terça-feira, 11 de maio de 2010

Perdoar e pedir perdão

Hoje deveria seguir com o assunto "Como evitar preocupações", mas não consegui avançar na leitura.  Vou então falar de um assunto que há muito ronda a minha cabeça.

Muito se fala em perdoar como um ato nobre.  E é, sem dúvida.  O Pai Nosso diz bem claramente: "assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido".  Mas antes do "perdoamos" a oraçao diz: " "Perdoai as nossas ofensas."  Pedir perdão é talvez mais difícil do que perdoar.

Na minha prática de vida tenho observado como é dificil ouvir um pedido de perdão.  A gente costuma ouvir pedidos de desculpas com relativa frequência, mas e o pedido de perdão de quem magoou e ofendeu alguém?  Quantas vezes isso costuma acontecer numa vida? 

Pedir perdão (não é pedir desculpas) significa que a pessoa reconhece que errou, ofendeu e magoou seu semelhante.   É aí que surge o problema.  São raros os que dão o braço a torcer, que reconhecem e admitem seus erros e pedem humildemente perdão.  Todo mundo tem razão, até mesmo aquele cara que encheu a cara e saiu atropelando transeuntes na calçada.  Todo mundo quer ser inocente, como se errar não fosse humano.

E como se sente a pessoa que foi magoada ou ofendida e não recebeu o pedido de perdão?  A essa pessoa se lhe diz que é rancorosa, que guarda as ofensas e as mágoas, que não é capaz de perdoar.  Mas como ela pode perdoar se não lhe pediram perdão?  Então é assim: a gente sofre injustiça, recebe ofensas, se magoa, sofre e depois esquece, perdoa?  É assim?  Podemos perdoar sem ouvir um pedido de perdão?

Se é assim, parece-me que estou rodeada de santos.  Todos são santos e eu posso magoá-los à vontade, porque sei que vão me perdoar, não importando o que eu faça.  Mas não é isso que vejo acontecer.  E é por isso que vou citar o Poema em Linha Reta, de Fernando Pessoa, no trecho abaixo, que reflete como me sinto em relação aos santos que me rodeiam:

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

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