Solange, ou o Raul do nosso teatro, sempre me intrigou. Era muito bonita, mas parecia não ter consciência disso. O nariz e a boca eram cuidadosamente desenhados. Os cabelos eram louros e cacheados e os olhos, da cor do caramelo, estavam encimados por longas pestanas que lhe davam um ar sonhador. Hoje, quando me lembro dela naquela época, acho-a parecida com a Catherine Deneuve. Tinha aquele mesmo ar “tô-nem-aí” da atriz francesa, só que, no caso da Solange, não era encenação. Ela parecia viver a vida sonhando. Nunca a vi aborrecida ou irritada.
Levava uma vida de princesa. Seus pais lhe davam tudo e, no Natal, Papai Noel era sempre muito generoso com ela. Lembro-me de uma vez que ela ganhou de presente a Amiguinha, o sonho de toda menina. Íamos sempre à casa dela na esperança de brincar com a boneca. E Solange deixava. Nunca teve ciúme de seus brinquedos. Era doce e desprendida.
Aos doze anos, se enrabichou por um policial e se casou com ele poucos anos depois, para horror da minha mãe, que achava os pais da Solange condescendentes demais. Ela dizia que eles lhe satisfaziam todos os caprichos. O casamento não durou muitos anos - o tempo suficiente para ela ter dois filhos. O marido morreu em ação. Depois da morte do marido, Solange mudou. Tornou-se mais aérea, mais triste, mais distante e os pais tiveram de assumir a educação dos netos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O CLIMA DO ANO
Há tempos venho notando que a natureza absorve nossos humores, mas isso é assunto pra outro post. Lembro que, em 2016, meu pé de amora fic...
-
Minha mãe costumava usar esse dito, para nosso espanto de criança, porque não atinávamos com o significado. Com o tempo fomos enten...
-
Há algum tempo observo que o amor está no ar. Quando tomo meu solzinho pela manhã, vejo casais de passarinhos de todos os matizes, piando...
-
Pois é, eu sei. Prometi escrever todo dia e minha última postagem foi no dia 5. Quebrei minha promessa por quê? Andei às voltas com exame...
Nenhum comentário:
Postar um comentário