quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Saudade do Raul - parte 2

Solange, ou o Raul do nosso teatro, sempre me intrigou. Era muito bonita, mas parecia não ter consciência disso. O nariz e a boca eram cuidadosamente desenhados. Os cabelos eram louros e cacheados e os olhos, da cor do caramelo, estavam encimados por longas pestanas que lhe davam um ar sonhador. Hoje, quando me lembro dela naquela época, acho-a parecida com a Catherine Deneuve. Tinha aquele mesmo ar “tô-nem-aí” da atriz francesa, só que, no caso da Solange, não era encenação. Ela parecia viver a vida sonhando. Nunca a vi aborrecida ou irritada.

Levava uma vida de princesa. Seus pais lhe davam tudo e, no Natal, Papai Noel era sempre muito generoso com ela. Lembro-me de uma vez que ela ganhou de presente a Amiguinha, o sonho de toda menina. Íamos sempre à casa dela na esperança de brincar com a boneca. E Solange deixava. Nunca teve ciúme de seus brinquedos. Era doce e desprendida.

Aos doze anos, se enrabichou por um policial e se casou com ele poucos anos depois, para horror da minha mãe, que achava os pais da Solange condescendentes demais. Ela dizia que eles lhe satisfaziam todos os caprichos. O casamento não durou muitos anos - o tempo suficiente para ela ter dois filhos. O marido morreu em ação. Depois da morte do marido, Solange mudou. Tornou-se mais aérea, mais triste, mais distante e os pais tiveram de assumir a educação dos netos.

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