domingo, 2 de maio de 2010

Lembranças

Diante de mim, uma tela vazia e eu estou sem saber o que dizer.  Hoje é sabado, meu acidente aconteceu num sábado.  Amanhã vou sair, tal qual fiz naquele dia (gosto mesmo é de ficar em casa) e novamente com a minha cunhada, só que desta vez vou ver a exposição de orquídeas do Jardim Botânico. 

No outro dia, conversávamos no telefone, eu e minha cunhada, e ela me dizia da angústia e desconforto que sempre sente quando está no metrô.  Ela tem medo que o celular toque, porque no dia em que me acidentei ela estava no metrô e foi lá que recebeu a notícia do meu atropelamento.  Ela ficou com esse trauma.

Às vezes penso como é possível que suportemos tantas coisas e ainda tenhamos força para seguir adiante.  Não quero minimizar a angústia da minha cunhada, mas imaginem o que sinto.  Lembro-me bem que, enquanto a ambulância me levava para o hospital, eu não tinha noção do que acabara de me acontecer.  Não sentia nenhuma dor e estava confiante de que logo voltaria para casa.  Fiquei três meses internada.  E durante esses três meses sofri dores insuportáveis, e chorei tudo o que não havia chorado desde então.  Ainda na UTI, depois que me tiraram o tubo de ar, fazia planos de viagem.  Já estava decidido: iria ao Polo Norte para finalmente ver a Aurora Boreal.  Não, eu não conseguia dimensionar a tragédia que havia se abatido sobre mim.

Hoje, a minha preocupação é saber se vou conseguir, amanhã, andar da entrada do Jardim Botânico até a exposição de orquídeas, porque caminhar ainda é penoso.  É muito pouca ambição para quem sempre gostou de viajar, de ir muito longe. 

Só mesmo o tempo vai poder acalmar meu coração e aliviar o sofrimento.  Esquecer, virar a página, como costumam dizer, talvez nunca seja possível.

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