava numa casa modesta e de aspecto feio, o que me envergonhava.  Quando nos aproximávamos da minha casa, Alda apontou-a, perguntando: "Quem será que mora naquela casa horrorosa e mal-assombrada?"

Outra lembrança divertida, entre as muitas, foi de uma vez que fomos passar uma temporada em Poços de Caldas.  Ficamos hospedadas com as freiras, que nos incentivaram a ir a um evento na cidade.  Argumentamos que não tínhamos traje apropriado, pois era um acontecimento em grande estilo.  Mas as freiras derrubaram nossas objeções e lá fomos nós.  Foi só entrar para percebermos que todos estavam vestidos com roupas muito chiques de festa, enquanto nossos trajes, por melhores que fossem, não eram minimamente adequados àquele evento.  Olhamos uma para outra e tivemos uma crise de riso tal que fomos forçadas a esconder-nos em algum canto. 

Acho que conheci Alda muito mais que a família dela.  Ela me fazia confidências e, por isso, sei das muitas maldades que lhe fizeram quando esteve internada em um hospital nos Alpes, ainda criança.  Essa experiência a marcou profundamente.  Sabia dos seus medos e suas dúvidas.  E, uma vez, quando seus filhos ainda eram muito pequenos, ela me disse que eu era a única pessoa a quem podia confiá-los, caso alguma coisa lhe acontecesse.  Tal era a nossa proximidade.

Tivemos várias discussões, brigas e chegamos até a ficar sem nos falar durante um tempo.  Em uma das últimas vezes em que conversamos, chegamos a discutir, porque ela enfrentava um problema terrível e eu queria que ela se salvasse, que fosse menos protetora, menos árvore frondosa, que pensasse mais em si mesma.  Mas ela não me ouviu e mergulhou na inconsciência e, depois, no aniquilamento físico.  A família sempre foi mais forte e isso custou-lhe a vida.

Para você, Alda, que foi uma pessoa tão especial, mando meu abraço, meu carinho e todo o meu amor.  Que você encontre a felicidade que tanto buscou na Terra na outra dimensão.  Adeus, amiga!

Um comentário:

Patricia Peternel disse...

Que lindo mae! Ainda estou sofrendo muito com a noticia. Vou sentir muitas saudades da tia Alda...

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