quarta-feira, 24 de março de 2010

"Morte em Veneza" - parte 4


Ao descer do barco, ouve-se o barqueiro dizer, como um corifeu: “Você pagará!”.
Veneza cobrará de Aschenbach um preço altíssimo.

Em Tadzio se concentra a paixão do artista pelo seu modelo ideal, a obsessão do criador pela criatura. E a história se constrói em torno desse personagem misterioso, que não diz uma palavra e cuja eloqüência está apenas no olhar ambíguo que dirige a Aschenbach. Apesar de quase mudo, o filme “grita” em toda sua extensão, envolvendo o espectador num remoinho de tamanha carga emocional que quase lhe tira o fôlego.

Uma noite, após o jantar, enquanto caminha e fuma pela varanda do hotel, Aschenbach lembra de uma conversa filosófica com Alfred. A voz em off logo cederá lugar a uma cena entre os dois, ocorrida em algum lugar do passado.

Alfred: Beleza. Quer dizer, o seu conceito
“espiritual” de beleza.
Aschenbach : Mas você nega a habilidade do
artista criar a partir do espírito?

Alfred: Sim, Gustav, isso é precisamente o que
eu nego.
Aschenbach: Então, a seu ver, o nosso trabalho como
artistas é...
Alfred: Trabalho! Exatamente. Você realmente acredita
que a beleza possa ser o produto do trabalho?
Aschenbach: Sim...
sim, eu acredito.
Alfred: É assim que a beleza nasce. Assim,
espontaneamente, indiferente ao seu trabalho e ao meu. Ela preexiste à nossa
presunção de sermos artistas.

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