domingo, 28 de fevereiro de 2010

A terceira sinfonia de Brahms - parte 5

Foi lá no sítio que Silvio me contou sua história. Seu destino não era ser engenheiro. Ele sonhava em voar, desde menino. A família o mandou para Barbacena, onde estudaria para ser piloto da aeronáutica. Uma febre reumática pôs fim aos seus sonhos e ele nunca conseguiu superar o desejo frustrado. Tinha uma tristeza infinita no olhar, o que o tornava especialmente atraente. Foi com Silvio que perdi a virgindade.

Um dia, quando estávamos na casa da dona Anne, ele me levou a conhecer um sítio que queria comprar. Pediu-me moderação no entusiasmo, alegando que o preço poderia ficar mais caro. O sítio era lindo e Silvio o comprou. Naquele instante, soube que estava apaixonado por mim e que ia querer se casar comigo. Foi o suficiente para que eu me desinteressasse dele e saísse da sua vida. Sei que ficou profundamente magoado e ficamos muitos anos sem nos ver.

Encontrei-o casualmente na rua, no centro da cidade. Trocamos olhares de admiração. Ele continuava lindo e eu quase não havia mudado, na aparência. Chamou-me para ir ao apartamento dele. Continuava morando no mesmo lugar, depois de anos. Cheguei a ir lá. Era um apartamento simples demais, para quem tinha uma boa situação financeira. A decoração era sombria e triste. Os móveis pareciam juntados ao acaso, sem harmonia. E eram todos feios, descuidados e sujos. Em toda a casa não havia uma única cor alegre, vibrante. Tudo tendia para o marrom escuro, fechado, deprimente. Não era um lar feliz. Conversamos longamente, mas já não éramos os de antes. Muito tempo se havia passado e já não nos entendíamos mais. Saí definitivamente da vida dele. Nunca mais o vi.

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