segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ainda na UTI - final

Depois da água, introduziram o alimento. Quem anunciou que eu ia poder almoçar foi o mesmo homem de branco que tentou me matar na UTI. Depois que comecei a falar ele mudou o comportamento, tornando-se simpático e agradável. Para confirmar minha desconfiança, um dia lhe perguntei: "não foi você que me convidou pra tomar uma água de coco na praia?" Primeiro, ele ficou sério; depois, sorriu e confirmou. Tive muito medo naquele momento. Reuni toda a minha coragem e lhe disse: "achei o seu convite muito simpático." Só Deus sabe a força que fiz para superar o ódio que invadiu meu coração.

Era ele que estava ao meu lado aguardando a chegada do primeiro almoço. Eu imaginava coisas gostosas e falava com entusiasmo. Ele apenas sorria, como uma cobra que sabe que vai comer o rato. Chegou a minha primeira refeição. Era apenas um potinho de gelatina. O homem de branco sabia o tempo todo que seria apenas aquilo e se divertia com a minha decepção.

Finalmente veio a boa notícia. O médico chefe veio dá-la pessoalmente uma manhã, logo após o café: eu ia ser transferida para a Unidade Semi-Intensiva depois do almoço. “Obrigada, meu Deus. Eu Vos agradeço mais essa graça alcançada.” Esperei impacientemente a chegada da hora da transferência. Mal comi e nem tirei o cochilo da manhã. Não sei falar da felicidade que senti quando a maca veio me buscar. A felicidade é tão pequena e, ao mesmo tempo, tão grandiosa. Ao chegar na USI me deitaram numa cama macia. Sim, eu tinha chegado ao céu. Dois técnicos de enfermagem risonhos e simpáticos me esperavam e me davam as boas-vindas. Agradeci e dormi pesadamente. Não me lembro de ter domido tão bem em toda minha vida. Mas eu ainda não tinha chegado ao céu.

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