quarta-feira, 3 de março de 2010

O Colar - parte 2

As férias chegaram e minha mãe nos mandou todos para a casa da vovó. Lá, eu encontraria os meus primos e as nossas brincadeiras recomeçariam. Eu gostava de me deitar no braço forte do tamarineiro e descansar ali das brincadeiras sempre ofegantes, enquanto olhava para o alto da árvore e via seu manto de folhas rendilhadas que quase apagavam o céu. Era meu recanto preferido para sonhar. Só o cheiro inesquecível do café à moda antiga que vovó preparava, passando os grãos pelo moedor, conseguia me tirar daquele estado onírico. Nem mesmo os gritos dos meus primos conseguiam tal proeza. Meus sonhos eram substituídos, então, por sonhos de verdade - aqueles pãezinhos doces -, que nunca foram tão gostosos e nunca cheiraram tão bem como no tempo de infância. Nos braços do tamarineiro eu me via adulta, independente e livre da submissão que as crianças da minha época sofriam. Eu me via grande, dona do meu destino. Nunca vou esquecer a felicidade que senti nesses momentos.

Um dia, minha prima apareceu usando um colar parecido com aquele que minha mãe dera à conhecida. Questionei a origem do colar, mas minha prima foi reticente. Ela dividiu uma parte dele comigo e eu pude, pela primeira vez, transformar meu sonho em realidade. Era mesmo gostoso brincar com o colar. No dia seguinte, porém, a prima veio brincar e não o trouxe. Perguntei o que acontecera e ela me disse que a mãe o quis de volta. Felizmente, a decepção não durou muito tempo, porque sempre tínhamos muito o que fazer e o pique-bandeira ainda nem havia começado.

Um comentário:

petloveshaon disse...

Eu gosto destas histórias da nossa infância...um dia farei isso com a minha!!!...rs...bjs e saudades

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