quinta-feira, 15 de abril de 2010

Começar de novo - parte 2

Eu tentava parecer normal. Precisava reagir, levar a vida adiante. Os ingleses acham de mau gosto as pessoas que não se recuperam das perdas, que vivem se lamentando, deixando todos ao redor embaraçados, sem saber o que dizer. Ainda bem que não sou inglesa. Ainda bem que estava só, porque não tinha ânimo de falar com ninguém.

Ia até a varanda do apartamento e olhava as árvores, as flores no jardim, ouvia o canto dos pássaros - coisas que antes enchiam meu coração de pura felicidade. Tentava ver beleza e graça naquilo tudo, mas não conseguia. Meus olhos estavam carregados de nuvens que desabavam em lágrimas por qualquer coisa. Às vezes chorava sem saber porquê. Em um ano, desde o acidente, chorei mais do que em toda a minha vida,e mesmo que tivesse apenas 20 anos (quem me dera!) já seria muito.

Aprendi com a vida que os lutos devem ser vividos e sentidos com toda a intensidade que se queira dar. Não concordo com os ingleses e os acho contraditórios. Se não se pode sentir e se o lamento é de mau gosto, por que levam tanto tempo para enterrar o defunto? Por que disfarçar a dor com um banquete?

Não, eu chorei tudo o que tinha de chorar. Sofri tudo o que tinha de sofrer, mas estranhamente reservei o lamento para mim mesma. De certa forma, era meio inglesa, sim.

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