terça-feira, 13 de abril de 2010

Finalmente a volta ao trabalho - final

Voltei ao trabalho no dia seguinte e só Deus sabe o quanto me custou me arrumar, pegar um táxi e sair de casa. Precisava limpar minha mesa, minhas gavetas (que já não me pertenciam mais, assim como nada neste mundo nos pertence), jogar coisas fora, coisas que de repente haviam se tornado tão inúteis, tão despropositadas. No caminho, me lembrava do ataque às Torres Gêmeas e daquele rodamoinho de papel desatinado que saía dos edifícios em colapso. No espaço de poucas horas, aqueles papéis, outrora tão importantes, perdiam todo o seu valor. Ninguém lhes dava a menor importância e foram todos parar no lixo.

Mas eu precisava ter forças para lidar com algumas formalidades que me pareciam absurdas, principalmente aquelas ligadas ao meu afastamento da empresa, e eu não sentia o mínimo desejo de fazer o que quer que fosse. Olhei para fora da janela e a paisagem me pareceu estranha, diferente - uma paisagem de terra arrasada.

Cheguei ao trabalho e tentei parecer normal. Desconfiava que algumas pessoas já sabiam, mas ninguém me dizia nada. Então eu não me sentia obrigada a dizer nada a ninguém também. Mantive-me calada um longo tempo e só à tarde, quando havia terminado a limpeza de mesa e gavetas é que dei a notícia aos colegas. Falei primeiro com as minhas duas grandes amigas e elas me pareceram surpresas. Tentaram me confortar com palavras de apoio e carinho. Os outros colegas pareciam surpresos também, mas, de repente, saíram todos da sala e eu fiquei sozinha. Deviam estar confabulando lá fora. A desgraça alheia provoca medo e as pessoas odeiam se sentirem frágeis. Elas tentam imaginar o tempo todo que têm o controle de seus destinos, e deve ser isso que nos mantêm vivos e esperançosos.

Antes de o dia terminar, avisei que ia embora mais cedo. Uma atitude inútil. Quem ia me impedir? Quem ia me dizer que eu não podia ir para casa mais cedo?

Novamente, aquela música veio martelar minha cabeça:

“Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.”

Um comentário:

petloveshaon disse...

Vc foi muito importante todos os anos que se dedicou na Globo...lembre-se disso,pois todos sabem,inclusive seus amigos de lá!!!
bjs

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