quinta-feira, 25 de março de 2010

"Morte em Veneza" - parte 5


Alfred é personagem criado por Visconti – ele não está presente no romance homônimo de Thomas Mann. Esse fato vem justamente desmentir a qualificação homossexual atribuída à obra. O livro, talvez seja gay; o filme, não. Visconti criou o diálogo filosófico entre Aschenbach e Alfred, para dar outra dimensão e profundidade ao romance. Ouso dizer que o filme “Morte em Veneza” é superior ao romance de Thomas Mann, e só mesmo um cineasta do quilate de Visconti conseguiria tal proeza.

De volta ao quarto, Aschenbach segue lembrando a conversa com Alfred.

Alfred: Seu grande equívoco, meu caro amigo, é considerar a vida, a
realidade, como uma limitação.

Aschenbach: E ela não é exatamente isso?
A realidade apenas nos distrai e
degrada. Sabe, às vezes eu penso que os
artistas se parecem mais com caçadores que atiram no escuro. Não sabem qual é o seu alvo, nem tampouco se o atingiram.
Mas não se pode esperar que a vida ilumine o alvo e estabilize a sua mira. A criação da beleza e da pureza é um ato espiritual.
Alfred: Não, Gustav. Não! A beleza pertence aos
sentidos. Somente aos sentidos!
Aschenbach: Você não tem como alcançar o espírito... Você não tem como alcançar o espírito através dos sentidos. É somente através do absoluto controle dos sentidos que se pode, algum dia, alcançar sabedoria, verdade e dignidade humana.
Alfred: Sabedoria? Dignidade humana? Para que servem? O gênio é uma dádiva divina. Não! Uma punição divina. Uma chama breve e pecaminosa de dons naturais.
Aschenbach: Eu rejeito, eu rejeito as virtudes demoníacas da arte!
Alfred: E você está errado! O mal é uma necessidade, é o próprio alimento do gênio.

Para quem goste de filosofia e queira ouvir o diálogo integralmente:
http://www.youtube.com/watch?v=uacolGxksR0

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