domingo, 28 de março de 2010

"Morte em Veneza" - parte 8


Na agonia da morte, ele ainda lembra um diálogo com Alfred, ocorrido imediatamente após o fracasso de sua última obra, e que teria agravado seus problemas cardíacos. Esse último diálogo ajuda-nos a compreender afinal o que morre em Veneza.



Alfred: Seu trapaceiro, seu vigarista!


Aschenbach: O que mais eles querem de mim?


Alfred: Pura beleza. Severidade absoluta.
Pureza da forma.
Perfeição. A abstração dos sentidos! Tudo se foi! Nada restou! Nada! A sua música nasceu morta e você está desmascarado.

Aschenbach: Alfred, mande-os embora. Por favor, faça com que saiam.


Alfred: Mandá-los embora?! Vou entregá-lo a eles!


Aschenbach: Não, Alfred, por favor. Não faça isso, por favor.
Não, por favor. Não...


Alfred: A eles! Eles vão julgá-lo. E eles vão
condená-lo.


Aschenbach: Não, Alfred, não.


Alfred: Sabedoria. Verdade. Dignidade humana. Está tudo acabado. Agora, não há mais razão para que você não vá para o túmulo, levando sua música. Você alcançou o perfeito equilíbrio. O homem e o artista são um só. Chegaram
juntos ao fundo do poço. Você nunca possuiu castidade. A castidade é o dom da pureza e não o doloroso resultado da velhice. E você está velho, Gustav. E, em todo o mundo,
não há impureza mais impura do que a velhice.

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