domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ainda a UTI - parte 3

A minha sorte era quando eu recebia atendimento das médicas plantonistas ou das técnicas de enfermagem. As moças sempre foram mais sensíveis e delicadas. Elas tomavam muito cuidado ao fazerem minha higiene. Tinha fraturado os dois braços. Tinha ainda um fixador nos quadris que requeria muito cuidado e atenção na hora do banho. Não podia ficar de lado e muito menos de bruços - a minha posição preferida para dormir. Quando vi o fixador pela primeira vez me senti como um inseto, desses que os entomologistas prendem com alfinete num papel.

Passei a sofrer de insônia. Eram noites inteiras sem dormir. Isso para mim era raro. Costumava brincar dizendo que eu era boa de cama. O médico explicou que a posição de costas não favorecia o sono. Então pedia um remédio para dormir à noite, mas não me davam. No dia seguinte, acordava de mal humor, cansada.

A única boa lembrança que tenho da UTI foi quando bebi água pela primeira vez, depois de mais de um mês de internação. Eu sonhava com esse dia. Um dia pedi ao homem de branco que me desse um pouquinho de água. Esse era bonzinho e encontrou uma solução. Embebeu uma gaze em água e colocou nos meus lábios. Suguei com sofreguidão o pouco líquido que mal escorria. Pedi mais e ele repetiu a operação. “Mais, por favor.” Ele me disse que ia ter de conversar com o médico. “Já falou com o médico?” “Ainda não”. “Por favor, eu imploro.” Até que um dia ele veio com um pouquinho de água no copo. Eu ia poder beber 100ml de água de hora em hora. Eu ficava de olhos fixos no relógio, esperando dar a hora. Às vezes, trapaceava, tentando encurtar o tempo. Nunca foi tão bom beber água.

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