quarta-feira, 17 de março de 2010

De volta para casa - parte 2

Novamente veio a dificuldade de achar uma substituta para Nekar. As técnicas de enfermagem são moças humildes, que começam a trabalhar como empregadas domésticas. Um curso as habilita a exercer uma função cujo requisito principal é empatia, compaixão e uma paciência infinita, porque o doente perde o equilíbrio e se torna apático ou irascível. Mas o curso apenas lhes ensina o lado prático da profissão e elas são jogadas no mercado onde sofrem exploraçao física, emocional e financeira. Ganham muito pouco e se estressam demais, mas é melhor do que voltar a ser empregada doméstica. Não por causa do dinheiro e muito menos pelo desgaste físico e emocional, mas pelo status que a profissão lhes confere. É um degrau acima na escala social.

Duas semanas depois da minha chegada em casa pedi a retirada da cama hospitalar. Instalei-me na minha cama e o quarto quase voltou à normalidade. Comecei a usar a cadeira de rodas. Nunca pensei que ia me sentir tão feliz em poder andar de cadeira de rodas e a razão é que pude deixar de olhar o teto, como o fazia a maior parte do tempo, para poder olhar ao meu redor, circular pela casa, poder sair, ir à rua. Sentada, minha perspectiva se ampliava, e isso me emocionou. Tentava ficar o maior tempo possível nessa posição e só voltava à minha cama quando as dores se tornavam insuportáveis. Tomava injeções dolorosas na barriga, mas eu implorava para que me dessem, porque a dor no corpo era muito pior. Até o líquido entrar na corrente sanguínea e fazer efeito eu sentia a dor da picada da agulha. Além das injeções eu ainda tinha de tomar analgésicos. No meu quarto havia uma caixa com dezenas de remédios que eu tinha de tomar diariamente. "Meu Deus, aliviai meu sofrimento."

Nenhum comentário:

O CLIMA DO ANO

Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...